Tudo isso já tinha começado de um jeito suspeito demais. Primeiro, fomos requisitados para uma missão em uma pequena vila, pouco distante de Konohakagure. Certo, até aí, nada de estranho. Porém, o que espantava era o grau de dificuldade da tal missão. Fácil demais para se fazer necessária a contratação das Forças Especiais de Konoha. Boatos diziam que o daimiô daquele vilarejo era realmente excêntrico e gostava de ostentar suas riquezas de todas as maneiras possíveis; talvez por isso requisitar nossos serviços para uma missão tão simplória.

Escoltamos a carga de ouro da Vila do Ferro até o vilarejo do daimiô, conforme nos fora requisitado, sem nenhuma complicação. Ao chegarmos ao nosso destino, ao anoitecer, fomos recebidos como heróis. Por que raios tudo isso?! E o mais estranho era: além do próprio daimiô, todos da vila eram...mulheres. Cheguei a comentar o fato com os outros, mas o Uzumaki e o Hatake estavam eufóricos demais para terem condições de fazer qualquer comentário útil. Jin e Itachi, apesar de também estranharem um pouco a situação, ponderaram que os homens do vilarejo pudessem ter morrido em algum confronto ou guerra e que, por isso, talvez, as mulheres estivessem nos recebendo com tamanho entusiasmo.

Por fim, acabamos numa boate stripper. É, numa boate stripper. E eu ainda me pergunto como deixei aqueles dois idiotas me convencerem a vir pra cá. Na verdade, isso foi um convite do próprio daimiô para “comemorar” o êxito da missão. Eu achei ridículo, mas Minato e Obito insistiram na ideia de que seria uma desfeita recusar o convite e que o Hokage era a favor de manter boas relações com todas as vilas, ainda mais com as que contratavam os serviços de Konoha.

O lugar, é claro, era cheio de mulheres. Todas seminuas, servindo uma bebida que diziam ser uma especialidade do vilarejo. Luzes coloridas ofuscantes, muito brilho e música alta. Eu me sentei mais afastado de todo o alvoroço. Minato e Obito estavam bem no centro, perto da passarela onde dançavam as strippers, cercados delas, rindo e enchendo a cara. Jin e Itachi se sentaram numa mesa ao lado, um tanto quanto desconfortáveis com as investidas das garotas, que pareciam abelhas que acabaram de achar mel.

Não me saía da cabeça que havia algo de muito suspeito acontecendo. Aquelas garotas....eram bonitas demais para serem strippers. E não, não estou falando besteira. Elas aparentavam ter até uma certa classe, como se fossem garotas de família tradicional. Traços delicados demais para mulheres que, em tese, são “abusadas” diariamente. Nenhum rastro de alma maculada no fundo de seus olhos. A maquiagem parecia propositalmente forte, como se lhes servisse de máscara.

– Mas vejam só....Uchiha Raiden. – uma delas balbuciou enquanto se aproximava, junto com mais umas quatro, como um bando de leoas à caça.

– ...... – sem dizer nada, me limitei apenas a observar enquanto elas me cercavam, sentando-se ao meu lado e em cima da mesa.

– Por que está aqui tão sozinho e isolado, pobrezinho? – falou, manhosa, ao meu ouvido; os cabelos longos, lisos e negros caíam em cascata sobre meu peito, destilando um perfume exageradamente doce.

– Pois é.....sequer tocou na bebida que trouxemos com tanto carinho... – a loira pegou a garrafa da mesa em que estava sentada, vindo repousar em meu colo, buscando massagear meu tórax pelo vão das abotoaduras da camisa – Vamos beber um pouquinho, meu bem? Você precisa relaxar....

– Hum...eu agradeço, mas prefiro não beber hoje.

– Ela tem razão, Raiden-kun... – a ruiva veio por trás da minha cadeira, massageando meus ombros – Você está tãããooo tenso...tão...duro! Uhm...sabia que você é muuuito mais bonito do que os boatos diziam? – gemeu, piscando o olho.

– Aposto que também é bem melhor na cama do que dizem os boatos....uhn? – grunhiu a de cabelos castanhos e olhos verdes – Por que não bebe um pouco, pra acender ainda mais o seu fogo, hein? Ah, vamos....daí depois você bota esse “fogo” todo em mim. Eu ajudo a apagar...

– De fato, eu sou muito melhor, em tudo, do que diz qualquer boato. – dei um meio sorriso, malicioso. Eu já desconfiava, mas comecei a crer seriamente que algo muito estranho estava acontecendo....e envolvia aquela bebida; eu só não fazia ideia do quê – E é por isso mesmo que prefiro recusar a oferta. Sem bebida por hoje, eu já disse.

