Run. escrita por Josie


Capítulo 1
Capítulo um - A queda.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoa, acho que deveria me apresentar, mas isso não é local ou momento apropriado, apenas quero deixar claro que o nome de perfil não é realmente meu nome, apenas isso.

Ao contrário do que eu normalmente faço, não vou escrever muito aqui, até por que não acho que combine tanto assim com a história ter uma autora tagarela falando sobre seu vida pessoal nas notas iniciais ou finais de cada capítulo, mas quero deixar claro que se tiverem quaisquer dúvidas sobre a história, responderei de bom grado, sinto muito se soou irritante e se pareço chata aos seus olhos, não gostaria de ser assim, porém sou.

Não sou movida por comentários, mas os aceito de muito bom grado, a história já está por inteira escrita, uma vez que foi um trabalho sobre filosofia, apenas sofrendo leves alterações aqui e ali.

Acho que é apenas isso, espero realmente que gostem dessa história feita em apenas algumas noites de insônia.



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O dia de inverno tão normal estava apenas começando naquela manhã particularmente fria na rua da igreja, como era conhecida por visitantes e até mesmo alguns poucos moradores.

Os gramados do Instituto psiquiátrico Grace normalmente eram coloridos com flores exóticas e extravagantes, de grama tão verde quanto qualquer Deus poderia algum dia pensar.

Mas não naquele dia, aquele dia em particular não lembrava sorvetes e a incrível energia momentânea de fazer alguma coisa, naquela manhã tão fria e cinzenta a vontade de todos os habitantes de Nova York era de ficar em suas camas quentinhas, protegidos do frio e do vento congelante do lado de fora de suas janelas.

Talvez fosse por essa frustração de não estar deitado em sua cama, protegido do mundo, que transformou o rosto branco e de feições fortes, mas leves, em carrancudas e bravas do rapaz de mais ou menos vinte e três anos de idade.

Daniel Weather tinha uma estrutura magra, mas era alto, seus cabelos negros tampavam seus olhos igualmente escuros, olhos sempre tão cansados e de olheiras tão profundas, tais quais o faziam ficar com uma aparência cadavérica e frágil, mesmo ele não sendo realmente assim.

Danial estava sentado em um sofá de coloração estranha e não muito bem definida, como um bege ou rosa claro demais, o sofá confortável fazia um barulho desagradável quando quem estava sentado nele se mexia, e Danial não gostava daquilo. Achava falta de educação fazer barulhos tão estranhos sem necessidade alguma.

Por isso ele ficava absurdamente imóvel sentado no sofá tão confortável e estranho.

A sala em que estava era escura, quase não tinha lâmpadas, apenas uma ou duas luminárias cumpridas e de luzes amareladas escuras, que faziam com que tudo criasse estranhas sombras. A estante ao lado da porta de madeira era repleta de livros, livros que eram organizados em ordem de cor e tamanho, um tanto estranho para qualquer pessoa. O tapete em frente ao sofá era de um azul marinho escuro, a sua textura felpuda fazia cócegas nos pés de Danial, que estava descalço mexendo seus dedos dos pés no tapete, encarando o relógio de gato, que conforme os segundos passavam sua calda balançava de uma lado para o outro, acompanhando as órbitas negras de seus olhos, os números dentro de sua boca eram grandes e negros, feitos para pessoas com problemas de visão, ou apenas para idosas.

Daniel nunca conseguiu entender muito bem um relógio de ponteiros, nunca foi muito bom em seguir realmente um lógica certa e imutável.

O som dos segundos mudando em um tick-tack uniforme não era o único som na sala.

A voz aveludada era calma e baixa, mesmo dando leves solavancos ao pronunciar o "r" de suas palavras.

Os olhos do Dr. Bosch eram acinzentados, como o começo de uma manhã de inverno, olhos tão claros quase transparentes, olhos penetrantes, os cabelos loiros e curtos não tampavam seus olhos, ao contrário dos de Daniel, seus cabelos eram de um loiro não tão claro, um loiro mais queimado, cortado em um corte agradável.

- Você entendeu oque eu disse, Daniel? - Dr. Bosch perguntou com um tom de voz um pouco aguda, com seu sotaque forte e carregado em cada uma de suas palavras.

Daniel, que não tinha prestado atenção em uma palavra sequer do que o Dr. Bosch tinha lhe dito, piscou seus olhos várias vezes rapidamente, tentando forçar-se a retirar sua atenção do relógio preso na parede e voltá-la ao médico que continuava a observa-lo com um curiosidade assustadora.

De todos os sons que poderia exclamar Daniel não pensou muito antes de soltar um "hum" em tom de dúvida.

