O Crepúsculo do Eduardo escrita por AmandaC


Capítulo 42
Como começar?




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- É mais difícil do que deveria... rastrear você. Em geral posso encontrar uma pessoa com muita facilidade, depois de ter lido sua mente.

Ela olhou para mim com ansiedade e percebi que eu tinha congelado.

- Hum... – resmunguei.

- Eu estava vigiando o Mike, sem cuidado nenhum... Como eu disse, você me parece o tipo que arranja encrencas... E no início eu não percebi que você saiu sozinho. Depois, quando notei que não estava mais com ele, fui procurar você na loja de jogos que tinha visto na cabeça dele. Eu soube que você não tinha entrado e que foi para o sul... E sabia que teria que voltar logo. Então eu só estava esperando você, procurando ao acaso pelos pensamentos das pessoas na rua... Para ver se alguém o notara e eu poderia saber onde você estava. Não tinha motivos para ficar preocupada... Mas estava estranhamente ansiosa...

Ela estava perdida em pensamentos, olhando através de mim, vendo coisas que eu nem podia imaginar.

- Comecei a dirigir em círculos, ainda... escutando. O sol finalmente se punha e eu estava prestes a sair do carro e seguir você a pé. E então... – ela parou, trincando os dentes numa fúria súbita. Fez um esforço para se acalmar.

- Então o que? – sussurrei. Ela continuou a olhar por cima da minha cabeça.

- Ouvi o que eles estavam pensando – grunhiu ela, o lábio superior se virando um pouco para baixo por cimas dos dentes. – Vi seu rosto na mente deles.

Ela de repente se recostou no banco, a mão cobrindo seu rosto. O movimento foi tão rápido que me sobressaltou.

- Para mim, foi muito... difícil... nem pode imaginar como foi difícil... simplesmente tirar você dali e deixá-los vivos. – sua voz era abafada pela mão. – Mesmo sabendo que eles estavam drogados, ainda assim eu desejei matá-los. E eu devia tê-lo levado direto para o seu amigo. Mas não queria que você fosse. Não queria... mesmo sabendo que seria o mais seguro para você nesse momento! – admitiu num sussurro.

Fiquei congelado, em silencio, meus pensamentos incoerentes. Minhas mãos apertavam o banco e eu mal me recostava nele. Ela ainda estava com as mãos no rosto e tão imóvel que era como se tivesse sido entalhada na mesma pedra de sua mão.

Por fim ela olhou para cima, os olhos procurando os meus, cheios de suas próprias perguntas.

- Pronto para ir para casa? – perguntou ela.

- Estou. – me habilitei, grato por ter algum tempo ainda com ela.

Ela deu a partida no motor e ligou o aquecedor no máximo. Tinha ficado muito frio e eu mal tinha notado.

Clara entrou no trânsito, aparentemente sem olhar, virando para pegar outra rua.

- Agora – disse ela sugestivamente – é a sua vez.

 

- Posso fazer só mais uma pergunta? – pedi enquanto Clara acelerava rápido demais. Não parecia estar prestando atenção na estrada.

Ela suspirou.

- Uma. – concordou. Seus lábios se apertaram numa linha cautelosa.

- Bom... você disse que sabia que eu não tinha entrado na loja e que fui para o sul. Estou aqui me perguntando como sabia disso.

Ela desviou os olhos, refletindo.

- Pensei que tínhamos deixados as evasivas para trás. – murmurei.

Ela quase sorriu.

- Tudo bem, então. Eu segui seu cheiro. – ela olhou para a estrada, dando-me um tempo para recompor minha expressão. Não conseguia pensar em uma resposta aceitável para isso, mas arquivei a questão cuidadosamente para análise posterior. Tentei me encontrar novamente. Não estava pronto para deixar que ela encerasse o assunto, agora que ela finalmente explicava as coisas.

- E você não respondeu a uma das minhas perguntas... – protelei.

Ela olhou para mim com desaprovação.

- Qual delas?

- Como é que isso funciona... o negócio de ler a mente? Pode ler a mente de qualquer um, em qualquer lugar? Como você faz isso? Toda a sua família pode... ? – eu me senti idiota, fingindo querer esclarecimentos.

- É mais de uma. – assinalou ela.

Eu simplesmente olhei para ela, esperando.

- Não, só eu. E não posso ouvir todo mundo, em qualquer lugar. Tenho que estar bem perto. Quando mais conhecida for a... “voz” da pessoa, maior a distância em que posso ouvi-la. Mas ainda assim, só a poucos quilômetros. – ela parou pensativamente. – É meio como estar numa sala enorme cheia de gente, todos falando ao mesmo tempo. É como um zumbido... Uma buzina de vozes ao fundo. Até que me concentro em uma só voz, e depois o que ela está pensando fica claro.

Ela continuou:

- Na maior parte do tempo, fica fora de sintonia... Isso pode me distrair muito. E depois, assim é mais fácil parecer normal. – ela franziu a testa quando disse a palavra. – Quando não estou respondendo por acidente aos pensamentos de alguém, em vez de às palavras.

- Por que acha que não pode me ouvir? – perguntei, curioso.

Ela olhou para mim, os olhos enigmáticos.

- Não sei. – murmurou. – Suponho que sua mente não funciona do mesmo modo como as outras. Como se sua mente estivesse na freqüência AM e a minha só captasse FM. – ela deu um sorriso duro para mim, divertindo-se de repente.

- Minha mente não funciona normal? Eu sou algum tipo de aberração? – comecei a ficar preocupado. Eu não poderia ser anormal.

- Ouço vozes em minha mente e está preocupado que você seja a aberração? – ela riu. – Não se preocupe, é só uma teoria... – sua face se enrijeceu. – O que nos leva de volta a você.

Respirei fundo. Como começar?

 

 


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Notas finais do capítulo

Mais um capitulo ai, desculpem a demora - mas eu tambem mereço férias! Espero que gostem.. em breve tem mais... espero que antes de acabar o ano... hihihih Beijos
Ah, Feliz Ano Novo à vocês!