Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 18
Capítulo 17: Hora errada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46140/chapter/18

Estávamos em sua cama, nus, olhando para o outro. Edward prendia-me a seu corpo com seus braços fortes, frios. Beijou-me na testa. Suspirei.

-Você precisa ir. –Edward disse contra meus cabelos.

-Infelizmente sim. Tenho que chegar em casa antes de Jake e Billy. –Os braços de Edward se apertaram mais a minha volta como que querendo criar uma prisão inescapável para mim através de seus braços.

-Eu não quero me privar de você nem um minuto.

-O que? Não teve muito de mim por uma tarde? –Disse debochada. Edward riu.

-Não. Você é um vicio, uma droga. Preciso de doses a cada minuto.

-Você também representa o mesmo pra mim, sabia? –Beijei seu pescoço apreciando a textura da pele, sua frieza, o cheiro.

-Apresente-me como seu namorado. –Edward sussurrou e com essa eu tive que me afastar e olhar seu rosto.

-Como é que é? –Perguntei sentindo a confusão me tomar.

-Se você, Bella, me apresentar como seu namorado para seus familiares, eu poderia vê-la com muito mais freqüência.

-Seria estranho. Você é tido como um fantasma pelos populares de Forks sabia? E de repente eu surjo e digo: Olha tio Billy ele é meu namorado, o conheci quando invadi o seu terreno e bati minha cabeça! –Falei sarcasticamente. Edward sorria com malicia divertindo-se.

-Invente uma historia. Diga que nos conhecemos quando você foi ao mercado comprar legumes em conserva. –Edward falou entre risos. Eu ri abertamente com sua sugestão.

-Me dê um tempo para que eu possa pensar na historia toda. Dois dias, que tal?

-Tudo bem. Ainda sim eu vou vê-la em seu quarto. Deixe a janela aberta para mim. –Edward disse e fiquei feliz por saber que não ficaríamos muito tempo afastados. Assim sendo levantei-me sem vontade alguma de sair, vesti minhas roupas e segui para a sala. Para minha surpresa, quando segurava a maçaneta para sair, Edward estava devidamente vestido.

-Vou levá-la para casa. Não deve fazer muito esforço. Vamos. –Abriu a porta e caminhou ao meu lado pelo jardim. Pensei que apenas me acompanharia por isso não protestei, mas quando Edward ergueu-me entendi o que ele quis dizer ao alegar que não deveria fazer esforço.

-Não estou invalida a ponto de não caminhar, sabia? –alei com a testa franzida. Edward olhou-me, o meio sorriso cravado nos lábios macios e frios.

-Assim chegaremos mais rápido. –E Edward disparou por entre as árvores. Eu fechei os olhos para não ter um enjôo. Sentia o vento, a respiração tranqüila de Edward e nada mais. A frieza do seu corpo não me incomodava, muito pelo contrário, ele fazia meu corpo ficar quente. Ele parou e abri meus olhos, estávamos atrás da casa de Billy. Edward deu um solavanco e estávamos em meu quarto. Ele deitou-me zeloso na cama, os olhos em mim, tão ternos! Beijou-me na testa, os braços deixando-me na cama.

-Deixe sua janela aberta, eu velarei pelo seu sono. –Ele disse beijando-me nos lábios. Senti a brisa e então Edward não estava lá. Eu sorri. Eu realmente estava tendo a felicidade que me escapava. Permiti-me ficar lá na cama, lembrando de tudo e de nada, o cheiro de Edward em mim.

...

Jacob e Billy conversavam animadamente. Eu olhava minha almôndega distante. Billy se interrompia e perguntava como tinha sido meu dia, por que estava tão pensativa. Eu dizia que não era nada. Eu não o enganava, ele notou que eu estava diferente, mas não falou nada. Jacob parecia agitado, olhava para mim freneticamente, isso me enervou. Após alguns minutos vendo-os conversar, eu segui para o quarto. A janela estava aberta desde a hora que Edward me deixou em casa.

