A Lenda dos Santos de Atena escrita por Krika Haruno


Capítulo 64
Esperança?


Notas iniciais do capítulo

Para o fim da fic, teremos mais um capitulo e um extra.
Boa leitura!



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Athenas...

Depois da guerra contra Hell, o santuário foi reconstruído. Seiya e os demais bronzeados se afastaram das suas atividades normais durante um mês para ficarem mais próximos de Atena. Marin assumiu completamente o cuidado da parte administrativa do santuário, enquanto Shina cuidava de Rodorio. Atena voltara para o trabalho na Mitsui e assim a vida seguia, contudo a deusa nunca mais foi a mesma. Antigamente podia-se ver um brilho em seu olhar e um sorriso nos lábios, mas agora o olhar se tornara mais sério assim como seu semblante. Sua gentileza e bondade continuavam, entretanto era como se ela tivesse perdido a vontade de sorrir. Ela ainda não tinha superado a perda de seus dourados, até tentou junto a Hades, mas ele foi irredutível. No Brasil, a situação não era muito diferente, mas de alguma forma todos tentavam seguir em frente...

... A mais mistérios entre o céu e a terra do que toda nossa vã filosofia, já dizia Shakespeare...

Columbia, Carolina do Sul, Estados Unidos...

Havia um mês que Ester trabalhava na University of South Carolina. Logo após sua volta da Grécia, havia recebido a proposta para trabalhar como diretora do departamento da tecnologia da informação. Aceitou na hora, pois era uma forma de esquecer o ariano. Ainda era cedo quando seu turno terminou. Ainda estavam no verão e o dia estava quente. Resolveu sentar perto da fonte que existia no meio da universidade. Fechou os olhos para sentir a sombra da arvore e sem querer acabou derrubando seu tablete.

– “Essa merda vive caindo.” – xingou-se mentalmente.

Estava tão brava, com medo do seu app não funcionar, que não notou um homem aproximando-se dela. Ele parecia perdido, pois olhava em todas as direções.

– Com licença. – disse, ao ver uma moça sentada num banco.

Ester ignorou completamente, não tinha se dado conta da presença dele.

–Por favor... será que... – tocou de leve nos ombros dela.

A brasileira ergueu o rosto rapidamente. Havia assustado com o toque, não tinha visto que alguém estava perto. Quando os olhos verdes fitaram o homem a frente empalideceu.

– Moça você está bem?

Ester esfregou os olhos muitas vezes, não acreditando no que via. Aquilo só poderia ser efeito do sol quente de Columbia. O homem trajava uma roupa social. Os cabelos eram lilases e longos bem atípicos aos homens do país. Os olhos eram extremamente verdes e tinha duas manchas acima dos olhos.

– “Mu??”

– Moça você está bem?

Ela não se conteve, tocou o no braço. O homem estranhou e desviando o olhar leu no crachá o nome dela.

– Ester. Bonito nome. – sorriu.

Estava paralisada. Realmente estava diante do ariano, mas por que ele agia como se ela fosse uma estranha? Nervosa, ligou seu tablet.

Oi.

– Oi. – estranhou o tom metálico. – seu nome é Ester?

Sim. E você?

– Mu Slaviero. – estendeu a mão. – sou o novo professor de história. A universidade me convidou para fazer meu pós doutorado aqui. – sentou no banco. – minha tese é sobre o continente desaparecido: Lemuria.

Ester não escondeu o sorriso. Mu falando sobre Lemuria. Contudo o sorriso foi morrendo. Se era ele mesmo, porque não se lembrava dela?

– “Eles ganharam uma nova vida?” – pensou. –“só pode ser isso! Atena conseguiu a liberação deles, mas na condição de serem pessoas normais e sem memória...”

– Ester?

Desculpe. – sorriu. – seja bem vindo Mu. Tenho certeza que vai gostar daqui.

– Obrigado. – sorriu timidamente. – me sinto um pouco deslocado aqui. Sou meio diferente...

Você é especial. – tocou no braço. – muito especial.

– Obrigado... – ficou envergonhado. – será que pode me dizer onde fica os alojamentos?

Siga em frente, próximo ao prédio cinza. Ficará morando aqui?

– Sim. Pelos próximos quatro anos.

Interessante. – levantou. – eu preciso ir. Foi um prazer conhece-lo.

– Igualmente. – também levantou. – talvez quando tiver tempo possa me mostrar a faculdade... – disse sem jeito.

Ester sorriu. Ele continuava com o mesmo comportamento.

Pena que eu não posso. Hoje é meu ultimo dia aqui. Fui transferida para outra unidade, mas tenho certeza que se dará bem. – estendeu lhe a mão. – boa sorte.

– Obrigado. – retribuiu o gesto um pouco desapontado, queria se tornar amigo dela. – boa sorte na sua nova jornada.

Igualmente.

Ester afastou-se. Já não estava aguentando ficar perto dele sem fazer nada. Quando estava a certa distancia, deixou o corpo repousar na parede. Se os deuses deram lhe uma nova chance, não cabia a ela fazer suas memorias voltarem. Depois de tudo, Mu merecia ter uma vida normal e sem ela. Pediria demissão naquele dia mesmo e mudaria de cidade.

Belém, Pará, Brasil...

Abriu a viseira do capacete, enquanto o sinal estava fechado. Nos últimos vinte dias aquele era seu meio de transporte. Logo após a volta da Grécia, Paula deu entrada nos papeis dados por Shion. Ganhou uma moto e o montante que ela resgatou em dinheiro abriu sua própria clinica odontológica. Tendo seu próprio horário poderia se dedicar mais a dança.

O sinal abriu, estava um pouco atrasada para a reunião com o pessoal do seguro. Seu novo empreendimento foi erguido a custo de amargas lágrimas.

Estacionou no pátio em frente a clinica, ajeitando os cabelos.

– Oi Paula.

– Oi Estela. O cara já chegou? – indagou tirando o sapato fechado, colocando uma sandália de salto baixo.

– Está na sua sala. – sorriu, pegando o sapato. – e ele é lindo. Acho que não é daqui. Será que é solteiro?

– Estela...

– Só estou comentando...

Paula apenas sorriu, ninguém poderia ser mais bonito que Shion. E como sentia falta dele. Balançou a cabeça negativamente. Se começasse a pensar no grande mestre certamente choraria.

Entrou na sua sala. O homem estava sentado de costas para ela, mas achou curioso a cor dos cabelos. Não era muito comum na sua região.

– Boa tarde. Perdoe o atraso.

– Senhorita Ana Paula.

Ele levantou, já estendendo a mão. Paula ficou pálida, tanto que apoiou na porta para não cair.

– Está tudo bem? – o rapaz a ajudou.

– Sim...

Ela o fitou diretamente. Os cabelos esverdeados estavam presos por um laço. A pele alva, os olhos arroxeados e as marcas. Sem dúvida era Shion.

– Sente-se aqui. – puxou uma cadeira. – quer que eu chame alguém?

A paraense não respondeu, se era Shion porque ele a tratava como se ela fosse uma desconhecida?

– Não precisa... qual o seu nome?

– Shion. Sou o representante da seguradora.

– Da seguradora? – não estava entendendo nada. – do que está falando Shion?

– A nossa reunião não é hoje? – indagou confuso. – será que confundi as datas? Eu tenho tudo anotado. – pegou sua agenda.

Paula a principio o fitou sem entender, mas depois tudo ficou claro. Ele tinha sido renascido e certamente sem memoria. Só poderia ser isso. Atena havia feito um novo acordo com Hades.

