Os Guardiões - Reino dos Elementais escrita por Kai


Capítulo 28
Visões secretas


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Quem são aqueles que nos acorda com o fogo renegado e as chamas de um obscuro e profundo desejo incontrolável? Eis que somos as senhoras do destino, tecedoras do tempo e das decisões, trindade das chamas e das escolhas, somos a mãe tríplice e nosso poder apresenta-se– disseram as três estátuas, que se manifestavam como apenas uma. Durante todo caminho pelo subterrâneo, até chegara encruzilhada, Klaus se sentira fraco. Seus ombros estavam extremamente doloridos, os pés arquejavam de dor incessantemente, e seus olhos ardiam quando se esforçava para ver o caminho diante dele. Os sigilos e "feitiços" impostos por Waeros, o estranho, eram como as peças de uma armadilha mortal envenenada, agora entendia inteiramente o porquê de todos os gnomos que se aventuravam nas partes mais antigas e remotas de seu castelo jamais voltavam: eles perdiam a força, a resistência, tudo aquilo pelo a qual davam valor era tirado, e não conseguiam se orientar pois ninguém tinha conseguido acordar a mãe tríplice desde a fundação de Sídh. Apesar de estar encostada perto de uma das paredes de pedra elementalmente morta, sentia a respiração de alguém ao seu lado, era Suzana. Suzana, por algum motivo, estava conseguindo atingir os maiores níveis de irritabilidade para o gnomo, Rose estava tentando ajudar, quem a kitsune era? apenas uma garota renegada que poderia ter ficado na Baviera com seus pais e seus malditos irmãos, mas tinha resolvido seguir ao gnomo e se aventurar naquela parte quase que esquecida da Irlanda;

–Oh, mãe tríplice, senhora dos caminhos e elemental das escolhas- começava Rose -Eu, meu amigo Klaus e sua acompanhante Suzana, desejamos completar nossa jornada por Sídhe e finalizar nossa missão alcançando Draupnir, o valioso de Waeros e seu maior tesouro- Klaus tentou fazer um sorriso, porém estava fraco demais para isso, Rose tinha escolhido as palavras certas para se dirigir a deusa tríplice, afinal, elas eram elementais antigas, talvez tão antigas quanto a própria Cailleach. Em tempos passados, não muito tempo depois de ter sido "rejeitado" por Rose, leu sobre a deusa tríplice com tamanha curiosidade, que em questão de horas terminava de ler os livros que abasteciam cada vez mais as estantes de seu quarto. Seus pais, Wagner e Magna, possuíam muito prazer em dar livros antigos a ele. Tudo que sabia sobe a mãe tríplice parecia sair das folhas amarelas e desgastadas de papel para a realidade;

Mas que renegada interessante, não? – ria a estátua mais jovem, cuja mão esquerda segurava a tocha com o fogo verde a crepitar - Podeis atravessar os caminhos mais bem guardados, despertado o poder do pentagrama, porém continua sendo indigna dos nossos domínios. Não temos nenhum dever para com você, raposa imunda dos campos, e chama insolente das pradarias. Você jamais será uma filha da Aurora- Klaus observou Rose e cerrou os punhos, quem era aquela estátua para dizer qualquer coisa do tipo para a kitsune? Rose cerrou os punhos em chamas e rosnou de raiva ousando se aproximar e fazer a estátua derreter até que Suzana saltou de perto de Klaus e se interpôs entre a deusa e a garota ruiva. Com seus cabelos castanhos lisos e soltos e os olhos nervosos e perseverantes, a ondina parecia quase uma mediadora de conflitos asiáticos;

–Não- disse ela para Rose, que se virou de costas em conflito consigo mesma. Klaus tentou levantar para tentar acalmá-la, porém apenas tropeçou e caiu mais uma vez no chão, a kitsune veio rapidamente e o ajudou a se levantar;

