Ímpar escrita por ParisMcCurdy


Capítulo 2
Com amor, Freddie


Notas iniciais do capítulo

Eu estou pulando de alegria porque recebi 16 - DEZESSEIS - comentários no capítulo anterior e todos eles foram com ótimas palavras, awwww ♥ Vocês são realmente incríveis. Sério, foi um comentário melhor que o outro e eu nem sei como agradecer.
Antes de tudo, vamos às explicações que vocês vão precisar quando ler esse capítulo: MIT - Massachusetts Institute of Technology, a maior universidade de tecnologia dos Estados Unidos e uma das melhores do mundo.
Agora que vocês vão ter real noção dos personagens depois do iCarly - Sam se formou em gastronomia e abriu um restaurante que só começou a render lucro e boas críticas no último ano. Carly se formou em psicologia e está noiva de algum terceiro aí. Cat engatou na carreira musical e faz sucesso. E o Freddie... Ah, vocês vão descobrir lendo UHAUAH Até lá em baixo ♥



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O relógio se aproximou das 9h quando Sam acordou com algum barulho externo que ela julgava ser a campainha.

Resmungou alguma coisa e continuou deitada.

A campainha tocou mais uma vez.

Sam obrigou seus olhos a se manterem fechados.

Quando o som estridente soou pela terceira vez, Sam grunhiu e se levantou já com o rosto sendo tingido de vermelho de tanta raiva.

Não era Cat – ela tinha as chaves e estava no Texas para um show da sua turnê. Carly também tinha as chaves (afinal, o apartamento também era dela) e estava no Caribe com seu noivo. Dice estava trabalhando com o irmão da Cat, organizando a próxima grandiosa luta do Goomer.

E ninguém do ciclo fechado de amigos da Sam tocaria a campainha dela às 9h, em pleno sábado.

Absolutamente ninguém.

Por isso ela desceu as escadas do seu apartamento às pressas e antes de abrir a porta – onde a campainha fora tocada pela quarta vez –, ela pegou sua meia de manteiga que estava pendurada ao lado (junto com suas chaves, seu casaco e seu guarda-chuva) e, antes mesmo de olhar no Olho-Mágico ou verificar se estava apresentável para atender quem quer que fosse o desmiolado que estava acordando-a, ela abriu a porta.

E no momento seguinte, sua meia de manteiga caiu no chão e ela piscou duas ou três vezes para ter certeza de que não estava sonhando.

– Freddie? – Ela perguntou em um fio de voz, quase inaudível.

Ele apenas lhe lançou um sorriso de lado como se estivesse pedindo desculpas e colocou uma mão no bolso do jeans.

– Será que eu posso falar com você? – Ele perguntou sabendo, no momento seguinte, que tinha dito a coisa errada.

Ele deveria ter abraçado ela e perguntado como ela está. Deveria tê-la beijado no instante em que ela abriu a porta. Deveria ter dito que a ama no momento em que a viu com a Meia de Manteiga na mão dela.

E quando deu um passo a frente, tudo o que ele não esperava aconteceu.

– Mas, que droga Benson – Ela bufou e abriu mais a porta – Custava me ligar? Sabia que você me acordou na única folga que eu vou ter durante essa semana?

Como se você atendesse as minhas ligações – pensou ele.

– Eu... Desculpa...

– “Eu, desculpa” – ela imitou ele enquanto fazia uma careta realmente irritante – Entra logo.

Freddie se intimidou com aquilo e sentiu ímpetos de voltar atrás e dizer que foi um engano, que bateu na porta errada.

Nesse momento, o papel que estava dobrado no seu bolso pareceu pesar 3kg e ele se lembrou do real motivo de estar lá quando percebeu que até o momento, ela não havia olhado diretamente nos olhos dele.

Ela estava furiosa e... Distante.

– É sério Benson, eu não tenho o dia inteiro – Ela bufou e apontou em direção ao sofá da sala.

– Ok, eu realmente sinto muito...

– Ah, calado! – Ela disse e bateu a porta. Se virou para ele e viu a cara de confusão que ele estava, se odiou internamente.

Freddie havia vindo de Massachusetts até Los Angeles e estava batendo em sua porta às 9h, e ao invés de recebê-lo com um abraço, ela apenas descontou seu mau humor.

Porque, depois de cinco anos, ele finalmente estava batendo na porta dela.

Porque, mesmo que ele tenha acordado ela, ele estava lá.

Por que, céus, ela não conseguia simplesmente acabar com o espaço que existia entre eles e dizer tudo o que ela queria? Dizer tudo o que tinha escrito naquela maldita carta há um mês?

