Assim como em outras vezes, cheguei à escola em passos lentos e pensativos. Tive a impressão de que alguém me chamava, mas estava tão perdido em pensamentos que continuei caminhando... Acredito que tenha me confundido. Tudo parecia como antes, tendo apenas a monotonia como fiel acompanhante.

Sentei na minha carteira e tirei logo o caderno da mochila. O meu professor começava a arrumar, de um jeito todo apressado e desorganizado, todas as coisas em cima da sua mesa, enquanto os outros alunos ajeitavam-se em suas carteiras. Não sei como tudo aconteceu, mas só me lembro que senti vontade de levantar o meu olhar, até porque eu já estava durante um bom tempo fazendo um esboço qualquer no caderno.

Surpresa? Seria essa a palavra certa para descrever minha reação? Fiquei alguns segundos olhando para ela. Azuki Miho parecia tão bonita. Acho que ela notou o modo como eu olhava-a. Espero que eu não tenha parecido um idiota. Já faz um tempo que estamos na mesma sala, mas sempre acabo ficando com uma cara surpresa quando a vejo. Deve ser por causa daquele belo olhar que ela possui...

A aula estava tão chata. Não sei se era a própria matéria ou eu apenas estava desinteressado. Mas o que isso importava no momento? A única coisa em que eu pensava era naquele belo olhar.

Fiquei nisso durante todo o período na escola. Às vezes arriscava um olhar. Em outros momentos continuava desenhando em meu caderno. Acredito que quem olhasse para mim veria apenas um aluno irresponsável e desinteressado. Mas o fato é que eu estava vagando na minha mente, procurando encontrar a coragem para dizer tudo o que sinto para ela.

Faltavam apenas alguns minutos para a aula terminar. “Tenho que dizer agora”, foi o que pensei. Não sei como consegui ter coragem para decidir algo assim. Até mesmo meu olhar, algumas vezes tão pessimista, foi trocado por um outro mais positivo e esperançoso. Acho que fiquei tão empolgado que nem percebi que a aula já tinha terminado. Arrumei tudo o que tinha na mesa apressadamente, enquanto todos começavam a levantar de suas carteiras. Quando terminei, olhei para todos os lados, para a multidão dos alunos que saíram da sala, mas ela já não estava mais lá. Ela saiu tão rápido que não consegui dizer o que queria. Ela deve ter os seus motivos para fazer isso.

-Um dia vou conseguir - Falei em um tom bem baixo, com o pouco de otimismo que restava.

Que pena que esse mesmo otimismo não durou muito, já que ao chegar em casa notei que tinha esquecido um dos cadernos... Ah, por que às vezes eu sou tão distraído?