Cara, como ela era linda.

Eu estava ajustando a gravata do meu terno, quando recebi a mensagem de que já estava na hora, e que ela estava vindo. Os corredores eram estruturas enormes, formato um pouco cilíndrico, com apenas as tochas de fogo para iluminar o caminho. Eu não tinha comido desde ontem, porque o rei me avisou que o jantar seria muito completo, e queria que experimentasse tudo que tinha na mesa. Meu estômago agora, parecia uma latinha de refrigerante amassada, tentando desesperadamente se encher de alguma coisa. Minha visão começou a ficar turva, e eu já estava preocupado pensando que desmaiaria, quando finalmente, o túnel assustador parou, e eu já estava de frente para a porta que levava até a sala de jantar do castelo.

Uma menina estava parada, de frente para o trono, com aparência de ter 15, 16 anos. Brincava descontroladamente com um pedaço de papel. As unhas dela eram afiadas, tanto que pareciam garras. E foi aí que eu notei que ela tinha um rabo. Na verdade, todas Drakons tem, e eu não sei porque achava que ela não teria. Era cor negra com escamas, e pendia, na ponta, um cristal negro com detalhes de rubi, no formato losango. Ela usava um vestido cor vinho, com detalhes em verde- mar. Um pedaço de pano comprido preto pendia amarrado no pulso esquerdo dela. O seu cabelo preto estava trançado de diferentes formas, presos com várias fitas cor vinho.

E foi então, que ela se virou.

Seu rosto tinha formato e um triângulo invertido, e sua boca estava preenchida com um batom cor âmbar. Seus olhos eram verdes como o mar, e por incrível que pareça, deu um contraste lindo com o vestido. Os dentes dela eram afiados como o de um vampiro, mas quando ela sorriu, ficou ainda mais linda. As orelhas dela eram pontudas como as de um elfo, e pendia um brinco de safira.

Quando eu a vi, fiquei pensando o que ela tinha achado de mim, um mago idiota, passando por papel de comandante. Ela teria ridicularizado meus cabelos loiros escuros, que ficavam cor de palha sempre que eu esquecia de tomar banho. Ela teria rido dos meus olhos escuros e sem vida, e teria me chutado. Ela iria. Mas tinha um rei na frente dela.

O rabo dela estalava como um chicote, e das unhas pingavam um pouco de veneno. Acho que ela ficou nervosa demais, pensei. Ou talvez ela ficasse assim sempre. Tivemos o jantar formal, o qual nenhum de nós falou, e quando ela falava, era tão baixo que eu não conseguia entender nada.

Finalmente, o rei saiu e disse que nos deixaria a sós para conversarmos. E foi aí que a máscara dela caiu.

— Eu realmente tinha esperado algo melhor. Você é mesmo o capitão? Porque tem vários outros soldados ali muito melhores que você.

— Você também não é muito como eu esperava, Majestade. – Disse eu, com um pouquinho mais de nojo quando falei a palavra Majestade. – Não é muito nova para ser rainha, não?

— A nossa antiga rainha morreu antes de eu estar completamente amadurecida. Aliás, você também não passa de uns dezesseis anos. E eu esperava coisa bem melhor.

— Acabo de receber uma mensagem avisando que você é muito melhor quando sorri com seus dentes de vampiro do que quando fala.

Ela estalou seu chicote, ou rabo, tanto faz, e falou, em um tom muito sexy que eu mesmo não esperava:

— E qual é seu nome, capitão?

— Allan.. – Eu disse, mesmo não querendo. – Allan Valdez. O seu é Katherine, não é?

Ela deu um estalo com o rabo e sorriu, jogando seu cabelo para trás e indo direto para as portas. Quando finalmente chegou, ela parou, virou para trás e me lançou um olhar de desprezo que acabou com todo meu encanto.

— Idiota.

Cara, como ela é linda.