Ah, sim, porque ele provavelmente estava aqui só de passagem, só por estar. Só para manter as aparências, só para esfregar na cara dela que ele estava trabalhando na Pear Company e que estava se formando com excelência no MIT.

Porque, na visão de uma Sam recém-acordada e faminta, não existem outros motivos para um amigo de infância – vulgo: amor da sua vida – bater na sua porta às nove da manhã. A única linha de raciocínio que passava por sua cabeça agora era que ele estava visitando a cidade e precisava de alguma coisa, se aproveitaria para esfregar na cara dela que estava numa multinacional e perguntaria de Carly.

Como sempre foi.

– Então, o que queria dizer? – Ela despejou novamente.

– Eu... – Ele suspirou e ela notou que ele passou a mão pelo bolso pelo menos umas duas vezes antes de voltar a falar – Eu queria saber como você está e o que tem feito, sabe...

– Ah, ele quer saber como eu estou! – Interrompendo ele, Sam riu gostosamente levantando suas mãos para o céu. Os dois permaneciam de pé quando ela voltou a falar – Eu vou te dizer como eu estou Fredward Benson! – Ela começou a andar de um lado para o outro, sem deixá-lo falar o que tanto queria – Eu continuo loira e continuo visitando o meu tio na cadeia. Minha mãe continua alcoólatra e eu continuo amando bacon e frango frito. No último ano, fui ao psicólogo três vezes porque estava viciada em Bolo Gordo. Eu moro a sua amada Carly e há duas quadras, fica o meu restaurante que finalmente está me dando algum lucro. Mais alguma coisa?

Freddie engoliu em seco e deixou que a jaqueta de moletom que estava em seu braço caísse no sofá.

Havia se passado quatro anos desde a ultima vez que se viram e, para ele, ela nunca esteve tão linda e tão estranha.

Bem, ele conviveu com ela durante quase seis anos e isso foi tempo o suficiente para saber que ela era imprevisível e que seu humor mudava constantemente. Mas, durante todo esse tempo, ele nunca a vira ser tão... Grosseira com ele.

Não depois de tudo o que passaram.

– E, antes que você pergunte sobre a Carly – Sam continuou quando viu que o homem estava apenas a fitando, sem conseguir dizer nada – Ela está de férias no Caribe com o seu noivo.

Freddie não conseguiu controlar. Ele riu sem humor algum e passou a mão pelo cabelo, em sinal de total desespero.

– Você acha que eu vim aqui por causa da Carly, não é? – Ele perguntou, mesmo já sabendo a resposta.

E Sam respondeu como se aquilo fosse óbvio.

– E qual é o outro motivo de você bater na minha porta às 9h de um sábado?

Aquela era a Sam de quatorze anos de volta.

Aquela era a Sam que desejaria a morte do Freddie – e não a Sam que escrevera aquela carta.

O quão idiota ele estava sendo de achar que poderia chegar e dizer tudo o que guardou durante todo esse tempo? O quão tolo ele estava sendo em achar que ela realmente o amava?

Porque ela nunca o amou, não é?

E agora, lá estava Sam, falando sobre Carly e dizendo que ele só estava lá por ela – sem nem ao menos deixar ele dizer tudo o que queria.

– Qual o motivo? – Ele murmurou e levou as duas mãos na frente da boca, como se estivesse tentando manter a paciência.

– É, Benson, qual o motivo de você ter vindo aqui? A Carly está noiva e eu não preciso que você esfregue na minha cara que virou o melhor nerd da MIT ou que está na Pear Comp...

– Quer saber, Sam? – Ele a interrompeu e avançou na direção dela – Eu cansei! Eu vim aqui porque... Ah, droga, foi um terrível engano meu achar que nós ainda tínhamos alguma coisa. Porque você não consegue enxergar o que está bem na sua frente e eu não vou mais perder meu tempo tentando abrir seus olhos! Pra mim, já deu!

Dito isso, ele jogou o papel que estava no seu bolso em cima do sofá e saiu, deixando para trás uma Sam bastante perplexa que só se moveu quando ouviu o som da sua própria porta sendo batida com tamanha violência que ela levou um susto.

Ainda olhava para o lugar onde, segundos atrás, estava Freddie. Sua mão ainda estava na cintura, que fora o lugar onde estivera enquanto ele gritava com ela.

Ela engoliu o choro que estava por vir e olhou para a porta, para ter certeza de que ele realmente tinha saído. Olhou a meia de manteiga no chão e... É, tudo tinha realmente acontecido.

