Demônios escrita por Fabrício Fonseca
Desligo o computador e olho as horas no meu relógio de pulso, são exatamente cinco horas da manhã. Estou sem sono, na verdade não me sinto nem um pouco cansado. Dormi na noite passada e me sinto tão descansado como se tivesse adormecido por uma semana inteira.
Como sinto sede decido que vou caçar, saio do escritório e entro no quarto o mais devagar possível para não fazer barulho e acabar acordando Annabelle. Pego uma calça e meus coturnos no closet e entro no banheiro. Me visto rapidamente e calço minhas botas e saio do banheiro contando os paços, paro na porta do quarto de Derec e o observo dormir.
Hoje ele completa cinco anos; parece estar tendo um sonho porque sorri enquanto dorme. A luz do abajur sobre a cômoda que fica ao lado da cama está acesa e a claridade bate na parede pintada de azul e faz parecer que o teto é próprio céu durante a noite.
Ando devagar até o lado de sua cama e desligo o abajur.
–Papai? – Ele diz se mexendo entre as cobertas, mas sem abrir os olhos.
–Sou eu, filho – eu passo a mão sobre sua cabeça lhe acariciando os cabelos.
Derec se parece muito com Annabelle, mas ela insiste em dizer que ele se parece mais comigo. Ele tem os cabelos negros e lisos como os de Annabelle, que vão até a altura dos ombros; tem a pele clara e os olhos escuros. Ele é perfeito, meu filho.
–Lá na floresta vai ter um caçador – ele começa a falar novamente – ele vai estar atrás de um urso e vai estar machucado, sua blusa vai estar suja de sangue.
–Tudo bem, querido. Pode voltar a dormir agora – eu digo e logo depois lhe beijo a cabeça. Ele se vira e volta a dormir.
Derec pode prever o futuro e fazer algumas coisas, como os moveis, flutuar. No começo isso assustava Annabelle, ele podia fazer as fraudas flutuarem e entrava pra dentro de casa pouco antes de flutuar, mas agora ela se diverte com tudo.
Quando seus poderes começaram a se manifestar foi fácil entender porque eu senti o mesmo que Annabelle no dia de seu parto. Derec, de algum modo que nem mesmo ele sabe, havia “conectado” Annabelle a mim, e a partir daquele dia eu posso sentir o mesmo que ela, assim como ela pode sentir o mesmo que eu.
Fecho a porta com cuidado para não fazer barulho quando saio de casa, olho para o céu e vejo como a noite está clara; me viro para a floresta que fica do lado contrário ao acampamento, perto da montanha e corro em direção a ela.
Como Derec havia dito há um homem na floresta, ele segura um rifle em sua mão e olha de um lado para o outro. A manga de seu casaco amarelo está rasgado e sujo de sangue, ele está ferido.
De repente algo passa em minha cabeça, eu já havia visto Annabelle fazer, e eu mesmo só havia feito uma vez. O hipnotismo. Vou até o homem e o viro pra mim, ele parece estar assustado, olho em seus olhos e começo a falar:
–Você está ferido, não deveria estar aqui. Está cansado e com fome e vai embora agora!
–Vou embora agora. – O homem diz meio sonolento, se vira e começa andar o caminho de volta.
Estamos o suficientemente escondidos, mas muitos caçadores adentravam a mata e acabam chegando aquele ponto. Se chegarem ali não é muito difícil que encontrem o acampamento e nós não queremos isso.
Ouço algo se mexendo na mata, não é uma pessoa, posso sentir o cheiro. Me viro para o ponto onde vem o barulho e vou a caça.
§§§
O sol já nasceu, deve ser seis da manhã; chegou em casa e Derec e Annabelle já estão acordados, ela prepara o café para ele.
–Papai. – Ele grita e corre em minha direção e eu o pego em meu colo – vamos brincar lá na montanha?
–Hoje é seu aniversário, pode ter tudo o que quer. – Eu o sento à mesa da cozinha, vou até Annabelle e lhe dou um beijo.
–A blusa está suja de sangue – ela diz sorrindo, e logo depois vai até a mesa com um prato cheio de panquecas – o café está pronto.
–Vou tomar um banho. – Eu digo e saio da cozinha.
Antes de entrar no banheiro eu ouço Annabelle dizer:
–Filho, não brinque com a comida.
Com toda certeza Derec devia estar fazendo as panquecas flutuarem, ele sempre faz isso.
Tomo um banho rápido, visto uma calça e uma blusa e calço um sapato e saio do quarto.
–Meu pai ta preparando uma festa surpresa pra ele – Annabelle diz saindo da cozinha e vindo até mim e me abraçando.
Derec está lá fora brincando com uma bola de futebol.
–Ele sabe que Derec vai descobrir antes de irmos pra lá, não sabe?! – Eu digo sorrindo e lhe dou um beijo.
Saímos de casa e Derec pula em meu colo novamente, segurando a bola de futebol laranja nas mãos.
A montanha fica logo após a floresta, Derec ama ir brincar lá. Vamos correndo, o que faz Derec ficar rindo, então chegamos rapidamente.
Flores e mais flores crescem por todo espaço, e a grama está tão verde que brilha por causa da luz do sol. Nós nos sentamos e ficamos um momento calados.
–Tenho uma coisa pra te contar – Annabelle diz com um sorriso travesso em seus lábios.
–Eu vou ganhar uma irmãzinha – Derec fala.
–Não se pode esconder nada de você, Derec – Annabelle diz soltando um risinho fraco.
–Você está grávida? – Eu digo rindo e ela assente com a cabeça. Eu lhe dou um beijo.
–Vai ser uma menina – Derec diz mexendo a bola em suas mãos – vamos brincar papai. – Ele diz e se levanta correndo e chutando a bola.
–Já to indo, filho.
Chego um pouco mais perto de Annabelle e lhe abraço enquanto a beijo.
–Eu te amo! – Eu falo.
–Eu também te amo! –Ela responde sorrindo.
Eu abaixo a cabeça e seguro em sua mão.
–Eu vou te amar... – Nós dissemos juntos.
Eu levanto a cabeça e nós nos olhamos nos olhos. Nos conectamos.
–Para todo o sempre!
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Este foi o último capitulo de Demons, espero que tenha gostado :')