Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 43
Castigo de príncipe


Notas iniciais do capítulo

POV Narrador



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Isabella leu e releu o bilhete de Edward diversas vezes. Às vezes nem lia, ficava só apreciando sua caligrafia.

“Meu rouxinol, esta noite se resolverá sobre nossa tão sonhada fuga. Deixo-te na companhia dos anjos para lhe darem o beijo de boa noite. Amanhã será um novo dia e em breve estaremos juntos e felizes, libertos de qualquer corrente que nos impeça. Guarde meu amor em seu coração e meu toque em suas lembranças.

Amo-te hoje e para sempre hei de amar.

Do seu, Rochester”.

─ Por que ele assinou com esse nome estranho, sinhazinha?

Isabella suspirou antes de responder.

─ Rochester é nosso “segredo interno”. Foi após a lida do romance Jane Eyre que eu tomei coragem de ir procura-lo.

Alice devolveu o bilhete para Isabella e sorriu.

─ Tudo vai se resolver. Logo vamos estar bem longe daqui, sinhazinha.

─ Ai, Alice... – Isabella esfregou o peito. – Por que estou com essa sensação amarga dentro de mim? Chego a estar com o estômago embrulhado! – sua voz era chorosa.

─ Não tem por que ficar assim, sinhazinha. Durma que logo amanhã chega e tudo terá passado.

Isabella se ajeitou debaixo das cobertas sentindo um calafrio. A noite estava muito fria e deixava as cobertas geladas, mas ela sentia que seu calafrio nada tinha a ver com isso. Tinha a ver com Edward. Seus pensamentos vagavam misturando-se a lembranças recentes e distantes. A imagem de Jacob lhe apareceu sorrindo, de repente, e ela fechou os olhos sorrindo de volta. “Amanhã estará um lindo dia ensolarado” – repetiu baixinho e com uma lágrima escorrendo do olho, adormeceu.

06/07/1883. Sexta-feira.

Alice demorou a entender que estavam tacando pedras na janela. Levantou-se de sua cama no chão, olhou para Isabella, que apesar de se mexer muito ainda dormia e foi abrir a janela. Seria Edward? Ou Jasper?

─ Rosalie?! – exclamou com perturbação.

Rosalie estava em pé numa charrete, segurando duas pedrinhas, e mais três escravos estavam com ela.

─ Alice, preciso falá com a sinhazinha, urgente! – ela tentou falar num tom baixo, mas sua voz estava esganiçada.

─ Ora essa! Já num basta aquele dia o que tu fez? Agora vem perturbar o sono da sinhazinha! Vá arrumar o que fazer Rosalie! – Alice já ia fechar a janela quando ela falou.

─ É Edward! – e as lágrimas começaram a rolar.

Alice gelou.

─ O que tem o Edward? – Isabella apareceu puxando uma banda da janela das mãos de Alice.

─ Ed-Edward...

─ Fale logo!

─ Edward tá no tronco e só a sinhazinha pode tirar ele de lá.

Alice deixou escapar um som de susto e pôs as mãos tapando a boca.

─ Isso só pode ser uma infeliz brincadeira, Rosalie. Não brinques comigo ou...

─ Valha-me Deus! Que eu caia morta por um raio se isso fosse brincadeira, sinhazinha! – as lágrimas rolavam e havia um desespero evidente em sua voz.

Isabella olhou para os outros escravos com os rostos entristecidos, mas incapazes de levantar o olhar para sua sinhá. Olhou para Alice que ainda tapava a boca e tinha os olhos marejados.

─ Venham, andem! Ajudem-me a descer.

─ Sinhazinha, não! O seu pé...

─ Meu pé já está bom. – ela sentou-se no parapeito da janela e ergueu os braços para os dois escravos que vieram até ela. – E tu, fiques aí para o caso de minha mãe vir a precisar.

Os dois escravos acomodaram Isabella na charrete ao lado de Rosalie e ficaram em pé atrás enquanto o outro chicoteava o cavalo para andar.