Então, seu olhar caiu no papel que estava um pouco amassado, em cima do sofá. Momentaneamente, ela foi até ele e estava abrindo-o enquanto se sentava no chão, encostando-se ao sofá.

“Princesa Puckett,

Antes de tudo, espero que Cat não receba sua fúria por ter me enviado a carta que você escreveu dizendo que eu nunca amei você. Ela teve as melhores intenções, pode ter certeza.

Eu realmente não sei o que fazer.

Quero dizer, eu acabei de ler tudo o que você escreveu e o que eu mais quero é ir até o seu apartamento e dizer tudo o que eu sinto em relação a você, mas e se você não me aceitar? Acho que eu me trancaria no meu quarto, ouvindo alguma música que me lembra de você, comendo alguma coisa gordurosa – daquelas que fazem minha mãe ter pesadelos.

Droga, eu nem sei o motivo de eu estar escrevendo. Porque eu tenho que te falar tudo isso, se não acho que vou morrer engasgado.

Mas, eu vou escrever porque se essa companhia aérea não me atender, eu pelo menos te mando pelo correio.

Eu só queria que você soubesse que eu realmente não sei quando eu comecei a me sentir assim, mas eu não conseguia evitar me sentir tão mal quando você fazia alguma piada sobre mim. Eu me sentia tão mal, porque, eu queria ser seu amigo.

E aí você se desculpou comigo por ter dito que eu nunca tinha beijado alguém e quando eu vi, eu já tinha ido até você e te beijado. Sam, eu realmente não sei quando surgiu, mas quando você correspondeu o meu beijo durante aqueles segundos, eu sabia que já estava lá. Eu sentia alguma coisa por você e essa “coisa” era muito forte.

Percebi que você só implicava comigo... Porque essa é você e eu não mudaria nada nisso.

Então, começamos a jogar para ver quem se odiava mais. Eram apostas, provocações e brincadeiras.

Você parou de usar coletes unissex por cima de blusas de manga cumprida, parou de usar só tênis de prender seu cabelo de um jeito só.

Você começou a mostrar mais de você e, ao mesmo tempo, continuou sendo a mesma. Não sei, é meio estranho, mas você estava mostrando seus braços, seu ombro e deixou o seu cabelo solto. Trocou as bermudas por calças e ficava absurdamente linda quando usava uma Penny T’s.

E é claro que você estava mudando e no dia em que o Colton, do time de futebol da escola, veio me perguntar se você estava solteira e o que ele deveria fazer para que você o convidasse para o Baile em que A Garota Decide, eu não conseguia balbuciar nada que fizesse sentido.

Então eu vi que não era só ele que estava querendo ser escolhido por você: haviam vários.

E eu não entendia muito bem o motivo daquilo me incomodar tanto, porque eu deveria me importar se ele queria ser convidado por você? Por que eu deveria me importar se vários queriam ser convidados pela valentona mais bonita do mundo?

Por que EU queria ser convidado por você? Ah, que droga, isso era tão confuso!

Por isso, eu te dei bacon. Porque você ama bacon e quem sabe, você saberia que eu notei que você ama bacon e me convidaria para o baile.

E lá estava você saboreando o bacon enquanto dizia que o homem que quisesse ir com você, teria que te convidar.

Eu nunca fiquei em um dilema tão grande! Eu não sabia como te convidar, quero dizer, quais as chances de você dizer sim para mim?

Porque eu sempre fui o Frednerd, não é? O menino do computador e do clube AV, fã de Guerra nas Galáxias e que sempre foi apaixonado pela vizinha que nunca deu bola.

Eu não sabia o que fazer e quando eu me vi, lá estava eu com a chata da Malika. E depois do fora que a Carly deu no garoto que ela tinha convidado – qual o nome dele mesmo? –, eu me senti na mesma situação que ela.

Nós dois estávamos lá, pensando em como teria sido bom se tivéssemos agido mais ao invés de só pensar no que poderia ter acontecido. Eu ainda tinha a desculpa de que você não tinha me convidado, porque você não gostava de mim.

(e porque eu nunca tive a mesma coragem que você, porque se eu tivesse, eu com certeza teria te convidado)

E Carly? Ela tinha feito a escolha errada.

Ela levava essas coisas de amor, relacionamentos e paixões bem mais a sério que eu e você juntos e eu não conseguia ver minha melhor amiga triste daquele jeito.

E eu sei bem como a Carly se magoa fácil. E eu... Sam, como eu queria que você tivesse me convidado.

Mas, eu não era um badboy como o Griffin, nem jogava no time de futebol da escola como o Colton.

