Em uma enorme mansão um impasse estava acontecendo. Kushina, uma bela mulher de longos cabelos vermelhos, tentava vestir o filho agitado.

- Mamãe eu não quero ir!

O garoto loiro se debatia enquanto a mulher pacientemente ajeitava o terno preto, estavam se preparando para ir a um velório de um importante membro de uma das famílias mais tradicionais do Japão.

- Querido, por favor! – A mulher suspirava. – Nossa presença é importante!

- Eu prefiro ficar em casa jogando vídeo game! – O pequeno fazia bico.

Naruto tinha apenas cinco anos e era uma criança como qualquer outra, exceto pelo fato de ter uma doença rara, por isso seus pais o cercavam de todos os cuidados possíveis e sua mãe sempre o mantinha por perto.

- Prometo que quando voltarmos nós jogamos o jogo que você quiser. – Disse sorrindo enquanto esfregava a ponta de seu nariz na do filho que concordou sorrindo.

Assim o pequeno aceitou a proposta da mãe e ao terminarem de se arrumar foram ao encontro de Minato que os esperava na sala.

A viagem até o cemitério durou duas horas, o menino ficou intertido a viajem inteira graças ao filme que assistia. Chegaram ao cemitério e o pequeno resolveu olhar através do vidro, era um belo dia ensolarado, estavam bem no meio da primavera, muitas pessoas estavam ali, a visão do lugar fez com que Naruto esquecesse completamente o filme que assistia, observava tudo com cuidado enquanto Minato guiava o carro devagar tentando encontrar uma vaga.

As pessoas que ali estavam vestiam preto e demonstravam um semblante triste, para uma criança era bem fácil de identificar que a maioria não passava de atuação. Minato estacionou o carro e logo que saíram pegou o filho no colo e foram em direção ao grupo que estava no centro do lugar, apesar da linda tarde aquele lugar, aos olhos do pequeno, era assustador.

Kushina e Minato se aproximaram de um grupo de pessoas distintas e os cumprimentaram, aquelas pessoas estavam realmente tristes, eles eram estranhamente parecidos, todos com a postura impecável, cabelos lisos escuros, pele pálida e olhos incomuns, eram quase brancos, pareciam ser cegos. Naruto não tinha visto nada igual. Ali muitas famílias tradicionais se reuniram, além dos Hyuugas e Uzumakis, estavam os Uchihas, os Sabakus, pertencentes aos mais altos círculos econômicos do mundo, os mesmos médicos que cuidavam de Naruto estavam ali, além de outras famílias não tão influentes quanto os já citados.

O velório inicia e muitas pessoas falavam sobre o triste ocorrido, as crianças ali presentes não davam atenção, estavam pressas em seus próprios pensamentos, Naruto não parava de encarar os membros da família Hyuuga, até sentir alguém tocando seu braço.

- Eles são estranhos, não acha? – Disse um garoto de cabelos pretos que estava ao lado de Naruto.

- Parece que são cegos! – Disse o loiro com a voz baixa tentando não ser ouvido.

- Você sabe quem tá ali dentro? – Perguntou o moreno apontando a caixa de madeira fechada e ornamentada.

- Não. – Naruto parecia confuso. – Será que tem alguém ali dentro?

- Claro que tem seu idiota. – O moreno falava de um jeito bem arrogante para alguém que tinha apenas cinco anos. – As pessoas são colocadas nessas coisas quando morrem.

Naruto não conseguia esboçar reação, até aquele momento não entendia o que estavam fazendo ali, saber que alguém tinha morrido e estava dentro daquela coisa que parecia tão apertada, tão sufocante. Os olhos azuis encheram de lagrimas. Todas aquelas pessoas vestidas de preto, todas aquelas pessoas tristes, ele não conseguia se recompor e saiu do lado de sua mãe que estava chorando, o modo como a morte aconteceu chocou muito aquelas pessoas, o pequeno Naruto precisava se afastar dali e sem que ninguém percebesse acabou caminhando sozinho pelo imenso cemitério.

O garoto ficava cada vez mais assustado, tudo aquilo parecia estranho, flores, incensos, tristeza e morte, eram as únicas coisas se via por ali, os mausoléus pareciam tenebrosos, quando se deu conta do que havia feito, estava sozinho sem saber onde estavam seus pais. O pavor começa a tomar conta do pequeno que notou uma garotinha brincando naquele lugar mórbido, ela sorria como se não estivesse naquele cemitério asqueroso. Naruto resolveu se aproximar.