Rosalie começou a contar para Isabella que o capitão do mato e o feitor estavam com ordens expressas para pegar o príncipe do quilombo quando ele aparecesse. Tinham feito armadilhas e tinham informantes dentro do quilombo. Isabella sentiu seu peito apertar, Edward havia mentido para ela. Mas isso não importava agora, ele precisava de ajuda e ela iria salvá-lo.

Ao chegarem próximos a área da senzala onde ficavam os troncos, Isabella ouviu um grito. Era Edward. Tentou ficar de pé na charrete mas tonteou.

─ A sinhazinha tá bem?

Isabella assentiu e pediu ajuda para descer, seu tornozelo ainda doía um pouco mas ela conseguia andar sem mancar muito. Andou o mais depressa que conseguia, quase correndo, ainda estava com seu vestido de dormir, mas isso era o que menos importava. Seu coração parou ao contornar a cerca e dar de cara com a cena.

Edward algemado no tronco, os pés pendurados, as costas sangrentas, a calça de flanela, embolada nas pernas na altura dos joelhos, todo sujo de terra e lama. Ali Isabella reconheceu a verdadeira condição de Edward, aquela que ela não conseguia enxergar, não só por seu amor, mas também, por toda sua elegância e sabedoria, e infelizmente, também por sua pele branca. Edward era um escravo, corria sangue negro em suas veias e ela o amava.

─ Pare! – gritou correndo e se jogou entre a chibata do feitor e as costas de Edward.

No reflexo, ela colocou o braço na frente do rosto e levou uma chibatada que cortou seu antebraço na hora. Ela pode constatar a diferença da chibata de Edward, aquela apenas com tiras macias de couro fino, da chibata do feitor com tiras grossas de couro cru e bilhas de ferro na ponta.

─ Mas o que é isso? – o feitor se perguntou se dando conta de quem era.

─ Não dê mais uma chibata sequer em Edward. – ela disse cada palavra pausada, tentando engolir o choro que vinha em sua garganta.

─ Olha a sinhazinha vai me desculpar mais isso é ordem do senhor seu pai e...

─ Meu pai não está aqui! Deve de obedecer as minhas ordens! – falou com autoridade.

Os escravos que antes estavam de costas para a cena pois se recusavam a ver Edward apanhando, agora começavam a se virar para ver a cena.

─ Sinhazinha, saia daí. Isso não é lugar pra moça direita. Deixe acabar meu serviço. O príncipe tem que ter a sua lição seja ele quem for...

Isabella olhou com os olhos cheios de lágrimas para Edward. Ele parecia ter perdido os sentidos. Pedaços de carne estavam sobressaltados nas costas mostrando feridas abertas. Isabella sentiu ânsia de vomito vendo aquilo, mas ela tinha que ser forte, Edward precisava dela e ela não iria abandoná-lo.

─ Então chega! Já teve o bastante! Se quiseres continuar a bater nele terás que bater em nós dois. – ela ergueu o corpo.

─ Embry, Jasper, tirem a sinhazinha daqui! – o feitor começava a perder a pouca paciência que tinha.

Os escravos se movimentaram apenas para cruzar os braços.

─ Endoideceram? Tirem-na daqui é uma ordem! – ele falou como que para que qualquer outro o fizesse.

Os escravos, um a um, foram cruzando os braços. O feitor olhou em volta incrédulo. Isabella ficou emocionada.

─ Arre! Com todo respeito, eu num vou deixar de cumprir a ordem do patrão por causa de uma sinhazinha mimada! A sinhazinha que se resolva com seu pai!

O feitor puxou o pulso de Isabella, mas não esperava a força que ela tinha. Ela se jogou no chão agarrando com o braço direito a parte debaixo do tronco, perto dos pés de Edward e apertou os olhos concentrando sua força enquanto ele a puxava totalmente sem jeito e sem ajuda.

─ Mas o que está acontecendo aqui? – uma voz firme perguntou em meio a trotes de cavalo.

Isabella abriu um pouco os olhos e viu quando Mike rapidamente descia do cavalo.