Então, claro que você nunca se interessaria por mim. Porque eu era só o nerd da escola que trabalhava no iCarly.

Quando Carly começou a chorar, eu a chamei para dançar e coloquei a mão na cintura dela. Seria a oportunidade perfeita de me declarar para ela – porque eu ainda gostava dela, não gostava? Não, Sam, eu não gostava. E eu me sentia tão... Horrível. Porque, finalmente, Sam, eu tive a certeza de que estava apaixonado por você.

E você não tinha me convidado.

Porque você não gostava de um fracassado com eu.

Carly deitou a cabeça no meu ombro e começamos a dançar com aquela música e tudo o que eu pensava era em como eu queria estar com as mãos na sua cintura, dizendo para você que eu sempre achei atraente o jeito como você me batia e que eu amava a cor dos seus olhos.

E quando eu notei que a música parecia conversar comigo, quero dizer, ela dizia “E se você sentir o meu amor, basta deixá-lo mostrar. E se você quiser o meu coração, só me avise: porque você foi feita pra mim”, droga Sam, por que eu queria tanto que você estivesse comigo?

Mas, aquela era a Carly.

A Carly Shay, minha vizinha com o cabelo castanho e os olhos negros. Que sempre sabia que roupa usar, as palavras certas a dizer e não precisava te conhecer muito para lançar o melhor sorriso em sua direção e dizer palavras encantadoras. A pessoa mais simpática que existe. A menina que eu passei boa parte da minha infância acreditando ser apaixonado.

Como você mesma disse, ela é par.

É certo. É estável. É plano.

E por isso que eu sou completamente apaixonado por você.

Porque você é a garota que sempre implicou comigo, a que me motivou a malhar só para te vencer na queda de braço. Você consegue comer mais do que eu e que qualquer outra pessoa que eu já tenha conhecido. Você precisa confiar muito em alguém antes de lhe lançar seu melhor sorriso – aquele que você faz sempre que está muito feliz ou quando ganha um balde de frango frito. Você é durona, Sam, e não se abala por qualquer coisa. Você tem esses cachos volumosos e loiros, olhos azuis e eu tenho certeza de que é a pessoa mais bonita que eu já vi.

Porque você nunca precisou usar maquiagem ou decotes pra chamar a atenção de alguém. Porque eu nunca vi você abaixando a cabeça para alguém. Porque você é forte, Sam, e eu sempre quis ser forte como você.

Porque você é errada, é instável e é cheia de subidas e descidas.

Você não faz o que esperam que você faça, você faz o que você quer sem medo de dar a cara ao tapa. Você muda de humor facilmente e eu passei anos da minha vida aprendendo a lidar com isso, a moldar minhas palavras e meus gestos só para ver você feliz por mais tempo.

Porque você, Sam, é ímpar e isso quer dizer que não existe igual a você.

Você é a única.

Só que você nunca percebeu o quanto eu queria que você estivesse comigo.

Não percebeu que eu não tentava mais cantar a Carly, não percebeu que eu dei o meu cruzeiro para a Missy só para não te causar mais problemas, não percebeu que eu fiquei preocupado quando você esteve presa e não pode gravar o iCarly...

E eu nunca tive coragem de chegar a você e dizer que você sempre estava tornando meu dia espetacular em apenas tentar deixá-lo um inferno.

Aí o Brad chegou e você... Foi gentil pela primeira vez.

Se ofereceu para fazer o projeto do viradão comigo e com o Brad, quando nunca antes tinha feito igual.

Foi só o “Sr. Eu Sei Cozinhar” chegar que você aceitou ir ao cinema comigo – e com ele.

E eu me vi tendo a certeza de que você estava apaixonada por ele e que aquele pressentimento que eu tinha de que você talvez gostasse de mim... Era só besteira.

Quando o aplicativo disse que você estava apaixonada, Sam, eu corri até a Carly esperando que ela dissesse “droga Freddie, não acredito que você descobriu que ela gosta de você”, mas tudo o que Carly fez foi dizer que era o Brad.

E depois, me pediu para ajudá-la a juntar vocês dois. Eu recusei, até parece que ia te jogar no braço do Chef Gourmet.

Mas, se você tinha escolhido ele – que era bonito, inteligente e sabia cozinhar – quem eu – o nerd, que perdia pra você na queda de braço, sem graça – pensava que era para atrapalhar qualquer coisa?

Por isso eu ajudei.

Por isso, fui atrás de você dizer que era importante você dizer o que você sentia – porque eu queria ter a mesma coragem que estava mandando você ter e dizer que eu amava cada coisa em você.

