Apenas, Catherine escrita por A pequena sonhadora


Capítulo 16
Décima Quinta Parte




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Primeiro de Maio.

Uma das primeiras decisões que tomei ao chegar aqui foi que eu iria para Nova Iorque com meu pai e a Suzana. Mas a cada dia que se passava no Brasil, mais me passava à hipótese de ficar aqui. E era bem legal morar junto com a Mary. Ela iria começar o cursinho pré-vestibular e seus planos eram ficar morando aqui mesmo e fazer faculdade de designer de moda. Mas ela também cogitava voltar para Nova Iorque, e fazer faculdade lá. Sua carreira provavelmente seria bem melhor na cidade global da moda, mas ela gostava muito daqui e pela primeira vez estava conseguindo manter contato com a mãe que já não estava em outro continente de distancia da Mary. Ela então depositou toda confiança em mim, aonde eu fosse ela iria. O que pesava ainda mais minha decisão. E se a Mary me culpasse o resto de sua vida caso ela se arrependesse de não ter ido pra Nova Iorque?

Parte de mim queria muito ficar, a minha família toda estava aqui, as minhas amigas que eu não via há tempos estavam aqui e tudo que eu construí estava aqui, sem falar que eu moraria junto com a Suzana e meu pai e no momento eles estavam em lua de mel lá, além de atrapalhar toda a vida de casados deles caso fosse, ainda teria que pagar a faculdade, ou concorrer ao método de bolsas o que era muito difícil para mim que sempre morei no Brasil, além de ter que passar por toda a parte burocrática de renovar o visto para quatro anos. E eu estava gostando muito da vida que estava levando. Eu e a Mary íamos toda manhã pra academia, de vez em quando eu testava meus dotes na cozinha, mas sempre íamos ao restaurante que só vende comidinhas fitness que fica do lado da academia, e a noite o nosso programa com nossos amigos era garantido. Eu já havia saído pra quase todos os lugares que sentia saudade, além de rever a Raquel no shopping onde atualizamos nossa lista de piores filmes vistos no cinema e matei a saudade da Samantha, aliás, da Samantha e do Nicolás, já que os dois só andavam juntos, e todos meus antigos amigos e familiares, até mesmo de ficar a sexta a noite toda comendo o famoso bolo de cenoura com chocolate da vovó. Inclusive, em uma sexta na casa da minha vó, comemorando o aniversário do meu priminho, eu sentei junto com minha tia e minha avó e ficamos por horas lembrando momentos vivenciados com a minha mãe. E entre um papo e outro, elas me contaram novamente como meus pais haviam se conhecido.

– Eu me lembro direitinho dessa época . - Minha tia contou.

‘’ Eu e sua mãe, e todas as meninas da escola éramos perdidamente apaixonadas pelo garanhão da escola e naquela época, o que parece há uma eternidade comparada aos dias de hoje, não existiam tantos casais assim como se vê hoje em dia em qualquer lugar que se vai. Era muito difícil você ver um casal perfeito por ai, ninguém saia namorando com o primeiro que pedisse como vejo hoje em dia. E eu me lembro também, que toda primeira sexta de cada mês, a programação era garantida, a cidade toda se reunia num baile de máscara que tinha.’’

– Inclusive foi até que eu e seu avo nos conhecemos! – Minha vó contou.

‘’Só que naquela época os bailes ainda eram na quinta-feira, e era proibida a entrada sem paletó. E lá estava eu linda com meu vestido de festa, toda arrumada dançando com o meu namorado na época, mas acontece que ele me traiu naquela festa. Com uma amiga próxima a mim, aliás, inimiga, uma jararaca. ‘’

Nesse momento eu tive que rir, isso só podia ser um carma de família mesmo.

– Mas e o que a senhora fez vovó?