Dor.

Ela veio com potencia, inesperadamente. Eu cambaleei, mas consegui cair na cama. Bela hora para uma crise! Permaneci deitada esperando que a dor cessasse, poderia ser uma crise rápida. Não cessou. Corri e peguei na minha gaveta de roupas, bem escondida, uma dose de morfina. Não esperei pelo sangramento nasal para aplicar. A sensação da dor desaparecendo era ótima! Deitei-me e só consegui fazer isso, nem tive tempo de me cobrir com o edredom. Eu simplesmente apaguei. Senti gosto de sangue enquanto fazia isso, enquanto adormecia pelo efeito da morfina. Droga! Por que tinha de sangrar?

...

“Idiota. O que está esperando? Está esperando morrer? Eu lhe disse Bella, se você não decidir antes do fim, eu decidirei por você.”.

A voz soou longe. Edward me dando bronca. Poderia ser um sonho, mas algo dizia que não era. Ele chegou ao anoitecer em minha janela e me viu no estado deplorável. Bosta! E o pior era que... Eu havia me esquecido de comunicar a ele minha decisão.

...

Acordei grogue, um gosto ruim na boca. Levantei-me zonza e fui diretamente para o banheiro, cuspi sangue. Apesar disso eu não sentia dor. Olhei para a janela, estava fechada. Edward deve tê-la fechado quando saiu, se é que ele estava aqui.

-Bella? –Ouvi uma leve batida na porta. Liguei a torneira retirando os vestígios de sangue da pia e fiz gargarejo. Voltei para cama e sentei.

-Entra. –Disse e Jacob passou pela porta, um pouco constrangido.

-Oi Bella. Então vamos sair hoje? Você me prometeu que sairíamos quando eu dissesse o dia... Então...

-Tudo bem. Espere-me lá embaixo, vou me arrumar. –Sorri e Jacob pareceu radiante. Se eu ia tomar minha decisão então eu tinha que me despedir de todos a começar por Jacob.

Tomei um demorado banho, vesti uma calça jeans, uma blusa azul celeste e um moletom branco e sai. Preocupei-me com Edward, talvez ele tivesse me esperando em sua casa e eu nada avisei a ele. Por fim decidi deixar um bilhete em cima da minha casa avisando que eu iria sair com Jacob, deixei a janela aberta.

...

-E ai Bells, o que achou daquele filme?

-Eu gostei. Ótima parte quando aquele ator criou uma bomba com um cotonete e uma bola de ping pong. –Disse aos risos. Jacob riu também. Colocou a mão em meu ombro enquanto caminhávamos pela calçada. Eu não recuei apesar do contato não me agradar tanto.

Cinema, ida a praça, visita a uma loja de discos, ida a uma livraria. Foi divertido sair com Jacob como não pensei que fosse. Jacob era divertido, isso eu já sabia. Mas descobri algo mais em Jacob, ele tinha um imenso carinho por mim. Estranho... Quando isso começou? Quando Jacob se mostrou interessado? Eu podia notar pelo seu olhar, o modo como sorria, lembrava-me Edward. E Edward me amava. Pena. Eu realmente esperava que fosse só engano, que Jacob não estivesse interessado em mim. Eu não queria trazer muito sofrimento.

O dia foi passando, foi bom. Eu me lembraria daquele dia.

...

-Gostou do dia? –Jacob perguntou enquanto caminhávamos na praia. O fim de tarde estava lindo. Eu estava cansada e com dores, mas aceitei seu convite quando sugeriu a praia.

-Muito bom. Menos agitado do que quando estamos com seus amigos.

-Eu sei. Desculpe se nosso passeio foi tedioso Bells.

-Não, você não entendeu. Eu gostei, bem ao meu estilo. –E rimos com minhas palavras, a água batendo nos meus pés descalços assim como os de Jacob, nossos tênis em nossas mãos.

-Vou sentir falta disso. –Murmurei e estaquei. Jacob me olhou confuso.