– É hoje. – disse. – apenas me confundi com outro compromisso. Sente-se.

O ariano obedeceu.

– Bom senhorita, esse...

Shion começou a explicar sobre o contrato. Paula tentava prestar atenção, mas seus pensamentos estavam totalmente voltados para o rosto dele e os dias que viveram no santuário. Era tão estranho conversar com ele desse modo. A explicação durou cerca de dez minutos.

– Alguma duvida? – ele indagou.

– Não. – disse voltando a realidade. – tudo foi esclarecido.

– Espero que tenhamos a sua preferencia. Gostaríamos muito de tê-la como cliente.

– Eu sei... mas tem outras seguradoras, mas até o final da semana te posiciono.

– Ficarei aguardando. – a olhou fixamente. – não nos conhecemos de algum lugar? Seu rosto...

– Tenho um rosto muito comum. – deu um sorriso amarelo.

O cavaleiro continuou a fita-la.

– Tem pouco tempo que estou na cidade, não deu tempo de conhecer muita gente.

Paula ficou com medo. E se Shion se lembrasse de tudo?

– Está enganado. – fitou o relógio. – sinto muito, mas tenho outro compromisso.

– Me perdoe. – disse sem graça levantando. – tome meu cartão caso queira tirar alguma dúvida.

– Obrigada. Agradeço por ter vindo.

– Igualmente. – estendeu a mão.

– Acompanho até a porta. – retribuiu.

Shion a fitou de cima abaixo, demorando o olhar nos pés.

– Tem pés de bailarina.

– É... eu danço... – disse sem graça.

– Qual estilo?

– Do ventre... – a voz saiu baixa.

– Interessante...

– Por aqui, por favor. – tomou a direção da entrada da clinica. Estava com medo da memoria de Shion voltar. E se isso acontecesse com certeza traria problemas para ele.

Shion a acompanhou até a porta, o olhar parou na mota estacionada.

– É sua?

– Sim...

– Sempre tive vontade de ter uma, talvez eu compre. – sorriu.

Paula sorriu de volta, por alguns minutos ele perdeu a áurea de grande mestre, sendo apenas um homem comum. Teve muita vontade de dizer ao ariano: pode levar é sua.

– Tenho certeza que vai.

– Obrigado. Aguardo sua resposta.

Apertaram as mãos mais uma vez, antes dele virar a esquina. Paula olhava de forma triste para a moto. É uma pena que não poderia realizar o sonho dele.

– Não disse que era um gato?

– É Estela....

– E então fechou o contrato?

– Não. E nem vou.

– Por quê?

– Não atende ao que eu quero. – queria evitar qualquer contato com ele, pois temia prejudica-lo. - Vamos continuar procurando e se ele ligar diga que fechamos com outra seguradora.

Corrente, Piauí...

Mabel andava apressada em direção a sua casa. Como sempre a ida ao banco demandava muitas horas e agora estava atrasada.

– “Minha mãe não vai parar de falar na minha cabeça.” – pensou. Subitamente tocou o anel no anular esquerdo. Era seu anel de noivado. Não tivera coragem de tira-lo. – “queria muito ter sido a senhora Ferreira.”

Pensando em Aldebaran, diminuiu o passo até parar. Reparou que parou em frente a igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Ironia, em frente a uma igreja. Sentiu vontade de entrar nem que fosse por um minuto. Em todo caso diria a mãe que se atrasou, pois estava na igreja.

Entrou, já se sentindo melhor por causa da proteção contra o sol. Caminhou lentamente rumo ao altar. Ajoelhou no segundo banco. Não estranhou, a igreja decorada com flores, pois escutara da sua mãe que naquele dia teria um casamento e que seria o primeiro do novo padre que chegara a cidade há poucos dias.

Depois de fazer sua oração abriu os olhos fitando o altar principal, foi até um pequeno altar recém instalado. Não se segurou, tocando o objeto, contudo o objeto desprendeu.

– Ai meu Deus. – tentava colocar no lugar, mas era pesado.

– Pode deixar, eu coloco.

Mabel abafou o grito ao escutar a voz ao lado dela, pois tinha sido pega em fragrante. Voltou a atenção para o dono e teve que abafar novamente o grito.

– “Aldebaran??”

O homem era muito alto e de porte atlético. Os cabelos eram negros e os olhos azuis destacavam na pele morena. Vestia uma batina negra.

– Desculpe se a assustei. Sou o padre Ricardo.

– Pa-dre? – gaguejou.

– Cheguei há poucos dias. – sorriu. – vim transferido do Mato Grosso.

Mabel estava em choque. Sem duvida aquele era o cavaleiro de Touro, mas o que ele estava fazendo ali? E como padre?

– Qual o seu nome?

– Mabel... – murmurou ainda em choque. Ele não se lembrava dela?

– Muito prazer senhorita Mabel. – disse cortes.

Bel apenas meneou a cabeça. O sol de Piauí estava tão forte a ponto de ter alucinações? O olhar desviou para a mão esquerda dele, ele usava uma aliança... mas padres usavam alianças em sinal de “casamento” com a Igreja... ela apertou o olhar notando que não era uma e sim duas. Ricardo percebeu.

– Todo mundo me pergunta sobre isso. – mostrou a mão. – uma é da minha ordenação, a outra é joia de família.

– Posso ver? – ela queria ter certeza.

Ele estendeu a mão. Mabel segurou para não chorar. Era a aliança que Mu havia feito para eles. De certo Atena deve ter feito algum novo acordo com Hades e ele concedeu a eles uma nova vida, mas sem serem cavaleiros. Aquilo explicaria a falta de memoria dele.

– Muito bonita. – sorriu. Seu cavaleiro estava vivo e bem.

– Obrigado.

– Padre Ricardo, preciso da sua autorização para decorar o altar.

Mabel ergueu o rosto na hora.

– Gustavv??? – berrou.

O homem a fitou na hora. A pele era alva, sem marca alguma no rosto exceto pela pinta ao lado do olho esquerdo, a boca era bem feita e levemente rosada. Os olhos eram azuis esverdeados, os cabelos desciam loiros claros até os ombros num corte moderno.

– Eu te conheço...?

A garota ficou em silencio. Aquilo só poderia ser brincadeira. Afrodite e Aldebaran na frente dela?

– Onde pensa em colocar as flores Gustavv? – indagou, estranhando o fato de não ter gostado do olhar da garota para o estrangeiro.

– Segundo o projeto, - voltou a atenção para o taurino. – a noiva quer rosas vermelhas no altar.

– Desde que não tampe as imagens sacras...

– Obrigado. – voltou o olhar para Mabel. – não creio que seja uma cliente minha, pois não esqueceria esse rosto. – sorriu. – se bem que o calor daqui é capaz de fritar qualquer cérebro. Está acabando com a minha pele!

Ela riu.

– Sou Kiergaarg. Gustavv Kiergaarg. Recém chegado ao Brasil.

– Como assim?

– Sou sueco. Mas mudei para o Brasil. Moro em Teresina onde tenho uma loja de decoração de festas, abri uma filial aqui. – estralou os dedos, fazendo uma rosa branca aparecer. – amostra grátis.

A cabeça de Mabel estava um nó.

– Foi um prazer conhece-los. – disse levantando. Se estavam sem memoria, era sinal que os deuses determinaram que eles vivessem como pessoas normais e a presença dela, poderia interferir nisso. – mas eu preciso ir.

– Vou deixar meu cartão com você. – Dite deu a ela. – caso precise dos meus serviços.

Afrodite Decorações... – leu o cartão, não deixando de sorrir. – obrigada.