– O que eu já deveria ter feito, é claro! Liguei para o seu avo, que era primo do meu namorado e pedi que ele fosse ao baile. E ele fez de tudo pra ir, mas esqueceu do paletó em casa e os seguranças de lá o barraram na entrada, não deixaram entrar de jeito nenhum. Ele, que não sabia de nada, até chegou a pedir o paletó emprestado do primo, que não emprestou de jeito nenhum pois já sabia que se ele entrasse eu iria ficar com ele. E ele até chegou voltar em casa, mas quando ele voltou, eu já tinha ido embora acreditando que ele não quis ir. E eu fiquei com ódio mortal dos dois, da família inteirinha deles. E naquela época eu me mudei e foi aquele alvoroço na cidade toda, o que mais se comentavam na época foi que o Romário havia traído a Alice. E só depois de quase cinco anos foi que eu viajei pra visitar minha prima e fiquei duas semanas aqui e bem na quinta ela queria que eu fosse ao baile com ela, mas devido as minhas más recordações eu não fui. Mas tudo já estava esquematizado pelo seu avo que iria me pedir em namoro lá. Porém, como eu não fui ele veio até a casa da minha tia. E foi muito romântico. Eu acabei indo morar na casa da minha tia pra poder ficar mais perto dele, porque namorar por cartas era horrível. E aqui estamos casados há quase 40 anos.

– Então se algum dia um namorado meu me trair eu devo ficar com o primo dele vovó?

– Com o primo, o amigo, o inimigo e quem mais você quiser!

Rimos e ela continuou a contar histórias daquela época à noite quase toda. A minha avó era mesmo a melhor!

Em um sábado, quando eu finalmente não tinha nada programado, o Marcelo-que praticamente estava morando no meu apartamento já que ele não aguentava mais levar bronca dos pais por chegar tarde em casa, e tarde eu digo umas seis da manhã, já que ele saia de casa quando a noite chegava e só voltava quando o sol já estava aparecendo. Porém quando ele dormia na minha casa, seus pais não falavam nada, pois acreditavam que a gente namorava mesmo a gente negando. – Me chamou para ir ao pico do montanhoso para ver o nascer do sol. Ele me pegou ás 3 da manhã em casa, junto com a Mary e chegando lá eles nos contou que o Gabrieu e mais uma turma de amigos deles também estavam indo. E eu não via o Gabrieu desde o casamento, estávamos até bem, o resto da noite foi ótima e ele até havia me deixado em casa. Mas eu não tinha contato com ele desde aquele dia e inclusive tinha conversado com a Mary por horas contando nossa história juntos.

– Mas você e Marcelo se beijaram bem na frente dele! Como assim vocês estão amigos agora? O Marcelo não é amigo dele?

Eu me espantei naquela hora, eu realmente nem lembrava que havia ficado com o Marcelo na hora da valsa. Uau! A gente sempre tentou se beijar em Orlando, e eu queria mesmo que desse certo, porque ele parecia o único menino que me entendia, tinha as mesmas manias e ideias que eu e compartilhava de séries a noite toda comigo. Tínhamos tudo para dar certo, mas quando a gente estava naquele clima sempre acontecia alguma coisa. Eu nunca tinha dado um beijo sequer na bochecha dele! E aquilo não foi tão estranho assim...

Expliquei pra Mary que eles não eram amigos e sim primos. E que eu não via nenhum problema, já que eu não tinha nada com o Gabrieu. E não era bem uma amizade, porque amizade mesmo só se pode considerar depois de anos de convivência com a pessoa, e eu até conhecia muitas coisas dele, mas ele havia mudado de todo aquele tempo pra cá, eu não sabia como era a vida dele agora e confesso que eu morria de curiosidade.

Assim que chegamos no pico eu conversei com algumas pessoas que conhecia e o Marcelo me apresentou a outras, mas como eu ainda não estava totalmente acordada, pois ainda eram quase cinco da manhã e meu humor nessas horas não é um dos melhores, resolvi ajudar a Melissa que estava arrumando os lanches na mesa improvisada que eles haviam montado. Enquanto ainda estávamos pegando os copos de dentro do carro, a Melissa parou e olhou para o celular, pouco tempo depois o Gabrieu chegou.