- Você tem que prestar atenção, Daniel, se não eu não posso ajudá-lo. - O Dr. Bosch disse calmamente em uma paciência invejável para qualquer ser humano. - Você quer que eu ajude você, não quer?

- Quero. - A voz baixa e rouca de Daniel saiu como um sussurro triste e sem forças, como se lhe custasse mais do que suas cordas vocais poderiam lhe dar dizer aquela simples confirmação.

O Dr. Bosch recomeçou a falar com um ânimo assustador, não dando a Daniel outra opção a não ser parar de ouvi-lo e voltar sua total atenção ao relógio tão estranho com o gato bizarro e marrom.

O tom monótono da voz do Dr. Bosch ao fundo da mente de Daniel o fazia querer adormecer ali mesmo, mas ele também achava que aquilo era falta de educação, portanto se esforçava ao máximo para continuar a prestar atenção no relógio que parecia ainda mais lento do realmente deveria ser.

Finalmente o Dr. Bosch parou de falar, e Daniel teve um medo anormal de que ele lhe tivesse feito outra pergunta, mas não era aquilo, a sessão tinha apenas terminado, e Daniel finalmente poderia ir embora daquele local tão escuro e silencioso. Silencioso demais até para mentes cheias de sanidade.

Daniel calçou seus sapatos cuidadosamente, controlando sua ansiedade de ir embora daquela sala, e por fim levantou-se quase tão calmo do que antes.

- Nos vemos semana que vem, Daniel. - Dr. Bosch disse sorrindo e lhe estendendo a mão depois de se levantar da poltrona preta.

Daniel apertou sua mão com firmeza e sem dizer mais nada saiu da sala.

O corredor era muito diferente da sala, as paredes do lado de fora eram brancas quase que cegantes, e a luz era igualmente branca, sem nenhum resíduo de escuridão, porém submersa em um silêncio excessivo.

Daniel andou pelos corredores cumpridos e aparentemente idênticos sem problema algum, como se seus pés já conhecessem o caminho para a saída automaticamente, sem precisarem de alguma atenção real dele.

O vento frio na rua deixava o ar ainda mais egocêntrico, e Daniel desejou com todas as suas forçar ter trazido um casaco mais pesado, ou pelo menos ter posto uma blusa mais grossa do que a que estava usando.

A rua estava parcialmente vazia, e com isso Daniel pode andar mais rápido do que costumava fazer, sem arrastar seus pés e quase correr em direção a sua moradia. Passou por ruas realmente desertas e outras mais cheias do que o esperado para uma manhã quase tão fria do que um inverno na Europa.

Seus olhos lacrimejavam devido ao vento frio que batia em seu rosto, suas mãos estavam frias mesmo estando nos bolsos de seu casaco, e seu nariz já estava ficando levemente avermelhado, mas mesmo assim não diminuía o passo, se negando a parar em algum lugar protegido do frio, e mesmo que quisesse entrar em alguma das inúmeras lojas abertas elas pareciam abandonadas naquela manhã.

A cidade de Nova York costuma ter uma fama estranha e um tanto assustadora, principalmente em uma manhã tão deserta como aquela, as ruas pareciam ainda mais como nos boatos maldosos dos filmes como Diário De um Adolescente ou qualquer outro conto com algum final que possa vir ensinar alguma coisa, de fato, os cinegrafistas fariam as melhores cenas de perseguição com aquele cenário naturalmente estranho. Sendo uma parte mais afastada e menos conhecida de Nova York era de se esperar que as ruas estivessem desertas e os becos ainda mais estranhos do que normalmente.

E talvez fosse por que Daniel morava ali há tempos que não se importou muito em realmente se importar, apenas andou como se estivesse andando dentro de alguma delegacia, ou em alguma área ainda mais segura do que tal local.

Seus passos não ecoavam na rua devido ao vento que agora soprava mais forte do que antes, e suas pernas pareciam que pesavam o dobro de seu real peso devido ao frio que sentia, mas mesmo assim Daniel continuou andando.

Sempre gostou de andar a pé, mesmo em dias quentes ou frios, até mesmo chuvosos, sempre gostou de observar as ruas e as pessoas, imaginar suas histórias e fazer comentários mentais sobre suas próprias observações.

Mas talvez naquele dia, se pudesse prever o que aconteceria, ele preferiria ir de táxi ou algum outro meio de transporte ainda mais calmo do que andar a pé. A esquina que virou era repleta de prédios altos e escuros, mal cuidados, mas mesmo assim com uma arquitetura admirável.

Os inúmeros prédios pareciam todos iguais, e enquanto Daniel olhava para cima tentando enxergar o final de um dos prédios tão normais e iguais ele viu, algo caindo gradualmente de cima do prédio, era grande demais para ser um vaso de flores como em algum desenho animado, e desenhos animados não mostravam o que realmente estava caindo cada vez mais rápido do último andar do prédio cinza e com ordem de demolição.