–Cuidado, Klaus- disse ela, com um certo ardor na voz e incontrolável aptidão por quebrar algo. Rose não era daquele jeito, ela era límpida, calma, estável, e ao mesmo tempo ardilosa, inteligente, sábia e muito poderoso em seus parâmetros renegados, algo estava realmente errado. O gnomo tentou abrir a boca para falar alguma coisa a deusa quando Rose o sustentou com seus braços e o conduziu para um poucochinho perto de Suzana e então Klaus pôde ver finalmente o que acontecia diante dele. A estátua jovem e bela que se situava a esquerda tinha cabelos longos e ondulados nas pontas que caíam sobre seus ombros, além de que usava um vestido longo como o de uma princesa e um colar com o símbolo de uma lua minguante. Aquela era Annis.A estátua do meio, uma mulher que usava um vestido um pouco mais curto mas com uma grande protuberância na barriga deixando-a com o aspecto gestante, e os cabelos ralos e conservados em um coque apertado que permitia apenas algumas mechas caírem usava um colar com o formato de lua cheia. Seu nome era Mari.Já a terceira estátua... ela era misteriosa, assustadora, e as outras pareciam não ligar para a ausência de vida presente nela ou o fato de estar em ruínas e descaso;

–Hum....senhoras...deusas.... Desculpem por não termos nos apresentado corretamente, aparentemente fazem milênios que não acordam ou conversam com qualquer outra pessoa- a ondina se virou para trás e acenou para que Rose e Klaus se movessem à frente com relutância;

–Aquela que as senhoras acabaram de conhecer se chama Rose, ela é uma "renegada", mas acho que "raposa" seria um nome menos ofensivo. Eu chamo-me Suzana e o nome dele é...-

Sabemos quem são vocês, pequena filha da aurora – dizia Mari, finalmente abrindo a boca e fazendo com que a rocha lhe deixasse em um tom quase fantasmagórico - Nada abaixo dos nossos olhos está escondido que não possa ser revelado. Foi marcado, consultado, medido e assinalado que viriam os quatro filhos da luz, tomar o anel do estranho, e impedir a ascensão das trevas, porém o espírito que outrora foi preso na cadeia mais profunda lhes vigia

O que isso quer dizer? sussurrou Klaus, mas as chamas das tochas já tamborilavam e mudavam de cores incessantemente mostrando imagens, períodos, batalhas, guerras, armas, derramamento de sangue, o crescer e decrescer da humanidade sendo queimado em chamas que chegaram ao negro e tempestuoso palácio que agora brotava na mente do gnomo, e ele tinha uma leve impressão de que a ondina e a kitsune viam o mesmo que ele;