– Espero vê-la em breve. – disse Deba com um grande sorriso.

– Igualmente... Adeus.

Mabel saiu apressada, prometendo que não pisaria naquela igreja nunca mais. Deixaria Aldebaran e Afrodite seguirem suas vidas tranquilamente.

Belo Horizonte, Minas Gerais...

Andava apressada em direção ao local onde pegaria o ônibus, não que estivesse atrasada, mas estava doida para ir embora. Desde a sua volta da Grécia, os únicos lugares que ia era no trabalho e em casa. Não tinha mais vontade de sair. A perda de Saga ainda mexia com ela.

Passava pelo complexo cultural da capital mineira, quando reparou no prédio cinza modernista, a biblioteca estadual.

– “Estou precisando renovar minha carteirinha.” – olhou no relógio. – Já que estou aqui mesmo...

Entrou, indo direto para o balcão de atendimento. Atualizou sua carteirinha e aproveitou para olhar os livros. Ficou por mais de quinze minutos olhando título por título. Parou na estante de literatura estrangeira e quando retirou um exemplar deparou com um par de olhos verdes. A brasileira recuou assustada, a ponto de deixar o livro cair no chão. Agachou para pega-lo, não percebendo que o dono dos olhos verdes aproximou dela.

– Desculpe se a assustei.

– Não foi nada. – levantou. – eu só...

Cristiane fitou a pessoa arregalando os olhos, ficando pálida. Era sonho? Ou sua mente estava tão perturbada a ponto de enxergar demais.

– Oi... – o rapaz ficou temeroso pela expressão dela.

– Saga...

– Como sabe meu nome? – o homem era alto, tinha os músculos definidos. Os cabelos azuis desciam até a altura dos ombros. A franja era repicada e os olhos extremamente verdes. As linhas de expressão indicavam os anos.

A mineira estava sem palavras, a mente estava confusa. Sem dúvidas o homem que estava a sua frente era o cavaleiro de ouro de gêmeos, mas ele não estava morto? Se não, o que estava fazendo na sua frente?

– Está tudo bem...?

– Está... – fechou os olhos, aquilo era sua imaginação pregando uma peça. – está... – fitou o homem que a olhava sem entender. – desculpe minha reação é que você parece muito com...

– Você falaria isso, se visse meu irmão. Somos gêmeos. – sorriu. – as pessoas confundem a gente.

– Tem um irmão?

– Sim Kanon. Kanon Myles.

Cabelos azuis eram raros no mundo, gêmeos e tendo os mesmos nomes? Só poderia ser...

– É de qual signo?

– Gêmeos... – estranhou a pergunta.

– Oh meu Deus. – levou a mão a boca. Sem dúvida aquele era o geminiano. Mas se era realmente ele mesmo, o que fazia ali? E principalmente por que não se lembrava dela?

Será que Atena tinha conseguido a liberação das almas deles? Os cavaleiros teriam uma segunda chance, contudo num lugar diferente e, sobretudo sem memória?

– Você está bem?

– Estou...trabalha aqui?

– De certa forma. Sou curador de uma exposição sobre a Grécia Antiga, estou de passagem pela cidade. Quer ir? – pegou um convite na pasta que carregava. – começa amanhã e teremos um Coffee break.

Ela sorriu. Como os deuses eram sádicos. Deram uma nova vida, mas sem afastar do tema. Fitou o cavaleiro. Ele parecia bem, pelo pouco que conversou, não demonstrou sinais da depressão. Ficou contente, pois com o esquecimento do passado não se lembraria dos atos cometidos. Saga poderia seguir a vida sem medo e sem ela. Talvez fosse melhor não se envolver com ele.

– Agradeço, mas tenho outro compromisso. – deu um meio sorriso. – mas desejo boa sorte com a exposição.

– Fique com o convite. Talvez mude de ideia. – sorriu.

Contemplou aquele sorriso, como queria abraça-lo novamente. Respirou fundo para não ceder a essa vontade e nem chorar. Saga estava na sua frente, sem amarras e não poderia dizer quem era e o que sentia por ele.

– Não prometo. – pegou o convite. – adeus Saga.

– Qual o seu nome?

– Cristiane. Adeus.

– Venha. – segurou o braço dela. – por favor.

Sentiu os olhos marejarem ao sentir o toque dele, mas tinha que aguentar.

– Pensarei.

Saiu de lá sem olhar para trás. Deixaria Saga viver sua vida em paz.

Recife, Pernambuco...

Suellen consultava o relógio pela decima vez, era quatro da tarde. Seu dia estava totalmente cronometrado, que qualquer desvio atrasaria todos os seus compromissos.

Andava pela Avenida Boa Viagem, apreciando a visão do mar. Recife tinha belas praias, mas tinha saudade das praias da Grécia. Mas sua maior saudade era da voz de Kanon pedindo por comida. Como sentia falta dele...

Balançou a cabeça para esquecer tais pensamentos. Tinha que seguir em frente. Consultou o relógio novamente, vendo que tinha tempo. Resolveu entrar num restaurante para comer alguma coisa. E já que o local era novo aproveitaria para conhecer.

Sentou rapidamente numa mesa de frente ao mar. Nesse exato momento, um homem passou por ela.

– Garçom, será que pode trazer uma água sem gás, por favor. – pediu voltando a atenção para a janela.

O homem parou imediatamente, erguendo uma sobrancelha. Garçom?

– Sim senhora.

Suellen notou o tom seco da voz, mas resolveu ignorar. Só tomaria essa água e iria embora. Cerca de alguns minutos depois, o homem colocou sobre a mesa, a garrafa e uma taça.

– Obrigada.

Ela o fitou arregalando os olhos. Ele era bem alto, ombros largos, usava uma roupa social. Rosto com traços marcantes, cabelos repicados que desciam azuis esverdeados até os ombros. A franja era partida no meio e os olhos eram verdes.

– Ka-non?

O homem revirou os olhos. Se ela sabia quem ele era, tinha percebido o equivoco. Não era o garçom e sim o dono do lugar.

– Justamente senhorita. Kanon Myles. Prazer.

Não conseguiu dizer nada. Nem tinha bebido a água para acha-la batizada! Estava ficando louca? Kanon estava na sua frente. E muito bravo por sinal.

– O que está fazendo aqui? Atena não disse nada...

Ele arqueou a sobrancelha.

– Você está bem?

Ficou pálida. Kanon não se lembrava dela? Por quê?

– Não se lembra de mim?

– Eu já te vi antes...?

Teve um estralo. Será que eles tinham ganhado uma nova vida em troca da perda da memoria?

– Eu me confundi com outra pessoa...

– Não me diga que conhece o Saga... – soltou um suspiro desanimado. – mesmo do outro lado país ele me persegue.

– Saga está no Brasil? – gritou.

– Da onde conhece meu irmão...?

– Eu não conheço. – disse sem graça. – esquece, isso é cansaço.

Kanon a fitou demoradamente.

– Qual o seu nome?

– Suellen.

Ele puxou a cadeira sentando de frente para ela.

– Pela sua reação você conhece meu irmão.

– Eu?! Eu confundi. Assim como achei que era o garçom, mas suas roupas são diferentes. – tratou de mudar de assunto e descobrir o que ele fazia ali.

– Sou o dono. Tem poucos dias que abri. – mostrou a ela a capa do cardápio. – é um restaurante de frutos do mar. Shounion Sea’s food.