– Ahhh, mas por que, Raiden-sama? Isso é uma comemoração. Vem...experimenta beber aqui pra ver como é bom....duvido você resistir... – convidou a outra, despejando bebida no espaço de uma de suas clavículas.

– Essa insistência toda...está realmente ficando irritante. – bastaram aquelas palavras para a expressão delas mudar. Foi aí que...

– AHHHH, MIEKO-CHAN! VOCÊ É *hic!* A MULHER DA MINHA VIDA! CASA COMIGO?! – ouvi a voz do Minato, aos berros.

Nesse instante acabaram-se todas as minhas dúvidas! Tinha alguma coisa MUITO errada ali! Nem em seus piores delírios o Uzumaki diria uma coisa daquelas!!! Já preocupado com a situação, uma vez que Minato e Obito estava completamente dopados, procurei Jin e Itachi com os olhos. Para a minha surpresa, lá estavam os dois, debruçados, com a cara caída sobre a mesa, totalmente “apagados”. Tudo bem que Jin e meu irmão nunca foram muito fortes para a bebida, mas, por isso mesmo, sempre bebiam pouco...

– Vou te mostrar como se beber de um jeito bem mais gostoso, Raiden-sama! – a loira que estava no meu colo se pôs sentada de frente pra mim, montando em minhas pernas. As outras quatro seguraram meus braços e pernas, tudo muito rápido. Assim que meus lábios se abriram para protestar, a garota encheu a boca com o líquido e selou seus lábios nos meus, usando sua língua para apertar o fundo da minha, forçando-me a engolir o líquido. Na mesma hora, deu um jeito de encaixar o gargalo da garrafa entre nossas bocas, despejando uma grande quantidade da bebida na minha garganta.

– Maldita! – assim que consegui libertar meus braços, empurrei-a com força, para longe – O que pensa que está fazendo?! – cuspi o resto do líquido, enxugando o queixo com as costas da mão.

Qual não foi minha surpresa ao vê-la rodopiar e aparar a queda, apoiando-se com uma mão e um joelho no chão.

– Kunoichi... – murmurei.

– Ora, ora, ora.... – ela sorriu – até que você é esperto....para um homem! – franziu o cenho, pondo-se de pé, enquanto as outras se agrupavam junto dela.

Então era isso....kunoichis! Por isso estava achando aquilo tudo tão estranho. A intenção era realmente nos dopar com aquela bebida. Por sorte, se tratava de ninjas de level baixo; já que conseguiam anular seu chakra a praticamente zero, assimilando-se ao de um civil, o que, aliás, contribui, e muito, para que nenhum de nós percebesse esse disfarce.

– Vocês... – levantei de ímpeto, colocando-me em posição de batalha quando... – “O-o que é isso?!” – minha visão ficou turva, embaralhada, meus ouvidos zuniam e minhas articulações fraquejaram, quase me fazendo ir ao chão.

– Não adianta tentar resistir, Uchiha Raiden. – uma mulher um pouco mais madura surgiu do meio das falsas strippers.

– Quem é você?! – indaguei, sentindo os sintomas piorarem cada vez mais.

– Meu nome é Kameno Mariko, e sou a líder dessa Vila.

– Nani?!

– Sim, nós tomamos esse vilarejo há alguns meses. Mantivemos o daimiô vivo para nos servir de fachada. Somos um grupo errante de kunoichis da vila da névoa. Nosso objetivo é formar nossa própria vila, com o maior poderio militar possível para conquistar territórios e formar um império! Só que, para tal, precisamos de homens...infelizmente. E que homens poderiam nos dar uma herança genética melhor do que “os cinco de Konoha”?

– HAHAHAHAHA! – não consegui conter o riso.

– ....qual é a graça?

– Tem...tem um elefante rosa voador escondido nesse emaranhado que você chama de cabelo! HAHAHA! – apontava para o meio do “penteado” da mulher.

– ...???

– A bebida deve estar fazendo efeito, Mariko-sama... – ouvi um duende verde cochichando no ouvido do outro.

– Ah sim...ótimo! É melhor cooperar, Raiden-kun....venha conosco.

– NUNCAaa-aaAA! – senti como se fosse cair de cara no chão, mas quando dei por mim, vi que nem tinha saído do lugar – Vocês nunca me pegarão vivo!!

