Elemente escrita por Luana Yukari
Subimos furtivamente as escadas para a vila 3.
Assim que chegávamos mais e mais perto da destruição, um doloroso frio correu por entre minhas veias, roubando toda a chama de calor que restava em meu corpo.
Estava tudo acabado.
Mesas e cadeiras quebradas. Ossos de animais e pessoas por cada canto. Ruínas do que antes pareciam um lar feliz – Agora, tudo estava acabado. - tendas de lojas caídas e rasgadas no chão. Nós nunca conseguiríamos aquilo que todos esperavam. Não existia um palmo a frente dos nossos narizes com, pelo menos, um pequeno fio de vida.
Mas tinha um garoto.
Ele estava parado, de costas para a gente.
Sua camisa branca comprida tinha mangas rasgadas. Sua calça cinza escura tinha marcas de rasgos nos joelhos. Seus pés estavam totalmente descalços, e seus cabelos eram tão brancos como sua pele.
John avançou.
— Garoto? Você está bem? Nós vamos te ajudar. Não se preocupe. - Ele disse, lentamente colocando sua mão no ombro do garoto.
E então, ele se virou. Ou melhor, sua cabeça se virou. Seu corpo continuou no mesmo lugar. Ele tinha olhos brancos e assustadores. Tinha aparência de ter uns 5, 6 anos. Sardas amareladas dançavam embaixo de seus olhos. Assim que John encontrou os olhos do garoto, ele caiu.
E lá estava eu, olhando para o corpo do meu melhor amigo, parado no chão, na mesma posição de antes. Seus olhos estavam arregalados. Só uma baforada de ar no meio da neblina fria se formou. E então, nenhum sinal de vida se encontrou em John.
E então, eu corri.
Como um covarde, desci as escadas correndo, deixando John e o menino para trás.
Deixando o meu melhor amigo sozinho junto com um garoto do vento.
Um aprendiz pronto para matar qualquer um que estivesse em seu caminho.
Subindo as escadas do castelo correndo, a neblina me seguia, como uma garra tentando desesperadamente arrastar meu corpo para trás. E então, as nuvens do céu se juntaram, e fazendo o maior esforço para desabarem suas lágrimas sobre um reino que era totalmente o oposto, a chuva caiu.
Algo totalmente inédito. Um reino do fogo chovendo, o quão fracassados nós éramos? Ninguém conseguia dizer só uma palavra, enquanto observavam a água fria se juntando à neblina e apagando qualquer sinal de fogo e calor que estivessem à mostra.
“A chuva faz arco-íris. Ela não é tão ruim assim” Dizia minha mãe.
Mas não essa chuva.
Não era uma chuva digna nem mesmo do reino de Wasser. Era uma chuva dolorosa e fria, representando todas as mortes das vilas atacadas. Uma chuva que não ia mais acabar enquanto a dor e a guerra existisse. Uma chuva maligna que tentava nos devorar, nos culpar por todas as mortes.
Eu sabia, eu sabia o que aquela chuva queria dizer.
Faltava pouco, mas pouco para que todas as vilas fossem atacadas. E quando isso acontecesse..
Digamos que o castelo é o prato principal de uma bela mesa de jantar.
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