Foi inevitável não sorrir. Restaurante era bem a cara de Kanon. O fitou. Sua expressão parecia bem tranquila, sinal que as coisas estavam bem. Se os deuses resolveram lhe dar uma nova vida, certamente tinha que sair daquele lugar. Depois de tudo que ele passou com Saga e na guerra contra Hell nada mais justo que ele levasse uma vida normal.

Abriu a carteira retirando uma nota.

– Obrigada pela água. – pegou a garrafa.

– Mas nem tomou. – a garrafa estava fechada.

– Estou com pressa. – levantou. – boa sorte com o restaurante.

– Teremos uma noite especial com a culinária da Grécia. Venha.

– Agradeço o convite, mas já tenho outro compromisso.

Já estava saindo, mas teve sua mão retida.

– É por conta da casa. – devolveu o dinheiro, dando um largo sorriso.

Suellen se segurou para não pular em cima dele. Aquela vida seria perfeita, os dois num negocio próprio, mas não podia. Não tinha o direito de estragar a vida nova de Kanon.

– Obrigada. – pegou o dinheiro. – adeus Kanon.

Já sabia que ficaria um longo tempo sem passar naquela avenida.

São Gonçalo, Rio de Janeiro...

Heluane xingava mentalmente seu chefe e a si própria. Porque teve que aceitar aquele trabalho extra? Agora estava em pé feito uma arvore, escutando um bando de mulheres e homens cantando praticamente a mesma musica. Uma coisa era ouvir música clássica sentadinha num teatro outra era ouvir de pé e no serviço.

Aquele seria seu dia de folga, mas seu chefe havia pedido para que ela trabalhasse no Sesc São Gonçalo durante o ensaio de uma opera. Dinheiro extra é sempre bem vindo.

O agudo de uma mulher a tirou dos pensamentos.

– “Daqui a pouco vai precisar de uma fono e não de uma enfermeira.” – abafou o sorriso.

Na verdade, não era pelo dinheiro extra e sim porque queria ocupar a mente ao máximo, pois tudo que fazia lembrava-a do italiano. Não imaginava que sentiria tanta falta daquele idiota.

A cantoria diminuiu, fazendo-a voltar a atenção para o palco. Pela movimentação, parecia que o artista principal faria seu ensaio. Esticou o pescoço para ver melhor, mas alguém tocando seu braço chamou sua atenção.

– Sua pausa.

Helu rendeu graças, indo para o refeitório. Cerca de meia hora depois retornava para seu posto, no meio do caminho pegou outra rota, passando pelos bastidores. Estava distraída com o celular que acabou trombando em alguém.

– Desculpe.

– Desastrada!

A brasileira ergueu o olhar na hora. Aquela voz...

A pele era morena, os olhos azuis escuros e frios. Os cabelos eram repicados num loiro platinado. Usava blusa e calça na cor negra.

Heluane não se segurou, o abraçou.

– Por Atena! Você está vivo!

– Tire as mãos de mim. – a empurrou. – quem pensa que é para me tocar?

– Continua o mesmo grosso! E eu morrendo de saudades de você.

– Eu nem te conheço!

A garota ficou em silencio. Como assim Giovanni não se lembrava dela? Será que estava diante de outra pessoa, semelhante a ele?

– Seu nome é Giovanni, não é? Giovanni Romanelli.

– Claro.

– Sua mãe chama Julieta.

– Como sabe o nome da minha mãe...? – recuou. – por acaso é minha fã?

– Continua convencido... – murmurou.

– Eu não imaginava que musica clássica fosse popular por aqui. – disse. – ainda mais de tenor.

Foi então que tudo fez sentido para ela. Na certa depois que eles vieram embora, Atena deve ter rogado pela vida deles e a condição para que eles vivessem novamente era a perda da memoria e “nascimento” em outro local. Ela o fitou, ele continuava com aquela postura marrenta, sem dúvidas era seu italiano.

– Desculpe-me pelo abraço. – deu um passo para trás. – pensei que fosse outra pessoa.

– Pelo jeito nunca ouviu falar de mim. Sou um cantor italiano fazendo turnê aqui. Minha voz é Tenor.

– Não tenho duvida que será um grande sucesso. Sua voz é linda.

– Obrigado.

– Qual o nome da peça? – indagou para ser educada, mas na verdade queria sumir dali.

– O inferno.

– Bem apropriado... – sorriu. - Mais uma vez me desculpe.

– Vai me oferecer só desculpas?

– É o que uma pessoa educada faz. – mesmo com uma nova vida continuava fresco.

– Quero outro pagamento.

Heluane não esperava por isso, Giovanni a segurou pela cintura e a beijou. Ela deixou-se levar por aquele contato, pois ansiava muito por aquilo, mas não naquela circunstância. Soltou-se, empurrando-o.

– Ficou doido? – a respiração estava descompassada e para piorar os olhos encheram de agua.

– Foi só um beijo. – disse um pouco atordoado. O beijo tinha mexido com ele.

– Eu preciso ir.

– Tome. – tirou do bolso um convite. – venha me ver cantar.

– Agradeço, mas não gosto desse tipo de música. – nem pegou o convite.

– Eu a farei mudar de ideia. – sorriu.

– Não fará. Não gosto de operas e derivados. – a voz saiu seca, tinha que cortar qualquer laço. – adeus Giovanni.

– Não quer reconsiderar? – aproximou.

– Não. – afastou-se ainda mais. – adeus.

Saiu o mais rápido que pôde. Na porta do teatro, olhou para o quadro de avisos, vendo que a peça cantada por ele ficaria por três dias na cidade e depois seguiria para outra. Ficaria três dias dentro de casa. Se Giovanni teve a chance de uma nova vida, seria sem ela.

Goiânia, Goiás...

Saia desanimada da aula. Desde que voltara da Grécia, havia perdido interesse nelas. Tudo lembrava o grego, sua sorte é que tinha conseguido uma bolsa de estudo em outro estado. Dentro de poucos dias teria uma nova vida. Talvez pudesse recomeçar guardando as lembranças do leonino bem no fundo do coração. Gabrielle tomou rumo do jardim da Universidade Federal de Goiás. Sentaria embaixo de alguma arvore e desenharia. Era a única coisa que a fazia se sentir melhor...

– Pega, por favor!

Os olhos desviaram para uma folha de papel parada perto do seu pé. A pegou antes que o vento a levasse. Por curiosidade olhou o conteúdo, ficando pálida.

– Obrigado. – disse uma voz masculina.

Gabe não conseguia tirar o olhar do desenho. Era o que ela tinha feito para Aioria, o retrato dele. Ou pelo menos muito parecido. Mas o que estava fazendo ali?

– Onde achou isso?

Virou-se para o dono da voz, abafando o grito. O rapaz era alto, usava uma calça jeans e regata marrom. A pele era morena, olhos verdes, cabelos castanhos claros cortados num corte moderno.

– Aioria??!! – berrou.

– Como sabe o meu nome...? – a fitou desconfiado.

– Ah... – ficou em silêncio, o garoto a fitava com curiosidade. - eu chutei... e... – disse com cuidado, mas depois se deu conta. – não sabe quem eu sou?

– Não... – sorriu sem graça. – eu sou novo aqui...

Tudo ficou claro. Atena tinha conseguido revive-lo, mas na condição de sem memoria. Deveria ter sido uma condição imposta por Hades.

– Desculpe. – pediu respirando fundo. – é novo aqui? – resolveu mudar de assunto.

– Sim. Sou intercambista. Vim da Grécia. Durante dois anos vou estudar aqui.

– Qual curso?

– Engenharia elétrica.

Gabe abafou o sorriso. Eletricidade tinha tudo a ver com ele.

– E está gostando?