-O que disse?

-Nada não Jake. Melhor voltarmos. –E eu queria voltar, minha dor de cabeça estava aumentando. Eu não queria ter uma crise na frente de Jacob. Fiz o caminho de volta, mas alguém segurou minha mão. Era Jacob.

-Bella... –Eu me virei e não tive tempo para reação. Jacob me puxou e simplesmente... E beijou.

 

Capitulo 18: não há nada

O susto me deixou congelada, eu não esbocei reação alguma, tão pouco correspondi ao beijo. Eu fiquei parada. Jacob percebeu minha imobilidade e afastou-se, olhava-me confuso. Não sei por quanto tempo ficamos parados, mas fui eu que quebrei o gelo.

-Jacob, está ficando tarde. Melhor irmos. –Disse projetando meu corpo para o caminho que nos levaria até a nossa casa. Jacob me seguiu calado o que eu agradeci. A situação tensa pareceu estimular meu tumor a incomodar. Antes mesmo de alcançar o portão da casa eu já estava sentindo a cabeça latejar e a vista escurecer. Eu pretendia desaparecer dentro do meu quarto até que eu pudesse me recompor, mas Jacob foi mais rápido.

-Bella...

-O que foi? –Perguntei de costas enquanto abria a porta. Tinha o cuidado para não me virar afinal logo eu teria sangramento nasal.

-Promete pensar? No que houve? Promete que vai considerar? –A voz dele era suplicante e aquilo me deu pena. Eu não queria duvidas na minha cabeça, eu já havia escolhido Edward. Eu não conseguia raciocinar, estava com dor demais.

-Eu vou pensar Jacob. To indo pro quarto. –Segui pelas escadas e corri para meu quarto. Só tive tempo de trancar a porta, a inconsciência me tomou.

...

Devia ser de madrugada, a dor alucinante me despertou. Sentia o gosto de sangue na boca. Rastejei-me até a gaveta onde escondia a morfina e apliquei uma dose, ou duas, não sei. Estava desnorteada demais para notar. Mais uma vez adormeci.

...

-Bella querida, está acordada? –A voz soou longe. Billy.

-Billy?

-Você está bem? Não saiu o dia todo? Jacob e eu estamos preocupados. Jacob me disse que não sai do quarto desde ontem à tarde. Está tudo bem?

Eu estava zonza, a garganta seca. Há quanto tempo eu estive desacordada? Pelo que Billy me falou eu estou desde ontem sem aparecer isso significa que por quase um dia já que já havia anoitecido.

-Eu estou bem eu... Eu vou descer logo. –Disse com a voz fraca, mas audível.

-Tudo bem garota. Venha e coma algo.

O barulho de Billy descendo as escadas era incrivelmente audível. Relaxei quando não ouvi mais nada.

Levantei e segui cambaleante para o banheiro. Eu estava péssima! A cara e vestes cheias de sangue, eu estava branca como uma vela e com olheiras profundas.

“Eu preciso me refazer. Por Deus! Passei mais de um dia desacordada!”.

Eu estava mal, muito mal. Eu não iria durar muito mais, eu podia sentir. Quanto tempo eu tinha? Meses? Semanas? Eu teria que falar com Edward o quanto antes.

Após um longo banho, fiz algo que não costumo fazer: me maquiar. Eu estava muito pálida e branca, precisava me maquiar para passar a idéia de saudável. Desci e encontrei apenas com Billy na sala assistindo televisão. Ele se virou ao ouvir o barulho que fiz no piso.

-Hei garota, pensei que estivesse morta no seu quarto! –Comentou risonho voltando sua atenção a televisão. Fiquei feliz por Jacob não está lá.

“Mal você sabe que quase eu fui dessa pra melhor.” –Pensei enquanto ia sem nenhuma vontade xeretar a comida na cozinha.

-Desculpe preocupá-los. Eu tenho essa mania às vezes de me isolar.

