Mistério da Rosa escrita por Ma Black


Capítulo 9
Uma Mulher No Campo de Futebol




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O pior tipo de sofrimento é o sofrimento por alguém. É aquele sofrimento que é consequência do amor. Quando o namoro acaba e a pessoa continua amando a outra, você sofre por não ter mais a pessoa amada por perto, por ter que se acostumar a conviver sem a pessoa, por ter que aceitar a rejeição, por ter que aguentar a sensação de perda...

Pior ainda é a saudade. A saudade das mil sensações ao estar do lado daquela pessoa, saudade do toque da pessoa, da voz da pessoa, das manias da pessoa... Saudade da pessoa. Juntando tudo isso, o sofrimento da perda com o fato de que nunca consegui de verdade namorar Katniss Everdeen e que estava sofrendo por alguém que nunca pude chamar de minha namorada, podia me considerar um azarado deprimido. Passaram-se três semanas desde minha última conversa com a Katniss e podia dizer que o desespero estava começando a tomar conta de mim; nessa altura do campeonato achava que ela não ia mais aparecer na porta da minha casa. Mas que droga, que mulher teimosa! Ela ainda estava com aquela ideia na cabeça de que se afastar era o melhor pra mim.

Pelo menos dessa vez eu não estava ficando quase doente. Toda noite antes de dormir sua imagem vinha em minha mente e isso era suficiente para minha felicidade no dia seguinte; e de tarde batia a saudade que era seguida pelo sofrimento até chegar a noite, onde ficava feliz novamente com a imagem do seu rosto quase angelical em todos os meus sonhos. Era incrível como sentia saudade da mulher misteriosa, jamais havia sentido nada parecido. Tinha saudade de sentir seu cheiro de rosas, saudade de sentir arrepios com o seu toque, saudade de sua risada, saudade de como roía as unhas quando estava nervosa ou como tinha mania de morder o lábio por dentro da boca, o que acabava gerando uma careta fofa... Foram poucas as horas que pude ter o prazer de ficar junto de Katniss, mas foram nessas horas que pude captar todas as suas manias e expressões. Podia dizer com facilidade quando ela estava triste, feliz, furiosa ou preocupada.

Katniss Everdeen já não era mais tão misteriosa para mim.

Estava naquela tarde jogado no sofá, sentado de barriga pra cima e encarando o teto baixo da minha casa. Pensava em um novo herói de quadrinhos para apoiar o capitalismo e me lembrei da Katniss. E se eu fizesse uma heroína dessa vez? Anotei essa possibilidade mentalmente para situações futuras.

A questão é que nesse exato momento eu escutei a porta batendo. Meu coração falhou uma batida, mas logo acelerou a mil por hora. Depois de três semanas será que finalmente ela havia deixado de ser cabeça dura?

Mas não era ela. Havia uma figura loira que eu conhecia desde os doze anos olhando para mim com olhos azuis brilhando perversos. Ele era, com certeza, mais alto que eu. Possuía sempre o mesmo cabelo loiro engomadinho e sempre, sempre, tinha um sorriso malicioso nos lábios. Cato Ludwig com certeza já havia visitado todos os cabarés e bordéis da cidade.

– Peeta Mellark! – saudou meu melhor amigo. – Pronto pra pelada?

– Quem vai? – perguntei.

– Finnick e o Gale.

– Eles já estão lá?

– Não, mas vamos logo. Daqui a pouco escurece e – ele abaixou a voz para continuar, curvando-se, como se fosse um grande segredo: - Minha mãe reclama se eu chegar tarde em casa.

Eu ri e fechei a porta de casa, andando lado a lado com meu amigo.

E eu ainda cogitei a ideia de ser Katniss na minha porta. Ela não vai aparecer, desista. Uma voz dizia em minha cabeça e por mais que doesse admitir, ela estava certa. Passaram-se três semanas. Se ela quisesse aparecer, já teria aparecido. Bom, não a culpava... Culpava a teimosia dela.

– Terra chamando Peeta. Terra chamando Peeta. – dizia Cato sorrindo. – Mulher, certo, caro amigo?

Por isso que considerava Cato meu melhor amigo. Nada contra o Gale ou o Finnick, mas Cato era aquele amigo que entendia o que eu estava passando apenas com o olhar. Apesar de quase todo dia falar com Gale e falar uma vez por mês com o Cato (por conta da mãe dele, que não aprovava nossa amizade), era ele quem me conhecia desde pequeno e que me entendia. Ele que estava lá quando eu precisava de uma mão amiga. Não que o Gale não estivesse, mas... Cato era como um irmão mais velho, por causa de sua maturidade pra certas coisas e era como um irmão mais novo, por causa da sua infantilidade em outras.

De qualquer maneira, sabia que podia confiar nele. Jamais cairia nas fofocas da população.

Concordei com a cabeça afirmando que meu problema era mulher e contei toda a história minha com a Katniss.

