Desconstruindo Mycroft escrita por Sparkles


Capítulo 16
Eu me diverti uma vez. Foi horrível.


Notas iniciais do capítulo

Ah, esse capítulo é o meu favorito até agora, tão especial que eu escrevi até à mão. Tomara que vocês gostem tanto quanto eu! :D



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Saí com um moletom e a calça do pijama. Triste. Não sabia para onde estávamos indo e nem qual era o assunto de extrema importância que não podia esperar o amanhecer. Greg andava rápido e eu já estava hiperventilando quando ele parou na porta de um pub com placas de neon que machucavam meus olhos anunciando um concurso de karaokê.

“Aqui? Você tem certeza?”

“Sim. Escolhe uma mesa, enquanto eu pego alguma coisa pra gente beber.”

Não discuti. Se eu fosse começar a discutir, eu não estaria ali e sim no conforto das minhas cobertas. Era um lugar bem exótico e repleto de pessoas, apesar do horário avançado.

Greg veio com duas largas canecas de cerveja.

“O que é isso, mocinho? Como você comprou isso?”

“Ué, usando dinheiro.”

“Mas você é menor de idade!”

“Não sou não, eu tenho 18.” Ele deu um gole no líquido dourado. “Você é menor de idade?”

“Sim, eu tenho 17.”

“Sério? Poxa, eu jurava que a gente tinha a mesma idade,” ele riu.

“Se bem que eu faço aniversário no meio do ano, então daqui a pouco... Ah, não importa. O que a gente veio fazer aqui, Greg?”

“Eu vim afogar as mágoas e você veio pra me fazer companhia.”

Olhei para o teto e refleti. Eu já sabia porque ele estava acabado, era óbvio!

“Você terminou com aquela garota?”

“Positivo.”

“E agora você espera que eu passe a noite ouvindo você reclamar sobre isso?”

“É, por aí. Também pensei que a gente podia entrar no concurso de karaokê.”

Eu simplesmente não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir.

“Boa noite, Gregory.” Levantei e andei em direção à porta.

Greg correu e me segurou pelo braço.

“Mycroft, é sério, eu disse que era importante e eu não estava mentindo. É uma coisa importante pra mim. Eu fiquei muito mal essa semana, isolado no meu quarto...”

“Ei, eu bati tanto na porta, você não ouviu?”

“Ouvi, mas eu não queria abrir. Desculpa. Mas me escuta, por favor, eu fiquei muito tempo chorando e sem falar com ninguém. Eu preciso desabafar, urgentemente.”

Quando dei por mim, já estava de volta a maldita mesa. O que eu estou fazendo com a minha vida? Entre um gole e outro de cerveja, Greg começou a contar da briga que ele e Megan tiveram. O motivo foi essa pessoa que vos fala e o jogo de dedução, obviamente. Acho que ele ficou chateado por ela ter me socado e ela ficou chateada por ele ter me defendido, uma coisa muito enrolada. Nossa, como eu odeio conflitos adolescentes.

Confesso que me senti um pouquinho culpado, mas o sentimento passou logo, pois no fim, eu fiz uma coisa boa. Eu livrei meu amigo daquela garota assustadora.

“O momento em que eu decidi terminar” Greg contava “foi quando ela levantou a mão pra me bater, mais uma vez. Então, segurei a mão dela e fui pra casa.”

“Ok, isso tudo eu entendi, mas por que sua semana de depressão?”

“Porque...” ele hesitou e bebeu mais um gole da bebida “Porque, eu amava a Megan.”

“Faça-me o favor, vocês nem namoraram tanto tempo assim!”

No que eu terminei a frase, ele começou a chorar. Olhei para todos os lados buscando ajuda. Eu odeio quando as pessoas choram perto de mim, porque eu me torno inútil, sem saber como proceder. Eu devo abraça-lo? Contar uma piada?

“Para de chorar, por favor. Você supera.”

“Como você pode falar isso se você nunca amou?”

“Perdoe-me, eu sou péssimo em consolar pessoas.”

“Mycroft...” ele falou, puxando sua cadeira para o lado da minha e envolvendo seu braço pelo meu pescoço, numa espécie de abraço masculino. “Você nunca amou!”

“Não e eu suponho que não seja uma coisa boa, a julgar pelo seu estado atual.”

“Mas é uma coisa linda!”

Com cuidado, afastei o braço dele de mim. Ele ficou quieto por um tempo. Achei melhor afastar a caneca também, enquanto ele estava distraído, mas não deu muito certo. Ele fez um escândalo e eu tive que entregar.

“Sabe como você descobre que ama uma pessoa?” ele continuou e eu não respondi, pois estava ocupado demais tentando tirar aquela droga de caneca da mão dele. “Sabe, Mycroft?” ele gritou.

“Não, não sei, Gregory!”

“É quando você olha pra essa pessoa e então, você se pega cantando a versão francesa La Vie En Rose sem querer.” Ele falou, pousando o copo sobre a mesa, mas ainda segurando-o. Tentei continuar a conversa, pra ele se distrair e larga-lo de uma vez.

“Mesmo que você não fale francês?”

“Mesmo que você não fale francês.” Ele assentiu e eu finalmente consegui tomar o objeto de vidro das suas mãos. Levantei e fui até o balcão, deixar o copo e pedir que os garçons parassem de servir bebida para a nossa mesa.

Quando voltei, vi que Greg não estava mais sentado. Comecei a procura-lo desesperadamente e o encontrei no pior lugar possível: o palco.

“O que você vai cantar?” um homem de terno coberto de lantejoulas perguntou ao meu amigo.

“Dancing Queen, do ABBA.” Ele respondeu, já com o microfone na mão. “E eu quero dedicar essa música ao meu melhor amigo de todo mundo: Mycroft!” ele apontou pra mim e um refletor, que saiu não sei de onde, me iluminou.

Eu provavelmente estava mais vermelho do que um tomate.

Queria que eu fosse um avestruz, para poder enfiar a minha cabeça na terra toda vez que Greg cantava “Young and sweet, only seventeen” apontando pra mim, só porque eu tinha 17 anos.

Ele desafinou muito. Não sei o que deu em mim, mas eu comecei a rir, como eu nunca tinha rido antes. Foi muito estranho, a minha barriga começou a doer e eu não conseguia parar.

Só voltei ao sério quando fui ajudar Greg a descer do palco. Ele estava cambaleando.

“Nossa, ainda são cinco da manhã e eu já estou desse jeito.” Ele reclamou.

“Cinco da manhã?!” olhei para o relógio, confirmando.

Droga, eu estava muito ferrado. Comecei a sentir um misto de culpa e rancor pela minha irresponsabilidade. Basicamente, eu era um homem morto.


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Notas finais do capítulo

E então, gente? Acho que canonicamente o aniversário do Mycroft é em fevereiro, mas shhh, vamos ignorar isso... Hihi Beijinhos e até capítulo que vem o/