– Nós tínhamos nascido há muito tempo. Tempos em que os seres humanos ainda aprendiam a dominar o aço e o ferro para caçar, e o fogo para assar suas presas. Não tão diferente dos humanos, os elementais se erguiam dos primórdios e construíam suas próprias civilizações, clãs, segredos, impérios. Os poderes eram variados, e a imaginação para o mal e para o bem eram infinitas e eternas. Lutamos para que a ordem se mantivesse reunindo o maior número possível de elementais poderosos, mas eles perderam o caráter e a essência, chegando ao ponto de se considerarem deuses ou seres divinos. Entre eles, o veneno espalhou-se e corroeu a aliança que existia de sangue entre nós. Aquela que um dia mais confiamos, pouco a pouco foi dominada pela imprudência, a loucura, e sua razão foi tomada pela insanidade de poder e domínio. Tentamos o mais que pudemos expulsá-la dentre nós, porém nossos seguidores ficaram tão poucos assim como a luz ao anoitecer. Ela se revoltou, encheu-se e ira e nos amaldiçoou transformando a carne em pedra, e a alma em nada. Os bodes sabedores do campo, os gigantes assassinos, as rastejadoras malignas, e toda espécie renegada demoníaca se sujeitou a ela como a primeira mãe, rainha do inverno e senhora da destruição. Depois de dizimar a corte equinócia e a submeter para si, iniciou uma guerra quase sem limites contra os guardiões da terra. Os Guardiões se esconderam, gemeram, choraram, perderam, lutaram, e nós porventura nada pudemos fazer, até que ele surgiu, o estranho. Waeros com coragem, astúcia e fúria dizimou os exércitos, lutou contra a tempestade e o inverno, e com o anel que tinha guarnecido desde o início dos tempos, pôs o selo nas falésias para que a barreira dos espíritos jamais tivesse ser quebrada ou balançada. A primeira mãe dormiu para nunca mais acordar, no entanto, a hora é chegada, e o samhain é chegado. Vejam.– as imagens na cabeça de Klaus queimavam e pareciam sacudi-lo, a riqueza do conhecimento, e a glória da ancestralidade repudiavam a razão e sua mera capacidade de raciocinar. As inúmeras batalhas travadas, a construção de Sídh, a prisão de Cailleach nas falésias de Moher, Draupnir brilhando e ofuscando a imagem de Waeros e projetando uma incansável barreira que protegeria todos do inverno. Tudo caía como estrelas cadentes ou fogos de artifício quando avistou o céu noturno e distante além de pálido em Sídh, na Baviera, em Yin Huang e até mesmo na ilha Tartária, uma explosão de energia negra e devasta cobrindo os céus, e imagens tamborilando como grandes hologramas fictícios, só que agora estendiam-se além da realidade. Muitas culturas sabiam que o Samhain era algo de efeito inominável, o mundo fixo dos elementais e a natureza dos renegados e Cailleach se chocavam, e nada seria mais o mesmo. Estava acontecendo. A primeira mãe estava acordando, o que estaria acontecendo em Sídh?

–Não, não, não....- murmurava Klaus -Isso...isso não pode estar acontecendo- Tudo agora fazia completo e único sentido para o gnomo, Cailleach era uma dos muitos elementais que se consideraram divinos, mas diferente dos outros, ela era especial, o motivo da terceira estátua da deusa tríplice estar em ruínas era porque a primeira mãe fazia parte da deusa, ela simbolizava o inverno, a lua nova, a destruição, o começo. Annis era a juventude, a virgindade, já Mari era a lua cheia, a magia, o poder, juntas eram poderosas, mas Cailleach queria mais além de proteger encruzilhadas, queria ser uma rainha, uma única deusa, Klaus sabia disso, mas do que ela seria capaz? Se unido a Ahura? Capturado Katherine?!

Se engana, filho da luz, ao tentar adivinhar os planos da detentora do inverno e do caos – dizia Annis, como se conseguisse compreender e acompanhar seus pensamentos - O amor sempre foi e sempre será a arma dos poderosos e gananciosos para corromper os inocentes. Cailleach foi dominada pelo desejo, e por este ela desceu em angústia para que séculos depois um filho da luz fosse seu sacrifício. Você mais do que ninguém sabe disto– a mãe tríplice parecia estar se dirigindo pessoalmente a ele, mas foi quando ouviu o grito de Suzana, que entendeu que ela também via aquela imagem: Jack estava caindo, sendo atormentado, dominado, algo o perseguia, e seus últimos gritos eram agonizantes. Klaus gritou tentando alcançá-lo com seus dedos, no entanto a visão se desfez como as lágrimas que estavam no rosto da Ondina. Rose estava séria e compacta quando finalmente abriu os olhos e então todos ficaram em repleto silêncio;

Aproxime-se– disse Mari. Ele estava fraco, quase totalmente debilitado, mas conseguiu sair de perto de Rose que pouco ligava para o choro e quebranto da ondina no chão com relutância e então ficou diante da deusa tríplice. Ambas as estátuas agora brilhavam mesmo com o crepitar das chamas que assumiam a coloração verde. Klaus andou com todos os ossos rangendo de dor, e sentiu a mão doce e fria de Annis tocar sua testa e então uma energia viva e elemental apossar-se de seu corpo restaurando o fôlego e seus comuns movimentos. Ele tentou sussurrar a palavra obrigado, mas a deusa tríplice bradou em voz alta;

A partir dos segredos que lhes foram dispostos, e dos caminhos que lhe são dados, deveis escolher aquilo que é oferecido aos seus olhos. Três caminhos de ida. Um caminho de volta. O caminho dos ladrões, cuja escuridão é para a extrema direita e não permite a volta, O caminho dos ricos, em que a luz dourada ilumina os ossos e conduz à última riqueza, e o caminho dos heróis, destinado àqueles que morrem por honra e amor -Klaus olhou para trás e entendeu que eles deveriam ter pressa.