– Querem ajuda?

– Obrigada, mas nós já acabamos! E eu já estava indo me misturar com o pessoal, thau gente! – A Melissa disse, já saindo, o que me deixou um pouco constrangida porque eu já entendia a intenção dela.

Ele me ajudou com o restante e assim que acabamos ele me chamou pra sentar, pois o sol já ia nascer.

– Como você está Catherine? Já se habitou de volta no Brasil?

– Claro, aqui sempre vai ser o melhor lugar pra se estar. E você? Ainda pensa em sair daqui?

– Não, pelo menos não por agora... Mas você pensa em continuar aqui?

– Sim, inclusive eu queria conversar isso com você... Estava pensando em fazer faculdade de artes cênicas e...

– Sério? Ou você esta brincando? Porque se for à gente vai ficar horas aqui conversando, porque sério eu tenho muito a falar sobre isso.

Ri da empolgação dele e expliquei tudo o que havia acontecido desde então e ficamos um tempão falando sobre isso até o sol começar a nascer e todos virem pra perto para acompanhar. E por alguns segundos que a gente conseguiu sem falar nada deu para contemplar a beleza maravilhosa do nascer do sol, mas durou pouco tempo porque logo começaram os falatórios e eu queria ficar sozinha naquela hora pra pensar em qual decisão eu deveria tomar: ficar aqui e seguir o conselho do Gabrieu de fazer realmente faculdade de artes cênicas ou ir para Nova Iorque. Fui um pouco para o carro e liguei o som, começou a tocar velha e louca da Mallu Magalhães e a Mary veio logo atrás pra perguntar se eu estava bem, como ela amava a música a fiz cantar junto com migo.

–Vamos Mary, com migo: Nem vem tirar meu riso frouxo com algum conselho que hoje eu passei batom vermelho, eu tenho tido a alegria como dom, em cada canto vejo o lado bom...

Pouco tempo depois o Gabrieu também chegou pra saber se estava tudo bem e a Mary fez “o favor” de se retirar. Um silêncio se instaurou no ar, somente com o som do rádio. Até ele quebrar.

– Sabe, eu falava sério no casamento quando te pedi desculpas, eu...

– Gu, lembra quando a gente foi pra praia? Lembra do show e de tudo que aconteceu lá? Ás vezes eu me pego rindo daquele pequeno acidente que fez a gente ficar mais dias por lá. – Disse, o interrompendo. Já estava cansada daquilo, acho que eu sou a única aqui que não quer viver de passado mais. Todos me perguntam como que eu consigo perdoar ele, mesmo depois de tudo que ele fez, outros me acham louca por acharem ele um gato e dizer que no meu caso conversaria e esclareceria tudo, mas eu não quero isso, eu já estou farta deste assunto. Uma das coisas que minha mãe me ensinou, mesmo depois de ter morrido, foi que eu tenho que deixar no passado o que a ele pertence.

– Você... Você me chamou de Gu... – Ele disse muito tempo depois. Estava boquiaberto e extasiado com o que eu disse, como se eu tivesse ódio mortal dele. Isso tudo por culpa de comentários alheios que dizem que só porque a gente terminou, ou qualquer outro casal por ai que se separa que devemos ser inimigos um do outro. Acho que eles se esquecem de que antes da separação eu o amava, eu fui amiga dele, eu tive uma história com ele.

Rimos e continuamos por mais algum tempo lembrando os momentos que passamos juntos até o Marcelo chegar e nos chamar pra acabar de subir o pico a pé.

–Nem pensar, eu estou cansada!

