O peso em sua cabeça era muito mais do que apenas um adorno de ouro. A massa daquela coroa era similar a tudo o que ela representava. Zachary se perguntou se as dores – musculares e psicológicas – causadas por aquilo era a causa do mau-humor de seu pai e se faria o mesmo com ele. Ao olhar para o lado, soube que não.

Valentina também usava uma coroa, com os cabelos puxados para trás em um coque solto. O vestido branco ainda era o principal destaque daquele dia. Não pelos diamantes encrustados no busto, mas sim por tudo o que ele significava.

Mais do que a coroa, o vestido significava a nova era que estava por vim.

“Vida longo ao Rei Zachary” Alguns súditos aclamaram, sem saber ao certo o que estavam fazendo.

Os acontecimentos dos últimos dois meses deixaram a todos confusos. A renúncia em conjunto com o divórcio (termo que não era usado há décadas), um anuncio de casamento e de uma nova criança a família real mexeu com todos os nervos do Reino. Afinal uma família em crise não poderia comandar um país.

Todos naquele palácio sabiam que o primeiro feito de Zachary como rei deveria ser algo grandioso. O único jeito daquele rapaz conseguir o respeito e a confiança de seus súditos seria ou pelo amor ou pela dor. Escolher Valentina talvez não fora um ato tão impulsivo quanto pensara.

Se alguém poderia ajudá-lo naquele momento, era ela.

Zachary pode ver o pai e a mãe sentados na primeira fileira do lado esquerdo, com apenas Aurora para separá-los. Com quatro meses, a barriga já estava aparente e a princesa não fazia questão alguma de escondê-la, contudo ela se arrependeu por não ter escolhido algo mais solto. O desconforto de se sentar entre os pais já era o bastante para ela não precisar do desconforto da barriga. Ainda assim, toda vez que seu olhar cruzava com o do irmão, ela sorria.

Sem dúvidas, foi a cerimônia mais desconfortável já vista. Nem mesmo os comes e bebes foram capazes de quebrar a tensão. Os convidados vagam pela mesa de alimentos, serviam-se de uma bebida qualquer, olhavam de canto de olho para a Família Real e em seguida saiam aos cochichos.

Quase todos eles envolvendo America Leger.

A mídia resgatara todo o histórico da mulher durante A Seleção e unira o divórcio com a recente visita dela ao Palácio. Os rumores vieram a seguir. O que mais se espalhou foi o de um caso entre os dois. Todavia, ainda existiam os rumores menores, muitas vezes absurdos, mas que eram aceitos por um ou outro mesmo assim. Um destes colocava em dúvida a paternidade de Lorenzo.

E por mais que nada do que era dito pelas ruas fosse verdade, cada vez que surgia uma história nova, os nervos dos envolvidos saltavam à flor da pele, devido ao fato de que era mais uma prova da fragilidade que estava o governo de Illéa.

Estavam todos achando que a comemoração iria durar eternamente, quando alguns convidados começaram a se retirar. Só que isto já era em torno das quatro horas da manhã e o pouco humor dos moradores já se esgotara.

Aurora foi a primeira a se retirar, seguida pela mãe, que ansiava pelo momento em que se veria longe do ex-marido. Sierra já estava na cama desde antes da meia noite por ordens da mãe. Lorenzo alegou já estar muito cansado e se retirou junto com a princesa. Restou-se, além dos criados apressados em limpar o palácio, os noivos e seus pais.

– Nós queríamos falar com vocês antes. – Maxon começou, mas foi interrompido pelo filho.

– Não aqui. – Pediu e liderou os outros três a uma sala reservada.

– Bom... – America tentou falar. – Vocês nos pediram para esperar um tempo para assumir o relacionamento e... – Sua voz falhou.

– Ainda é cedo, mãe. – Valentina sussurrou com a voz suplicante.

– Vocês sabem que enquanto eu ficar por perto, o Reino nunca confiará em Zachary. – Maxon retomou ao notar que a ruiva não conseguiria falar. Os novos Rei e Rainha trocaram um olhar alarmado, já haviam conversado sobre aquilo antes. – Nós vamos embora. Há dois ou três anos eu comprei uma fazenda, a um dia de viagem daqui e-

– Há quanto tempo pensa em renunciar? – Zachary apertou os punhos.

– Desde quando percebi que você seria um Rei melhor do que eu. Só queria... – Fez uma careta. – Só queria ter certeza de que escolheria uma boa esposa.

America passou a mão no braço do homem em sinal de conforto.

– Não precisa ir junto. – Valentina estava com a voz embargada, segurar as lágrimas era seu primeiro feito como rainha.

– Sim. – A mulher achou graça da filha. – Sim, eu preciso.

– É isso o que que quer para você? – A garota respirava fundo e falava apressadamente. – Uma vida de fugitiva? De criminosa?

– Meu amor, nós dois perdemos tudo por orgulho. Eu sei que é difícil por conta da Kriss e do Aspen, mas nós nunca fomos felizes ao lado deles. Tudo por orgulho.

Valentina tentou outra vez, mas foi calada com um olhar pelo marido.

– E a Sierra? – Ele mesmo perguntou.

– Contrataremos um professor particular semanal. Mas ela vai conosco.

Zachary soltou o ar que nem percebeu que prendia. Valentina ainda o segurava e continuava inspirando e inspirando.

– E por que estão falando isto agora? - Ele perguntou, com medo na resposta.

– Vocês vão sair em poucas horas, nós vamos assim que a Sierra acordar.

– Já que estão tão certos do que querem... – Valentina deu os ombros e saiu do aposento sem se despedir.

Foi ao seu novo quarto, e deixou-se chorar apenas quando bateu a porta atrás de si. Esta foi aberta minutos depois por Zachary que se apressou a consolá-la. Tirou a sobrecasaca e a largou no chão. A mulher estava apoiando os braços no parapeito da janela, debruçada sobre este enquanto tentava conter a respiração. Ainda usava o vestido de casamento, porém seu marido foi hábil em desamarrar o corsette para ajudá-la a respirar.

Ela deixou que a roupa escorregasse aos pés, respirando fundo enquanto recebia beijos por toda extensão das costas.

– Vai ficar tudo bem. – Ele repetia, ora para si mesmo, ora para a esposa. – Eles sabem o que está fazendo.

– A sua mãe tem uma chance. – Suspirou quando finalmente se acalmou. – Ela ainda tem uma chance de ser feliz, o meu pai não teve.

– Você o fez feliz. – Parou de massagear seus ombros e a enlaçou pela cintura. – Estou certo de que foi o bastante para ele.

Valentina queria argumentar, todavia sabia que ainda teria tempo o bastante para se preocupar com a mãe. No momento, tinha uma lua de mel que precisava de sua atenção.