*****

–Temos três escolhas, três caminhos, mas apenas uma saída- dizia Klaus como se quisesse dizer especificamente as palavras ditas pela deusa tríplice;

–Podemos selecionar qualquer rota, mas a possibilidade de pegarmos Draupnir e sairmos "vivos" é...digamos...pequena- repreendeu Rose com seu velho tom sábio e reprovador -De qualquer forma, deveríamos analisar as opções. Waeros não era tolo, como o anel era sua maior preciosidade, é óbvio que ele o esconderia através do caminho dos ricos.Sabemos como se tornou arrogante-

–Não- refetuou Suzana, que ainda estava com o rosto marcado por lágrimas -Você não tem direito de escolher. Ouviu o que a deusa tríplice disse. É uma renegada, apenas os filhos da luz podem escolher o caminho, você não foi chamada pelo fogo de Prometeu- o olhar da kitsune e da ondina se acirravam como uma erupção capaz de destronar toda uma ilha de seus habitantes, e um tsunami com capacidade de devorar e dizimar centenas de quilômetros;

–Agora, chega- bradou Klaus -Estou cansado de ouvir você reprimir o tempo todo a presença de Rose, por ela ser é um renegada, ou o simples fato de admitir que está com a inveja. Talvez a chama de Prometeu estivesse errada a respeita de você. Não passa de uma fraca! Faça algo de últil, ou então eu...-

–Fará o que?!- desafiou Suzana enraivecida -Você terminou comigo, me humilhou, rejeitou, e agora quer que eu fique calada? Se confia tanto nela, sua querida Rose, beije-a, case com ela, diga que ainda gosta dela depois de todos esses anos, gnomo- O rosto de Klaus se enrubesceu deixando-o incapaz de fazer qualquer outra coisa -Ah, é, esqueci, você não tem um gorro, é tão renegado quanto...quanto....- as palavras pareciam querer não sair dos lábios da ondina, porém foi Rose que completou;

–Quanto eu? Isso, Suzana, mostre o que você realmente é. Nada do que você fez ou acha que pode fazer vai mudar o fato de Klaus me amar mais do que sempre te amou - As palavras saíram como flechas diretas no coração da ondina, provocando as lágrimas caírem do rosto de Suzana como torrentes de água duma cachoeira. Depois daquilo, Klaus permaneceu em silêncio em meio ao ressentimento entre a kitsune e a ondina. Ambas já não se olhavam, trocavam o mínimo de afeição. Elas se odiavam. E por mais que tentasse não se sentir culpado, lembrou-se de Jack, e como tinha sido capaz de esquecê-lo por causa daquela discussão ridícula no subterrâneo do castelo de Waeros, a ausência de Katherine, a confiança e a responsabilidade de quase todas as vidas do planeta em seus ombros, lhe fazia sentir raiva e uma devastadora tristeza que o impediu levemente de chorar quando lembrou-se que ele tinha uma decisão agora a tomar, com a indisposição de Rose e o ódio para com Suzana, pensou no que deveria fazer.

Depois de minutos em silêncio, andou para se aproximar da deusa tríplice, e foi aí que percebeu que suas respectivas tochas já não estavam mais em suas mãos e sim iluminando os caminhos conjurados. Antes que pudessem falar, o gnomo disse;

–Nós...nós escolhemos por onde ir. Queremos o caminho dos heróis-


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Notas finais do capítulo

Obrigado