Skinny Love escrita por Natalia Stryder


Capítulo 1
Capítulo único




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Quando eu segurei sua mão pela última vez às lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto, o sorriso que eu tanto amava estava escondido por detrás de seu rosto inundado na tristeza e o brilho que continha em seus olhos estava cada vez mais fraco. Você não conseguia formar uma frase qualquer, o seu medo não permitia tal ação. Apertei a sua mão com mais força, tentando te passar um pouco de minha paz, mas o efeito foi o contrário. Você parecia ainda mais abalado, tentei lhe dizer algumas palavras alegando que tudo ficaria bem, mas não conseguia abrir a boca. Em certo ponto isso me decepcionou, queria ao menos lhe dizer que o amava mais uma última vez.

Eu que estava morrendo, mas era você que estava sofrendo.

Não estávamos mais no carro, você fez questão de me tirar de lá antes que o mesmo pegasse fogo. Apesar de não fazer nenhuma diferencia, iria morrer de qualquer maneira – e você sabia disso. Também pude ver em seus olhos como você estava angustiado, e sei que provavelmente estava se culpando pelo acidente, queria lhe dizer que a culpa não foi sua. Mas obviamente não consegui.

A dor em meu peito estava cada vez maior, meus pulmões estavam cansados de trabalhar e já começavam a falhar. Minha cabeça latejava e minha visão começava a embaçar, eu estava perto do fim. Mas mesmo assim lutava contra o inevitável, pois não queria parar de olhar para seus olhos, os olhos pelos quais me fizeram lhe amar mais do que o imaginável.

Eu conseguia escutar ao longe o som da ambulância, pude perceber que um sorriso esperançoso apareceu em seus lábios avermelhados. Você realmente achava que eu tinha alguma chance de sobreviver a tudo isso, mas eu sabia que no fundo você tinha a mesma certeza que eu, a certeza que esse fora o nosso último momento juntos.

-Vai dar tudo certo, amor. Você vai sair dessa, eu sei que sim. –Você sussurrou em meu ouvido, pude sentir sua dor ao dizer tais palavras.

Instantes depois, os paramédicos já haviam me posto em uma maca. Pude ver de relance uma grande poça de sangue, meu sangue. Lembro-me de sentir medo, medo de como seria encontrar a morte. Não sabia se apenas dormiria para sempre, ou se iria para outro lugar, nunca pensei nisso antes daquele dia. Mas mesmo se tivesse pensado, não faria diferença alguma.

Lembro-me também que você foi ao meu lado para o hospital, não largou a minha mão por nenhum instante. Acho que foi por isso que continuei lutando – pois sabia que você estaria lá esperando pelo melhor – mesmo sabendo que nunca ganharia essa batalha, foi você que me fez continuar a travar uma luta interna, forçando meus pulmões até o limite e ignorar o cansaço que se apossava cada vez mais rápido de mim. Foi você, não foi graças a minha família muito menos aos meus amigos, fiz tudo isso por você.

Pude escutar os paramédicos lhe perguntarem se poderiam me medicar, para que assim eu não sentisse dor. Você deu uma risada nervosa e disse num tom falsamente calmo que se eu fechasse os olhos, nunca mais os abriria. Você sempre teve razão, pelo menos quando o assunto se tratava a mim. De qualquer maneira os paramédicos me medicaram, assim pude perceber que eles apenas estavam sendo simpáticos com você, pois eles iriam me medicar independente de sua resposta.

Depois de injetarem o remédio, não conseguia mais distinguir seus olhos do resto de seu rosto. Apertei sua mão com mais força, para me certificar que você ainda estava ao meu lado, e pela primeira vez desde o acidente, cedi às lágrimas. Eu queria continuar a olhar para seus olhos, queria que meu porto seguro fosse visível.

Lembro-me de juntar o resto das minhas forças para falar com você, já que tinha certeza que nada mais adiantaria. Eu sabia que iria morrer, mas naquele momento pensei comigo mesma, se eu iria morrer pelo menos morreria ouvindo sua doce voz. Falar nunca foi tão difícil quanto aquele dia, sentia dormência em meus lábios. Mas mesmo assim consegui murmurar algumas palavras para você.