─ Sinhô Mike. – o feitor largou o pulso de Isabella e fez um cumprimento com a cabeça.

Mike passou o olhar muito rápido para sua noiva no chão agarrada ao tronco e fingiu não se importar.

─ Posso saber o que se sucede feitor Marcus?

─ Pegamos o príncipe, sinhô! – falou cheio de orgulho de si mesmo.

Mike olhou para o tronco, já tinha reconhecido que era Edward, de longe, não era tão fácil assim se ter um escravo branco por aí.

─ Tu sabes quem é este? – falou entre dentes. – Conheces o escravo Edward?

O feitor Marcus coçou a cabeça. Não sabia quem era, apesar de já ter ouvido falar. Ele trabalhava para o Comendador, como feitor, há apenas cinco anos, tempo em que Edward fora ali pela última vez.

─ Sei não, senhor. Mas a ordem do comendador era pra qualquer um...

─ Não me interessa! – Mike apertou a ponte do nariz e fechou os olhos. – O escravo Edward é... afilhado de minha tia, dona Esme, esposa do Comendador, seu patrão. Tia esta que está acamada e muito doente. Portanto, se não queres tu mesmo ir parar no tronco por conta disso, obedeça minha ordem e mande tirá-lo do tronco, já!

─ Mas sinhô...

Isabella olhava para Mike com admiração, sem imaginar o que ele poderia estar pensando sobre o fato dela estar ali, prostrada aos pés de Edward. Ela olhou para sua roupa. Estava suja de sangue, sangue de Edward e agora suja de lama.

─ Agora! – Mike esbravejou.

O feitor trincou os dentes mas também não poderia desacatar uma ordem do senhor Mike, o Comendador havia enviado uma carta deixando claro que o senhor Mike estaria no comando na sua ausência. Fez um sinal que indicava soltura e rapidamente de seis a oito escravos correram para retirar Edward do tronco. Muito contrariado, o feitor Marcus passou a chave abrindo o cadeado das algemas.

Edward foi amparado pelos escravos e Isabella não conseguia enxergar direito por causa das lágrimas que não pararam de cair. Ela tentou se levantar agarrando na coxa dele, quando uma mão delicada a segurou.

─ Deixe com a gente. – Rosalie sussurrou para ela. – Volte a noite, vou deixar ele num lugar seguro e a sinhá pode ficar com ele se quiser.

Isabella apenas assentiu com a cabeça.

─ Vossemecê vem, senhorita Isabella? – Mike perguntou. Havia um cinismo na palavra senhorita que Isabella ignorou.

Ela assentiu e pegou a mão que ele esticava para ela. Ele a colocou no lombo do cavalo de lado e subiu sentando-se atrás dela. Todo o caminho até a casa grande não deram uma palavra sequer e ele corria com o cavalo como se estivesse cavalgando sozinho. Isabella não se importou, também queria chegar em casa o quanto antes.

─ Senhor Mike eu gostaria de agradecer... – Isabella começou assim que desceram do cavalo.

─ Não fiz por tu, fiz por minha tia. – Mike responde sem olhar para ela e entrega as rédeas do cavalo para o escravo que veio até ele.

─ Sim, eu sei. Mesmo assim...

─ O que há entre vocês, senhorita? O que há que a levaria a se expor e me expor daquela vil maneira? Espero que se acabe por aqui este teu apreço por esse escravo! A vergonha que me fizestes passar hoje, tentarei esquecer ou poderia somente por isso dar por encerrado esta história de casamento!

Isabella o olhou com um brilho de esperança. Seria a hora de dizer-lhe de uma vez que ela não o queria?

─ Senhor Mike...

─ Agora basta! – ele se exaltou erguendo o braço. – Seu pai volta da corte com todos os papeis do casamento prontos. Irei adiantar a data deste casório duma vez e partiremos para minha fazenda no Sul. É lá que viveremos. Não quero mais nenhuma palavra sobre o episódio de hoje. Não quero ver minha tia morrendo de desgosto. – cuspiu as palavras e subiu os degraus correndo, sem olhar para trás.


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