Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 15
♥ Miss. Eyre & Mr. Rochester ♥


Notas iniciais do capítulo

POV Narrador.
Obs.: Com direito a trechos do romance de Charlotte Brontë - Jane Eyre. É para se derreter de amor!



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Sinhazinha Isabella penteava-se meticulosamente. O espelho a sua frente jamais conseguiria refletir sua verdadeira imagem, aquela de seu interior, porém, ela sentia que algo estava diferente com ela. Abriu a gavetinha da penteadeira e retirou um adorno para o cabelo. Prendeu e ajeitou os cachos que fazia com grampos e escolheu com precisão o perfume que usaria.

Só de pensar em sair do quarto seu coração disparou. Ela sabia que Edward estava na sala, ouvira quando sua mãe o mandara chamar para que ele lesse para ela. Amarrou as fitinhas de cetim colorido que pendiam dos pulsos das mangas de seu vestido, apertou o busto e deu uma última conferida no espelho.

Não faltava nada. Esfregou os lábios para espalhar um pouco mais o brilho que trouxera da Europa e que tinha cheiro de morango. Aproximou-se do espelho, o banho de lama fizera muito bem a sua pele. Percebeu corar-se com a lembrança de mais cedo na cachoeira. Com tudo que vivera até hoje, ela podia se permitir se dar prazer pensando em quem ela quisesse, não poderia?

Isabella fechou a pequena válvula de gás de um dos luxuosos lustres de seu imenso quarto, colocou a mão na maçaneta de madrepérola, suspirou fundo fechando os olhos e saiu pelo corredor em direção à sala.

Antes mesmo que a sinhazinha adentrasse na sala, Edward sentiu uma fragrância diferente no ar. Notas amadeiradas e frutadas. Provavelmente algum perfume que a sinhazinha trouxera de Paris – pensou. Colocou suas anotações de lado e segurou as bordas do livro com mais firmeza. Conseguiria ele olhar para ela depois do que vira na cachoeira?

─ Peço vossas licenças. – Isabella fez uma leve reverência e sorriu. Sabia que era uma formalidade já em desuso, mas queria ver a expressão de Edward.

Dona Esme levantou-se e foi ao encontro da filha a trazendo para onde estava sentada. Edward relutou e ensaiou mentalmente uma expressão aceitável para tentar olhar a sinhazinha face a face. Isabella franziu o cenho de leve. O que ele tinha? Seu comportamento estava estranho.

─ Chegastes bem na hora de Edward continuar nossa leitura, minha filha! – Dona Esme como sempre entusiasmada. Sentou-se de volta a sua cadeira de balanço. Isabella permaneceu de pé ao lado da mãe e cruzou as mãos a frente do corpo.

Isabella usava um de seus vestidos mais volumosos, sabia que as mulheres aqui no Brasil ainda não estavam acostumadas com as recentes modas europeias, então aproveitava para usar seus vestidos mais antigos, apesar de ter encontrado belíssima moda quando fora à Corte fazer compras com sua mãe. Mesmo assim, não abandonou a tournure que dava graça e elegância em sua postura.

─ O que leem? – apesar do plural, a pergunta fora direcionada a Edward. Isabella se aproximou e pegou uma das folhas que estavam no sofá ao lado dele.

─ Ja-Jane Eyre... – Edward olhou rapidamente para ela e baixou os olhos como quem procurava algo muito interessante na página do livro em sua mão.

─ As irmãs Brontë?

Edward ergueu o olhar para ela.

─ Sim. Este é um romance de Charlotte Brontë. Conheces?

─ Ouvi algo sobre elas... – Isabella olhou novamente o papel em sua mão. – O que é isso?

─ São anotações sobre a história, sinhazinha Isabella.

─ Edward lê do original em inglês, mas tem dificuldades nos diálogos. – dona Esme sorriu compassiva.

─ É que este romance é narrado pela personagem e eu leio em terceira pessoa para a madrinha, para facilitar o entendimento do enredo. – Edward deu um sorriso tímido e voltou seus olhos para o livro.

─ E estamos justamente num momento crítico, creio eu que será agora que o senhor Rochester a pedirá em casamento! – dona Esme cruza as mãos e as aperta nos lábios.

