Quinn olhava para o nada, sentada ao lado de Rachel. Sentia um vazio bizarro no estomago e estava apavorada de dizer em voz alta o que estava pensando.

– Está tudo bem, amor. Pode dizer – a morena pediu.

– Estou com medo.

Rachel segurou a mão da namorada, esperando que ela continuasse. Podia sentir o quanto ela tremia.

– A Kitty está com a mesma idade que eu tinha quando comecei a ficar com garotas. No início eu escondi bem, mas conheço minha irmã. Ela tem o gênio forte e não engole desaforo. Vai acabar falando demais. Tenho medo do que pode acontecer com ela – a loira preferiu dizer tudo de uma vez.

Rachel respirou fundo, absorvendo as palavras de Quinn.

– Ela não é mais criança, amor. Sabe se cuidar. Ela tem as meninas para ajudar. E você sabe que a Marls é uma boa menina. – explicou devagar – Não estou sugerindo que vá acontecer algo a mais entre elas... Só quero que saiba que ela tem a nós, princesa.

– Mas e se...

– Para Quinn. Mas nada. Eu prometo que a história não vai se repetir. Eu estou aqui agora e não vou deixar que nada de mal aconteça a ela. Ou a você. Confia em mim?

– Claro que confio – a loira a beijou demoradamente.

Rachel levantou, levando a namorada junto. Voltaram para a sala de jantar onde os amigos terminavam o café da manhã, inclusive Kitty e Marley.

Quinn preferiu ficar quieta em um canto, brincando com Beth. Santana e Brittany se aproximaram da diva.

– Como ela está? – Brittany questionou aflita.

– Vai ficar bem. Acho que só precisa de um tempo para pensar melhor.

– Vou falar com ela – a latina sentenciou, recebendo um olhar reprovador das outras duas – Não se preocupem, sei o que estou fazendo – resmungou – Só mantenham a Kitty e a Marley afastadas por enquanto.

– Tudo bem. – Rachel concordou.

As duas se afastaram, indo em direção a Kitty. Ela e Marley agiam naturalmente, como boas amigas, conversando e rindo enquanto tomavam o café.

– Hei Kitty, dormiu bem? – a loira provocou.

– Muito bem, B. Apesar de ter ficado trancada para fora do quarto – respondeu, lançando um olhar maroto para a cunhada.

Rachel sorriu. A garota tinha resposta para tudo e era o que mais gostava nela.

– Desculpe por isso, Kitty. Posso me redimir de alguma forma? – pediu, se divertindo.

– Cuide da minha irmã e estamos quites. – piscou – Por falar nisso, por que ela está emburrada?

– Não se preocupe. Daqui a pouco ela estará melhor. – comentou, vendo Marley esticar o braço para pegar uma torrada – O que aconteceu com o seu braço Marls? Brigou com um gato? – provocou.

– Talvez – respondeu, corando – Acho que... Era uma gata – piscou disfarçadamente para Kitty.

Rachel riu, preferindo deixar para lá.

– Que tal irmos todos para a piscina? – a morena questionou em voz alta – Não sei vocês, mas estou morrendo de calor.

O murmurinho foi geral. Todos levantaram e foram para o lado de fora da casa. Rachel passou pela namorada, levando Beth consigo.

Apenas Quinn e Santana ficaram. A latina sentou-se ao lado da amiga e esperou até que ela lhe encarasse.

– Sei que está com medo, Fabray. Mas tem que confiar em mim. Nada vai acontecer com a tampinha, eu prometo – o tom de voz da latina era de uma suavidade que ela só usava com a amiga e a namorada – Até hoje não me perdoo por não ter feito mais por você.

– Santana nós éramos crianças. Você e a Britt fizeram tudo o que podiam...

– Não foi o suficiente. Mas vai ser com a Kitty. Eu e a Brittany estaremos lá por ela. Eles não vão colocar as mãos nela. Não vou permitir. E o Puck está louco para encher a cara do Russel de pancada já faz um bom tempo – sorriu de lado, de um jeito que só a latina sabia.

