Eu aqui e tu ali escrita por Mari Andreza


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ele procurava por todos os cantos, sua filha berrava sobre a cadeira.

- Se acalme, Chiquinha. Com seus berros a pobre da barata já fugiu.

- Será, papai? – a criança tremia sobre a cadeira. Seu Madruga olhava embaixo do sofá, depois dentro do armário.

- Não vejo nem sinal de inseto algum.

Chiquinha desceu da cadeira, ainda temerosa, olhou para seu pai se sentando à mesa lendo o jornal.

- Me dá quatro centavos para comprar um pirulito, papaizinho lindo, meu amor... meu...

- Tá... tá... Pode ir parando com essa chantagem. Aproveita que hoje eu tô bondoso. – Madruga colocou a moeda sobre a palma da mão da filha que estava estendida com tanta ansiedade. Chiquinha murchou quando viu que se tratava de um centavo.

- Mas, pai... Com esse dinheiro não dá nem pra comprar o palito.

- É o que eu tenho, querida.

- Mas, pai...

- Sem "mas"... Vá antes que eu pegue de volta.

- buaaaaaaaaaaa buaaaaaaaaaaaaaa buaaaaaaaa.

Chiquinha saiu gritando e berrando pela vila, passava a mão no bumbum como se alguém houvesse lhe agredido. O choro era irritante. Dona Florinda ficou possessa, aquele malandro, além de vagabundo, ainda batia na própria filha. Mas aquilo não ficaria assim. Foi pisando duro até a porta de Seu Madruga, bateu com todas as forças até ele abrir.

- Pois não? – quando Seu Madruga viu quem se tratava, já se protegeu com os braços na frente do rosto. – Não fui eu, eu juro...

- Do que você esta falando? Vim aqui para falar ao senhor para ter vergonha na cara por bater numa pobre criança.

Seu Madruga ficara confuso. Ele, se bem lembrava, não havia batido no Kiko. Ficou a pensar por alguns segundos ate a ladainha de Dona Florinda cessar. Ela já vinha fazer sua habitual fofoca sem sentido.

- Mas hoje eu nem vi seu filho...

- Mas não estou falando de meu tesouro, estou falando de Chiquinha.

Seu Madruga a olhou abismado.

- Quem bateu em Chiquinha?

- O senhor.

- Eu não. – seu Madruga tentou se lembrar, mas realmente não havia batido nela.

- Como não? Eu a vi sair agora há pouco passando, as pequenas mãos sobre o bumbum e chorando copiosamente.

Seu Madruga riu, abriu mais a porta e fez Dona Florinda entrar.

- Ela queria dinheiro para comprar um pirulito, mas como sou pobre, um coitado, um quase sem teto...

- Ora, vamos, Seu Madruga, isso nunca me comoveu.

- Com certeza, insensível – murmurou Madruga.

- O que disse?

- Nada, nada. Como eu ia dizendo, eu não tinha o dinheiro para dar a ela, então ela saiu gritando e chorando, porque apenas lhe dei um centavo.

- Ah... - Dona Florinda olhou o chão, pensando na burrada que havia feito ao ter ido lá para perturbar seu Madruga sem ele nem ter culpa...

- Então, seu Madruga, eu peço... – Dona Florinda vira a barata lá. Ela era asquerosa, nojenta. A primeira ação foi pular no colo do homem a sua frente.

Seu Madruga sentiu dona Florinda se agarrar em seu pescoço, era como o coro dos anjos. Como podia? Ela era repugnante. Chata. Mas sempre que ela se aproximava seu coração disparava. Vai entender, como já diziam, o coração tem razões que a razão ignora.

Dona Florinda sentiu os braços dele estreitar a sua volta. Ficou congelada, sem saber o que fazer, seu sangue parou de correr nas veias por alguns segundos...

Mas durara pouco, antes mesmo de dizer sobre a barata, ela fugira...

- Como sempre... – sussurrou ele – Sempre fugindo. – não lhe dói as pernas fugir todas as noites de meus sonhos, e até quando estou acordado tu foges.

Seu Madruga se voltou para a sala, e pisou sobre o inseto, sem nem mesmo vê-lo no chão. Olhou para baixo resmungando.

- Um dia é da caça, outro do caçador.


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