– Há...é uma pena perder um exemplar tão valioso, mas...já temos um Uchiha vivo. – apontou com o dedão para detrás dela, os meus quatro companheiros sendo carregados – Então serve morto! – sorriu, sádica.

– Pois nem morto! – retruquei – Prefiro morrer do que perder a vida!!! – esbravejei, indignado.

– Ah, mas você vem sim...por bem ou por mal. Provavelmente você não esteja raciocinando bem, então devo lembra-lo de que seus amigos estão em nossas mãos...

– “Kusô!” – xinguei, mentalmente – “O pior é que ela tem razão. Embora esteja neste estado deplorável – não consigo nem distinguir os móveis dos duendes, digo, inimigos – eu poderia simplesmente....destruir tudo o que visse pela frente? Uhuuul, isso seria irado! Erm...mas...daí correria o risco de matar aqueles quatro no meio disso. Droga! E agora?!”

– TIREM AS PATAS DO MEU HOMEM, SUAS VACAS DE CARNE DE SEGUNDA!!! – uma voz feminina, familiar, soou imponente, ecoando em toda a boate, logo depois do estrondo da porta sendo abruptamente arrombada num golpe só.

– Mayumi-chan....acalme-se... – parecia a voz de Hikari-hime.

– Ahhhh!!! O que vocês fizeram com os meus irmãos?! Jin-kun!!! – Tsuki! Era a voz da minha irmã!

Virei os olhos para a entrada do local e lá estavam elas...as kunoichis mais promissoras da Vila da Folha. Estávamos salvos! Na mesma hora, corri a me sentar na mesa onde estava, para fazer de conta que estava bem e apenas bebendo. Óbvio! Aquela situação seria constrangedora demais! Melhor fingir. Ninguém desconfiaria. Eu sentado, no meu canto. Jin e Itachi fracos pra bebida e Minato e Obito desmaiados depois de tomar um porre. Tudo dentro da normalidade e nossa honra seria mantida. Só espero que as fadas azuis que voavam por lá não dedurem o meu plano...

– Minato-kun!!! – Akemi correu ao salvamento – Bem que a onee-san nos disse que as mulheres dessa vila eram perigosas canibais!!!

– Sim!!! Viram?! Eu disse!!! – Yukari empregava força nas palavras como se estivesse se sentindo aliviada por uma desculpa sua ter colado como sendo verdade...

– AHHHH, MAS EU ACABO COM VOCÊS!!! – Mayumi partiu pra cima das inimigas e Yukari aproveitou o embalo.

Eu apenas assistia, esperando que os efeitos da bebida passassem ao menos um pouco. Akemi e Hikari foram tentar acordar os quatro desmaiados, sem sucesso.

– Aniue!! – Tsuki se aproximou, colocando a mão no meu ombro – Você está bem!?

– Ah, claro, Tsuki. Não sei para quê todo esse alvoroço...

– Ora, nós viemos salvar vocês dessas canibais!

– Que canibais?...estávamos apenas aqui a convite do daimiô, para uma comemoração. – me esforçava para manter o controle.

– Hãããã?! – me fitou, incrédula – Mas...

– Eu já disse, não tinha nada de mais! – levantei, me forçando a pisar firme – Só aconteceu o que sempre acontece....Minato e Obito beberam até cair....já o Itachi e o Jin acabaram bebendo um pouco além do limite.

– Hum....bom, que se dane! – gesticulou com as mãos – De uma forma ou de outra, aposto que essas barangas pretendiam “devorar” vocês!

– ..... – suspirei – Sim, de certa maneira foi bom vocês terem chegado. Eu já estava constrangido com essa situação...onde já se viu...os quatro desmaiados de tanto beber. Eu é que não ia carrega-los! Vamos embora.

Saímos, deixando o bando de kunoichis totalmente derrotadas – já que aquelas duas continuaram socando a cara delas até mesmo depois de já terem sucumbido. Mayumi arrastava Obito, Yukari amparava Itachi e Akemi e Hikari levavam Minato. Eu ajudava Tsuki a carregar Jin.

O sol despontava agora no horizonte. E mais uma vez, o dia foi salvo, graças às meninas super-poderosas! Digo....ou melhor, ESQUECE o que eu disse, ESQUECE tudo o que você viu! Isso tudo NUNCA aconteceu! É TUDO fruto da sua imaginação! Até mesmo aquele gato ninja, de botas, armado, montado num unicórnio de olhos laser que solta vento pelas fuças e parece peidar arco-íris enquanto anda, que acabou de virar ali à esquerda e....ARGH!!!