- Oi. – Disse enxugando as lagrimas.

A menina parou de brincar e olhou para o loiro que passava a mão no rosto.

- Porque você tá chorando? – Perguntou.

- Eu não sei onde estão os meus pais! – Disse e encarou a menina.

Ela era linda, tinha a mesma idade que ele, a pele pálida, cabelos curtos azulados e olhos quase brancos, usava um vestido preto liso.

- Você é como eles... – Disse surpreso. – Vocês são cegos? – Perguntou e todos os resquícios do choro haviam se evaporado por completo.

- Não. – Disse quase ofendida. – Podemos ver muito bem, só temos os olhos um pouco diferentes da maioria das pessoas.

- Você veio com aquelas pessoas estranhas? – Perguntou se aproximando.

- Vim com a minha família. – Disse cerrando os olhos e os punhos. – E eles não são estranhos.

- Tá claro, claro. – O pequeno abriu um sorriso.

- Quer brincar comigo? – A pequena retribuiu o sorriso esquecendo completamente o atrito.

- Sim. – Respondeu esquecendo completamente o medo.

- Qual é o seu nome? – Perguntou curiosa.

- Uzumaki Naruto. E o seu? – O garoto estendeu a mão.

- Hyuuga Hinata. – Disse e começou a correr. – Você não me pega!

O tempo passou e Naruto não conseguia alcançar Hinata que corria, pulava e se escondia, o garoto não estava acostumado com aquilo e algumas vezes caia ficando todo sujo, ele sempre jogava vídeo game, raramente brincava assim.

- Naruto! – A voz de Kushina chamou ao longe.

A mulher correu e abraçou o filho, estava acompanhada por Hyuuga Hiashi.

- Nunca mais se afaste de mim. – Dizia aos prantos enquanto pegava ele no colo. – Você pode ter se machucado. – Examinou cada pedaço do corpo do pequeno até achar um corte na mão. – Sabe que não pode se machucar. Você caiu? – A mulher parecia desesperada.

- Sim. – Respondeu com simplicidade.

Kushina agradeceu Hiashi e decidiu levar o filho ao medico, enquanto era levado pela mãe o garoto olhou em direção a nova amiga e sorrio ao vê-la ao lado de Hiashi, Hinata sorria em retribuição enquanto acenava.

Minato e Kushina levaram o filho ao medico ainda naquela noite, depois de uma bateria de exames a medica decide falar com os pais.

- O corte é superficial e ele não teve nem uma fratura e nenhum machucado mais grave... – A mulher loira mantinha os braços na mesa enquanto mexia em alguns papeis referentes a Naruto.

- Graças a Deus! – Disse Kushina.

- Entretanto... – Disse olhando com pesar em direção ao garoto que brincava nos braços do pai. – Ele não é estável.

- Mas vocês disseram que a condição dele tinha chances de não piorar. – Minato se manifestou em tom calmo para não assustar a criança que não entendia nada.

- A insensibilidade a dor piorou, ele não produz lagrimas, segundo o diagnostico de hoje eu posso afirmar que com o tempo ele não vai mais sentir nada e não me refiro só a dor.

- Como assim? – Kushina estava com os olhos arregalados.

- Com o tempo ele não vai mais sentir nada... – A mulher suspirou. – Nem dor e nem emoções.

- Além de não ter uma vida plena ele também não vai ter uma vida feliz? – A mulher de cabelo vermelho parecia transtornada.

- Esse é um modo de ver as coisas. Eu sinto muito. Com o avanço da doença ele vai ter que vir aqui com mais frequência, prometo a vocês que vou cuidar pessoalmente desse caso.

Kushina e Minato saíram de lá entristecidos, Naruto era portador de insensibilidade congênita a dor, uma condição rara na qual não há possibilidade de sentir dor, sem dor o portador não sabe se precisa de alguma ajuda ou tratamento medico, assim a menor lesão pode leva-los a morte, essa doença não tem cura e a expectativa de vida de pessoas é de 20 anos.*

O tempo passou e o pequeno Naruto crescia sem dificuldades, descobriu que o garoto que conhecera no cemitério era Uchiha Sasuke filho mais novo de alguns amigos de seus pais, acabaram virando amigos estudaram juntos no fundamental, apesar de não esquecer os olhos quase brancos da pequena Hyuuga sorridente não voltou a vê-la, a família Hyuuga era muito reservada e dificilmente reunia as crianças.

