There life after death? escrita por Angie Cruz


Capítulo 1
Único




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Morte.

Cinco letras para descrever algo tão indescritível.

Seria a morte o verdadeiro fim? A última fronteira, o destino final?

Ninguém sabe, apenas quem já morreu saberia responder a isso, mas não há meios de perguntar, então só podemos descobrir quando nossa hora chegar.

Morte.

Ela é rápida, fácil, simples.

A vida é mais difícil.

Viver dói, dói muito. Detona o coração da gente.

Esses são os pensamentos de um homem quando percebe que sua vida está se esvaindo lentamente.

Ele poderia sentir tudo.

Pena do garoto que gritava, raiva da mulher que gargalhava, arrependimento por seus erros.

Mas tudo o que conseguia sentir era alívio, como quando estamos com muita dor e tomamos um remédio e ela passa.

É isso, dor.

A dor da vida estava se esvaindo conforme o remédio da Sra. Morte fazia efeito.

A vida não devia doer… Devia?

Ah devia.

A vida só não dói se temos alguém para apartar essa dor, não é? Mas e se essa pessoa já se foi? E se a única pessoa capaz de estancar a dor da vida já não tem mais a própria vida em seu corpo?

Então é claro que vai doer, e só há uma forma de fazer com que pare.

Se juntando a ela.

(FLASHBACK - 14 ANOS ANTES)

Sirius Black caminhava tranquilamente pelas ruas de Godric’s Hollow à caminho da casa de James. Hoje seu afilhado fazia um ano, e ele não o via à dois meses pois não era aconselhável que o jovem casal saísse de casa nesses tempos difíceis, e os Marotos respeitavam isso. Mas este era um dia especial, por isso combinara com Remus e Peter que os visitaria. Trazia consigo um pacote comprido em mãos, contendo um presente para o pequeno Harry que esperava que o menino gostasse. Apesar de ser tão novo sabia que ele iria gosta assim que colocara os olhos na pequena vassoura de brinquedo, afinal Harry era filho de James.

Ao chegar na casa, olhou ao redor para ver se não havia ninguém na rua e entrou sem soar a campainha, por segurança.

James se encontrava sentado no chão ao lado de Harry, que brincava com as peças de um xadrez bruxo, segurando um dos cavalos negros e imitando o som de cascos com a boca, enquanto seu pai o observava com uma expressão abobada típica de pais jovens. Expressão esta que também inundou a face do Black diante da cena, pois amava aquele garoto gorduchinho de cabelos negros como se fosse seu próprio filho.

- Olá Padfoot - disse James, mal levantando os olhos de seu pequeno milagre - quer se juntar a nós?

- Olá Prongs, eu adoraria! Mas primeiro quero entregar isso - disse Sirius, estendendo o pacote. Neste momento uma Lily com o rosto sujo de farinha surge na sala balançando seus cabelos cor de fogo alegremente enquanto olhava para o pacote.

- O que temos aqui, hã? Espero que não esteja tentando transformar meu filho no jogador de quadribol mais jovem da história Sr. Black. - disse ela em tom de brincadeira, levantando as sobrancelhas acusatóriamente.

Ele levantou os ombros se rendendo, e James soltou uma sonora risada.

- Tarde demais querida - disse ele, abrindo o pacote e revelando a pequena vassoura.

- Acho que já o transformamos - disse Sirius, rindo da expressão falsamente indignada da ruiva.

Lily arremessou um guardanapo parcialmente úmido e sujo de algo que se assemelhava à chocolate, acertando em cheio o rosto de Sirius, que devolveu dizendo:

- O que é isso em seu rosto, Snaps*? Errou a quantidade de maquiagem? - provocou ele, se referindo à farinha no rosto alvo da amiga.

Mas ela apenas lhe mostrou a língua e voltou para a cozinha, deixando dois rapazes gargalhantes na sala.

(* Snaps - Segundo a fanfic gringa “The Life and Times”, que é vista como a mais fiel fonte de informações sobre a Era dos Marotos, Snaps é um apelido que James deu para Lily quando ambos tinham apenas 16 anos, e que Sirius carinhosamente se lembrou para provocá-la.)

- Moony não vinha com você? - perguntou James, já com a atenção voltada novamente para Harry, que agora travava uma cruel batalha entre uma torre e um bispo.

- Ele disse que precisava passar em outro lugar antes, mas provavelmente foi visitar o túmulo de Doe.

James pareceu ficar triste por um momento, o que foi acompanhado de Sirius. Todos eles gostavam de Dorcas Meadowes, a doce garota loira que Remus namorava desde os tempos de escola e que fora assassinada seis meses atrás pelo próprio Voldemort por algum motivo que ninguém conhecia.

- Sabe de Worm? - perguntou Sirius, tentando mudar de assunto. Pensar na morte de Doe o fazia imaginar como seria estar no lugar de Remus… Mas não, era doloroso demais pensar em Marlene morta.

- Ele disse que vinha, mas não consigo falar com ele faz uns três dias. - respondeu James, ainda com um olhar preocupado.

- Acha que ele… - ele não terminou a frase, pois qualquer um que vivesse naqueles tempos saberia o final dela, mas James balançou a cabeça, descartando a ideia.

- Eles não teriam por que se preocupar com Worm, ele não é um ameaça.

Sirius concordou com a cabeça. Peter realmente não era o tipo que representava qualquer ameaça, e de alguma forma era o mais seguro dos quatro.

- Rapazes, o jantar está pronto. - cantou Lily - Querem comer já ou vão esperar os outros? - perguntou, encostada na soleira da porta que separava a sala de estar da cozinha.

Sirius e James se olharam com sorrisos marotos.

- Eles que se virem com as sobras depois - riu o Black, já se levantando e dando a mão para o afilhado.

