— Allan, eu sou seu pai.

Nesse exato momento, eu me levantei bruscamente da mesa de madeira, puxei a gola da camisa dele com toda força possível, repetindo várias vezes a palavra por quê.

Quando eu me acalmei um pouco, sentei de novo na cadeira e cobri o rosto com as mãos.

— Conte-me o que aconteceu.

O senhor ficou confuso, até que eu perdi a paciência de novo.

— CONTE-ME LOGO, SEU VELHO RABUGENTO – Eu disse.

O senhor assentiu, de um jeito meio envergonhado, e pôs-se a falar:

— Eu não queria abandonar você e sua mãe. - ele disse. – Eu a conheci quando era um soldado. Nós nos amávamos. Mas o rei não gostava que seus soldados ficassem de caso com uma simples mulher da vila mais pobre. Então, ele me tirou do cargo, e me expulsou da vila. Eu fui morar com sua mãe, mas..

Ele parou para respirar.

— Eu era um idiota. Eu fiquei nervoso. Eu não queria, eu juro. Mas eu perdi a cabeça. Eu briguei com sua mãe. Eu cheguei a bater nela quando ela me impediu. Eu fui embora para uma vila menos vergonhosa. Aqui. – Ele falou – Sua mãe teve problemas desde então. Ela tinha gastado todo seu dinheiro para um suposto casamento que nunca aconteceria. Quando eu soube que ela morreu, eu.. eu quis me matar, ou pegar você e te criar, mas o que eu poderia fazer depois? Ir embora e te magoar para sempre? Eu juro, eu não queria..

E então, eu bati na mesa. Eu queria dar a ele um belo olho roxo, mas quando eu o vi chorar.. Eu não consegui. O quão fraco eu sou, não é mesmo? E então, nós dois choramos juntos. Como um pai idiota e um filho maluco. O senhor se chamava Daniel.

Foi a primeira vez que eu vi meu pai.

E a última.

No dia seguinte, quando eu já tinha ido embora da casa do meu pai, fui alertado pela rainha que a vila 5 tinha sofrido um ataque. Uma bomba de ar. São bombas feitas de ar, que eram jogadas pelo céu nos reinos, do Reino de Luft, e quando elas tocavam o chão, quebravam a barreira de som, levando tudo que estava perto para as ruinas do vento. Tinham diferentes alcances. Essa, só conseguiu atacar a vila cinco. Qualquer um que estivesse nessa vila, morria sufocado. Muito ar. Ou a falta dele.

Então, agora eu era uma das desgraças do fogo. Eu era o viajante solitário andando por aí enquanto vê a desgraça do seu reino e dos outros, enquanto o crepitar do fogo nos seguia lentamente, acompanhando minhas pegadas descalças e machucando meus pés.