Mistério da Rosa escrita por Ma Black


Capítulo 7
Flores ao Vento


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, sei que não estou respondendo os reviews, mas vou fazer isso agora. Deixei a fic naquela coisa de automático e tal, e acabou acumulando comentário.
Mas não vim falar sobre isso.
Vim falar sobre isso: https://www.facebook.com/groups/509459285819468/
Entrem nesse grupo ^^



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POV Peeta

Katniss havia acabado de sair da minha casa e não preciso dizer que estava feliz por isso. A cada minuto que se passava menos misteriosa Katniss Everdeen ficava. Descobri nela uma pessoa simpática, engraçada e de bom gosto (menos a história da pipoca doce), de modo que em pouco tempo parecíamos velhos amigos.

Cheguei à conclusão que Katniss era um pouco perturbada, pois depois de me contar toda a história de onde me conhecia, eu não vi graça nenhuma para o ataque de risos que ela teve. Talvez fosse por vergonha, pelo que ela fazia. Quer dizer que ela gostava de mim? Ela me amava desde aquela época?

Eu tinha 12 anos, eu acho. Você passeava com cachorros da vizinhança pra poder conseguir dinheiro. Bem, você passeava com um Schnauzer cinza de uma senhora chamada Mags, que por acaso era minha avó. Todos os dias, a minha rotina era a mesma. Eu ia pra escola, fazia minhas tarefas lá mesmo enquanto esperava mamãe me deixar na casa de vovó. Eu gostava de ir pra lá. Era conhecida de todos os vizinhos e paparicada em tal proporção. A empregada de vovó me mimava e a própria velha Mags passava alguns minutos trançando meus cabelos castanhos. Prim não recebia tamanha atenção e eu, por um lado, gostava disso. Porém, a melhor parte do dia, com certeza era quando o rapaz, talvez três ou dois anos mais velho que eu, loiro dos olhos azuis, ia pegar a cadela de vovó para passear. Você, Peeta. Vovó sempre batia um papinho com você e era nesse momento, que com as mãos suando e coração batendo forte, eu o espiava pela janela. O sorriso amarelo que você sempre dava para vovó, provavelmente com vergonha. O modo duro de andar, talvez com vergonha também. Seus tênis eram sempre azuis e você andava com um relógio de bolso azul, também. Eu me lembrava, é claro. Eram poucos detalhes, mas com algum tempo, aquela paixão platônica cresceu de um modo que parecia obsessão. Realmente era obsessão. Eu sabia disso. Sabia que o que sentia também não era nada sério, mas era divertido ver as reações do meu corpo de doze anos de idade ao olhá-lo. Eu gostava de olhá-lo. Quando vovó percebeu o que fazia, sorriu e passou a tentar fazer nós dois conversarmos. Mas sempre que você olhava para janela, eu me abaixava ou corria. Com as bochechas vermelhas, chegava ofegante no quarto e ou começava a rir descontroladamente, ou suspirar. Ou então esfregar as mãos no rosto, tentando espantar a vergonha. Certo dia, voltando da escola, eu até esbarrei com você e sorri ao ver que você tinha cheiro de perfume de cachorro. Não, não era ruim. Pelo contrário, eu gostava. Enfim, isso ficou até meus quinze anos”.

Depois de falar tudo isso, a morena parou como se quisesse deixar uma lembrança longe de seus pensamentos, escolheu as palavras e continuou.

Eu tive que me mudar pra uma outra cidade e perdi todo o contato que tinha com você. Dois anos atrás, quando fiz 20 anos voltamos para cá, mas você tinha parado de passear com os cachorros e nunca mais te vi. Vovó falou que você estava morando sozinho e que quando ia nos visitar na nova cidade deixava a cadela dela aqui pra você cuidar. Aquela noite eu não tive duvidas que você era Peeta Mellark. Você não mudou nadinha. Talvez agora esteja um pouco mais forte que alguns anos atrás, mas continua lindo como sempre.”

Falando essa última parte ela corou. Arrumei coragem pra fazer uma pergunta, mesmo imaginando que ela gostaria de fugir do assunto. Perguntei porque ela precisou se mudar e foi nesse momento que ela virou o rosto em direção a janela e exclamou um “está tarde”, levantando-se do sofá, beijando minha bochecha e saindo.

