Haru no Tenshi escrita por annaLI


Capítulo 1
Capítulo 1




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A primavera tinha chegado. Enquanto Syaoran dirigia perto do parque num fim de tarde, podia ver as pessoas alegres reunidas debaixo das cerejeiras. Ele detestava a primavera. Ela lhe trazia péssimas lembranças. Esse ano essas lembranças pareciam mais dolorosas que nunca unidas aos novos problemas que vinha enfrentando.

Ignorando o caminho que deveria tomar, ele continuou dirigindo até chegar a uma via afastada, perto dos limites da cidade. Ali, ele viu de longe um acidente desenrolar-se a sua frente como se estivesse assistindo um filme. Um enorme caminhão ficou atravessado na avenida, bloqueando os dois sentidos. Por sorte o movimento não era muito grande, mas mesmo assim vários veículos se chocaram contra ele e uns contra os outros. Para Syaoran aquilo parecia uma resposta à sua vontade de deixar para trás as más lembranças e todos os problemas. Seu ato seguinte ocorreu então de uma decisão tomada num segundo de desespero completo. Não precisava estar passando por isso, pensou ele, tudo poderia acabar ali, naquele instante mesmo. Com isso, ao invés de reduzir a velocidade, ele afundou o pé no acelerador e foi parar no meio da confusão que se formava na avenida, seu carro foi em alta velocidade de encontro a traseira de outro que tinha se chocado com o caminhão.

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Syaoran estava desacordado, mas mesmo que estivesse com os olhos bem abertos, não teria podido enxergar a moça que agora caminhava apressada pela rodovia na direção do acidente. Ninguém se mostrava capaz de enxergá-la com seu leve vestido branco que aparentava ser feito de um tecido sedoso e ondulante demais para ser real e o fato de que andava descalça em meio a todos os pequenos cacos de vidro espalhados pelo chão sem deixar para trás uma única gota de sangue sequer. Na verdade ela não era a única, outros parecidos com ela também estavam ali, alguns já tomando o caminho de volta. Uma das que voltavam ia ao lado do espectro de uma pessoa e dirigiu-se a ela:

- Atrasada!

- Desculpe, desculpe! Eu perdi a hora...

- Seu protegido está agonizando, devia tentar ser menos descuidada!

- Ahhh! Tekada-san! – A recém-chegada se encaminhou depressa para uma moto de entrega de comida tailandesa tombada e quase embaixo do caminhão. Seu condutor estava ali, também no chão, o capacete voara longe, muito sangue escorria de seus cabelos e pelo canto da sua boca. Ele tremia convulsivamente.

Ela estendeu as mãos acima da cabeça dele que se iluminou com uma luz branca muito forte.

- Vai ficar tudo bem, isso já vai passar... fique tranquilo... – à medida que ela sussurrava ele ia se acalmando até que parou completamente de tremer e quando seu corpo estava totalmente imóvel seu espírito levantou-se devagar e, de pé, passou a observar uma dupla que acabava de chegar e tentava socorrer seu corpo que não respondia às tentativas. A moça do vestido branco segurou a mão dele com um sorriso e disse:

- Não olhe para trás... Vamos, venha comigo. Está tudo bem.

Sem resistir, ele passou a acompanha-la, o rosto sem expressão, mas sereno. Os dois seguiam rumo a um círculo de luz muito forte à sua frente, quando a moça foi atraída por murmúrios que vinham de um dos carros envolvidos no acidente.

- Sakura... Papai... Ajuda... – um homem com o rosto próximo da janela estilhaçada do próprio carro repetia essas três palavras sem parar com a voz bem fraca, parecia à beira da morte.

A moça viu que seu protegido continuava seguindo em direção à luz e parou, observando o homem. Olhou para todos os lados, à procura de quem deveria ter ido ali para protegê-lo, para conduzi-lo a uma morte serena ou apoiá-lo numa possível recuperação de acordo com qual fosse seu destino, mas todos as outros parecidos com ela estavam ocupados com seus protegidos.

