Um Conto de Ônibus escrita por FreudDepre


Capítulo 8
Terceiro Strike


Notas iniciais do capítulo

Vinícius se vê em uma nova situação complicada, que é atenuada quando esbarra com Lucas onde não queria, mas os eventos que se sucedem prometem um grande desfecho para ele. O que acontecerá com Vini hoje? Conseguirá ele assistir alguma aula nesse semestre?



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Tomo meu banho, me visto, e desço pra tomar meu café. Dessa vez, dona Márcia havia preparado tudinho em casa.

– Bom dia, filho.

– Bom dia, mãe.

– Vou sair daqui a pouco pra fazer compras. Quer vir comigo?

Eu estava surpreso. Minha mãe me chamando pra matar aula. Isso soava tão errado, mas tão errado que... eu aceitaria se não tivesse um compromisso importante no dia.

– Tenho uma prova importante hoje, não posso te acompanhar.

– Uma pena. Quando formos para SP, não terei tanto tempo para gastar com o filho que me renega... - Fala ela em tom de vítima.

– Como assim "quando formos"? Não ia só você nessa viagem? -Indago.

– Sim, mas quando eu for promovida, teremos que nos mudar para São Paulo. Lembra que falei com você sobre isso ontem?

Então era isso que ela queria dizer com mudança? Era literal? Não, a informação veio muito depressa, eu só consegui imaginar como isso destruiria minha pseudo-relação com Lucas.

– Nossa, que maneiro... - Falo em tom claramente de velório.

Não me entendam mal. Gosto de ver minha mãe subir na vida, mas, poxa, foi tudo muito rápido, eu não sabia nem o que pensar. Por um lado, estava claramente decepcionado por sair do local onde eu achei o primeiro rapaz que me fez quebrar minhas barreiras. Por outro, estava feliz pela ascensão profissional dela, e eu não sabia que lado pesava mais naquele momento.

– Bem, vou indo para não me atrasar. - Falo já abrindo a porta.

No ônibus, por alguns momentos consegui me abster de Lucas e pensar no que isso representaria. Lugar novo, gente nova, começar do zero. Não sei se eu estaria preparado. Por um instante fui cruel ao ponto de pensar que essa promoção poderia não acontecer. Ou então que eu poderia ir morar com o meu pai, mas logo descartei essa ideia. Argh. Minha mente se encontrava tão confusa, e durante essa confusão que vejo Lucas embarcar.

Mas era o que eu precisava: logo hoje, que não queria encontrá-lo aqui para ter alguns momentos no shopping, ele consegue embarcar no mesmo ônibus.

Ele senta ao meu lado e logo abre a mochila.

– Aqui os dvd's que prometi. Não tenha pressa. - Diz ele.

– Obrigado. - Falo de maneira desempolgada.

Ele me encara por alguns momentos, e então pergunta:

– O que te levou a ler Charles Baudelaire?

– Meus pais. Eles tem pilhas e pilhas de livros, e eu sempre gostei de explorá-las. Como sou apaixonado por poemas e poesias, vasculhava principalmente essa seção nas estantes.

– Em pleno século XXI, a era da promiscuidade, temos um exemplar de adolescente que parece ter sido exportado diretamente dos tempos de Brasil Colônia. - Diz ele me deixando perplexo com tal conclusão.

– Mas o quê?? - Indago.

– Deixa para lá. Bem, já que te entreguei a série, não precisamos nos alongar no shopping.

– Pois é. - Respondo, tentando não transparecer decepção.

– Mas seria legal estabelecermos uma data para que eu te devolva os dvd's. Acho que consigo assistir em uma semana. - Proponho.

– Tudo bem. Mesmo local e horário que havíamos combinado para hoje, que tal?

– Olha, vou te dizer que eu nem conheço direito o shopping que você comentou ontem. Não poderia te esperar no ponto mesmo? Prometo não te sequestrar! - Falo sendo cínico, já que, claro, conhecia o local.

– Bem, façamos o seguinte: que tal darmos um pulo lá e eu te mostro o local onde combinamos a entrega das mídias? - Propõe ele.

– Tudo bem. - Respondo querendo falar "claro, claro!".

Logo após esse diálogo, o ônibus se aproxima do nosso ponto e então levantamos. Mais uma vez, Lucas me cede a passagem ao invés de seguir para a saída. Desço e, pela primeira vez, aguardo ele.

– Fome. - Diz o rapaz.

– Bem, vamos aproveitar e comer alguma coisa por lá. - Falo em uma tentativa de passar mais tempo com ele.

–É, boa ideia.

Após uns quatro ou cinco minutos andando, chegamos no shopping. Lucas me leva por um caminho totalmente desnecessário até a praça de alimentação, me fazendo passear por quase todo o shopping com ele.

Ao chegarmos no comentado MC Foods, entramos na fila e pedimos um combo simples cada um. Caminhamos até uma mesa mais próxima ao final do local e nos sentamos.

Ele pega o celular e parece simular um diálogo.

– Oi, mãe. O quê? Não, tudo bem, estou almoçando no shopping aqui com um cara que conheci no ônibus, relaxa.

Eu solto um riso de leve.

A gente então come, sem diálogo nesse intervalo.

– Enfim, esse é o local. Semana que vem, mesmo dia, aqui, Combinado? - Diz ele.

– Tudo bem. - Respondo de forma tensa, pois sabia que aquela poderia ser nossa última interação do dia.

– Mais alguma coisa? - Indaga ele.

– Creio que não, meu senhor. Ah, aliás, tenho sim. Por curiosidade, qual a sua idade?

– Eu fiz 18 tem cinco dias, acho. Não conto, odeio fazer aniversário, vou ficando velho. E você?

– Fiz 20 não tem muito. Mais 80 e estou pronto para morrer.

Ele sorri, e sorri de uma forma tão espontânea que me dá coragem para tentar falar o que realmente quero com ele.

– Aliás, não é só isso não. - Digo.

– Então diga.

E é nesse ponto que eu congelo. Eu abro a boca para tentar falar, e nada sai. Nesse momento ele me olha de forma cínica, e solta:

– Acha que eu não percebi?

– O-o-quê? - Falo gaguejando.

– Ser sensível à poesia, poemas, tudo bem. Mas perseguir um estranho por ruas que parece desconhecer para emprestar um livro, contar pequenas mentiras para não perder assunto, e ainda almoçar com essa pessoa enquanto provavelmente está perdendo aula... tenho meus motivos para crer.

– Crer no quê? - Consigo falar, esperando o óbvio da boca dele.

– Você gosta de mim.


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Notas finais do capítulo

Ah, um dos momentos que eu mais aguardei quando comecei a escrever essa fanfic! Apesar das supostas felicidades que o capítulo traz, alguns conflitos foram instalados. O que acharam? A mãe dele conseguirá mesmo a promoção? Vocês acham que esse fascínio por Lucas o manterá preso no Rio?



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