Elemente escrita por Luana Yukari


Capítulo 3
Sem aliados - Capítulo 3




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Deixe eu te contar: O fogo não tem aliados.

É assim. O fogo não faz bem pro ar, não faz bem para a terra, e muito menos para a água. O fogo seria como um viajante solitário andando por aí enquanto vê a desgraça de seu próprio reino. Por isso mesmo, temos leis tão egoístas como o fogo.

Raramente o rei me dá dias normais. Quando ele me dá, o mais forte dos meus soldados fica em comando. Basicamente, o castelo é o centro do Reino de Feuer. Ao redor dele, várias e várias vilas descansam. Todas as vilas tem formatos de “O”, ao redor do castelo, cercando ele. As passagens de vila para vila são bem pequenas, e não muito confortáveis. As primeiras e principais vilas do reino, servem de abrigo para os altos cargos. Como capitão da Guarda Real. Minha casa é uma das demais, bem simples, e do mesmo tamanho do que as outras, em formado de quadrado na parte da frente. Minha casa tem tons de cinza e vinho, que são as cores da Guarda Real. Um brasão de escudo com duas espadas se desafiando atrás, pende na parede acima da porta de madeira. Pequenas escadas levam à porta, e tochas de fogo descansam aos lados da casa. Um telhado simples, de modo que tenha formato de um V de cabeça para baixo.

Dentro, a cor é de um simples bege claro, com vários detalhes de madeira na parede. Medalhas de ouro, bronze e prata ficam guardadas em um pequeno armário do lado esquerdo da casa. Mais do lado, um sofá de molas com uma mesinha de vidro no centro de um tapete arrendondado. Do lado direito, uma armadura de ferro – para soldados – mora, e do lado dela, uma lareira para lhe fazer companhia. Um lustre com algumas velas e cristais pende no teto, tornando o ambiente bem aconchegante. As janelas tem cor vinho. Lá para o fundo, uma outra escada que leva a outra porta de madeira, tem o meu simples quarto. Apenas uma cama, alguns armários de roupa e um tapete fofo. Os mesmos padrões de cores. Do lado da escada, uma pequena cozinha que nunca foi utilizada, junto com um pequeno banheiro nos fundos. É uma boa casa, se alguém usasse ela para alguma coisa a não ser dormir, ela seria mais útil e com vida.

A última vez que tinha tido um dia de folga, foi provavelmente um ano atrás, quando ainda era um reles soldado bom. As ruas estavam silenciosas, e apenas o crepitar dos fogos fazia música. Mas não por muito tempo. Logo que subi as escadas que dão para a segunda vila, ouvi gritos de crianças.

Duas garotinhas gêmeas respiravam forte, tentando se soltar dos braços de dois soldados. Provavelmente estavam sendo punidas, pensei. Isso acontecia quando alguém tentava cruzar os limites do reino sem autorização. Como eu disse, o fogo não tem aliados. Uma fogueira grande o suficiente para dar espaço para uma pessoa estava acesa. Ah, sim. Eles sempre são punidos com fogo. Fiquei parado olhando fixamente para as duas garotinhas, que a essa altura estavam gritando e pedindo perdão. Nesse exato momento, dois corpos foram jogados para a fogueira. Desviei os olhos. Eu não podia olhar. Era muito, muito cruel. Os gritos ecoavam em todas as vilas, enquanto cabelo, vestido, rosto, tudo ia sendo queimado pelo fogo. Dois minutos depois, nenhum grito mais. Só o crepitar do fogo da lareira. Só a mesma música malvada e cruel querendo castigar qualquer um que a ouvisse. Só ela.

Sai andando em direção da minha casa. Bati a pequena porta de madeira, e fui em direção ao meu quarto. Agarrei um urso de pelúcia, tirado do lixo, costurado pelas próprias mãos da minha mãe, e dado como presente de aniversário de 5 anos. Pode me chamar de covarde, mas eu chorei a noite toda. Eu era um inútil que ia se casar com uma rainha. Eu fui o único motivo de minha mãe lutar. Ela não deveria. Ela estava fraca, doente. Deveria ter me jogado no lixo, e não esperado. Não deveria ter caído nas mãos frias da morte enquanto dormia. Ela devia ter ao menos me dado adeus!

E agora estou eu, chorando como uma criança de 5 anos, pedindo a seja lá quem estiver me ouvindo, que, por favor, eu só queria um dia feliz como o dia que eu ganhei esse maldito ursinho de pelúcia.

Eu queria sair dali, eu queria me jogar na frente de um trem, Eu queria que as gêmeas sobrevivessem, eu queria rever minha mãe. Eu queria muito que o fogo tivesse aliados.

Mas não tem.

É apenas o crepitar do fogo, tentando castigar qualquer um que ouça sua música.


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