Alice Pena

Levantei muito sonolenta e notei a ausência do Carlos na cama, o relógio indicava quatro da manhã e aquilo não era normal, nem de longe. Tomei o caminho da cozinha e o achei sentado na bancada, com uma xicara entre as mãos e o olhar longe.

Apenas suspirei, ultimamente todos nós temos estado assim, tensos, como se estivéssemos pisando em ovos e a qualquer momento eles fossem quebrar de baixo dos nossos pés.

— Cariño – chamo com cuidado e ele vira o rosto para mim, sorrindo fraco – tá sem sono?

— Ultimamente é só o que me tem acontecido – ele suspira – quando foi que as coisas mudaram tanto Ali?

Eu não tinha uma resposta para ele, porque aquela era a mesma pergunta que eu me fazia todos os dias. Me aproximei e o abracei pelas costas, o ouvindo respirar fundo e alisar minha mão pousada no abdômen dele.

— Fala comigo – peço com calma, sabendo que o Carlos era do tipo que pensava muito e quase não fala as coisas que realmente o incomoda.

Ele sempre foi assim, muito brincalhão, muito agitado, o piadista, mas o que mais sente quando se trata de momentos tão sérios. Temos seis anos juntos, sendo quatro de casados, eu o conheci um pouco antes dele estrelar, e em todo esse tempo, eu me acostumei com o jeito dele.

— Logan pediu para eu testemunhar a favor dele – Carlos suspira e eu afrouxei o abraço, me sentindo um pouco nervosa com a menção daquele assunto – Kendall se recusou, James também.

— Não podem deixá-lo na mão – digo com um suspiro, eu sabia que não era o certo a se fazer, e sabia que nenhum deles concordava, mas alguém tinha que fazê-lo.

— Ele nos deixou na mão quando decidiu se casar com ela, Alice – ele se levanta irritado, se desvencilhando de mim e seguindo para o outro lado do balcão, irritado, é claro que ele está irritado.

Pus as duas mãos sobre o balcão e o encarei, mesmo que ele não me olhasse, eu sabia que o Carlos estava frustrado com tudo aquilo.

— Cariño, olha para mim, por favor – peço e mesmo resistindo, ainda assim ele olhou, havia receio em seus olhos, e eu sabia que era porque nós dois tínhamos ciência de pôr mais difícil que aquilo fosse, tínhamos que fazer – eu sei que é difícil, mas se o deixarmos agora, quem o salvará no futuro?

— Ele que ache o próprio colete salva vidas – Carlos diz com a mandíbula tensa.

— Carlos...

— Não, não me peça para engolir isso e apoiar o Logan nessa burrada – ele termina de lavar a xicara e sai, me deixando frustrada.

Eu sabia que nenhum deles estavam tomando as dores da Kristy, não era esse o caso, era tudo por causa da Melissa, ela era realmente péssima, e nunca tentou disfarçar, não ao menos na nossa frente.

Não voltei a ver o Carlos depois daquilo, ele se levantou seis da manhã e foi ensaiar, eles tinham um show para fazer em breve, então estavam muito ocupados, e bem, eu tinha alguns conteúdos para gravar, por isso apenas fui para o estúdio que montei em casa e tratei de adiantar meus compromissos, eu fui convidada para a semana de moda em Paris e logo estaria longe por alguns dias, eu iria com a Caitlin, já que ela vai desfilar. Jen foi convidada para um ou dois eventos e a Kris também.

Quando terminei de gravar meus vídeos já era quase seis da noite, e havia milhões de mensagem no meu celular pessoal, sim, eu tenho dois, optei por separar as coisas, antes que esse mundo me adoecesse. Abri o chat e as meninas pareciam estar discutindo sobre alguma coisa, foi só quando eu vi a matéria que entendi, estavam em fonte garrafais e não poderia ser mais chamativa do que aquilo “LOGAN HENDERSON E KRISTY COLLINS NA BATALHA ENTRE A GUARDA DE MARISOL”. Sensacionalista demais.

CHAT BABALOO

@Umaatrizamericana: aposto que foi ela que vendeu a matéria para algum tabloide.

@Misspassarela: claro que foi, mais ridículo que isso impossível.

@Alitinha: Carlos também não vai ajudar o Logan.

@Cantandocomosanjos: alguém precisa ajudar.

@Misspassarela: só você pode convencê-los.

@Alitinha: hoje à noite, aqui em casa.

Bloqueei o celular depois da confirmação delas e fui tratar de tomar banho e fazer o jantar. Quando terminei o Carlos chegou, ele mal me olhou, apenas foi direto para o quarto, eram sete e meia quando as meninas chegaram, junto com os meninos e as crianças.

— Cadê o Carlos? – Kendall pergunta e eu indico o corredor, o fazendo semicerrar os olhos, mas eu apenas neguei e ele foi com o James, nos deixando sozinhas.

Lucy estava entretida com a Sol, então não tivemos problemas em nos distanciar um pouco para conversar em particular.

— Vocês brigaram? – Caitlin pergunta confusa e eu apenas nego, de fato não havia sido uma briga, a gente só não concorda e é assim que resolvemos, dando espaço um para o outro.

— Então Kris, qual é o plano? – Jenni pergunta e Kris apenas suspira.

— Meus advogados, vão aceitar a guarda compartilhada, mas colocamos uma válvula de segurança no acordo – Kris dá de ombros – a Marisol só poderá estar na presença da madrasta, quando acompanhada da babá que eu contratei, Melissa não terá direito de se quer chegar perto da minha filha, e a babá terá toda a liberdade para tirá-la de lá, caso algo seja prejudicial ao bem estar físico ou mental dela.

