POV Nico

Depois de uma boa noite de sono, ou nem tão boa assim, eu queria cobrir uma grande distância, ou nem tão grande assim...

Começo a suspeitar que eu estava desanimando. (n/Aut: Ah, sério?) (n/Nico: Só um pouquinho.) (n/Aut: Mais um bipolar na minha vida eu não aguento.) (n/Nico: Será que eu não posso continuar sem as suas intervenções?) (n/Aut: Sem educação. Pode sim.)

Eu estava esperando qualquer coisa, andava sem ao menos prestar atenção no cenário que aparecia a meu redor.

Poderia ter caído metade do teto na minha cabeça, eu nem perceberia. (n/Aut: Pode até ser que não, mas aí você estaria morto.) (n/Nico: Realmente, e essa é a única prova de que isso não aconteceu.) (n/Aut: Uau.) (n/Nico: Tá, agora sai daqui.) (n/Aut: Okay.)

Mal notei quando uma ninfa parou à minha frente, quase imperceptível e sem uma palavra. Eu a contemplei por um momento, e reconheci aquele singelo rosto de uma das minhas viagens. Era Eco.

É, eu viajei um bom tempo depois da guerra com Gaia. A verdade é que, com tudo aquilo acontecendo, e depois da morte de Bianca, eu precisava esfriar a cabeça. Bom, consegui. Em alguns meses (vinte e quatro, para ser mais exato) eu visitei todos os lugares que alguém conseguiria imaginar. Desde o Havaí, até o Alasca. Estou falando sério, eu passei mesmo uma semana no Alasca.

(n/Aut: Você levou o conceito de "esfriar" a cabeça muito a sério.) (n/Nico: Eu sei.)

Eco continuava me olhando sem dizer nada. E nem poderia, claro, já que eu mesmo não tinha dito nada ainda...

- Oi, tudo bem? - Perguntei, com um sorriso. Ela era uma velha amiga.

- Oi, tudo bem? - Repetiu, assentindo.

- Tudo ótimo. - Menti.

- Ótimo.

- Por acaso não viu minha amiga Julie passando por aqui? - Me esforcei para fazer as perguntas certas.

- Passando por aqui! - Eco disse, concordando.

Fiquei muito feliz por saber que tinha seguido o mesmo caminho que Julie, mesmo sem entender o porquê. Acho que, na última discussão, o anjinho tinha ganhado. Eu estava começando a me dar conta de que ela talvez tivesse tido mesmo um motivo para ir sozinha. Algo a ver com a profecia, quem sabe? Sobre aquela maldita joia frágil...

- Obrigado. - Disse. - Mas agora preciso continuar. Foi muito bom ver você. Elefante azul!

- Muito bom ver você. Elefante azul. - Repetiu, com um sorriso maroto. Aquela era uma velha brincadeira que Leo tinha feito com Eco um tempo atrás, e acabou pegando. Às vezes o fato de ela repetir as coisas podia ser bem divertido. Eu uma vez levei Hazel para visitá-la, e as duas riram muito.

Eu gosto de fazer as pessoas rirem.

Durante um tempo, depois que Bianca faleceu, eu me fechei completamente para tudo e todo mundo. Preferia ficar sozinho, conversando com os fantasmas que invocava, até finalmente perceber que isso não levaria a nada. Só então comecei a ser novamente alegre como antes, ou ao menos tentar.

A única coisa que deixei de lado de vez foi meu jogo, Mitomagia. Ele me trazia muitas lembranças ruins.

Segui meu caminho bem mais motivado, com uma dúvida que só crescia: quando eu reencontraria Julie?

Mas ao contrário do que eu esperava, Eco me seguiu.

- Ah, está querendo conversar? - Perguntei.

- Conversar. - Ela concordou. Gostei dessa ideia, seria bom quebrar o silêncio por algum tempo.

- E sobre o que quer saber?

- Saber. - Eco deu de ombros.

Eu ri, e contei a ela tudo o que tinha acontecido ultimamente. Ela ria de algumas partes e repetia as coisas mais idiotas. O mais legal em Eco ser Eco era que ela nunca contaria meus segredos para ninguém. Eles estariam seguros.

Evitei tocar no assunto N (que é como eu e Hazel chamamos o negócio com Narciso), para não correr o risco de magoar minha amiga.

Eco tinha uma história muito triste, que sempre fazia Bianca chorar. Esse tal de Narciso era um idiota esnobe que não gostava de ninguém. Para não ter que entrar em detalhes, ele um dia viu seu reflexo na água e se apaixonou por si mesmo. Lerdeza nível 1000, ou melhor, nível Percy, ou melhor ainda, nível Hiperbóreo.

Ri pensando nisso. Eu teria que lembrar de contar essa piada a Julie. Eco me interrogou com o olhar quando eu contei sobre isso, mas não fez menção de dizer nada. Um segundo depois, seu rosto se iluminou com um enorme sorriso, que eu sabia o que significava. Dei risada, mas sem conseguir evitar ficar vermelho.

Continuando a história do assunto N, Eco uma vez o encontrou, pelo que eu me lembrava, e se apaixonou por ele. Mas como o idiota acabou se encantando por sua própria imagem, aí vocês já pegaram a ideia. Ele nem deu atenção a ela.

Ah, e ela tinha que repetir somente o que ouvia, se não me falha a memória, porque foi amaldiçoada pela deusa Hera. Agora não lembro do resto, mas já deu pra ver que Hera não presta.

Acho que Julie se daria bem com ela. Eu teria que apresentar as duas mais tarde.

(n/Aut: Não sei se só eu notei, mas ontem você queria matar a Julie e hoje já quer apresentar possíveis amigas e contar piadas? Isso é o cúmulo da bipolaridade.) (n/Nico: Pare com isso.) (n/Aut: Ou o cúmulo de outra coisa também...) (n/Nico: Eu disse pra parar.) (n/Aut: Começa com A...) (n/Nico: Agora já chega, não é?)

E assim eu passei mais um dia inteiro, apenas andando e conversando.