Pela primeira vez, eu estava enxergando Fobos como deveria enxergar. Não como o deus desprezível que tinha de alguma maneira atraído a atenção da minha mãe, mas como... Bom, meu pai.

Nem prece que sou eu dizendo isso!

Passando para um assunto que é mais a minha cara... Nikito? Com toda certeza eu ia perguntar isso depois.

Mas e Melody? Ela estava aceitando perfeitamente o fato de estar num lugar desconhecido com dois estranhos à sua frente. E Fobos parecia ter falado com ela, porque, com ele, ela parecia completamente confortável. Uau.

Quando viu que eu não tinha negado seus pedidos, meu pai sorriu. Eu estava... Oh meus deuses. Eu estava de verdade começando a gostar daquele sorriso e a pensar que ele tinha uma aparência agradável.

- Obrigado. - Disse, então se ajoelhou para ficar da altura de Melody. - Esta aqui é sua irmã Julie. - A garotinha arregalou os olhos, depois virou-os para mim. Dei meu melhor sorriso e ela riu também. - Acho que o mínimo que eu posso fazer é levá-las para o Acampamento. Vocês... Ahn... Já pretendiam voltar?

Oh meus deuses de novo. Não acredito que ele perguntou isso. Então ele sabe que... Nico acabou de me beijar, duas vezes. Tenho certeza de que fiquei vermelha.

- Já. - Nico respondeu imediatamente, mais calmo do que eu. Sou a única que fica perturbada com meu pai, vejam bem, MEU PAI, perguntando se pretendíamos ir àquela hora?

- Certo, então. Preparem-se. - Com isso, eu não tive tempo de falar nada antes de Fobos colocar a mão no meu ombro e tudo sumir.

Senti tontura. E enjoo. "Estou começando a me cansar dessas viagens instantâneas! Não poderia apenas me dar dinheiro para um táxi?", pensei.

Quando abri os olhos, estava em frente à Casa Grande. Fiquei muito feliz sentindo finalmente o cheiro dos morangos de novo, depois de tantos dias.

Mas espera só um minuto... Estávamos em frente à Casa Grande, eu consciente do braço de Nico encostado no meu, Fobos e Melody bem do outro lado. Sim. Mas era noite! Quíron ia nos comer vivos!

Metaforicamente falando.

E as harpias da limpeza! Elas sim iam nos comer vivos!

E dessa vez, não metaforicamente falando.

- Preciso ir, agora. -Meu pai disse. Então bagunçou o cabelo de Melody. - Até mais, tampinha. Julie vai cuidar bem de você. Tenho certeza que vão se dar bem. - Ele se virou para mim. - Mais uma vez, obrigado. Principalmente por me perdoar.

- Não foi nada. - Respondi. - Todo mundo merece uma segunda chance.

Fobos sorriu. Daí olhou, sério, e apontou para Nico.

- Ainda não terminei por aqui. - Disse. - Estou de olho em você, garoto.

Oh meus deuses. Sem comentários. Por favor, vamos esquecer essa parte. E foi assim que meu parente divino sumiu nas sombras.

Encontramos todos em volta da fogueira. Devo ter calculado mal as horas. Nem bem aparecemos, Quíron veio correndo. Galopando, digo. Atrás dele, Percy e Annabeth.

- Pelos deuses! - Ela gritou. - Posso saber onde vossas majestades estavam?

Nico e eu nos entreolhamos.

- Em Lugar Nenhum. - Ele disse, fazendo Percy rir.

- E podemos saber onde fica Lugar Nenhum? - Perguntou.

- Perto do Meio do Nada, passando por Seja Lá Onde For e antes de Qualquer Lugar Que Seja. - Falei, e Quíron exibiu um sorriso divertido.

- Acho que já entendi o que aconteceu. - Disse ele. - Mas vamos deixar as explicações para amanhã, aproveitem a fogueira por enquanto.

Mas Annabeth não parecia feliz.

- E quem... - Suspirou, olhando para Melody, que agora segurava minha mão. - Quero uma história muito bem contada.

- Pessoal, essa é minha irmã Melody. - Apresentei.

*****

Depois de dois dias, estava tudo resolvido.

Ou quase.

Enquanto Melody estava com Mirela Williams, minha amiga de 26 anos, filha de Deméter e a semideusa mais velha que eu já conheci, Nico encontrou um pequeno furo na nossa "agenda de explicações" (porque Quíron queria que contássemos absolutamente tudo) para falar comigo a sós.

Oh meus deuses, mil vezes oh meus deuses!

Sentamos ao lado de uma árvore perto da ponte do lago de canoagem. E acho que eu estava com uma perfeita cara de boba.

Nico parecia não saber por onde começar.

- Então você já deciciu o que vai fazer no fim do verão? - Perguntou. Me enganei, ele sabia sim. Melhor do que eu.

Suspirei. Tudo parecia estar dando certo agora.

- Já. Mirela, de Deméter, estava procurando alguém para dividir o apartamento dela, em Manhattan. - Contei, alegre. - Ela falou comigo e, por causa da Melody e tudo, perguntou se eu estava interessada. Como sou menor de idade, ela quer dar um jeito de receber minha guarda no governo.

- Então ela praticamente pediu para te adotar? - Nico riu.

Dei risada também.

- Ela apenas seria minha responsável legal até eu fazer 18. - Expliquei.

Conversamos mais algumas coisas sem rumo até o assunto chegar.

- Então... O seu pai meio que já sabe que eu gosto de você. - Ele disse. Fiquei vermelha na hora. Sim, com certeza ele sabia.

- É. - Respondi evasiva.

- Mas acabo de me lembrar que você ainda não me disse nada. - Completou.

- Não disse nada sobre o quê?

- Eu me declarei pra você e esperava que dissesse alguma coisa. - Ele explicou.

Oh meus deuses. E eu ia dizer o quê? Suspirei, sorrindo.

- Bom... - Comecei. - Eu meio que tenho uma queda, vulgo precipício, por você.

Nico me olhou, espantado.

- E desde quando?

- Desde aquele seu "Gosto de cães", meu caro Nikito. - Respondi sem precisar pensar. Estava ficando divertido.

Ele pareceu meio... Triste? Não, percebi um pequeno sorriso lateral em seu rosto.

- Acho que você ganhou, então. - Falou.

- Por quê?

- Se contar o tempo que fiquei brigando comigo mesmo, pensando que você só queria amizade, comecei a gostar de você depois do "Nunca estive em Long Island". - Confessou.

Foi minha vez de olhar para ele. Com isso, sem mais nem menos, começamos a rir.

Depois de uns cinco minutos de gargalhadas sem motivo aparente e uma barriga dolorida, eu finalmente consegui parar. Nico olhou fundo nos meus olhos.

- Eu gosto de verdade de você, sabia? Por isso quero perguntar uma coisa importante. - Ele disse, então chegou perto e entrelaçou os dedos no cabelo da minha nuca. Suavemente, pressionou os lábios dele nos meus.

Aquele foi o beijo do século.

Quando se afastou, disse baixinho:

- Namora comigo?