– Obrigada Sant. Não sei o que seria da minha vida sem você.

– Agora levanta daí. Melhora essa cara, porque eu sei que sua noite foi incrível – sorriu, apontando para uma mancha no pescoço da loira – E vamos lá para fora. Amanhã cedo temos que voltar para Lima, e tenho certeza de que não vai se perdoar se não se divertir com sua irmã e seus amigos.

A loira levantou resignada. A amiga tinha razão, em tudo. Assim como Rachel. Kitty estava segura.

Brittany estava na piscina com Beth. Kitty e Marley brincavam de jogar agua, fazendo a pequena rir. Mas o que chamou mesmo a atenção de Quinn foi ver Puck e Rachel sentados conversando do outro lado à beira da piscina.

– Obrigado por nos receber na sua casa, Rachel – o rapaz puxou conversa, um pouco sem jeito.

– Não tem o que agradecer. É um prazer recebe-los – Rachel deu de ombros – E ver o quanto a Q ficou feliz faz qualquer coisa valer a pena.

– Sobre isso... – Puck titubeou.

– É só dizer, Puck. Somos adultos – a morena riu – Vai me intimidar ou o que? – a menina não estava nem um pouco preocupada – Sei que vocês têm uma história e o quanto se gostam. Tudo bem. – o tranquilizou, apertando seu ombro.

– Ok. Desculpe, sou um idiota – riu, coçando a nuca – Não quero te intimidar ou nada parecido. Até pensei nisso, no caminho para cá – admitiu sem jeito – Mas o brilho nos olhos dela me desarmou.

– Que bom.

– Você é uma boa pessoa Rach. Seus pais são incríveis. É bom para a Quinn notar que não existem só cafajestes como o pai dela no mundo.

– Ele é ruim assim, não é?

– Pior. Eu e Santana adiamos sair de Lima pela Kitty. Não tinha como a Quinn permanecer lá por mais um ano – confidenciou – Mesmo morando com a Santana, ele sempre dava um jeito de infernizar a vida dela. O Russel é um merda, mas tem influência na cidade – a tom de voz que Puck usava deixava claro todo o nojo que sentia pelo homem – E cidade pequena, sabe como é né?!

– É o último ano da Kitty. Quais os planos de vocês depois disso?

– Eu provavelmente continue em Lima. Por causa da Beth e da Shelby.

– Da Shelby? O que está rolando? – Rachel notou o rapaz corar – Tudo bem, eu não conto para ninguém.

– Não está rolando nada – murmurou – Mas estamos bem próximos. E...

– Você sente algo por ela. – a morena concluiu antes dele – E as meninas? – desconversou.

– A Britt conseguiu uma bolsa em Juilliard. E Santana... Bom, ela vai para onde a loira for, então...

– Elas vêm para NY. Entendi. – sorriu – Bom, estão todos bem encaminhados. Falta saber o que nossa pequena miss problema resolveu fazer. Tem alguma ideia?

– Até agora ela não disse nada. Só que assim que se formar pegará o primeiro voo para fora da cidade.

– Podemos dar um jeito nisso – comentou, já imaginando várias possibilidades – Puck, e a mãe delas? Não diz nada, não fala nada...

– Ela é daquelas mulheres conservadoras, submissas ao marido, sabe?! – explicou – Nas poucas vezes que consegui conversar com ela, juro que deu pra ver nos olhos dela o quanto ela é contra tudo o que o Russel faz, mas... Ela simplesmente não consegue se libertar dele. É algo enraizado nela, não sei...

– Imagino o quanto deve ser difícil pra ela.

– Acho que é.

– Tem alguém nos observando – Rachel brincou, apontando para a namorada do outro lado, os encarando sem piscar.

– Tenho certeza de que ela está desesperada querendo saber o que estou te dizendo – riu.

– Ela me parece mesmo preocupada – divertiu-se – Faz cara de bravo, como se estivesse me falando algo muito sério.

Puck fez o que a morena pediu. Em seguida, Rachel fechou a cara, simulando uma discussão com o rapaz. Não levou um segundo para Quinn aparecer entre eles.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou, apavorada.

