Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd
Notas iniciais do capítulo
POV Narrador
Obs.: Reprodução (adaptada) da carta de Lei Imperial n.º 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888, foi a lei que extinguiu a escravidão no Brasil.
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 3.353, DE 13 DE MAIO DE 1888.
Declara extinta a escravidão no Brasil.
A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.
Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.
Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comercio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.
Princesa Imperial Regente.
Renée foi diminuindo o tom de voz ao chegar no final da carta. Isabella, que ainda não tinha visto Renée lendo, ficou emocionada mais em vê-la ler do que com o texto lido.
─ Chama-se Lei Áurea. – Edward começou a explicar, enquanto Isabella pegava a carta das mãos trêmulas de Renée, para ler. – Esta lei nasceu de um projeto apresentado, por Rodrigo Auggusto da Silva, ministro da agricultura do Gabinete ministerial. Estava sendo votada na Câmara Geral e após aprovada foi enviada ao Senado do Império. Eu estava acompanhando as notícias pelos jornais e alguns amigos ligados diretamente ao movimento abolicionista da capital.
─ Então, fora aprovado no Senado Imperial também. – Isabella falou ainda olhando para a carta.
─ E assinado pela Princesa Isabel...
─ A Redentora. – todos se viraram para olhar para Raquel que estava parada feito estátua com os olhos arregalados.
Tanto Raquel quanto Renée tinham familiares e amigos em outras fazendas que ainda viviam como escravos e muitos sob um jugo pesado de dor e humilhação. A abolição da escravatura, mesmo que alguns estados do Brasil já tivessem libertos seus escravos, caiu como uma chuva abençoada em meio a seca.
É evidente que nem todos os fazendeiros e outrem que obtinham seus escravos, tiveram a mesma brilhante ideia de Edward, que conseguira manter os alforriados dentro de sua propriedade lhe dando condições de vida digna e trabalho.
Muitos escravos também se viram sem saber o que fazer com tal liberdade e quando não caíam no crime, acabavam se submetendo a condições de trabalho quase tão indignas quanto a escravidão em que vivia.
Porém era um grande passo para o país e mais uma vitória a se comemorar entre aqueles que apoiavam a extinção da escravidão.
Edward, depois que as autoridades se foram, resolveu realizar uma grande festa em comemoração à abolição da escravatura. Uma festa no estilo das que faziam na senzala, ao ar livre, porém onde todos, brancos e negros, homens, mulheres e crianças pudessem participar juntamente.
Enviou cartas a seus amigos e todos das redondezas que quisessem participar da comemoração. Jasper e Alice, já sabendo da nova, chegaram no Engenho no final do dia para se juntarem a Edward e Isabella nesse dia tão especial.
─ Começamos os preparativos para a festa, será uma semana inteira de comemoração. – Isabella falou animada para Alice após um longo abraço.
─ Sinhá...
─ Sinhá, não! Chame-me pelo nome, Alice! Aliás já era isso que te pedia muito antes desta lei áurea, somos amigas, não somos?
─ Desculpe-me. – Alice segurou as mãos de Isabella. – Somos mais que amigas, somos irmãs.
As duas se abraçaram novamente e lágrimas rolaram dos olhos de ambas.
17/06/1888.
Edward e Isabella, aproveitando a companhia de Jasper e Alice, foram à chácara para avaliar pertences e pôr em pratica a ideia de reformá-la e montar uma classe de alfabetização.
─ Que maleta é esta, Edward?
Isabella estava intrigada com o conteúdo da maleta que Edward teimava em manter em segredo. Ele passara esta última semana, se trancando na biblioteca e fazendo desenhos e pinturas, as quais, não permitia que Isabella visse, alegando que era uma surpresa.
─ É o que estás pensando, sim, sua curiosa. – Edward falou sorrindo retirando a maleta da diligência e segurando-a junto ao corpo. – São alguns desenhos, mas... – ele parou mordendo o canto da boca e sorriu. – Somente os verá no momento apropriado. – ele fez uma mesura e ofereceu o braço para ela.
─ Não entendo por que tanto segredo! Oras! – Isabella falou balançando a cabeça e pegando-lhe do braço. – Sabes que voltamos amanhã logo cedo para o Engenho, não gosto da ideia de ficar tanto tempo longe das meninas. Por que não me mostras logo isso?
Edward riu da ansiedade quase histérica de sua esposa.
─ Não se afobes, meu amor. Será que é proibido um marido querer fazer algo surpreendente para sua esposa? Afinal, tu bem se lembras que hoje é uma data toda especial, hoje faz exatos cinco anos da nossa primeira vez. Será o meu presente. – Edward deu uma piscadela para ela.
Isabella olhou para ele com os olhos brilhando. Ela de fato se lembrava bem mesmo deste dia e também era a primeira vez que ele se referia a ela desta forma. “Esposa”. Eles haviam se casado no último dia da festa no Engenho e trocado alianças e juras de amor perante todos.
Já fazia um mês, mas ela recordava com alegria e emoção da surpresa que teve ao ver toda a área da senzala ornamentada com flores do campo, o enorme bolo de confeiteiro enfeitado com frutas tropicais, feito pelas mãos da habilidosa Renée e o buquê de rosas vermelhas feito por Alice. Eles ainda não podiam se casar pelas leis dos homens mas, se casaram pelas leis de Deus e do amor.
O dia passou rápido e agitado, Isabella e Alice trataram de resolver o que jogariam fora e o que se manteria na casa. Jasper e Edward saíram após o almoço e sumiram pelo resto dia.
Alice e Isabella, já de banho tomadas, tomavam vinho na varanda, enquanto conversavam e esperavam seus respectivos maridos.
─ Tantas lembranças nessa chácara. A maior delas é de minha mãe. – Isabella falou mirando o céu e deu uma golada no vinho.
─ Dona Esme deve de tá muito feliz vendo tudo isso lá do céu.
─ Acredito que meu pai deve estar agradecendo não estar vivo para ver isso.
Alice olhou para Isabella e ao ver que esta prendia um sorriso, riu largamente do comentário balançando a cabeça.
─ O vinho já tá fazendo efeito! – Alice falou e ergueu a taça.
Isabella sorriu e encostou sua taça na dela.
─ Um brinde à liberdade!
─ Um brinde à felicidade!
Logo após brindarem, olharam ansiosas para os dois cavalheiros que chegavam a todo galope, sob os últimos raios de sol do fim da tarde.
─ Senhoras? – Edward cumprimentou as duas após Jasper, parando um pouco mais ao beijar a mão de Isabella.
Continha em seu olhar um fogo que Isabella soube reconhecer. Suas bochechas automaticamente ficaram avermelhadas. Seja lá o que fosse que Edward estivesse “aprontando”, Isabella sabia que era algo de que iria gostar e muito, por sinal.
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Este capítulo termina (e continua no próximo) no final do dia 17/06/1888. 1 mês e 4 dias dps da abolição da escravatura.