– Sim. – sorriu.

– Mora no campus?

– Sim. Meu irmão veio trabalhar aqui, então aproveitei a oportunidade.

– Seu irmão está aqui... – Gabe pensou em Sheila na hora.

– Sim. Mas é provável que eu fique mais tempo, quero estudar o uso da energia dos raios para a geração de eletricidade e já que o Brasil é um dos campeões em raios...

– Interessante.

Gabe jamais imaginou aquela situação. Aioria vivo e em sua faculdade. Se não tivesse passado pela guerra contra Hell diria que aquilo era loucura. O grego a fitava intensamente, mas teve a visão desviada para o caderno que ela trazia nas mãos.

– Você desenha bem.

– Obrigada.

– Qualquer dia pode fazer um desenho meu? – fez cara de sério.

– Igual esse? – mostrou o papel.

– Sim.

– Quem fez isso?

– Vai me achar um louco... – coçou a cabeça. – eu achei na minha casa... não lembro quando o consegui... mas eu gosto muito dele. Mostra muito bem a minha beleza.

– “Continua o mesmo convencido...” – sorriu.

– Topa fazer um desenho meu?

– Adoraria, mas não será possível. Hoje é meu ultimo dia aqui. Consegui uma bolsa de estudo em Santa Catarina.

– Que pena... – enfiou as mãos nos bolsos da calça. – você tem cara de gostar de vídeo game... estou sem companhia para jogar.

– É uma pena mesmo. – sorriu tristemente. – foi um prazer Aioria. – entregou-lhe o desenho. – e boa sorte. – se ele teve a chance de uma nova vida, ele teria uma nova vida.

– Para você também.

Apertaram as mãos.

– Adeus.

– Qual o seu nome? – segurou a mão dela.

– Gabrielle. – teve que puxa-la.

– Bonito nome. Foi um prazer Gabrielle.

– Igualmente... adeus.

Gabe saiu correndo, se ficasse mais alguns minutos, choraria.

São Paulo, São Paulo...

Era mais um dia de calor na cidade. Apesar ser inverno, a temperatura passava dos vinte e oito graus. Baixa, se comparada aos trinta e cinco de Athenas, mas mesmo assim já sentia a pele vermelha. Apertou o passo para chegar rapidamente a lavanderia do bairro da Liberdade. Na mão uma pequena sacola, contendo seu maior tesouro. Juliana havia usado apenas uma vez e deste então o kimono dado por Shaka estava no fundo do armário. Tinha carinho pela peça, mas não gostava de olha-la, pois a presença do indiano ainda era muito forte.

Já estava na esquina, quando uma construção chamou sua atenção. Antigamente naquele local havia um restaurante e não um templo budista. Curiosa com o achado resolveu entrar.

A construção era bem simples, mas aconchegante. Estava vazia, foi o que pensou, até ver um homem varrendo o chão.

– Com licença... você trabalha aqui...

O homem parou de varrer na hora, voltando a atenção para ela. Juliana ficou pálida.

– Empregado? – a voz saiu fria. – sou o monge.

A brasileira levou as mãos a boca para conter o grito. O corpo era esguio e alto. Os cabelos loiros estavam presos por um coque, os olhos azuis estavam ornamentados por uma franja frontal.

Por conta do susto, Juliana deixou sua sacola cair. O rapaz desviou o olhar. Abaixou e pegou.

– Bonito kimono. – disse.

– Obrigada... qual o seu nome? – indagou para ter certeza. Apesar de achar estranha a reação dele ao vê-la.

– Shakya. – ainda olhava a peça de roupa. – ou Shaka. Tanto faz.

A paulista ficou em silencio. Se o cavaleiro estava diante dela, Atena tinha conseguido revivê-lo, mas de alguma forma sem memoria. O que será que tinha acontecido?

– É novo aqui?

– Sim. Cheguei a cidade há poucos dias. – dobrou o kimono, colocando-o na sacola. – serei o responsável por esse templo.

Juliana o fitava. Mesmo como um simples monge, ele não perdeu sua aura quase divina. Até o pouco orgulho ainda carregava. Sorriu. Shaka não tivera a oportunidade de viver como um simples humano e agora teria. Shaka poderia viver de verdade.

– Espero que goste da cidade Shaka.

– Obrigado. – ele a fitou diretamente. – sua sacola.

– Obrigada. Eu preciso ir. – deu um passo para trás. Se os deuses determinaram que ele deveria viver como um homem comum, não cabia a ela interferir em seu destino.

– É budista?

– Sim...

– Teremos uma cerimonia amanha. Se quiser vir, será bem vinda.

– Agradeço, mas estou ocupada preparando a minha mudança.

– Mudança? – não gostou de ouvir.

– Sim. Estou mudando para o interior. – ela e Shaka na mesma cidade não daria certo. - Mas mesmo assim obrigada pelo convite.

– Tem certeza? Uma purificação lhe dará boa sorte.

– Eu sei, mas não vai dar. Boa sorte na sua nova jornada.

Shaka segurou o braço dela, era estranho, mas algo dentro de si dizia para não deixa-la ir. Juliana notou o olhar confuso dele. Aquilo era um péssimo sinal. O indiano tinha uma sensibilidade acima de todos e talvez qualquer estopim pudesse liberar a memoria dele. E ela não queria esse estopim.

– Agradeço. – puxou o braço de forma educada. – preciso ir.

– Você não pode ir... – murmurou, segurando-a novamente.

– Shaka... – tentava permanecer fria, mas aqueles olhos.

– Eu sinto que minha vida, começou a fazer sentido agora... agora que eu te eu vi.

Ju ficou com medo, Shaka...

– Me solta. – dessa vez puxou de maneira rude. – pare de me tocar. Adeus.

Saiu correndo, sem olhar para trás. Não queria ser responsável pela volta da memoria dele. Definitivamente tinha que mudar de cidade.

Em outro canto da cidade...

Jules andava apressava em direção a estação do metrô. Tinha marcado de ir com uma amiga a um lugar e não queria chegar atrasada. Soltou um suspiro aliviado quando conseguiu entrar na composição.

Há um mês sua rotina tinha voltado ao normal. Casa trabalho, trabalho casa. Também não tinha pretextos para ser diferente, já que seu grande motivo estava morto. As vezes pensava que era melhor Atena ter apagado as lembranças do que permanecer com elas. Sofreria menos a perda de Dohko.

Desceu na estação certa, apertando o passo. Chegou ao local combinado cinco minutos antes.

– Só esperar.

E esperou. Esperou.

– Eu juro que mato. – murmurou, olhando para o relógio. Já passava das 5:30.

Juliane desviou o olhar para o prédio do outro lado da rua. Tinha uma grande faixa escrita: Escola de Artes Marciais. Não teve como não se lembrar do libriano. Cedendo a curiosidade foi até lá.

A escola ficava no primeiro andar e era bem grande por sinal. Jules percorreu todo o local, mas não havia ninguém. Até que viu uma pessoa passando.

– Ei você. – chamou.

A pessoa voltou ao escutar a voz.

– Sim...?

Jules olhou para o dono da voz, suprimindo o grito. O homem era pouco maior do que ela. Os cabelos eram escuros e na altura dos ombros. Os olhos eram puxados e verdes. Estava sem camisa deixando os músculos a vista. A paulista ficou pálida e só não foi ao chão porque o rapaz a segurou.

– Você está bem?

– Sim... Dohko? – a voz falhou.

Ele franziu o cenho.

– Quase, o som é de R. Rohko. Por acaso me conhece?

Jules ficou em silencio. Ele não se lembrava dela??