-Sei. É bom saber assim eu não ficarei tão assustado. E Jacob estava muito preocupado. –Billy disse. O observei para ver se ele dava alguma pista de que sabia o que havia acontecido comigo e com Jacob, mas Billy continuava tranqüilo. Comi e após isso segui para o quarto, para minha surpresa Jacob estava na porta do meu quarto encostado na parede, já até vestia pijama. Ele me olhava tristonho.

-Oi Bella.

-Oi Jake. –Eu fiz menção de entrar no meu quarto, mas Jacob me impediu de abrir a maçaneta.

-Bella, eu quero conversar com você. –Ele estava decidido a ouvir minha decisão agora. Suspirei. Não seria fácil.

-Jake, nós podemos falar isso outro dia?

-Só se você prometer que não vai se enclausurar no seu quarto como fez o dia todo.

Eu poderia fugir de tudo isso, poderia deixar para outro dia, mas se meu tempo estava contado então eu teria que resolver tudo de imediato.

-Jake, você é como um irmão para mim e irmãos não tem nada a mais, entende? –O olhei. Jake ficou surpreso com as minhas palavras e então forçou um sorriso.

-Entendo. Bom pelo menos eu tentei.

-Você vai encontrar alguém melhor, tenho certeza Jake. –Sorri e toquei seu rosto afagando a bochecha. Eu não fiquei muito tempo diante dele, segui para meu quarto.

Eu não estava me sentindo tão cansada. Pensei na possibilidade de sair e ver Edward, eu queria vê-lo, dizer a ele minha decisão, mas sentia a vista um pouco turva.

“Se eu for posso correr o risco de passar mal por ai. Edward vai vir me ver. Vou deixar a janela aberta.” –Assim sendo eu deixei a janela aberta e me aconcheguei na cama tomando uma pequena dose de morfina para não sentir dor alguma.

“O Edward vem me ver, tenho certeza.” –E pensando assim eu dormi rapidamente.

...

Eu não o vi na cadeira da minha escrivaninha como ele costumava aparecer. A janela estava aberta, mas não havia sinal de que alguém passou por ali. O que estava acontecendo? Era de manhã e eu estava decidida a ir à casa de Edward para me justificar por ter desaparecido. Ele compreenderia.

“Assim que Billy e Jacob saírem eu vou a casa dele.”.

...

Não havia ninguém nos arredores na propriedade, na sala, nos quartos, na cozinha, banheiros, escritório. A casa estava vazia e, mais do que isso, as roupas de Edward não estavam lá. O que estava acontecendo? Para onde Edward foi levando suas roupas? Teria viajado? Claro, todo o restante estava ali, ele não sairia de forma definitiva sem levar o restante dos objetos da casa. Sentei na escadaria cambaleante. Um frio na barriga me atingiu e a respiração estava falha. Eu não estava entendendo nada.

“Ele deve ter ido rapidamente a algum lugar. Ele vai voltar. Está cedo. Eu vou ficar aqui e esperar. Talvez hoje mesmo eu peça para ele me transformar.”.

E eu esperei sentada na escadaria, deitada no sofá, deitada na cama de Edward, enquanto caminhava pelos jardins...

...Ele não voltou naquele dia.

Eu fui para casa frustrada e tendo a sensação de que o meu inferno pessoal só estava começando.

-Bella? Mas o que...? –Billy começou a dizer a me ver passar pela porta cruzando a sala, ele não sabia que eu tinha saído. Deve ter pensado que estava no quarto. Jacob não estava à vista, felizmente. Apenas retirei meus sapatos e me joguei na cama se me importar em deixar a janela aberta. Por que por mais que eu não quisesse admitir, Edward não iria voltar. Ele tomou a decisão por nós, ele desapareceu deixando a patética humana para trás.

O sangramento e as dores começaram enquanto eu tentava dormir, mas eu ignorei. A dor pela ausência dele era bem pior do que qualquer coisa.

Sangue com lágrimas.

Vazia.

Perda.

Meu fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixem coments! o/