E por isso... Que eu quase entrei em estado de choque quando você veio na minha direção e me beijou, amassando seus lábios contra os meus de forma furiosa – como você.

E eu juro, Sam, juro que me arrependo de não ter pedido, ali mesmo, para que você fosse minha.

Você se desculpou e eu me ouvi balbuciar um “tudo bem”, logo depois você saiu correndo e não voltou quando eu te chamei.

Eu passei a noite em claro pensando se aquilo tinha sido real. Pensando aonde eu tinha errado em achar que você gostava do Brad. Me perguntando se você tinha feito aquilo só pra eu calar a boca ou porque... Você talvez gostasse de mim também.

Então, você faltou na escola. E não foi na casa da Carly. E não apareceu no dia seguinte. E nem no outro, nem para o ensaio. E quando descobrimos que você tinha se internado no “Águas Turbulentas” eu me lembrei de quando você disse que a garota que gostasse de mim tinha que se internar num sanatório e ri com aquele pensamento, porque foi exatamente isso o que você fez.

Quando você disse que não gostava de mim, eu senti que tinha sido apunhalado e, logo depois, te perguntei o motivo de ter me beijado.

E você...

Você disse que gostava de mim e que estava louca por causa disso.

Nas horas seguintes, você não calou a boca por um só minuto. Droga, você não deixou eu dizer nada! Você simplesmente estava ansiosa para sair de lá e eu te entendia, afinal, quem curte ficar num hospital cheio de doido?

Mas, eu precisava fazer alguma coisa. Não poderia ficar sem você por mais tempo – eu precisava te beijar mais e poder te chamar de Sammy, de Princesa Puckett, de Demônio, de Sam ou de Samantha.

Precisava te chamar de “minha”.

Por isso eu me declarei, por isso eu te beijei e por isso eu sei que aquela foi a melhor decisão da minha vida.

Sam, estávamos juntos e eu nunca me senti tão feliz em alguma coisa. Eu nunca senti como se eu estivesse realmente fazendo a coisa certa e mesmo brigando, eu sei que eu faria de tudo por você.

Eu sei que eu ter sido expulso do clube AV não foi nada, porque você estava comigo.

E o fato de você ter sabotado minha inscrição pro acampamento de férias... Sam, foi uma brincadeira e você se desculpou. Eu fiquei puto, mas você só me abraçou e nos beijamos mais uma vez.

Então ouvimos a Carly falando aquilo e você pareceu realmente séria com tudo e, antes que você dissesse alguma coisa, acho que foi automático.

Acho que, mais uma vez, nós pensamos nas mesmas coisas e lá estávamos nós terminando.

Lá estava você saindo do elevador, virando a página.

E eu nunca me senti tão confiante em dizer que, porra Sam, eu te amo!

Você foi minha naquela noite, completamente minha e tudo o que eu queria era continuar com você até o dia clarear. Queria que você esquecesse aquela história de terminar.

Só que você parecia tão... Confusa. E eu achei melhor virar a página, porque você estava certa.

Porque as coisas não acontecem como nos sonhos e com você eu entendi isso. Que existe um mundo real.

Porque você sempre esteve certa em relação a mim.

O que eu estava pensando quando imaginei que teria futuro com alguém tão incrível quanto você?

Eu te deixei em casa e passei o resto da noite na saída de incêndio, quando tudo o que eu mais queria era ir até a sua casa e dizer que não queria ficar sem você.

Mas, você sempre soube o que queria e dessa vez, você não me procurou. Você sempre teve coragem e se você quisesse passar por nossas diferenças, você teria dito.

E eu esperei você ligar, mas você não ligou. Esperei nos próximos dias você dizer alguma coisa, mas você não disse.

Esperei que você fosse fazer qualquer coisa mas... Você ficou com o carinha daquela boyband no mesmo elevador em que eu disse que te amava.

Quando a Carly disse que ia embora, nós nos beijamos no estúdio. Eu não tenho medo de dizer isso porque Sam, foi como dizer adeus ao menino que viveu dentro de mim durante anos. Dizer adeus ao menino que amava a vizinha, que era superprotegido pela mãe.

Nos beijamos e eu tive a certeza de que nunca amei a Carly. Eu só precisava... Sabe, eu e ela só precisávamos nos despedir da nossa infância.

E eu ainda esperava a sua resposta, se iríamos voltar a namorar ou não (sabe a quantidade de preparação psicológica que eu precisei para te fazer essa pergunta?).

Mas, você não respondeu. Por isso, assim que a Carly foi embora e você subiu no apartamento dela, eu fui até a loja de conveniência de um posto de gasolina e comprei uma caixa de bolo gordo pra você, dois litros de refrigerante e passei em casa para pegar os pedaços de bacon que estavam escondidos da minha mãe.