– Peeta, sabe o que eu acho? – ele perguntou fazendo um triângulo com as mãos. Ele sempre fazia isso quando ia falar sério. – Que ela não apareceu não porque não quer namorar você. É porque ela sabe que se ela aparecer aqui você vai pedir explicações para ela.

– E ela tá certa, se for isso que pensa. Acha que não sou de confiança? Que vou fugir quando ver que a sua história é séria?

– Não. Já parou pra pensar que ela não quer contar não porque não confia em você pra falar os mistérios dela, mas porque ela não está pronta pra falar sobre isso com alguém?

– Talvez.

– Sabe que eu tenho razão.

– E você? Está com alguma namorada? – perguntei, desviando os olhos do caminho para as minhas mãos.

– Isso, Peeta, foge do assunto!

– Você também fugiu! Tem mulher complicada no meio, certo?

– Tem – ele confirmou. – Ela é minha aluna e tem quinze anos.

– Apenas imagino as fofocas que surgiriam se alguém descobrisse – brinquei. – Espanhol ou francês?

– Francês – ele respondeu. Cato era professor de línguas estrangeiras.

– Pelo menos ela corresponde.

– Nos beijamos – ele confessou, tímido. As mãos foram juntadas em um triângulo novamente. – Mas isso não pode continuar assim.

Eu estava pronto para ajudá-lo, mas parei de andar. Parei de falar. Parei de respirar também, eu acho. O campinho de futebol não era grande. O chão era barro e tinha uma cabine para os homens trocarem de roupa. Do outro lado, tinha três ou quatro bancos brancos. Ninguém nunca sentava ali para assistir as partidas.

Exceto naquele dia.

Katniss estava parada ao lado do segundo banco, com o rosto coberto por um pano azul. Vestia uma blusa branca e uma saia longa azul, com uma tulipa roxa na mão. Ela estava linda. Os cabelos pareciam molhados e, embora não pudesse ver seu rosto, sabia que ela olhava pra mim.

Procurei o olhar do Cato e ele entendeu o recado.

– Eu aviso ao resto que você acordou indisposto.

Assenti e indiquei o caminho de volta para minha casa com a cabeça. Katniss começou a caminhar atrás de mim. Enquanto eu andava, a única coisa que podia pensar é que ela estava lá e queria algum tipo de relacionamento sério comigo.

Ao entrar em meu apartamento, Katniss tirou o pano e um silêncio constrangedor nos consumiu. Se passaram vinte minutos, eu acho, e ainda estávamos em silêncio. Comecei a fitar a mão esquerda da Katniss, que estava na boca. Ela estava nervosa. Mas mesmo assim eu sorri, ao ver aquele rosto no qual sonhei durante as três semanas que se seguiram.

– Eu preciso falar uma coisa com o senhor – ela disse, quebrando o silêncio.

– Estou esperando – avisei, em tom de brincadeira.

– Eu preciso dizer alguma coisa? – ela perguntou, levantando o olhar.

Quando nossos olhares se encontraram, nuvens cinza no céu azul, eu soube exatamente a resposta.

– Não.

Dizendo isso a puxei, fazendo-a se levantar da poltrona e cair sobre mim no sofá. Ela me encarava com um sorriso verdadeiro na face. Olho no olho. Respiração no rosto. Como eu esperei por esse momento. O momento em que nos beijaríamos e depois do beijo poderia dizer “Eu te amo, namorada”, porque agora ela era minha namorada, só faltava o pai dela aprovar tudo isso, pois por ela tudo bem. Ela sabia que vindo aqui estaria aceitando o namoro e quando chegou não fez nenhuma objeção. Coloquei as mãos em seu pescoço aproximando ainda mais o seu rosto do meu, mas nosso quase beijo foi interrompido por batidas na porta.

– Você não parece doente – foi a primeira coisa que Finnick disse quando a porta foi aberta.

– Desculpe-me, Mellark, tentei mantê-lo longe – desculpou-se Cato.

– Tudo bem – respondi. – De qualquer maneira, Finnick, estou realmente cansado para jogar futebol. Peço licença, mas irei me deitar.

Fechei a porta, rezando para que ele não tenha visto a senhorita Everdeen ali. Quando me sentei no sofá, comecei a rir e encontrei Katniss com uma expressão divertida no rosto. Talvez estivesse achando engraçado me ver rindo daquele jeito. Então, lentamente, o sorriso foi se desfazendo, à medida que me concentrava mais no rosto da Katniss. Novamente com aquela conexão no olhar. Olhar apaixonado recíproco.

– Peeta, sabe que não... – começou com uma voz de culpa.

Calei a boca dela com um beijo rápido. Ao me separar, olhei nos seus olhos e a beijei novamente.

Separamo-nos e só naquele momento percebi que estávamos deitados no chão, ela por cima de mim. Alguns segundos se passaram e a única coisa que conseguia fazer era olhar para aqueles olhos cheios de mistérios.

– Estamos namorando? – ela perguntou, mordendo os lábios internamente.

– Só se o Sr. Everdeen aprovar – condicionei.

Impressão minha ou a Katniss havia engolido em seco?


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