Desconstruindo Mycroft escrita por Sparkles


Capítulo 18
Desconstruindo Greg


Notas iniciais do capítulo

Aw, mas eu tava doida pra usar esse título, desde o segundo capítulo! Acho que finalmente agora ele se tornou um pouco cabível. Leia, leia, leia. c:



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Combinamos de colocar o plano em prática na quinta-feira, depois da escola. Nesse meio tempo, Greg tinha crises de consciência, desistia do plano, mas lembrava da raiva que sentia e voltava a querê-lo ainda mais do que eu. Esse ciclo se repetia umas três vezes a cada cinco minutos.

Quinta à tarde, cheguei da escola, tomei banho, almocei e quando fui pegar a carta na mochila, encontrei minha mãe lendo um papel no meu quarto. Olhei para a cama e vi que a minha mochila estava aberta. Minha mãe virou-se pra mim de olhos arregalados.

“O que é isso?”

“Calma, mãe, eu posso explicar...”

“Mike, como você não me avisou desse teste, menino?”

“Teste?” peguei o papel da mão dela e ufa, vi que se tratava apenas do panfleto de Oxford “Ah, bem... Não sei, é que eu ainda não decidi se quero fazer.”

“Se você puder entrar logo em Oxford, vai se formar mais cedo!”

“É, encantador, mas olha, agora eu tô com um pouquinho de pressa. Depois a gente conversa sobre isso, ok? Até mais.”

Peguei a mochila inteira para não dar na vista e no horário marcado, estava na porta de Greg. Ele me ofereceu uma água e eu aceitei, só pela oportunidade de entrar e dar uma olhada na casa dele.

As paredes eram brancas e cobertas de quadros, brasões da polícia e bandeiras de times de futebol. Uma decoração peculiarmente masculina, sem vasos de plantas ou aquelas revistas que as mães gostam de colocar em cima da mesa pras visitas folhearem. Só tinham jornais e alguns copos de café. Certamente não vivia nenhuma mulher ali.

Deduzi então que os pais de Greg fossem separados, porém a mãe aparecia em algumas das fotografias dos quadros da parede, o que nos leva a acreditar que não há nenhum rancor da parte do pai do Greg em relação a ela. Concluí então que o mais provável é que ela tivesse morrido.

Greg voltou da cozinha com meu copo d’água e me pegou encarando uma das fotografias.

“Da esquerda pra direita, minha mãe, meu pai e minha avó.” Ele me falou, entregando-me o copo. “E eu estou ali, na barriga dela.”

Dei um gole na água, não estava com muita sede. Ele começou a encarar o quadro também. Senti que deveria falar alguma coisa.

“Quando foi que aconteceu?”

“Eu não sei, eu era muito pequeno.” Ele ficou pensativo.

“Poxa, eu sinto muito, Greg.” Coloquei a mão no ombro dele.

“Tudo bem, foi melhor assim.” Ele deu de ombros e eu fiz uma cara de assustado. “Eu ainda me comunico com ela de vez em quando.”

Franzi o cenho.

“Como assim? Através de sessão espírita?”

“Não, por telefone. Ela mora na Espanha, mas o que foi que você disse?”

“A sua mãe está viva?”

“Sim.” Ele estranhou. “É a segunda vez que você me faz esse tipo de pergunta, eu devo me preocupar?”

“Esquece o que eu falei.”

E é por isso que não se dá pra confiar 100% naquilo que se deduz. Há sempre algum detalhe diferente,

Saímos dali e pensamos em colocar a carta no correio. Mesmo sendo um endereço perto, levaria uns dois dias pra chegar e nos custaria dinheiro, então fora de questão. Fomos pessoalmente a casa dela.

Quase demos de cara com um senhor que eu julguei ser o pai (adotivo) de Megan entrando, mas conseguimos disfarçar. Quando ninguém estava olhando, coloquei a carta por debaixo da porta e corremos desesperadamente para longe dali.

Andamos de volta até a casa de Greg e dessa vez, subimos para o seu quarto. Era um quarto legal, porém bem bagunçado e bem diferente do meu. Tinha um pôster de banda escrito The Smiths na parede e outro na porta, com uma mulher de cabelos curtos deitada, com um cigarro na mão, escrito Pulp Fiction.

“Seu pai sabe que você tem isso na parede?”

“Não é nada de mais, engraçadinho. É um filme.”

“Aham, existem muitos tipos de filme.”

“Cala a boca, você provavelmente nunca assistiu Pulp Fiction e nem sabe do que está falando.”

“Verdade e se eu não assisti, é porque eu não preciso desse tipo de incentivo.”

“Mycroft!” Greg gritou, já com as bochechas vermelhas “Senta aí, que a gente vai ver esse filme agora, só pra você calar a boca.”

“Eu não vou assistir isso.” Mas era tarde demais, ele já tinha colocado a fita no vídeo cassete. Tiramos os sapatos e sentamos no tapete.

Greg parecia ter visto esse filme várias vezes, pois ele era capaz de repetir falas e me avisar quando alguma coisa legal estava prestes a acontecer. Não foi a coisa mais brilhante que já vi, mas eu gostei das cenas de ação e da parte em que a moça de cabelos curtos diz o quanto é legal achar alguém com quem você possa compartilhar um silêncio sem constrangimento, que era exatamente o que eu vivia dizendo pro meu amigo.

No meio do filme, vi que Greg não prestava mais tanta atenção quanto no começo.

“Você não está com remorso pelo que a gente fez hoje, está?”

“Hm...” ele abraçou os joelhos “Talvez.”

“Gregory, aquilo não chega nem perto do que ela merecia. Ela bateu em você e bateu em mim, lembra?”

“Sim, mas eu não fiquei triste por ela ter me batido. Eu fiquei triste por ela ter prometido que nunca mais ia fazer isso e levantado a mão depois.”

“Ela tem um sério problema de controle de raiva que não cabe a nós resolver. Agora não se fala mais nisso.”

“Tudo bem...” ele mudou de expressão “Na verdade, você tem razão. A Megan só me trouxe problemas e você aqui, sempre tentando me livrar deles. Obrigado, Mike.”

“Já conversamos sobre o uso desse apelido.”

“Ter você por perto me deixa muito feliz, viu?”

“Silêncio, Greg, eu quero ver o filme.” Eu falei e ele sorriu, voltando o rosto para a tela da TV. Só então, eu sorri também.


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Notas finais do capítulo

O ship se shipa por si só, mas que lindo :3 huahauah se bem que dá pra interpretar do jeito que quiser, na verdade.
Comentem, comentem *voz de Smaug* Don't be shy...
Beijinhos