-Me prometa que ficará bem. –Disse lentamente.

-Mesmo que minha vida perca o sentido sem você, eu lhe prometo que ficarei bem. –Sussurrou no meu ouvido e apertou minha mão com força.

-Não pare de falar, por favor. –Murmurei com o resto de voz que eu tinha, olhei em sua direção e apertei sua mão de volta.

Então você começou a falar sobre tudo que passamos juntos, todas as brigas e todas as declarações. Também me revelou que pretendia me pedir em casamento naquele dia, no restaurante onde tivemos o nosso primeiro encontro anos atrás. E ao contar isso você simplesmente desmoronou, teve uma crise de choro e começou a xingar a si mesmo por não ter prestado a devida atenção na rua. Foi nesse momento que chegamos ao hospital, vi que lhe deram anestesia para que você se acalmasse.

Essa foi a última vez que você me viu, eu estava deitada na maca a caminho da cirurgia enquanto você simplesmente perdia os sentidos.

Sem você ao meu lado, sem você segurando minhas mãos, eu sentia que não havia mais pelo que lutar. Você já não estaria aqui para me ver sucumbindo à morte, eu não precisava mais parecer forte, eu não precisava continuar com os olhos abertos. E somente naquele momento me permiti ser envolvida pela escuridão, como você tinha sido – a única diferença era que você acordaria depois de algumas horas, eu já não teria a mesma sorte. Então eu simplesmente deixei meus pulmões descansarem, finalmente me deixei levar pelos medicamentos que tentavam me derrubar desde que entraram em minha corrente sanguínea. Antes de tudo realmente se perder, pude escutar o som do aparelho que media meus batimentos cardíacos indicar que meu coração havia parado de bater. Depois disso tudo ficou escuro, completamente escuro.

Acordei horas depois, mas agora não estava mais em meu corpo.

Pude ver você chorando sobre meu corpo, dizendo que você deveria ter ido e não eu. Percebi que minha mãe e meu irmão também estavam lá, chorando silenciosamente alguns metros atrás de você. Eu queria lhe confortar, queria lhe dar um abraço e dizer que tudo ficaria bem no final. Mas eu não tive coragem de me aproximar de você, pois sabia que você não olharia para mim e muito menos sorriria do jeito que eu tanto amava.

Anos se passaram, e você continuava indo me visitar no cemitério quando é meu aniversário. Você me contou que havia encontrado uma garota incrível - dona de lindos olhos azuis e de cabelos castanhos cacheados -, disse que estava apaixonado, e que era a primeira vez que se sentia assim desde que eu partira.

-Ela se chama Emma, lindo nome, não acha?-Você me perguntou certa vez, lembro-me de ter concordado, mesmo sabendo que você nunca saberia a minha resposta.

Hoje faz cerca de vinte anos desde que tudo aconteceu, você não vem mais me visitar desde que pedira Emma em casamento. Ouvi dizer que vocês se casaram na praia, não sei se você sabia, mas eu sempre quis me casar na praia. Sei que não é justo querer que você continuasse vir aqui todo o ano, muito menos querer que você simplesmente viesse me encontrar o mais cedo o possível. Sei que é um pensamento egoísta da minha parte, mas eu queria que você continuasse a ser só meu. Mas eu mesma pedi para você ficar bem, e acho que você cumpriu a sua palavra. Pois sei que agora você tem uma linda família, e todos falam que você se tornou uma pessoa brilhante. Queria que eu tivesse lhe dado uma família, mas a vida é imprevisível. Uma hora se esta vivendo o melhor momento de sua vida, e no outro se esta morrendo.

-Filha, lembra quando você me perguntou por que eu lhe dei esse nome? – Pude ouvir sua voz de longe e me atrevi a dar um sorriso triste.