Porque você precisava disso.

Porque sua melhor amiga tinha ido embora.

Porque eu tinha sugerido que ficássemos juntos e tudo o que eu mais queria era voltar com você.

E tudo o que eu tive foi o Spencer me dizendo que você tinha ido embora de Seattle. Sem mais e nem menos, sem qualquer explicação aparente e que a única certeza é que você não moraria mais lá.

Droga Sam, por que você fez isso?

Por que você não me convidou para o baile? Por que você parecia fugir sempre que eu questionava sobre nós dois? Por que você acha que eu ainda gosto da Carly quando tudo o que eu mais quero é você? Por que, Sam, que mesmo depois de cinco anos, eu ainda sou completamente apaixonado por você?

Por que nenhuma garota do MIT consegue chamar a minha atenção como a comilona que eu namorei há cinco anos? Por que eu estou profissionalmente realizado e não consigo passar nem um dia sequer insatisfeito por não ter o que eu mais quero que é, obviamente, você?

Por isso que eu comprei minha passagem para L.A. (finalmente esse atendimento da American Airlines me atendeu) e não pude esperar duas semanas, que era o próximo voo em horário acessível. Eu vou embarcar às 5h da manhã e, Sam, não sei o que vou dizer quando eu te ver, só sei que preciso fazer isso.

São duas horas da manhã, eu trabalhei e tive uma prova de programação hoje, mas eu não consigo dormir sem imaginar que daqui a algumas horas eu vou te ver. Talvez eu leia isso daqui pra você.

Talvez eu diga a você que, Sam, se você é ímpar e eu sou o par... Nós somos metais. E quando dois metais diferentes são postos um do lado do outro, um se torne positivo e o outro negativo e eles se atraem.

Cientificamente você está completamente errada em achar que eu tenho que ficar com alguém que seja “par” como eu.

Cientificamente, eu estou completamente apaixonado por você e não aceito não como resposta.

Cientificamente, eu amo você mais do que essa vaga no MIT, mais do que meu emprego na Pear Company, mais do que minha câmera com lente da NASA, mais do que Guerra nas Galáxias.

Eu consegui passar os últimos cinco anos sobrevivendo, Sam. Mas, há uma enorme diferença entre sobreviver e viver e eu tenho absoluta certeza de que não quero passar mais nem um dia da minha vida sobrevivendo sem você.

Com amor, Freddie.

p.s.: Não bata na Cat.

p.s.¹: eu te amo.

p.s.²: E nem na Carly, que me deu o endereço de vocês.

p.s.³: eu te amo mais uma vez.”

Sam continuou olhando para o pedaço de papel sem realmente conseguir digerir tudo aquilo ou emitir qualquer reação ao que tinha acabado de ler.

Segundos, minutos ou talvez horas se passaram e tudo o que ela conseguia pensar era em como tinha tratado ele quando o que ele queria era dizer que a amava.

Quando o que ele queria é que ela soubesse que ele estava lá, do mesmo jeito que ela também esteve.

Já era noite e ela não sabia realmente como tinha ido parar na sua cama e há quanto tempo estava lá.

Mas, tudo o que ela conseguia fazer era inalar aquele cheiro que estava no moletom do MIT que, agora, estava vestindo o pequeno corpo da mulher.

Um cheiro almiscarado, forte e ao mesmo tempo sutil.

Que lhe lembrava sua vida em Seattle, seu único namoro e do único homem que ela amou durante sua vida.

Aquele cheiro lhe trazia a memória tão nítida que ela podia sentir a textura da pele dele nas pontas dos seus dedos, que ela podia ouvir ele dizendo que a ama próximo ao seu ouvido como na noite em que terminaram... Sua mente estava passando por cima dela e a enganando de forma tão maligna.

Mas, ela se lembrava e sentia um formigamento ao se lembrar dele um pouco mais cedo.

O tom nervoso dele, o sorriso de lado dele, a expressão de cansada que ele estava... Ela evitou olhar nos olhos dele, mas, se tivesse feito assim que ele chegara, iria ver que tinha alguma coisa além do que ela supunha.

Ela iria saber, porque ela sempre sabia das coisas quando olhava nos olhos dele.

Porque, agora, ela finalmente havia entendido que sempre soubera que ele a amava.

Um soluço escapou dos seus lábios no mesmo instante em que a porta do seu quarto era aberta e uma Carly bastante contente entrasse no cômodo escuro.