- Sim, depois sou eu a única que sempre se atrasa nas missões! – A moça exclamou, balançando a cabeça negativamente e soltando muxoxos, depois dirigindo-se ao rapaz semi-inconsciente: - Olhe, me desculpe, mas eu não posso ajuda-lo... é que não tenho permissão para isso, minha missão é só resgatar meu protegido...

E decidiu voltar a seu caminho, procurando não olhar para trás.

- Ajuda... – aquilo soava como um tipo de último suspiro e fez a jovem voltar no mesmo instante.

- Ai, está bem! Afinal isso não pode ser mais errado do que deixa-lo aí agonizando sozinho...

Ela tirou do pescoço um colar que continha um único cristal com um brilho dourado intenso que se tornou meio opaco assim que tocou o pescoço do homem no carro.

- Certo! Você vai ficar bem com isso até seu protetor chegar... – ela sorriu e voltou ao seu caminho correndo para alcançar seu protegido que já quase chegara ao círculo de luz branca.

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- Anjo S, posso saber o que estava pensando pela sua cabeça ao salvar a vida de um homem que tinha acabado de tentar cometer suicídio naquele acidente de trânsito?

- Suicídio?! – A moça anjo tinha sido chamada à presença da grande conselheira para prestar contas pela sua atitude impulsiva de algumas horas atrás, mas não esperava receber aquela informação. Ela sabia muito bem o que aquilo significava.

- Isso mesmo. Quando um anjo negro chegou para levar a alma que lhe pertencia, encontrou um certo artefato celestial pendurado no pescoço do humano que já deveria estar morto. Por causa do artefato ele não pôde sequer tocar no humano. Portanto aquele humano continua vivo e não poderá morrer enquanto estiver com o SEU colar de anjo, anjo S.

- M-mas... Mas Yuuko-sama... eu não... eu não podia imaginar do que se tratava... eu imaginava que ele era apenas mais um dos que tinham sido pegos de surpresa pelo acidente e que seu protetor estava atrasado, portanto eu... eu não poderia deixa-lo... se não fosse sua hora... ele... – A moça anjo não sabia o que fazer com as mãos e não tinha coragem de levantar o rosto para encarar o outro anjo que tinha a aparência de uma mulher mais velha e agora apoiava a têmpora numa das mãos. Não aparentava estar zangada, afinal sua natureza nunca lhe permitiria tal sentimento contra uma igual, mas estava sim muito preocupada e demonstrava isso.

- Sinceramente, anjo S. Como você sempre consegue arranjar tanta confusão, não basta se atrasar sempre para as missões para as quais é convocada...

Anjo S parecia prestes a se debulhar em lágrimas, mas anjos também não possuem lágrimas para derramar.

- Você sabe que eu não tenho escolha quanto ao que deve ser feito a seguir, não é?

A moça continuou de cabeça baixa, mas fez um único gesto lento afirmativo com a cabeça, a mais velha continuou a falar.

- Aquele humano teria provocado uma grande reviravolta em seu destino com aquele ato... um ato que não poderia mais ser remediado se você não o tivesse salvo... agora ele deveria estar com os mortos do submundo... eles têm 70 dias para resgatar sua alma... Sua missão, anjo S, será manter esse home vivo durante esses 70 dias... se você falhar... vai desaparecer!... Sua existência simplesmente será apagada junto com o brilho do colar no pescoço dele. Um anjo negro será enviado para garantir que isso aconteça e você também terá de lidar com os efeitos do mundo humano sobre seu corpo... Aos poucos você será consumida pela aura deles... transformando-se pouco a pouco em um deles até que possa retornar.

- Eu entendo,Yuuko-sama. – Ela se aproximou mais da conselheira, agora encarando-a, determinada. - Eu não vou falhar! Juro que não vou! Vou dar o meu melhor! Sei que vai ficar tudo bem! Vou me esforçar bastante!

Yuuko não pôde evitar um leve sorriso diante da grande determinação que a outra estava demonstrando, o que era típico dela, na verdade.

- Eu acredito na sua capacidade, anjo S. Ficarei aguardando seu sucesso.


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Notas finais do capítulo

Gostaria muito de saber o que achou do comecinho da história ;)

Bjos



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