Eles tiveram um jantar agradável, e depois se sentaram na sala e observaram James ensinando o filho a brincar com seu novo brinquedo. Já se passava das nove horas da noite quando a porta se abriu e um Remus aflito entrou abruptamente na casa, batendo a porta nervosamente atrás de si.

Todos levantaram a cabeça, e Sirius se pôs de pé num salto ao ver a expressão do amigo, sendo acompanhado de James e Lily.

- O que houve Moony?

Ele olhou diretamente para Sirius, e o maroto sentiu um frio percorrer-lhe a espinha ao ver o desespero em seus olhos castanhos.

- É-é a Marls, Sirius. Comensais da Morte invadiram a casa dela e dos irmãos. Dumbledore estava indo pra lá acompanhado de Dedalus e Emmeline quando os encontrei, mas achei melhor vir te avisar.

Sirius não precisou nem ouvir o resto do relato. Já apanhava sua capa e corria porta a fora, mas ao ver que James o seguia parou-o com uma mão.

- O que pensa que está fazendo? - perguntou.

- Eu vou contigo! - disse o amigo.

- Está louco? Eles querem você, não pode sair daqui! Remus, cuide para que nenhum dos dois venham atrás de mim.

- Não! - gritou James - Se não vai me deixar ir, ao menos leve Moony com você, não pode simplesmente salvar Marlene sozinho.

Sirius ponderou por um segundo, irritado por estar ali perdendo tempo, mas concordou com a cabeça e saiu correndo pela rua, se esquecendo da cautela com o segredo da casa.

Nem ao menos havia chegado na rua e já desaparatava para o bairro onde a namorada vivia com seus dois irmão mais velhos.

A grande mansão dos Mckinnon estava iluminada por um brilho verde originado da gigantesca Marca Negra que pairava sobre ela. O Black sentiu o desespero crescendo em seu peito e ameaçando sufocá-lo diante da visão da marca. Sem saber o por quê, ele se viu rezando. Implorando para que Marlene estivesse viva, e a marca fosse apenas sinal de um ataque falho, e não de morte.

Entrou na casa feito um furacão e encontrou Alvo Dumbledore agachado ao lado do corpo de um dos irmãos de Marlene, Tyler.

- Onde ela está? - perguntou ao diretor, que apenas sinalizou com a cabeça para os andares superiores.

Sirius subiu três degraus de cada vez, e se deparou com Emmeline Vance debruçada sobre o corpo de Caleb, o mais velho do irmãos Mckinnon, e sendo consolada por Dedalus Diggle. O maroto sentiu aquele aperto em seu peito aumentar ainda mais de intensidade, e subiu para o terceiro andar da mansão, local onde ficava o quarto de Marlene.

O quarto sempre imaculadamente organizado se encontrava uma zona. As cortinas vermelhas que geralmente cobriam a janela estava rasgadas, e a cama onde os dois tiveram vários de seus melhores momentos estava destroçada por algum feitiço. O guarda-roupas estava ligeiramente tombado de lado e várias peças saiam por entre suas portas quase arrancadas. Mas Sirius Black não deu atenção a nada disso, pois diante de si estava o corpo belo e esbelto de Marlene Mckinnon caído, com os olhos verdes vidrados olhando diretamente para cima e os cabelos loiros espalhados ao redor de sua cabeça.

Aquela visão entrou em seu coração tão profundamente, e doeu de tal forma que ele teve certeza de que nem mesmo a Maldição Cruciatus doeria tanto quanto a dor da perda do amor de sua vida.

Toda a vida parecia ter se esvaído de seu corpo e se juntado à alma dela, enquanto ele caía de joelhos ao lado da moça.

Ele segurou o corpo de Marlene junto ao seu, e com o rosto enterrado em seus cabelos loiros que ainda preservavam o cheiro que ele tanto amava Sirus chorou.

Chorou durante minutos, horas, dias, meses, anos, ele não saberia dizer.

A dor não lhe permitia saber, ele apenas chorou.

Chorou desesperadamente, mas a dor não ia embora com as lágrimas, e mesmo depois que já não havia mais lágrimas para serem derramadas ela continuou ali.

Atormentando-o.

Enlouquecendo-o.

Essa dor nunca foi estancada. Pior, ela só aumentou.

Aumentou quando soube da morte de Lily e James, e vendo o desespero de Remus ao lhe contar que Peter era o grande responsável de tudo. Seu melhor amigo, um traídor.

Aumentou quando olhou nos olhos do próprio Peter e lhe perguntou o motivo da traição, mas em resposta não recebeu nenhum arrependimento. Apenas treze trouxas mortos e um dedo, que ele o vira arrancando com um canivete que o próprio Sirius lhe dera de presente em seu anivesário de dezessete anos.

Aumentou dolorosamente a cada segundo passado injustamente e Azkaban, na companhia das terríveis criaturas nomadas Dementadores que o faziam rever os olhos verdes e vidrados de Marls cada vez que fechava os olhos.

Mesmo com a chegada da liberdade, mesmo na companhia de seu amado afilhado, a dor continuava lá. Persistente. Tentando afundá-lo em loucura.

E então, naquele momento, ao sentir seu corpo atravessar o leve e frio véu esvoaçante, ele finalmente teve seu tão esperado alívio.

Olhou uma última vez para seu amado sobrinho antes de sentir o feitiço atingí-lo, e fechou os olhos.

A morte é rápida, fácil, indolor.

Morrer é mais rápido que adormecer.

Morrer alivia todas as dores que você não pode se livrar.

Seria a morte o verdadeiro fim?

Existe vida após a morte?

A resposta é sim, pois ao fechar os olhos, Sirius Black finalmente se reencontrou com Marlene Mckinnon.


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