Ladrões de Almas escrita por Fleur


Capítulo 9
Sentimentos




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Não importava sobre qual assunto Frederick discutisse, minha mente estava praguejando o imbecil que havia me colocado naquela situação. Minhas mãos suadas estavam apertando o banco de couro e meus olhos fitavam além da janela. Imaginei o que aconteceria naquela noite, durante minutos esperei qualquer ato violento ou diferente dele, mas a única coisa que ele fez foi dirigir e falar sobre alguma baboseira que ele gostava. Por fim, ele notou que eu não estava nem um pouco à vontade.
– Fiz mal em te convidar? - Frederick me olhou rapidamente.
– Hm? - Virei-me ainda tentando manter minha indiferença.
– Essa foi sua primeira palavra desde que entrou no carro. - Ele suspirou irritado. - Eu sei que o que fiz ontem foi completamente idiota...
– Não precisa se desculpar nem nada. - Dei de ombros tentando encerrar o assunto. - Não foi o primeiro a fugir depois de me beijar, é sério.
– Eu quero fazer isso mais vezes.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Frederick já havia saído do carro. Correu até minha porta e a abriu, estendendo a mão para mim. A segurei e logo o acompanhei. Entramos em silêncio no restaurante que estava em parte vazio. Andamos até a recepção e ele pediu uma mesa mais reservada, distante dos olhares das pessoas que ali estavam. Uma das garçonetes nos direcionou à uma sala privada e gesticulou para que entrássemos.

Não havia decoração nas paredes, apenas o fato delas serem feitas de bambu melhorava o aspecto. No chão, haviam algumas velas aromatizadas, dando ao local um ar romântico e um calor aconchegante. Nos sentamos sobre o zabuton, uma especie de almofada, e logo fomos servidos com algumas comidas orientais.
– Vai aprender a usar o hashi ou prefere que eu te alimente? - Perguntou-me sarcasticamente.
– Acho melhor eu aprender. - Dei de ombros sorrindo.

Frederick mostrou-me a forma de utilizar o hashi calmamente. Saboreamos um pouco de cada coisa: Sushi, sashimi e até saquê.
– Há uma tradição que consiste em servir e deixar transbordar um pouco da bebida, acreditam que traz sorte. - Disse ele enquanto fazia o que ditava.

Bebemos um pouco do saquê e logo voltamos à recepção. Frederick não aceitou qualquer quantia minha e logo após pagar virou-me para a saída e me levou de volta ao carro.
– Estamos em pleno século XXI, Frederick. - Retruquei.
– Mas isso não significa que eu tenha que deixar você pagar nosso jantar.
– Você é um cara com uma mente pré-histórica. - Disse por fim.
– E você é muito teimosa. - Ele retrucou. - E feminista.
– Quero direitos iguais e isso não me faz ser teimosa.
– E eu quero mais um beijo seu. - Frederick se virou para mim quando já estávamos dentro do carro.
– Querer não significa poder. - Cruzei os braços.
– Então, não vai pagar jantar algum. - Ele começou a dirigir e logo saímos do estacionamento.

Passamos boa parte do percurso quietos. Frederick estacionou em frente a minha garagem. Continuei imóvel, esperando que ele destravasse as portas. Haviam mil pensamentos circulando em minha mente.
– Espero que tenha gostado do jantar. - Ele sussurrou enquanto me fitava e tirava o cinto de segurança. - Poderíamos repetir se você quiser.
– Claro. Foi ótimo. - Assenti.

Embora preferisse um sanduíche bem recheado e uma coca com gelo picado, a comida não era algo que eu não iria querer provar novamente.
– Annie, posso te pedir uma coisa?

O interior do carro de Frederick estava tão escuro que quase não podia vê-lo. Senti sua respiração próxima ao meu rosto e logo suas mãos me tocaram juntamente com aqueles lábios que eu já havia provado. Não fora nada parecido como a primeira vez que nos beijamos, aquilo era único e só nós sabíamos o quanto havia nos afetado.