Naruto e Sasuke entraram para a melhor escola de Tokio para estudar o colegial, ficaram na mesma turma e fizeram muitos amigos, o loiro quase esqueceu o dia no cemitério.

Era o primeiro dia de aula do segundo ano da Colégio Konoha, Naruto chegou ao enorme prédio branco esperando reencontrar os amigos vestindo o habitual uniforme, uma camisa branca com a gravata solta e as calça escura, estava decidido que naquele ano confessaria que gostava de Haruno Sakura, uma garota de cabelo rosa, a mãe do loiro a achava muito bonita, Naruto não sentia nada, mas achava que deveria aparentar ser um garoto normal e garotos normais se apaixonam por meninas bonitas. Sasuke sempre vinha junto com Naruto, era o único que sabia da condição do amigo e o vigiava.

O carro que os levava parou em frente ao colégio, os garotos saíram se despedindo do motorista que apenas acenou e marcou o horário que estaria de volta.

- Precisamos ter nosso próprio carro... – Sasuke resmungou colocando as mãos nos bolsos.

- Meu pai quer me dar, mas minha mãe não vai deixar que eu tenha um. – Disse Naruto suspirando.

- O meu pai quer que eu trabalhe para comprar um... – O moreno parecia injustiçado.

Quando chegaram ao pátio da escola logo encontraram seus amigos, Kankuro, Temari, Sakura, Ino, Kiba, Shikamaru, Chouji e Shino.

- Ola pessoa! – Naruto cumprimentou acenando.

- Finalmente chegaram! – Ino agarrou o braço de Sasuke que apenas suspirou irritado.

- Está um pouco frio aqui fora... – Kiba esfregou os braços.

Todos concordaram e começaram a caminhar conversando animadamente, falavam sobre as férias e suas viagens, Naruto segurou o braço de Sakura ficando para trás com ela.

- Sakura... – A voz do loiro saiu baixa. – Posso falar com você um instante?

- Claro. – Respondeu receosa.

Ino percebeu e tratou de chamar a atenção de todos para a cena.

- Vamos entrar logo pessoal, que o Naruto-kun tem algo importante para falar com a Sakura-chan! – A menina se divertia com a situação e todos olharam em direção ao mais novo possível casal.

-Vamos embora... – Disse Shino. - Isso já é bem constrangedor sem plateia.

Naruto sorria sem jeito enquanto olhava para o chão e Sakura ficou sem graça, mas se manteve olhando para o loiro.

- Então Naruto-kun... – Disse com voz melosa. – O que queria falar comigo?

- Bem... – Naruto suspirou e levantou a cabeça. – É que eu... – A voz falhou.

Uma garota atravessava o portão assustada, assim como eles usava o uniforme escolar, uma camisa de botão com o símbolo da escola e uma saia preta de pregas, usava um casaco com capuz, o rosto estava parcialmente oculto, a pele era pálida.

- Eu gosto... – Naruto tentava falar, mas a garota nova chamava sua atenção. – Quero saber se você...

As palavras fugiram completamente, quando a menina passou próxima a eles, tirou o capuz revelando o cabelo grande azulado, o rosto pálido e delicado lembrava alguém que conhecera há muitos anos. A garota parecia confusa, olhava para um papel repetidamente, enquanto caminhava em direção aos enormes portões do prédio, olhou em volta e foi ai que o loiro viu os grandes olhos quase brancos.

- Hinata... – Falou alto e surpreso.

- Quem é Hinata? – Sakura perguntou irritada.

- Me desculpe Sakura-chan... – Naruto já se afastava de Sakura. – Acho que vi alguém que não vejo há muito tempo.

Sakura bufou de raiva e resolveu entrar na escola a aula já estava prestes a começar, Naruto foi em direção a Hinata que entrou no prédio e sumiu entre os corredores. Quando Sakura entrou na sala de aula Ino a esperava paciente.

- O que ele queria? – Perguntou como se soubesse a resposta.

- Ele não disse nada... – Falou desanimada. – Pensei que ele ia me pedir em namoro, mas ele não disse nada. Disse que viu uma tal de Hinata e foi atrás dela.