– Sam, você já está dormindo? – Ela foi até a cama da amiga e quase soltou um grito quando notou que ela estava com os olhos vermelhos e parecia segurar o choro – Meu Deus, Sam, o que aconteceu?

Sam não respondeu. Ela não parecia realmente ouvir o que estava acontecendo a sua volta e quando Carly sentou-se ao seu lado na cama, tudo o que ela conseguiu fazer foi se esticar até deitar no colo da amiga e abraçá-la pela cintura.

Só quando sentiu um pingo salgado nos seus lábios é que notou que estava chorando e, a partir daí, o choro que estivera preso durante cinco anos finalmente saiu e ela começou a chorar copiosamente.

Mesmo assustada, Carly ficou lá durante todo o tempo. Afagou seu cabelo e não perguntou mais nada – Sam nunca chorava e quando ela o fazia, você precisava deixá-la até que ela se sentisse bem em falar novamente.

Sam não sabe quanto ficou chorando – só sabia que as lágrimas estavam lá e não paravam de cair.

Freddie, seu nerd, havia passado horas só para vê-la. Havia viajado mais de mil milhas só para vê-la e ela... Ela havia acabado com a única coisa boa que existia dentro dela.

– Ele... Veio até aqui, Carls... E eu tratei ele tão mal, eu... Eu só consegui pensar nele querendo saber de você, mas ele me ama Carly e eu... Eu... – Sam disse entre soluços depois de minutos e não conseguiu terminar a frase: fora interrompida novamente pelo choro.

Carly entendeu instantaneamente que ela estava se referindo ao Freddie e permaneceu calada, esperando o tempo da Sam enquanto afagava seu cabelo e limpava as lágrimas que caíam no rosto dela.

Sam estava com a cabeça no colo da amiga e estava agarrada às mangas daquele moletom um pouco surrado.

Depois do que pareceu mais dez minutos, Sam respirou fundo e passou as costas da mão no rosto para limpar as lágrimas enquanto ela se acalmava.

– Eu escrevi uma carta mês passado sobre o Freddie, a Cat achou e mandou pra ele... – Começou Sam – e ele... Escreveu uma em resposta como se precisasse, porque ele veio até aqui dizer tudo pessoalmente e eu... Ah, eu fui tão horrível com ele, eu queria tanto que eu tivesse olhado nos olhos dele, porque Carly, eu ia saber. Nós sempre tivemos isso, nós sempre conseguimos nos comunicar pelo olhar e eu evitei tudo... O toque dele, o abraço dele, os olhos dele...

– E o que ele dizia na carta, Sammy? – Carly se pronunciou antes da amiga voltar a chorar.

Sam respirou fundo duas vezes e se sentou de frente à Carly, então, abriu a mão que estava fechada e lá tinha um papel amassado.

Carly desdobrou o papel e com muito custo conseguiu entender o que estava escrito – ter se formado em psicologia havia lhe dado alguns privilégios e um deles era conseguir entender letras até piores que aquele garrancho de Fredward Benson.

No começo ela riu um pouco e depois seus olhos começaram a devorar cada linha, enquanto Sam a observava apreensiva.

Em determinado momento, Carly sorriu para a carta e uma lágrima desceu, seguida pro várias e no final da carta, a Shay estava com um choro fraco e os olhos marejados.

– Meu Deus, Sam... – Ela sussurrou olhando da carta para a amiga – Eu não sei o que você fez, mas você tem que ir atrás dele.

– Eu não vou fazer isso.

– Por quê?

– Porque ele passou cinco anos bem. E vai passar dez, quinze, vinte e até mais sem uma de esquerda como eu.

– Porra Sam! – Sam não ficara assustada só com o fato da Carly ter gritado e se levantado, mas era quase impossível você ouviu a morena falando alguma palavra assim. Então ela só conseguiu arregalar os olhos e olhar para a amiga que estava de pé, na sua frente – Ele fez uma prova de programação, cheio de códigos e essas coisas e depois foi trabalhar. Ele chegou e leu a carta que você tinha feito e sabe o que ele fez? Ele comprou uma passagem para vir até aqui e veio, provavelmente sem dormir, só para dizer que ama você. E quando eu chego, vejo que você está chorando com um moletom maior que você segurando um pedaço de papel amassado. E mesmo depois de tudo o que ele disse, mesmo depois de todas essas palavras, você simplesmente diz que não vai atrás dele?

– As coisas não são tão simples quanto você imagina.