Os dois não aguentaram e começaram a rir. A loira sentiu-se indignada. Tinha sido feita de boba, e os dois não fizeram a mínima questão de disfarçar. Revoltada, agarrou Rachel pelos braços e a jogou com força na piscina, fazendo o mesmo com Puck em seguida.

– Isso é para vocês dois aprenderem a não se meterem comigo.

Cruzou os braços e deu a volta na piscina, indo ficar com Santana, que nesse ponto já não se aguentava de tanto dar risada.

– Adoro quando a HBICH volta assim, tão aflorada. Me lembra os velhos tempos.

Abraçou a amiga de lado, lhe dando um beijo demorado na bochecha.

Rachel nadou até onde a namorada estava. Quinn estava mais tranquila, mas não seria tão fácil para Rachel.

A morena a abraçou pela cintura e tentou beija-la, mas Quinn afastou o rosto.

– Me desculpe, princesa. É que você fica tão linda bravinha assim. Nós só estávamos brincando.

Quinn continuava com sua pose de queen bee. Era divertido ver a namorada implorar.

– Vamos lá, amor. Foi só uma brincadeira – Rachel olhou para os lados procurando ajuda e teve uma ideia.

Pegou Beth no colo e nadou alguns metros para longe com a menina.

– Tube bem então. Fica ai emburrada que vou brincar com a minha mini Quinn.

Batia na agua e fingia se afogar arrancando gargalhadas da pequena. Quinn estava boba assistindo às duas brincando, ver as duas juntas era fofo. A todo momento a morena a olhava de esguelha e ela tentava se manter seria, mas estava difícil segurar o sorriso.

– Deixa de ser idiota e vai até lá – Santana a cutucou.

Quinn não esperou que ela dissesse de novo. Nadou o mais rápido que pode e pegou a filha no colo, a levantando no ar. Rachel apenas sorriu, feliz por tê-las ali. A loira lhe deu um selinho, piscando marota.

– Está gostando de brincar com a Rach, filha?

– Rach – a bebe esticou os bracinhos para a morena.

– Fica mais perto da gente, amor. Vamos ver se conseguimos ensina-la a nadar um pouco – pediu – Vai até a Rach, amor.

Quinn segurou a criança pela barriga na direção da namorada. Beth ria e batia os pezinhos. Na primeira tentativa, a loira levou-a até a morena. Rachel fez a mesma coisa, mas só a levo até a metade do caminho, soltando Beth perto de Quinn.

– Isso princesinha – Rachel a incentivava – Vai até a mamãe.

– Mami

Beth gritou ao ser pega no colo por Quinn. A pequena ria sem parar.

– De novo – a menina pediu.

Quinn a colocou de volta na agua e, outra vez, a menina nadou sozinha até Rachel.

– Rach – a abraçou.

As três continuaram brincando. A menina não cansava, só queria saber de nadar e não tinha ser humano que conseguisse tira-la da agua. Um a um, todos se revessaram para nadar com Beth.

Próximo da hora do almoço, Kitty e Marley estavam com a pequena, sob os olhares atentos de Quinn. Rachel estava sentada com a namorada, pronta para intervir e Santana estava por perto também com Brittany.

No fim das contas, nada precisou ser feito. Aparentemente a loira convencera-se de que tudo ficaria bem.

Jo apareceu na porta avisando que o almoço estava servido. Kitty tentou sair da água com Beth, mas a menina resmungou e ameaçou chorar. Antes que Quinn conseguisse se aproximar, Marley abraçou a mais nova e falou com a bebe.

– Hei, B. Eu e a tia Kitty vamos comer agora e depois vamos passear um pouco – explicou piscando para a mais velha – O que acha de vir com a gente? – o sorriso da pequena se iluminou – Mas tem que comer tudo antes.

Kitty conseguiu sair da piscina com Beth sem que a menina reclamasse mais. A loira enrolou a bebe em uma toalha e entrou. Antes de segui-la, Marley foi falar com Quinn.