– Não se lembra de mim...?

– Minha memoria é boa, mas... por acaso é alguma aluna?

Arregalou os olhos. Atena tinha conseguido revive-los, mas na condição de sem memoria, o que era bem conveniente para Hades. Eles teriam uma nova vida, mas sem saberem que eram cavaleiros.

– Não estudo aqui. – olhou para os braços que ainda a seguravam. – pode me soltar.

– Desculpe. – recuou envergonhado.

– Li seu nome num panfleto. Essa escola é nova não é?

– Sim. Abri há poucos dias. Era um sonho de infância. – sorriu. – resolvi tentar a vida nesse país.

Jules o fitou. Ele parecia muito feliz com essa vida. Ensinaria artes marciais, teria discípulos, portando a vida que ele tinha direito. Gostaria de fazer parte dela, contudo não entraria na vida dele. Depois de tudo que aconteceu, depois de duas guerras santas, Dohko merecia ter uma vida sossegada, sem grandes responsabilidades.

– Como está recém inaugurada, tem a promoção da primeira aula grátis.

– Legal...

– Não quer fazer? – aproximou um pouco dela. – tenho certeza que vai gostar.

– Agradeço, mas não. – afastou-se. – tenho problema nos joelhos. Meu médico me proibiu.

– Que pena... – murmurou desapontado. – mas se quiser vir aqui só para ver não tem importância. Nossas apresentações são abertas ao publico.

– Quem sabe... ah... Dohko... posso ver suas costas?

Ele estranhou o pedido, mas acatou virando. Havia uma grande tatuagem de tigre. Os olhos de Jules encheram de água.

– É linda...

– Obrigado. – sorriu sem jeito.

Tentou se conter, mas não conseguiu. Era errado o que fez, pois aquilo poderia trazer problemas a ele, mas não se importou, pois aquela seria a ultima vez que o veria. Jules o beijou. O cavaleiro arregalou os olhos e quando ia corresponder ao gesto, Jules afastou.

– Adeus Hohko.

Saiu correndo. O rapaz ficou olhando até ela desaparecer.

– Que sensação foi essa...

Jules correu o mais que pôde, esquecendo-se até do encontro com sua amiga. Desceu as escadarias do metrô as pressas entrando no primeiro vagão que viu. Não pisaria naquela região nunca mais.

– Hian... – começou a chorar.

São Bernardo do Campo, São Paulo...

Sheila terminava de organizar os relatórios e documentos necessários para o curso em segurança que a prefeitura faria em conjunto com a policia. Havia dado muito trabalho, mas em compensação havia ajudado a esquecer dos dias na Grécia. Quanto menos pensasse em Aiolos melhor seria.

– Sheila.

– Sim Ana?

– Será que pode levar esses documentos até a sala de reunião? Parece que o palestrante virá aqui para assina-los.

– Agora?

– Sim. Tenho que terminar esses relatórios senão o senhor Moreira me mata.

– Tudo bem. – a paulista levantou.

– É só levar e colocar sobre a mesa.

– Tá...

Ana deu um grande sorriso, depois desviou o olhar para o braço direito dela. Já fazia um tempo que a amiga usava aquela faixa vermelha no pulso.

– E essa faixa? Se usasse na testa pareceria o Rambo.

– Quase isso. – deu um meio sorriso se lembrando do cavaleiro. – não demoro.

Pegou a pasta e saiu. Enquanto caminhava pelo corredor olhava para a faixa. Como sentia falta de Aiolos. Sentia falta até da infantilidade dele. Continuava com o rosto baixo, tanto que não se deu conta que alguém caminhava em sentindo contrário a ela.

– Foco Sheila. – disse para si mesma. – foco.

Mal acabou de falar tropeçou no carpete. Só não foi ao chão, pois alguém a tinha segurado.

– Obrigada.

– De nada.

A paulista ergueu o rosto para olhar seu “salvador”.

– Aiolos??? – praticamente gritou.

O rapaz alto, de cabelos castanhos encaracolados e olhos verdes a fitou com um sorriso nos lábios.

– Já estou ganhando fama?

– O que está fazendo aqui? Veio atrás de mim!

Ela o abraçou.

– Vai me levar para voar? – sorriu. – imagina voar por São Paulo!

Ele apenas sorriu.

– Desculpe senhorita... – olhou para o crachá. – Sheila, mas eu não tenho helicóptero.

– Senhorita Sheila? – estranhou. – pensei que me chamaria de Lindinha.

– Eu não tenho tanta intimidade. – sorriu. – prazer, meu nome é Aiolos Kratos, sou o palestrante convidado para ministrar o curso.

Sheila que ainda estava nos braços dele recuou na hora.

– Você?

– Sim. Sei que sou novo, mas tenho experiência na área de segurança.

A paulista ficou em silêncio, o que significava aquilo?

– Não sabe quem eu sou?

– Queria ter tido o prazer de ter conhecido antes, mas cheguei essa semana ao Brasil, junto com meu irmão.

– Aioria está aqui??? – quase gritou.

– Conhece meu irmão?

Ela levou as mãos a boca. Agora, tudo fazia sentido. De certo Hades havia liberado os cavaleiros, mas na condição de não terem suas memorias. Fitou o rosto jovem do cavaleiro. Realmente ele a olhava de forma diferente.

– Me desculpe... acho que confundi você com outra pessoa. Prazer. – estendeu a mão.

– Igualmente. – Aiolos desviou o olhar para o pano vermelho no pulso dela. – não é muito comum ver mulheres usando isso.

– Tem valor sentimental.

– Posso ver?

Sheila estendeu o braço, o grego olhava atentamente para o pano.

– Tem tempo que você tem não é? Está um pouco gasto...

– Sim. – sorriu.

– Será você que me auxiliará no curso?

– Não. – respondeu tristemente. – vou realizar um trabalho em outra cidade. – tinha que sair da cidade por alguns dias, ou seria capaz de contar tudo para ele.

– Ficará o tempo todo do curso? – indagou desapontado.

– Sim. – não estava em seus planos morar em Athenas, mas talvez por Aiolos poderia abrir uma exceção. Contudo os dois juntos não cabia mais na nova vida dele. Se o sagitariano renasceu sem memoria, mais que justo que ele seguisse sua vida sem ela. – é uma pena senhor Kratos.

– Pode me chamar de Aiolos.

– Foi um prazer conhece-lo. Boa sorte com o curso.

– Obrigado.

Ele a fitou intensamente e por isso Sheila teve que segurar para não pular no pescoço dele.

– Adeus.

Deu as costas, mas teve seu braço retido por ele.

– Cuidado com o chão.

– Obrigada. – sorriu.

Aiolos ainda a segurou por mais alguns segundos, antes de solta-la, apesar de não querer. Sheila deu as costas indo embora. Foi direto para o banheiro. Não era sentimental, do tipo de ficar chorando, mas não conseguiu segurar as lagrimas.

Campinas, São Paulo...

A primeira semana ao lado dos familiares, tinha amenizado a dor de perder Shura, contudo nos dias posteriores, pegava-se a noite chorando por ele. As vezes tinha sonhos e neles o cavaleiro sempre fazia juras de amor, contudo a realidade era dura e precisava retornar a sua vida. E a melhor forma de fazer isso era mergulhar nos estudos. Decidida, Julia, matriculou-se no curso preparatório para o exame DELE, o de proficiência em espanhol. No primeiro dia de aula, preferiu chegar mais cedo para conhecer o lugar: um prédio moderno no centro de Campinas.