— Então por isso quer que os meninos o apoiem? – pergunto e ela assente.

— Quantos mais de nós próximos a eles, melhor para a Sol – Kris dá um sorriso simples e apenas assentimos.

Não demorou para os meninos virem para a sala e Carlos dar abraço bem apertado em suas sobrinhas, sorri terna, apenas apreciando aquele momento.

— Está gravida – Kristy sussurra para mim e eu me viro para ela espantada.

Caitlin havia voltado para o lado da Lucy e a Jen tinha ido falar com o James. Inconscientemente levei a mão até a barriga.

— Tenho tanto medo – suspiro – e se ele não quiser esse filho?

— Vai dar tudo certo amiga – Kris apenas afaga meu ombro.

— E se acontecer conosco o mesmo que aconteceu com você e o Logan? – me viro para ela, mas a vejo negar tranquila.

— Carlos não é o Logan, Carlos nunca faria o mesmo que o Logan fez comigo, ele não destruiria tudo que vocês construíram por nada – Kris suspira e me dá um abraço – vai ver que tudo para vocês vai ser diferente.

Apenas assinto e a vejo se afastar. Bem de qualquer forma, tudo precisa dar certo.

Nós jantamos e depois fomos para a sala, cada um com uma taça com uma bebida, eu fiquei só no suco, e as crianças já haviam adormecido, então era a hora da conversa de adulto.

— Eu sei que não tenho o direito de pedir isso a vocês – Kristy começa deixando todo o ar sair, antes de encarar cada um – mas vou pedir mesmo assim, não por mim, não pelo Logan, mas pela Sol.

— Não precisa – Kendall a interrompe com calma, fazendo-a franzir o cenho – nós vamos apoiá-lo, justamente por ela – Kendall mira a pequena e sorri terno, era o padrinho dela, e a Caitlin a madrinha.

— Eu sei o quanto isso é difícil para vocês, mas será mais difícil ainda se nós a deixarmos sozinha com aquela megera – Kristy diz firme, ela não costumava falar muito da Melissa, eu sabia o quanto doía, mas naquele momento ela engoliu toda a dor, porque era da filha dela que estávamos falando.

— Estamos do seu lado Kris – Carlos concorda e ela apenas agradece.

Liguei a agua e pus espuma de banho na banheira, assim que encheu, entrei e relaxei um pouco, toda aquela conversa me deixou tensa, e eu sabia que ainda não havia acabado, enquanto não puséssemos Melissa para fora de nossas vidas, sinto como se não pudéssemos respirar com calma nem um segundo.

— Dá para dois? – Carlos pergunta, me assustando.

— Claro – suspiro e dou espaço para ele se sentar atrás de mim.

Nos aconchegamos e o silencio predominou ali, só o som da agua mexendo lentamente podia ser ouvido, até as nossas respirações pareciam calmas demais naquele momento. Meus olhos estavam fechados e minha cabeça no ombro do Carlos, que alisava minha barriga com calma.

— Eu tô gravida – contei quase em um sussurro, mas tenho certeza de que ele ouviu, porque o carinho dele parou e seu corpo tensionou.

 — Eu sei – foi o que ele respondeu, com bastante calma, e logo ele relaxou novamente, voltando a fazer carinho na minha barriga.

Eu tinha medo de perguntar, mas ainda assim eu precisava, precisava descobrir o que ele estava pensando, se aquilo havia sido bom ou ruim, e o que faríamos dali para a frente.

— Eu consigo ouvir seus neurônios trabalhando daqui Ali – ele deixa um beijo no meu ombro e me afasta um pouco, me fazendo virar para ele – não precisa ter medo, é o nosso brotinho de amor, então vai ficar tudo bem.

— Você não parece feliz – digo cabisbaixa, mas Carlos me puxou de encontro a ele e eu enlacei a perna em sua cintura.

— É claro que eu estou feliz – ele abre um sorriso terno, mas sua expressão ainda era calma, sem euforia – eu vou ser pai, sabe a quanto tempo espero por isso – ele deixa um beijo nos meus lábios e volta a me olhar – mas não consigo sentir a euforia genuína, porque nada está como deveria Ali e eu estou tão frustrado com tudo isso.

— É a banda?

— Sim – ele morde o lábio e suspira fortemente, logo me olhando com ternura – Melissa vai a todos os ensaios, Gustavo está ficando furioso a cada dia mais, Kelly não consegue trabalhar e nós não conseguimos ensaiar, ela tá tomando parte de tudo na nossa vida e eu estou cansado disso.

— Sinto muito – suspiro e faço um carinho em sua nuca – eu posso fazer algo pra te ajudar?

— Não quero te meter nessa confusão.

— Eu já estou – deixo um beijinho no nariz dele e sorrio com calma – vamos ocupar a Melissa, assim ela não vai ter tempo para outras coisas – sugiro, de repente abrindo um sorriso bem travesso – é perfeito.

— Acha que ela vai aceitar? – ele pergunta com o cenho franzido e eu apenas mordo o lábio.

— Eu tenho a oportunidade perfeita para isso – garanto e já vi um sorriso animado surgir nos lábios do Carlos, era daquele sorriso que eu gostava, tudo daria certo, e logo, aquela bruxa ia estar bem longe das nossas vidas.