– Sam, nós nos beijamos no dia em que eu fui pra Itália. Porque nós precisávamos encerrar essa etapa nas nossas vidas e... No dia do Baile onde As Garotas Decidem, Sammy, eu estava tão frágil e o Freddie nunca conseguiu me ver chorando, nós só dançamos e ele ficou me consolando a noite inteira – Ela disse e as lágrimas voltaram – Sam, quando ele me ligou de madrugada pedindo nosso endereço eu não imaginava que ele fosse vir aqui. E você não pode se enganar desse jeito!

– Desse jeito como? Me diz, Carly! – Sam também voltara a chorar e estava trêmula de raiva.

Raiva de si mesma, raiva da Carly, raiva da Cat, raiva do Benson.

– Desse jeito que você agiu durante cinco anos, droga! – Ela explodiu – Fingindo que não liga para ele, não atendendo as ligações dele, faltando aos encontros que marcamos que você sabe que ele vai, não ligando nem no aniversário dele e... Não querendo sair com qualquer outra pessoa, fugindo de quando alguém te corteja. Sam, você tem vinte e três anos, já terminou sua faculdade e tem um restaurante realmente bom aqui em Los Angeles, e sabe o que te impede de ir atrás do homem que você ama? – Ela perguntou dando dois passos à frente, olhando diretamente nos olhos azuis da loira. Carly estava furiosa – Esse seu orgulho que te separou dele há anos. Ele engoliu o orgulho dele e veio até aqui e você, vai fazer o que por ele?

Sam respirou fundo mais uma vez e com o rosto vermelho coberto por lágrimas, ela estralou os dedos.

– Sai do meu quarto – disse estridente.

Carly engoliu o nó que estava se formando na sua garganta, jogou a carta do Freddie na direção da cama da Sam e se dirigiu até a porta.

Porém, ela parou na porta e se virou para Sam, colocando um mecha do cabelo negro atrás da orelha.

– Você sabe o que sente por ele e eu não vou mais falar com você em relação a isso – suspirou – Sabe, Sam, eu sempre te achei a pessoa mais corajosa que eu conheço. É realmente uma pena que eu tenha me enganado em relação a isso.

O estrondo da porta batendo não fez com quê Sam se movesse.

Ela passou a mão no rosto e, sem querer, sentiu o cheiro do nerd.

Fredward Karl Benson. Freddie. Frednerd. Nub. Fredaluppe. Fredinho. Fredduíche. Nerd.

O seu Freddie.

O Freddie que a amava e tinha ido até lá.

O Freddie que ocupou seus pensamentos nos últimos anos e ela sabia que ocuparia nos próximos e, droga, Sam Puckett não pode – não deve – ficar parada vendo o amor da sua vida escorrer por entre seus dedos como água.

Inspirou novamente o aroma que estava na blusa e pegou a carta dele, passando o dedo pela caligrafia horrorosa dele.

“p.s.: eu te amo”

– Droga, nerd! – Sam disse e enfiou a carta no bolso – O que eu ainda to fazendo aqui?

Ela pegou o celular que estava com os fones de ouvido, sua carteira e meio minuto depois, estava descendo as escadas do apartamento de dois em dois degraus tamanha era sua ansiedade.

– Aonde você vai? – Perguntou Carly que estava no pé da escada, subindo sua mala.

– Pegar um nerd que é meu por direito – Ela respondeu e passou pela Carly. Mas, antes, voltou e beijou a testa dela – Obrigada por ter dito que eu sou uma covarde e ser tão incrível.

– Eu não sou... Ah, sou sim. Obrigada você – Ela riu e antes da Sam sair do apartamento, ela voltou a falar – Eu fiz alguns lanches com presunto e queijo para você, caso você fosse atrás dele.

Sam pegou os lanches e antes de entrar no taxi em direção a LAX, já tinha devorado pelo menos três deles.

Não sabia qual era o quarto dele, não sabia exatamente a localização do MIT, não tinha nem levado roupas.

Só estava com a sua identidade, celular, seu cartão de crédito, o moletom e a carta do Benson.

E pela primeira vez em cinco anos, ela nunca se sentiu tão certa em relação ao que ela estava fazendo.

Pela primeira vez em cinco anos... Samantha Puckett sentia que dessa vez era tudo ou nada.


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Notas finais do capítulo

A música da qual o Freddie fala na carta, da dança com a Carly, é Meant For Me da Chrissy Chase e ela realmente tocou durante o episódio.
Ele foi bem grandinho e nem de longe ficou tão bom quanto o primeiro - porque quando eu escrevi o primeiro, eu tava numa crise existencial Seddie e precisava "desabafar" -, mas é isso o que eu tinha planejado. O próximo sai até dia 29, mas acho que vem antes.
Espero que gostem, obrigada ♥