– Quinn, tudo bem pra você se eu sair pra dar uma volta com a Kitty e a Beth? – pediu – Não vamos muito longe, prometo.

Quinn olhou de esguelha para Rachel antes de responder.

– Claro, Marls – suspirou – Não tem problema.

A garota sorriu animada e entrou. Quinn recebeu um abraço de lado da namorada e as duas também entraram.

–x-

Depois do almoço, Quinn deu banho na filha e a estava trocando quando Kitty entrou no quarto sozinha. A mais nova já estava arrumada para sair.

– Vim pegar a Beth – comentou.

– Ela já está quase pronta – respondeu sem olhar para ela – Onde vocês vão?

– Não sei. A Marls só falou que vamos dar uma volta pelo quarteirão. Pra distrair a pequena.

– Marls? Quanta intimidade... – resmungou.

– Ih, eu te conheço Quinn. Fala, o que está te incomodando?

– Não estou incomodada. Só... Desculpe. Não estou acostumada com isso. Você é minha irmãzinha e tal...

– Fique tranquila, Q. Não sou mais um bebe. Vou ficar bem, confie em mim – sorriu – Agora me dê a Beth aqui e vá se divertir. Ou descansar... Você decide. Nós voltamos logo.

Kitty pegou a menina no colo, deu um beijo no rosto da irmã e saiu antes que ela dissesse mais alguma coisa.

Quinn ficou ali quieta, arrumando a coisas da filha na mala e pensando. Rachel entrou alguns segundos depois.

– Está tudo bem por aqui? Vi a Kitty saindo.

– Está sim. Não disse antes, mas... Você tem razão, amor. Ela vai ficar bem. – sorriu.

–x-

Kitty colocou Beth no carrinho de passeio, pegou com Puck algumas coisas que a menina talvez precisasse e saíram. Marley a abraçou pela cintura e caminharam sem presa pelo quarteirão.

A princípio, Kitty se incomodou um pouco, com medo do que os vizinhos poderiam dizer ou fazer. Mas não levou muito tempo para notar que não estavam em Lima. Passaram por um casal de idosos e ambos sorriram para elas. Em seguida encontraram com um casal, vindo no sentido contrário, que lhes sorriram e brincaram com Beth.

Marley notou o corpo tenso da loira ir relaxando aos poucos em seu abraço. A sensação era boa. Deu um beijo na bochecha dela, fazendo com que ela parasse.

– Quer um sorvete?

– Quero sim.

– Beth, quer sorvete?

– Sovete. Sim. – a menina respondeu animada.

Marley entrou na sorveteria, levando as duas consigo. Escolheram os sabores que queriam e sentaram.

A morena ajudou Beth a tomar seu sorvete, enquanto observava Kitty. Não queria pensar que só tinha mais algumas horas com ela ali.

– Você tem mesmo que voltar amanhã? – perguntou sem pensar muito no que estava fazendo.

Kitty parou de tomar seu sorvete, surpresa com a pergunta.

– Eu tenho. Meus pais acham que estou com a treinadora da escola. Então é bom que me encontrem lá amanhã – explicou – Caso contrário, vai ser quase impossível voltar pra cá.

– Voltar? – os olhos azuis da morena se iluminaram.

– Acha que vai se livrar de mim tão fácil assim? – o sorriso da loira era malicioso.

Marley corou. Era bom saber que veria Kitty novamente. Terminaram de tomar o sorvete. Beth parecia sonolenta, então Kitty lhe deu a chupeta e o paninho de dormir. Marley a pegou no colo e voltaram a caminhar. No meio do caminho de volta, a pequena estava dormindo com a cabeça apoiada no ombro de Marley.

Kitty interrompeu a caminhada, tirou o celular do bolso e tirou uma foto das duas. Marley encostou a cabeça na da menina e sorriu olhando para a câmera.

– Vou deixar como fundo de tela. – sorriu, voltando a andar.

Marley a abraçou de lado novamente.

– Prometo que não te solto nunca mais – sussurrou no ouvido da loira.

Kitty sorriu, mas não soube o que responder.