Isabella acha graça da alegria de sua mãe e novamente analisa a estranha atitude de Edward. Seria timidez? Pouco provável.

─ Pois bem. Posso ajuda-lo com isso então. – ela falou já se sentando ao lado dele no sofá.

Edward virou o rosto para o lado e a encarou. Ela sorria simpaticamente com os lábios, mas seus olhos o desafiavam. Isabella era a primeira pessoa em anos que estava, nesse momento, fazendo Edward corar. Ele baixou os olhos para o livro.

─ Vejamos... – ele passou o dedo correndo pelas palavras. Isabella notou que alguns trechos estavam marcados à lápis.

─ Deixe-me ver. – ela tomou o livro de sua mão. – Pelo que percebi, as falas de Jane estão marcadas, é isto? – Edward assentiu. – Feito. Eu lerei as falas de Jane e tu lerás as de Edward, afinal seu nome deve ter sido inspirado neste personagem, não?

Edward apenas a encarou. O maxilar tensionado.

─ Excelente! – dona Esme bateu de leve no braço da cadeira e começou a se balançar lentamente em expectativa.

Edward ainda olhava Isabella como quem dizia “A senhorita só pode estar brincando”. Isabella apertou os lábios reprimindo um sorriso e se ajeitou mais para perto dele, colocando o livro para os dois. Ela segurou o lado direito enquanto ele segurava a ponta do lado esquerdo da capa do livro.

─ Tu começas. – ela disse com imperatividade.

Edward lentamente virou seus olhos para o livro, respirou fundo, limpou a garganta, com um pigarreio, umedeceu os lábios e buscou o que precisava para essa leitura: coragem. E então começou:

“— Por que... tenho às vezes uma sensação esquisita com relação a você... especialmente quando está junto a mim, como agora; é como se eu tivesse um fio em alguma parte debaixo de minhas costelas esquerdas, firme e inextricavelmente amarrado a um fio semelhante situado na parte correspondente de seu pequeno corpo. E se aquele tempestuoso Canal, e mais umas duas milhas de terra, se interpuserem entre nós, receio que essa linha de comunicação se parta; e aí, tenho a nervosa ideia de que sangrarei internamente. Quanto a você... me esquecerá.

Edward leu num fôlego só. Isabella ainda piscava aturdida com tais palavras, mas prosseguiu:

“— Isso eu nunca farei, senhor; o senhor sabe...”

Edward leu a fala seguinte:

“— Jane, está ouvindo aquele rouxinol cantando no bosque? Escute!”

Isabella puxou o ar e prosseguiu:

Ao escutar, solucei convulsivamente; pois não podia mais reprimir o que sentia; fui obrigada a ceder, e uma intensa angústia me sacudiu dos pés à cabeça. Quando falei, foi apenas para manifestar o incontível desejo que sentia de nunca ter nascido, ou de jamais ter vindo para Thornfield.

A força da emoção, agitada pelo sofrimento e o amor dentro de mim, me vencia, lutava pelo completo domínio, e afirmava o direito de predominar, superar, viver, crescer e reinar afinal; sim — e falar.

— Dói-me deixar Thornfield, amo Thornfield, amo-a, porque vivi aqui uma vida plena e deliciosa...[...]. Conheci o senhor, Sr. Rochester; e causa-me terror e angústia sentir que tenho de me separar do senhor para sempre. Vejo a necessidade da partida; e é como contemplar a necessidade da morte.”

“— Onde você vê essa necessidade?” – Edward perguntou pronunciando devagar cada palavra, sentindo uma enorme vontade de segurar nas mãos de Isabella.

A partir daí a leitura se deu sem interrupção, os dois liam e colocavam suas emoções e expressavam o que liam com total fidelidade.

“[...]...Não lhe falo agora por meio dos costumes, convencionalismos, nem mesmo da carne mortal: é meu espírito que fala ao seu; do mesmo modo como se ambos tivéssemos passado pela sepultura e estivéssemos aos pés de Deus, iguais... como somos!” [...]

“— E sua vontade decidirá o seu destino — ele disse. — Ofereço-lhe meu coração, minha mão e uma parte de todos os meus bens.

— O senhor desempenha uma farsa, da qual eu simplesmente rio.

Estou lhe pedindo que passe a vida a meu lado... que seja meu segundo eu e a melhor companheira terrena”.