- Hinata? – A loira parecia confusa. – Esse nome é familiar...

- Você também... – Sakura revirou os olhos.

Naruto entrou na sala e foi seguido pelo professor, Sasuke já estava em seu lugar na ultima fileira e encarava o loiro que parecia com olhar vazio, o lugar de Naruto era bem na frente do melhor amigo. Assim que o loiro sentou Sasuke pegou no ombro do amigo que rapidamente virou para encara-lo.

- O que aconteceu? – Sasuke parecia preocupado. – Ela te rejeitou? Nunca vi você assim...

- Não... – Naruto estava com o olhar vazio. – Eu não terminei de falar com ela... Eu vi uma garota que conheci há muito tempo, tentei segui-la, mas não a encontrei.

- Eu nunca te vi assim... – Sasuke estava com o olhar desconfiado, mas foi tirado de seus devaneios pelo professor.

- Bom dia... – Disse o homem que alem do terno padrão dos professores usava um lenço que ocultava parte do rosto. – Bem vindos a mais um ano de aula, teremos dois alunos novos nessa sala então deem boas vindas ao prodígio Sabaku no Gaara...

Nesse momento um garoto com cerca de quatorze anos entrou na sala, ele era bem estranho, não se parecia em nada com os irmãos Temari e Kankuro, tinha cabelos vermelhos e olheiras profundas.

- Ele avançou algumas series, é um verdadeiro prodígio, nossa próxima aquisição é uma jovem senhorita...

Naruto observou cauteloso, enquanto uma jovem entrava na sala, não era quem ele esperava, a aluna nova era sua prima Uzumaki Karin, apaixonada por Sasuke.

- Uzumaki Karin, sua prima não é Naruto?

Naruto apenas afirmou com o simples movimento de cabeça, Karin sorridente foi até o lugar vazio próximo a Sasuke.

- Gostaram da surpresa? – Perguntou sorridente.

- Não... – Responderam juntos enquanto começava a aula.

A hora do almoço chegou e como de costume foram ao refeitório almoçar, Naruto permanecia distraído ao conversar com os amigos, até que em um dos corredores viu Sai conversando com a garota de longos cabelos azulados.

- Encontro vocês no refeitório... – Disse Naruto enquanto ficava para trás.

- Não sei porque insiste em falar com o Sai... – Disse Ino observando a direção em que o loiro olhava. – Ele é um perdedor. – A garota arrastava Sasuke que ficou impossibilidade de seguir seu amigo.

Naruto não ouviu o que a loira disse apenas seguiu em direção ao amigo, quando chegou perto confirmou que ele conversava com Hinata.

- Oi Sai-kun, oi Hinata-chan. – Disse sorrindo. – Eu te vi mais cedo Hinata-chan.

- Vo... Você me viu? – Perguntou surpresa.

- Sim. - Disse estendendo a mão para tocar-lhe o braço.

- Por favor... – Disse afastando o braço tímida. – Não me toque. – Disse vendo o sorriso desaparecer.

- Você se lembra de mim? – Perguntou pegando no peito.

- Faz muito tempo... – A garota falava baixo e não sorria. – Uzumaki Naruto-kun.

- Vocês estudam na mesma sala? – Naruto perguntou tentando fazer tudo voltar ao normal. – Já se conhecem há muito tempo?

- A Hinata começou a estudar aqui esse ano e nos conhecemos há uns dois anos. – Respondeu Sai enquanto Hinata mantinha a cabeça abaixada e mantinha a mão direita apertando o braço esquerdo.

- Vocês não vem almoçar? – Naruto tentava ser gentil. – Eu to indo para o refeitório se quiserem podem vir juntos.

- Obrigado, mas trouxemos nosso almoço. – Disse Sai encarando o loiro. – Vamos comer no pátio.

-Tudo bem... – Disse passando a mão nos cabelos. – Nos vemos mais tarde então.

Naruto se afastou e foi encontrar os amigos no refeitório, Sai e Hinata foram para o pátio.

- Você conhece ele há muito tempo... – Disse Sai.

- Sim... – Hinata mantinha a cabeça baixa. – Pensei que ele não falaria comigo, achei que ele nem se lembraria do meu nome.

- Isso resolve metade do seu trabalho... – Sai sorria gentilmente.

- Sabe que preciso da sua ajuda... – Disse sorrindo.