O som de algo caindo no chão de uma altura muito alta muda conforme a situação, mas em todas essas situações é um som parecido com algo acabando, mesmo que seja apenas um copo de vidro que escorregou da pia molhada e caiu ao chão, menos de um metro e meio, e se quebrou em pedaços grandes e alguns pequenos, ou mesmo que seja uma pessoa.

O som é sempre igual, de pura finalidade.

Por alguns segundos Daniel não se mexeu, apenas ficou parado tremendo sem saber se era pelo frio ou pelo susto, apenas tremendo com sua boca entreaberta, e seus olhos encarando os olhos ainda abertos da moça de cabelos lisos e castanhos. Seus olhos eram verdes e não tinham mais o brilho que uma pessoa tem em seus olhos, mas talvez fosse pelo vento que bateu neles durante a queda.

E tudo o que Daniel conseguiu pensar foi no motivo da moça de olhos vazios ter feito aquilo, e pela primeira vez desde que se mudou para Nova York não foi de seu inteiro agrado imaginar a vida que a moça teria, uma vida tão triste e solitária ao ponto de querer adiantar sua morte.

Sua cabeça doía devido aos pensamentos que iam e vinham rápido demais, não podia pensar muito, se pensasse muito não conseguiria realmente pensar, era como se entrasse em uma função automática, e que sua consciência fosse adormecida em que ele não controlava seus movimentos. Então ainda pensando rápido demais e com lágrimas saindo de seus olhos devido a dor de sua cabeça, ele recomeçou a andar, muito mais rápido do que antes.

Não observou realmente as ruas dessa vez, sua mente estava mais ocupada relembrando o olhar frio e vazio da moça ainda mais fria e vazia, e novamente começou a pensar mais rápido do que deveria, mas antes que algo pudesse realmente acontecer Daniel entrou em um prédio aparentemente idêntico aos tantos outros, até mesmo idêntico ao que observava há alguns minutos.

O porteiro o cumprimentou, mas Daniel não notou, ou ao menos não sentiu a necessidade de responder, mesmo isso indo contra todos os seus bons hábitos sua ótima educação, subiu os quatro andares contando os degraus apenas por manter sua mente ocupada.

Abriu a porta marrom, as grades já estavam abertas, e entrou no pequeno apartamento. Pequeno e bem iluminado, sem um canto obscuro ao alcance dos olhos, Daniel não gostava de escuro, ligou a escuridão a coisas maléficas e ruins, portanto garantiu que o lugar aonde moraria não tivesse um canto sequer muito escuro.

O pequeno cachorro chamado Scoth começou a pular em sua volta, feliz ao ver o dono, mas Daniel não deu muita atenção ao pequeno vira-lata, ignorando Scoth e sua exaltação ao vê-lo, foi direto para seu quarto, se sentando na cama redonda e branca assim que entrou nele.

O quadro em frente a sua cama era pintado a óleo, algo que sua mãe tinha, e olhando para a figura das árvores sem sequer piscar não notou quando a figura começou a se movimentar discretamente diante aos seus olhos, e antes mesmo de notar já tinha começado a pensar mais rápido do que deveria.

Se inclinou para trás, deitando na cama deixando apenas suas pernas ainda por fora, fechou seus olhos e adormeceu, sentindo os pensamentos pararem gradualmente, relaxando por completo.

***

Ainda estava claro quando Daniel acordou com os latidos de Scoth; Scoth normalmente não latia, apenas se fosse algo muito sério, ou se enxergasse um guarda-chuva preto perto demais de si, mas não tinha nenhum guarda-chuva preto daquela vez.

Daniel abriu seus olhos ainda meio sonolento e atordoado com os latidos do cão, demorou um pouco para pôr sua visão em foco, e quando finalmente recobrou todos os seus sentidos desejou não ter feito tão rapidamente.

Parado em frente a sua cama, com Scoth latindo a plenos pulmões em seus calcanhares, estava uma réplica perfeita de Daniel. Mas não um boneco, era ele, um outro ele. Com os mesmos cabelos caídos sobre seus olhos escuros, e até mesmo as mesmas roupas que estava usando.

A princípio Daniel não entendeu muito bem, não prestava mais atenção aos latidos de Scoth, apenas encarava o Outro Ele que parecia se divertir com a situação estranha, os mesmos olhos, o mesmo cabelo, a mesma altura, mas mesmo assim alguma coisa naquele sorriso de canto dizia que o Outro Ele não era nada como Daniel.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, se desejarem digam oque acharam, ficarei muito feliz.

Até outra hora.



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