Com os olhos marejados, eles se perderam um pouco na leitura até que Isabella leu o primeiro trecho que achara:

“— Fala sério? Realmente me ama? Deseja sinceramente que eu seja sua esposa?

— Desejo; e se é necessário um juramento para satisfazê-la, eu juro.

— Então, senhor, eu me casarei com o senhor.

— Edward... minha querida!

— Querido Edward!

— Venha para mim... venha para mim inteiramente agora — ele disse; e acrescentou no tom mais profundo, falando ao ouvido de Jane, a face colada na dela: — Faça a minha felicidade... eu farei a sua.”

Isabella engoliu em seco e prosseguiu:

“E se eu o amasse menos teria julgado seu tom e aparência de uma exaltação selvagem; mas, sentada ao lado dele, despertada do pesadelo da separação — chamada ao paraíso da união — pensava apenas na felicidade que me davam a beber num fluxo tão abundante.

Repetidas vezes ele disse: "Sente-se feliz, Jane?" E repetidas vezes ela respondeu: "Sim"”.

Edward tinha o peito ofegante e seu coração disparado, nenhum dos dois ousava tirar os olhos das páginas do livro, então ele continuou:

“Após o que ele murmurava: "Isso expiará... expiará. Não a encontrei sem amigos, com frio e sem conforto? Não a protegerei, estimarei e consolarei? Não há amor em meu coração, e constância em minhas decisões? Isso expiará no tribunal de Deus...”

Ouviu-se o barulho do ponteiro do imenso relógio de pêndulo que tinha na sala.

Uma badalada. “Eu sei que meu Criador...”

Segunda badalada. “...aprova o que estou fazendo...”

Terceira badalada. “...Quanto ao julgamento do mundo...”

Quarto badalada. “...lavo minhas mãos dele...”

Quinta badalada. “...Quanto à opinião humana...”

Sexta badalada. “...eu a desafio.”

E então Isabella e Edward erguerem os olhos do livro e disseram esta última frase juntos, olhando um bem profundamente dentro dos olhos do outro.

Dona Esme chegou a se levantar aplaudindo e gritando: Bravo! Mas os dois ainda estavam presos numa espécie de bolha particular. Emmett entrou pontualmente às 6 horas, para avisar que o jantar estaria sendo servido.

Edward conseguiu se situar e levantando-se, ergueu a mão para ajudar Isabella a se levantar.

─ Edward, jantas conosco, não é mesmo?

Edward ia abrir a boca, mas Isabella foi mais rápida.

─ Certamente que irá, mamãe! Seria uma desfeita, depois de... de tamanha ajuda com este... este... expressivo diálogo, se não nos acompanhasse no jantar. – ela finalmente conseguiu completar sua fala e sorriu satisfeita.

─ Se insistes... será um... prazer. Madames? – Edward ofereceu os braços e as duas o enlaçaram ao mesmo tempo e seguiram para a sala de jantar.

─ Foi algo esplendido! Senti-me frente aos próprios senhor Rochester e senhorita Eyre. Nenhuma leitura será a mesma depois disto. – dona Esme não parava de elogiar a “performance” deles.

Edward, sentado em frente a Isabella, enquanto dona Esme ficara na cabeceira da mesa, entre os dois, alternava partir seu bife com trocar olhares suspeitos com Isabella. Com certeza a atuação fora muito além da interpretação, havia algo real naquelas palavras, algo que talvez eles mesmos quisessem realmente dizer e nem sequer tinham se dado conta.

Já em sua cama, Isabella se revirava de um lado a outro. Ainda sentia o formigamento nas costas da mão que Edward beijara antes de sair. Lembrava-se dos trechos de Jane Eyre, que amor, que sentimento forte e penetrante. Precisaria saber do final daquele romance, com toda certeza.

Tirou o lençol de cima de si e foi até a mesinha pegar mais água. Passou a mão no pescoço, estava suando frio. Dessa vez nenhuma cachoeira de águas límpidas e geladas a ajudariam a aplacar esse fogo que a consumia. Abriu a janela e nem o vento frio tinha força tamanha para acalmá-la.

Estava doente e só havia uma cura.


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Notas finais do capítulo

Domingo animado esse, né? E ainda vai ter mais.... no próximo capítulo!! ;)



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