Em rompante Frederick tirou meu cinto de segurança e me puxou para si. Não ouve outro som naquele momento além o dos nossos lábios, trêmulos e ansiosos um pelo outro. Moveu o banco para trás, deixando espaço e me encaixando sobre seu colo, entre seu corpo e o volante. As mãos quentes dele passeavam em minhas costas, tentando achar um modo de abrir meu vestido. Após alguns segundos, desistiu e desceu as mãos para minhas pernas tentando, dessa vez, subí-lo. Com um movimento desajeitado e assustado, encostei-me ao volante fazendo a buzina ressoar pela rua vazia. Frederick me puxou novamente para seu corpo, parando o som estridente. Por fim, interrompi o beijo constrangida.
– Isso não foi um pedido, Frederick. - Disse firmemente enquanto saía de seu colo. - É melhor eu ir.

Ouvi Frederick suspirar e logo as portas foram destravadas. Peguei meu trench coat e saí rapidamente do carro. Ele estacionou em frente à própria casa enquanto eu atravessava o jardim. Ao chegar à porta, dei-me conta de que não estava mais com a chave. Apertei a campainha na esperança de que Melissa já estivesse em casa. Em pouco tempo a maçaneta da porta girou. Entrei confusa e logo vi Tony encostado na parede da cozinha.
– Como você...?
– Antes de irmos à escola eu peguei a chave com você, eu havia esquecido a mochila. - Disse ele enquanto cruzava os braços.
– O que houve? - Entrei e logo fechei a porta. - Esta chateado com algo?
– Eu estava ouvindo vocês... Lembra-se da escuta espiã?
– Não lembrava. - Subi rapidamente a escada.

Ele me acompanhou ao quarto em silêncio. Deixei minha bolsa jogada em um canto do quarto e pendurei meu casaco atrás da porta. Tony sentou-se em minha cama e permaneceu me olhando. Suspirei inquieta ao não conseguir abrir o vestido.
– Pode me ajudar com isso? - Virei-me de costas enquanto prendia o cabelo.

Ele se aproximou em resposta, logo começou a descer o zíper, deixando minhas costas nuas. Suas mãos tocaram meus ombros e então pude sentir seu hálito quente próximo à minha orelha. Afastei-me rapidamente dele.
– Esta aqui há quanto tempo? - Perguntei enquanto trocava de roupa no closet.
– Assim que você saiu com ele, eu vim direto para sua casa.
– E ouviu toda a conversa... - Retruquei.

Vesti uma calça de malha cinza com uma blusa qualquer surrada e voltei ao quarto. Tony estava agachado próximo à janela, mexendo em alguns fios ligados à câmera. Sentei-me na cama e procurei pela gravação mais recente.
– Alguma novidade? - Falei sem esperança. - E o homem que foi atacado ontem?
– Tudo limpo. - Ele se ergueu e sentou ao meu lado. - Não há sinal dele nas gravações.
– Deveríamos ter feito alguma coisa.
– Claro! - Disse irônico. - Vamos até lá e dizer: "Boa noite, não queremos interrompê-los, mas nós estávamos espiando pela janela e vimos quando você arremessou um cara para dentro de sua casa. Não que isso seja da nossa conta, mas..."

Respirei fundo. Ele tinha razão, não poderíamos fazer absolutamente nada naquele momento. Após se acalmar, Tony suspirou.
– Annie. - Ele começou a afagar minhas costas. - Fica fria, ok?
– Ok. - Assenti.

Naquele momento, achei que iria vomitar. Minha mente estava dando voltas. Medo, angústia, desejo. Talvez fosse melhor eu pôr pra fora tudo o que eu estava sentindo. Eu precisava vomitar meus sentimentos, meu coração.


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Notas finais do capítulo

Obrigada aos que continuam aguardando novos capítulos e também aos que começaram recentemente a acompanhar a história. Peço as mais sinceras desculpas pela minha ausência, o fato é que não tive inspiração para voltar a escrever... Por fim, espero que tenha gostado.



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