– Então eu te levo de cavalinho, vem! – Ele disse me pegando e me levando até certa parte da subida porque claro que ele não conseguiria. Não pude deixar de ver o olhar que o Marcelo lançou pra gente durante esse momento.

Quando estávamos quase chegando, aproximei do Gabrieu que estava junto com o Pedro e lembrei eles do mirante que se parecia com a vista que tínhamos dali, claro que sem a praia. O Pedro ficou um pouco triste por se lembrar da Bia, mas lançou um sorriso grato e o Gabrieu me abraçou e disse no meu ouvido “A única coisa que me lembro é que naquele momento eu ganhei o melhor beijo da minha vida”.

Depois daquele dia e de tudo que aconteceu com o Gabriel eu me decidi a continuar no Brasil mesmo e começar o cursinho pré-vestibular junto com a Mary. Aqui era meu lugar.

2 de Fevereiro

Poxa diário! Quanto tempo eu não escrevo em você! Aconteceu tanta coisa por aqui... E eu tenho uma boa notícia pra te dar! Passei em artes cênicas! Na realidade não é na faculdade que eu queria, mas é na mesma que a do Gu, e ele fala muito bem de lá! Pelo menos eu vou ter alguém conhecido lá pra me ajudar! O que é muito estranho porque ele é meu ex namorado e agora é um dos meus melhores amigos...

Bom, deixa eu te atualizar: A Mary esta namorando com o João, irmão do Marcelo e agora ela vive na casa dele. A Samantha terminou com o Nicolás e agora o Nicolás virou o mesmo galinha de sempre. E como antes os dois dividiam o mesmo apartamento, após o término o Nicolás veio morar comigo.

O Marcelo foi aceito em uma faculdade em outro estado e você precisa ver como que foi a despedida dele... Acho melhor te contar tudo!

Eu e a Mary fazíamos cursinho e jogamos a cara nos livros, já ele que sempre foi muito inteligente, já contava que ia passar direto, e passou, só que em outro estado já que aqui tem apenas uma faculdade com o curso que ele quer e ele não foi aceito nela. Ele iria viajar no domingo e planejamos uma festa surpresa pra ele na sexta, só que ele acabou descobrindo e acabou com toda a graça. E ele também disse que não queria porque ia ser muito triste. Mas mesmo assim, no domingo, um pouco antes do embarque, o aeroporto estava lotado. Todos estavam ali pra se despedir dele. Ele fez um pequeno discurso e me fez chorar horrores. Abracei a dona Marcia que estava se debulhando em lágrimas ao ver o filhinho mais novo dela partir. E ele foi se despedindo de cada um e me deixando por último, o que na hora não me agradou muito, porém quando chegou a minha vez ele falou que tinha deixado o melhor para o final, o que arrancou gritos de todos.

Ele me puxou um pouco para o canto para que ninguém ouvisse, e antes que dissesse algo eu comecei a chorar e a falar em meio as lagrimas.

– Você sabe que você vai fazer muita falta aqui ne? Principalmente pra mim que te via todo santo dia! Vou sentir falta das suas implicâncias, das suas broncas, do seu amor exagerado por mim, do seu perfume maravilhoso que quando passa erradia o cheiro por todo lugar. Vou sentir saudades de te ligar todo dia pra saber de vai dormir na minha casa, de comprar bobagens só pra você porque eu e a Mary não podemos comer. Vou sentir saudade de brigar por bobagens com você e também de você me ligar de madrugada pra pedir desculpas porque não consegue dormir brigado comigo.

Ele riu e sussurrou no meu ouvido:

– Você sabe o quanto você é importante pra mim, branquela, e eu sempre te lembro disso todos os dias. Vou sentir muitas saudades suas, e eu queria te dizer que eu não me esqueço daquela noite na sua casa, assim que você chegou e eu te pedi em namoro... Eu te amo muito, promete que vai me esperar?

Afastei-me um pouco e olhei em seus olhos, aquilo era sério?

– Prometo...


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