Já fazia uma semana desde que eu havia falado com Davi. No começo eu havia ficado um pouco... Perturbado com o que ele havia dito, mas já não fazia diferença alguma pra mim. Layla havia sugerido que fôssemos acampar no feriado, mas eu não estava com vontade alguma de perder meu tempo livre no meio do mato. Eu acabei indo no final porque 1) eu não tinha para onde ir ainda e é claro que 2) eu não queria ficar sozinho no campus durante uma semana inteira. Ao todo íamos eu, Layla, Derek e Alicia. Alicia era uma menina da minha classe de francês que na verdade, eu nunca havia conversado na minha vida. Ela era realmente bonita. Possuía tantas tatuagens quanto eu, e todas provavelmente – assim como as minhas – feitas sem a permissão de qualquer adulto. Possuía além de um piercing no septo, um na lateral do nariz e outro em sua língua. Vez ou outra usava um par de argola sobre os lábios. Possuía cabelos loiros quase brancos e extremamente longos.

– Você poderia me falar um pouco sobre Alicia...

– Ela é gostosa. Fim. – Derek sorria de maneira cínica, como sempre. Layla revirou os olhos e pegou o carregador de celular em cima da cômoda, era do tipo ‘’feminista’’ e não gostava quando o moreno se referia daquele modo ás mulheres.

– E você é um idiota, Derek.

Layla saiu do quarto e bateu a porta com força atrás de si. Não estava com raiva de verdade, obviamente. Eu só queria passar meu pequeno feriado em casa fazendo merda nenhuma, era pedir demais? Derek atirava suas roupas dentro da mala desajeitadamente, parecia estar completamente perdido. Acabei por ajuda-lo a arrumar suas coisas, o que fez com que eu demorasse para terminar de arrumar as minhas. Já eram quase três da manhã quando terminamos

Após curtas e inquietas três horas de sono, Layla bateu na porta do nosso quarto ás 6 horas da manhã. Alguns outros alunos pediram carona para Derek, que acabou cedendo. Eu e mais sete pessoas nos esprememos no seu pequeno carro escuro. Alicia acabou tendo que se sentar no meu colo, ao lado de Sara, que se sentou no colo de um garoto da minha classe de matemática. Acho que se não fosse pelos quebra-molas na estrada, ou o fato de Derek dirigir incrivelmente mal quando o carro está cheio, aquela situação teria sido... boa. Vez ou outra Alicia se movia no meu colo, provavelmente procurando uma posição confortável que não fizesse sua cabeça bater no teto do carro. Confesso que tive que manter minha mente ocupada durante todo o trajeto para não pensar em certas coisas naquele momento. Alguns quilômetros depois, todos desceram do carro, restando ali dentro apenas Derek, eu, Layla e Alicia. A garota desceu do meu colo e Layla passou para o banco da frente, ao lado de Derek. Permanecemos em silêncio durante o trajeto inteiro, uma música qualquer de uma rádio qualquer ecoando baixinho pelo carro. Finalmente chegamos no lugar que Layla julgou ‘’bom para passar a noite’’. Descemos do carro e montamos as tendas, foi bem mais difícil do que parecia. Vez ou outra eu via Derek e Layla sussurrando algo e apontando para Alicia. Derek parecia irritado e contrariado sempre que Layla ia em sua direção. Eu tinha a leve impressão de que havia algo ‘’rolando’’ entre os dois. Bem, não era da minha conta. Derek me perguntou com um olhar de cautela se poderia dividir a tenda com Layla e eu apenas murmurei que sim. Seria constrangedor dividir aquele espaço minúsculo com Alicia, mas não me restava muita escolha.

Todos nos sentamos ao redor de uma fogueira improvisada que Layla havia montado e que provavelmente iria apagar a qualquer momento. Já estava escurecendo quando Derek puxou uma caixa térmica do porta-malas, revelando algumas garrafas de Schweppes, gelo e algumas frutas. Layla o seguiu com duas garrafas de vodka em mãos.

– Vamos começar a noite bem, ok? – Ela riu, como se já estivesse prevendo que o resto da viagem ia ser uma merda. Dei de ombros e peguei um dos copos. Layla encheu cerca de três quartos do copo com Big Apple e apenas um pouco de Schweppes. Olhei pra menina um pouco incrédulo, mas acabei virando o copo mais rápido do que imaginava. Algumas horas de conversa depois, Derek já estava completamente fora de si e ria como um louco. Entrou dentro de sua barraca e adormeceu segundos depois de se deitar. Layla fez o mesmo, deixando-me sozinho ali com uma Alicia de bochechas rosadas e cabelos loiros que caíam sobre seus ombros com uma delicadeza incrível. A loira se sentou ao meu lado e levou uma de suas mãos de unhas extremamente bem feitas até a minha nuca, como se me puxasse para mais perto de si. Céus, eu provavelmente estava completamente alterado. Passei uma das minhas mãos ao redor da nuca da garota e a beijei. Durante um certo tempo ficamos ali, apenas nos beijando. Alicia me empurrou com uma incrível delicadeza para dentro da tenda, e se sentou sobre o me colo, seus lábios percorrendo uma trilha ao longo do meu pescoço e....