Andava pelos corredores quando viu diversos quadros de artistas espanhóis expostos na parede do corredor. Os quadros continuavam escada a cima e praticamente ignorou a placa de “entrada proibida.” Ao chegar ao terceiro andar...

– O que faz aqui?

A garota levou um susto, mas quando ergueu o rosto, este ficou pálido. Um homem alto, de pele clara, olhos e cabelos negros a fitava com a expressão fechada.

– Shura?? – os olhos marejaram.

O cavaleiro arqueou a sobrancelha.

– Me conhece?

– Para de brincadeira. – pulou no pescoço dele. – Atena conseguiu!

– Me solte.

A voz saiu fria, o que fez com ela o soltasse.

– Não entendo... “será que estou ficando doida?” Seu nome é Shura não é?

– Esdras Shura. Sou o novo vice-cônsul honorário da Espanha. Fui transferido essa semana.

– Consul?

– Sim. E você quem é?

Ouvir aquela pergunta pegou a paulista de surpresa. Shura não sabia quem ela era?

– Não se lembra de mim...?

– Não.

Novamente os olhos marejaram, percebendo o que se passava. Atena tinha conseguido a liberação das almas, mas a troco da memoria. Eles seriam apenas homens comuns.

Shura a fitava. Não tinha gostado da “invasão”, entretanto a achou muito bonita, principalmente os cabelos vermelhos.

– Qual o seu nome?

– Julia...

– É aluna da escola?

– Não. – respondeu rápido. – só vim acompanhar uma amiga. – mentiu.

– Se te interessar, essa escola é excelente. – deu um sorriso mais amistoso.

– Agradeço, mas estou sem tempo. Faculdade e trabalho.

– Entendo. Deixe seu email na secretaria da escola. Estamos para receber boas exposições.

– Isso é ótimo. Eu deixarei. Bom... eu preciso ir.

– Não quer olhar os demais quadros? – a fitou com intensidade.

– Estou com um pouco de pressa. – recuou. – foi um prazer senhor cônsul.

– Sem formalidades, pode me chamar de Shura.

Ela a fitou. Apesar da frieza do primeiro momento, ele trazia a expressão suave. Sorriu. A vida era irônica. Shura tinha perguntado que tipo de emprego ele poderia ter no Brasil e agora era cônsul da Espanha.

– Agradeço. Eu preciso ir.

– Volte sempre que quiser. – sorriu. – e...

A frase foi interrompida, pois Julia lhe dera um abraço. A principio ficou sem jeito pelo gesto, contudo a envolveu em seus braços. Sentiu-se bem fazendo isso.

Julia suprimiu as lagrimas. Tinha seu cavaleiro de volta, mas não da forma que desejava. Soltou-o lentamente.

– Adeus Shura.

– Adeus...

Ela desceu as escadas correndo, saindo o mais rápido possível do prédio. Já na rua deixou as lágrimas darem vazão. Cancelaria seu curso, pois não aguentaria tê-lo tão perto.

São Paulo, São Paulo...

O calor de São Paulo era sufocante. Claro que não se comparava ao grego, mas aquele dia estava particularmente quente. Isabel levou a mão ao colar. Ele permanecia intacto. Desde que retornara ao Brasil, tentou seguir sua vida. Estava até conseguindo, exceto pelo fato de não conseguir ouvir falar sobre Marselha. Sua pesquisa estava parada e não tinha a menor vontade de retorna-la. Sem Kamus, não tinha a menor graça.

Não pensaria mais na ida a cidade francesa, a ponto de querer mudar sua linha de pesquisa porem tinha recebido um telefonema da sua orientadora, sobre uma importante palestra sobre o tema. A palestra estava com todos os lugares preenchidos, mas ela havia conseguindo um lugar para Isabel. E Bel não teve opção a não ser aceitar.

Chegou cedo, carregando os livros que Kamus havia lhe dado. Sentou na ultima cadeira do auditório. Ali, ninguém notaria sua falta de interesse.

Isa mexia no celular quando escutou a porta abrir. Ergueu o rosto, vendo um homem com roupa social entrar. Não deu muita importância, voltando a mexer no aparelho. Cerca de cinco minutos depois, estava entediada. Não queria ouvir falar sobre Marselha. Pegou suas coisas, passando a descer.

O homem notou.

– É uma das convidadas?

Isa parou ao ouvir a pergunta. Não estava com nenhuma vontade de responder, mas...

– Não. Estava aqui estudando, mas agora... – virou-se para a pessoa, o susto foi tanto que derrubou os livros.

O rapaz saiu de onde estava indo até ela. Abaixou, pegando os livros.

– Tem livros excelentes.

Isa sentia a garganta seca. O homem era alto, os cabelos acobreados estavam presos num coque. Os olhos eram azuis adornados por sobrancelhas bifurcadas.

– Kamus... – murmurou.

– Prazer. – voltou a atenção para ela.

– O que faz... – silenciou. – você é o palestrante?

– Sim. Meu doutorado foi sobre Marselha. Fui convidado pela universidade. Seu nome?

– Isabel... – murmurou. Kamus não se lembrava dela? Por quê? A mente clareou. Atena fez um novo acordo e em troca eles renasceriam sem a memoria.

– Seus livros.

– Obrigada...

O aquariano a fitou diretamente, mais precisamente para o pescoço. Ele ergueu o braço, na intenção de tocar o objeto. Isa nem se mexeu.

– Bonito colar.

Isa sentiu o toque, as mãos continuavam frias...

– Realmente uma bonita peça, senhorita Isabel. Posso fazer uma pergunta?

Ela balançou a cabeça afirmando.

– Se tem livros sobre Marselha, por que não vai assistir a minha palestra?

– Esses livros não são meus. – disse rapidamente. – minha amiga é que está fazendo a pesquisa, mas ela esgotou todas as requisições da biblioteca então me pediu para pegar. – mostrou os livros.

– Entendi. Mas não se interessa pelo tema?

– É interessante, mas...

– Compreendo. É uma pena. – a expressão fria não se alterou.

– Mas tenho certeza que será um grande sucesso. Você aparenta ser bem inteligente. – deu um sorriso de canto.

– Obrigado pelo elogio. Realmente é uma pena. Eu gostaria de ter sua presença. Sinto que temos muitos pontos em comum.

Isa sorriu. Eles tinham, mas na vida antiga de Kamus. Não nessa. Se a condição imposta para viverem era aquela, não cabia a ela atrapalhar. O francês teria uma vida normal longe dela.

– Quem sabe.

O cavaleiro deu as costas indo até sua bolsa, pegou um cartão.

– Estarei na cidade por algum tempo, se quiser conversar. – mostrou o cartão.

Ela não queria pegar, mas ao fitar aqueles olhos azuis...

– Tudo bem. Podemos conversar qualquer dia. – pegou o cartão.

– Vou ficar aguardando.

– Tenho que ir. Boa sorte na apresentação.

– Obrigado.

Ele estendeu a mão, Isa retribuiu o gesto.

– Adeus Kamus.

– Adeus não, até logo.

Ela apenas concordou. Pegou suas coisas e saiu. Do lado de fora do teatro, sentou-se num banco. Pegou o cartão do bolso, lendo o nome dele. Ficou por alguns segundos lendo o nome, até que jogou o cartão no lixo. Kamus deveria seguir sua vida sem ela.

Alguns quilômetros dali...

Desde que voltou da Grécia, Marcela retomou sua vida. Havia conseguido um emprego num escritório de advocacia e já pensava nos novos rumos de sua carreira. Contudo, nos últimos quinze dias a saudade do escorpião havia apertado de tal forma que pegava-se a noite chorando por ele e para piorar sentia seu corpo estranho. Dores no estomago, inchaço nos seios, náuseas e um excesso de sono.

