Guitarra

Eu podia ouvir meu nome sendo gritado por milhares de vozes que esperavam em um parque, diante de um imenso palco.

Eu precisava me concentrar, precisava respirar, precisava de silêncio. Era isso que eu sempre buscava antes de encarar os donos daquelas vozes. Voltei para o hotel onde estava hospedado.

O quarto estava escuro. Preferi ascender uma vela à lampada. Sentei-me recostado à parede.

À minha frente estava minha preciosidade. Minha Gibson. Era minha guitarra favorita. Aquela era uma guitarra que não parava de falar. Tínhamos uma conexão, ela e eu. Ela falava e eu escutava, ela gritava e eu fazia com que os outros a escutassem.

Era uma guitarra maravilhosa, era pra ela que eu corria em qualquer situação. Era meu porto-seguro, minha amiga e, ah! quanta coisa ela tinha pra me dizer.

Alguém bateu à minha porta e eu soube que estava na hora.

Peguei minha Gibson e sai. Meu motorista me levou de volta ao parque onde os milhares de vozes ainda gritavam.

Subi ao palco, junto a mim meus amigos. As luzes sobre nós, os milhares de vozes pareciam estar em êxtase.

Fechei os olhos. Concentrei-me nos sons. Ouvi as vozes. O teclado sussurrou, a bateria murmurou, e vários outros instrumentos cochicharam entre si. Logo o baixo me deu o aviso... E deixei minha guitarra falar.