Eu acho que vocês já tem uma ideia do que aconteceu naquela noite. Eu, pessoalmente não me lembro muito bem dos detalhes. Acordei com um feixe de luz entrando pela janelinha da tenda, Alicia estava deitada ao meu lado debaixo de um cobertor e estava nua. As mechas loiras caídas sobre seu rosto. Levantei-me lentamente ao lado da menina e me vesti. Saí da tenda cobrindo os olhos com as mãos, o sol só piorava ainda mais minha dor de cabeça. De acordo com o meu celular eram 10:43 da manhã. Puxei uma das mochilas de Derek que haviam ficado do lado de fora e peguei um dos remédios de dor de cabeça que o moreno sempre carregava consigo.

– Parece que você aproveitou bem a noite passada... – Ouvi a voz de Derek em algum ponto atrás de mim. Me virei e vi que ele espiava dentro da barraca onde Alicia estava. Revirei os olhos e andei na direção do moreno, fechando a porta da barraca.

– Sabe que eu não teria dormido com uma garota que eu não conheço se estivesse sóbrio.

– Saiba que isso não foi culpa minha. Você transou com Alicia porque quis.

Derek ergueu suas mãos como em sinal de rendimento. Dei de ombros e peguei uma das minhas mochilas no chão. Caminhei até o posto de gasolina mais próximo e andei em passos largos até os banheiros. Céus, aquilo fedia, mas era o melhor que eu iria conseguir no meio do mato. Após um breve banho, coloquei uma camisa xadrez de mangas compridas, um jeans meio gasto e meu allstar. Ao chegar aonde estávamos acampados, vi que Layla e Alicia ainda dormiam. Agora já eram 12h e 39min.

– E Layla? Aconteceu algo entre vocês noite passada?

– Nada além de sermos acordados no meio da noite pelos gemidos-quase-gritos da sua namorada.

– Céus, Derek, você é um idiota.

– Céus, Alan, não me culpe por algo que você mesmo fez.

Soltei um suspiro baixo e enfiei uma das mãos dentro do bolso externo da minha mochila. Meus cigarros estavam ali... Até os de maconha. Fiquei tentado em me afastar de Derek e fumar o máximo que eu poderia sem voltar muito alterado para o acampamento, mas acho que isso ficaria um tanto quanto suspeito demais. Peguei um cigarro de palha de uma marca qualquer e o acendi, enquanto me sentava ao lado do moreno. Mantinha seus olhos esverdeados presos ás cinzas que antes eram uma fogueira.

– Eu agradeceria se você parasse de fumar, um dia isso ainda vai te trazer muitos problemas...

– O pulmão é meu, o cigarro é meu e a saúde é minha.

Derek me olhou com raiva, mas segundos depois seu ódio se transformou em compreensão. Como ele podia ser tão estranho? Puxei lentamente a porta da barraca de Derek e lá estava Layla vestindo as mesmas roupas que usara na noite passada. Seu rosto mantinha uma expressão serena e ela ficava realmente fofa dormindo. Não pude conter um riso baixinho.

– Nós vamos dormir em um hotel hoje anoite. Layla disse que a temperatura vai ser muito baixa...

Dei de ombros, aquilo não iria mudar bosta nenhuma na minha vida. Eu não gostava nem um pouco de viajar. Derek provavelmente imaginou o que se passava na minha cabeça, uma vez que levou um de seus dedos até minha tatuagem na nuca. A acariciou com calma e me lançou um sorriso gentil.

– São só mais uns dias, ok? Não vai ser tãaao ruim assim.

Afastei sua mão do meu pescoço, eu já estava arrepiado apenas com aquilo? Certo, minha nuca era definitivamente meu ponto fraco. Alguns minutos de silêncio constrangedor depois, Alicia saiu da barraca usando um vestido branco bem curto, seus cabelos antes bagunçados agora estavam extremamente alinhados em um rabo de cavalo no alto da cabeça da garota. Seu piercing no septo prateado que antes estava completamente torto para o lado esquerdo havia sido substituído por uma joia menor preta, com spikes nas pontas. Seus olhos percorreram o chão até chegar em mim, fazendo com que suas bochechas se avermelhassem um pouco. A loira me lançou um sorriso e um aceno breve, e então se virou de costas novamente.

Porque será que eu tinha a impressão de que aquela viagem iria piorar cada vez mais?