Naquele dia tinha ido almoçar mais cedo, mas logo que sentiu o cheiro da comida, correu para o banheiro vomitar. Decidiu então ir a uma farmácia, procurar um remédio para azia.

Ela explicou todos os sintomas para atendente, que apenas sorria.

– Posso sugerir uma coisa? – indagou a atendente. Uma simpática senhora.

– Sim.

Ela retirou-se do balcão indo para o fundo do estabelecimento, logo em seguida voltou com uma caixa.

– É só para tirar a dúvida, mas vá a um médico.

Marcela pegou a caixa, arregalando os olhos. Não era possível! Voltou para o escritório as pressas. Trancou-se no banheiro. As mãos tremiam, aquilo não poderia acontecer, era impossível. Miro tinha dito que era infértil e mesmo se não fosse, como faria? Ele estava morto!

– Isso está errado... – repetia.

O resultado saiu. Os olhos de Marcela encheram de água.

– Não... não... – sentou no vaso, começando a chorar. Como faria? Miro estava morto. – seu FDP você mentiu para mim.

– Marcela!

Assustou-se com o chamado.

– Já vou. – era sua superior. Lavou o rosto, retocando a maquiagem. – sim. – abriu a porta.

– Você está bem? – estranhou a face e o tom de voz.

– Mais ou menos, mas deseja algo? – tentava se manter calma, mas por dentro.

– O Carlos saiu para ir ao fórum, mas deve está chegando. Ele tem um cliente, marcado para agora. Será que pode atendê-lo? Só para explicar como nosso escritório trabalha, essas coisas. Só até o Carlos chegar.

– Posso. – não podia, estava péssima. Contudo se realmente estava grávida, precisava do emprego.

– Pode mesmo? Sua expressão...

– Não é nada. – sorriu.

– Assim que ele chegar, pode ir para a casa. Eu seguro as pontas aqui.

– Tudo bem. Obrigada.

Marcela voltou para o banheiro. Olhava-se no espelho, depois voltou a atenção para a barriga.

– Não seja metido como o pai. – esboçou um pequeno sorriso.

Ela foi para a sala de reuniões respirando fundo muitas vezes, ora queria dar pulos de alegria ora queria chorar. Abriu a porta.

– Boa tarde senhor... – olhou no contrato. – senhor Pakos.

– Boa tarde Marcela.

Ela ergueu o rosto na hora ao escutar a voz. O rosto ficou pálido ao fitar o homem a sua frente. Era alto, moreno do sol. Os cabelos azuis desciam até os ombros e seus olhos tinham a mesma tonalidade.

– Mi-ro? – gaguejou.

– Muito prazer. Miro Pakos, mas pode me chamar apenas de Miro. – deu uma leve piscadinha.

A garota ficou sem ação. Estava diante de Miro?? Mas ele não estava morto?? As lágrimas vieram.

– Miro...

– O que foi? – ficou preocupado. – está sentindo alguma coisa?

A ajudou a sentar. Marcela tentava parar de chorar, mas não conseguia. Aquilo era demais para ela. Primeiro a gravidez e depois descobrir que o Escorpião estava vivo.

– Tome. – Miro pegou um copo com água.

– Obrigada... como veio parar aqui? – o fitou.

Ele não respondeu de imediato, pois não havia entendido a pergunta.

– Ah... eu usei o google maps... eu não conheço essa cidade muito bem. Cheguei há poucos dias.

– Chegou e não me procurou. Típico. – revirou os olhos. – como estão todos? Que tipo de acordo aquele FDP do Hades fez agora?

O cavaleiro piscou os olhos.

– Desculpe... mas acho que você está me confundindo com alguém. Quem é Hades?

– Como quem é Hades, Miro? – o fitou. – esqueceu?

– Não faço ideia de quem seja.

Marcela ignorou. Ele gostava de fazer hora com a cara dela.

– A senhora Beatriz disse que me explicaria sobre o funcionamento do escritório. Pelo que eu vi são especialistas em direito para Ong’s.

– Ong? – arqueou a sobrancelha. Do que ele estava falando?

– Desculpe, nem expliquei quem eu sou direito. Sou presidente de uma Ong que cuida de menores abandonados. No caso essa Ong fica em Athenas, mas começamos a fazer parcerias com outras ong’s pelo mundo. Já temos parceira na França e agora aqui. Vou passar alguns meses na cidade para aprender sobre o trabalho da Ong Caminhos da Luz. Quero contratar seu escritório para cuidar da papelada. Seu país é um pouco burocrático...

A medida que ouvia, Marcela arregalava os olhos. Atena o havia liberado como cavaleiro? Há não ser que...

– Você conhece o Kamus?

– É algum advogado daqui?

Teve um estralo. Atena tinha realmente feito algum tipo de acordo com Hades, mas de alguma forma eles foram ressuscitados sem memoria. Miro a fitava com interesse. Ela era bonita, apesar de achar estranho o comportamento dela.

– Por que escolheu esse trabalho?

– Eu já fui menino de rua, sem como a falta de um apoio pode atrapalhar vidas.

Era o que ele fazia no santuário, pensou. Eles tinham realmente ganhado uma nova vida. E aquilo era a prova. Marcela desesperou. E agora? Miro estava na sua frente, mas não poderia dizer quem era ela. Mas e a criança? Se estava grávida dele como seria as coisas?

– Você é casada?

A pergunta a pegou de surpresa. O que faria? Depois de tantas guerras, ele merecia ter uma vida sossegada, mas... ela estava grávida. Mas como explicaria para ele a gravidez? E se Hades descobrisse que os dois estavam juntos poderia ter alguma retaliação. Até sua criança poderia correr risco.

– Sou. – disse imediatamente. – sou recém casada e agora descobri que estou grávida.

– Grávida? - indagou pasmo e um pouco triste. Realmente tinha gostado dela.

– Sim.

– Parabéns. Ele deve ser um homem de muita sorte. Eu gostaria de ter um filho. Quem sabe um dia.

Ouvir aquilo doeu. Por instantes ficou imaginando como seria sua vida ao lado dele.

– Obrigada senhor Miro.

– Mas podemos ser amigos não é?

Quando ela ia responder o outro advogado chegou.

– Desculpe o atraso. – Carlos abriu a porta.

Marcela já levantou. Era melhor cortar todos os laços com ele. Miro seguiria sua vida e ela seguiria a dela.

– Senhor Miro, Carlos é especialista em Ong’s. Ele irá lhe orientar melhor do que eu.

– Claro...

– Foi um prazer conhece-lo.

– Igualmente.

Os dois trocaram olhares.

– Obrigada Máh. – disse Carlos baixinho quando ela passou. – se eu perdesse esse cliente...

– Está me devendo uma. – sorriu de volta.

Miro acompanhava o dialogo com a expressão fechada. Não havia gostado da intimidade. Marcela saiu da sala, pegou sua bolsa e foi embora. Ao pisar na rua, deixou as emoções aflorarem. Teria que se manter longe de Miro...

... Todas voltaram para suas casas completamente atordoadas. Seria melhor guardarem segrego sobre os dourados ou contar uma as outras sobre o ocorrido? Decidiram marcar um encontro via Skype, mas sem revelarem uma a outra o motivo. Fernando e Rodrigo receberam a mensagem, a noite todos deveriam entrar no Skype.


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Notas finais do capítulo

DELE: exame de proficiência em língua espanhola.



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