-Eu te pergunto isso quase todos os dias, pai. Por que viemos ao cemitério da cidade? Esse lugar me dá calafrios. –Pude escutar a voz de uma garota

Então você finalmente apareceu no meu campo de visão, estava completamente agasalhado. Pude perceber que se esforçava para lembrar o caminho que o traria até mim, agora ele estava com cerca de quarenta anos e a única diferença visível eram os fios grisalhos que se destacavam em seu cabelo castanho escuro, a menina ao seu lado deveria ter cerca quatorze anos e era a cópia do pai.

-Antes de eu conhecer sua mãe, eu era apaixonado por uma garota chamada Jasmine. Minha vida se resumia a ela e vice-versa, eu amava-a tanto que chegava a doer. –Você disse cada vez mais próximo de mim.

-Mas o que houve para todo esse amor deixar de existir?-Sua filha, que aparentemente tem o meu nome, perguntou.

-Ela morreu em um acidente de carro. –Respondeu grossamente, mas logo suspirou - Eu estava dirigindo, ia pedir ela em casamento aquela noite. –Continuou com um sorriso triste – Ela era incrível, e por minha culpa ela perdeu a vida.

-Não foi sua culpa, pai. Não tinha como você impedir ou saber que aquilo iria acontecer. –Ela disse passando a mão em seu ombro – Mas até agora não entendi por que viemos aqui.

-Vim pedir um favor para a Jasmine. -Você disse sério e a filha revirou os olhos

-Pai, desde que Scott adoeceu você anda muito estranho. –Ela disse séria – Estou no carro.

-Somos só eu e você, Jas. Eu sei que não venho aqui há anos, sei que mesmo se você pudesse me ouvir provavelmente me ignoraria, pois eu fui um completo ignorante. Eu apenas achei que se eu seguisse em frete, tudo ficaria melhor. Mas não ficou, é claro. Eu me casei com a Emma, eu já lhe contei sobre ela, e tive dois filhos maravilhosos, um deles é a Jasmine que você acabou de conhecer e o outro é o Scott. Scott era o caçula da família, e ele era o único que sabia que eu não amava Emma. Até hoje não sei como ele descobriu isso. De qualquer maneira, Scott foi diagnosticado com uma doença terminal e sei que ele não vai durar muito, por mais que isso me doa admitir, também sei que quando ele partir o meu casamento com Emma vai acabar. Já erámos para estarmos separados, mas resolvemos continuar juntos para proporcionar as melhores lembranças para ele. Sei que o que eu vou pedir vai um pouco além do que qualquer um pediria, mas eu realmente gostaria que você tomasse conta de meu Scott quando ele finalmente descansar. Ele é apenas uma criança, sei que ele não entenderá nada quando finalmente se for. Desculpe por não ter vindo antes, Jas. Desculpe-me por só aparecer para lhe pedir um favor, me desculpe. –Você disse antes de dar meia volta e ir embora.

Dei um sorriso amargo, antes de me sentar na frente de minha lápide. Como eu queria ficar brava com você por só me procurar quando lhe fosse útil, mas eu simplesmente não conseguia. Um dia eu descobrirei como lhe odiar, como ignorar seus pedidos e como me livrar de você. E quando eu finalmente descobrir isso, me verei livre de todas essas amarras que me prendem nesse lugar me impedindo de seguir em frente como todos os outros. Não sei se encontrarei seu precioso Scott, acho muito improvável que uma criança tenha assuntos inacabados como eu, mas nunca se sabe. Eu ficarei aqui esperando pela vinda de seu filho, assim como espero a sua, para que assim nos tenhamos o final feliz que tanto merecemos.

Pois você pode ter tirado minhas noites bem dormidas e a minha vida, mas mesmo assim nunca me cansarei de ficar ao seu lado ou de sentir seu toque em minha pele, muito menos de olhar para seus doces olhos que mesmo depois de décadas, continuam sendo o meu único porto seguro.


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Notas finais do capítulo

Bem, essa é a minha primeira one original, espero que vocês gostem tanto dela quanto eu.



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