Deslizei os dedos para minha bochecha, podendo sentir ainda o molhado de seu beijo. Ela estava aqui e não foi uma alucinação porque estava sentindo o molhado do seu beijo.

Mas devo dizer que ela era um pouco atirada. Digo, beijar a bochecha de um homem, sem ao menos uma grande intimidade? Era estranho. Mas não me importava. Assim como não me importava com o fato de o pai dela apoiar o comunismo. Katniss Everdeen era Katniss Everdeen, não Haymitch Abernathy Everdeen.

Deitei em minha cama e tentei dormir, mas não consegui. A alegria não deixava. Depois de uma hora, finalmente peguei no sonho e sonhei com ela. Estávamos na praça da cidade, de noite e vazia, sem falar nada, apenas mergulhando um nos olhos do outro. Não havia pano cobrindo seu rosto e não havia preocupação em suas expressões. Ali, podia sentir Katniss sendo ela mesma.

Em cinco minutos – pelo menos foi o que pareceu para mim – os raios de Sol penetraram o meu quarto e me levantei, para começar a me arrumar para o trabalho.

Durante o dia inteiro não consegui me concentrar em nada, tanto que, na hora do almoço acabei colocando açúcar no prato ao invés de colocar no copo. Quando finalmente me concentrei em algo, os meus pensamentos sempre acabavam em uma morena que cobria o rosto. Viramos amigos, não? Vamos nos ver mais vezes então... A pergunta é quando.

Estava entrando em minha casa e surpreendi-me com uma carta embaixo de meu carpete. Era um papel rosa e o cheiro era de rosas, também. A letra redonda e delicada indicava no envelope “para Peeta”.

Querido amigo,

Primeiramente, desculpe-me por ter saído do nada de sua casa. Sei que a desculpa de estar escuro não foi bem sucedida, pois você sabe que meus pais não se importam com horário. Bem, não exatamente.

De qualquer maneira, sei que o homem quem deveria convidar uma mulher para sair e espero não estar sendo atirada, como as moças do salão de Beleza que minha mãe frequenta comentam que as moças da nossa família são, mas apreciaria sua presença na minha casa hoje.

Um jantar, com minha família. E depois, quem sabe, uma volta na praça?

Você conhece o endereço, te espero ao segundo tocar de sino da igreja.

Katniss A. Everdeen.

Depois de aspirar o perfume de rosas no papel, dobrei-o cuidadosamente e o coloquei em cima do sofá, indo tomar banho em seguida. No primeiro toque do sino, saí de casa. Enquanto caminhava, lembrei-me do sonho que tive. Sonhei que estava na praça com Katniss e não pude deixar de sorrir, afinal se ela estivesse sem pano no rosto estaria revivendo o momento.

Finalmente cheguei à casa da morena e não hesitei antes de bater na porta. Escutei passos e vozes dentro da casa e logo uma figura baixinha com longos cabelos loiros abriu a porta com uma carranca no rosto.

– Não posso fazer nada, ela convenceu nossos pais. Sobra para mim apenas te aceitar como amigo da minha irmã. Não a machuque – ela ordenou e fiz que sim com a cabeça. – Entre, senhor.

– A Katniss daqui a pouco desce – disse uma mulher atrás da Prim – Meu nome é Effie, muito prazer. Haymitch, o meu marido, não está em casa agora, mas daqui a pouco ele chega. Somos os pais da Katniss e da Prim.

– Ah... – disse um pouco desconfortável – Prazer.

Percebi que ela era um pouco tagarela. Digo, a mãe da Katniss. Ela possuía os mesmos cabelos castanhos e se não fossem as marcas da idade, seria facilmente confundida com sua filha mais velha.

– Sem cerimônias, querido, sente-se – convidou a Sra. Everdeen. – Prim, vá avisar que o amigo de sua irmã chegou. Mas, querido, eu realmente não tenho como agradecer.

– Agradecer o que?

– Bom, é claro que está saindo com a Katniss porque quer, mas de qualquer forma, agradeço por não ter preconceito. – disse e diminuiu o tom de voz para um sussurro – Não é qualquer um que aceita de imediato as condições dela.

– A senhora fala sobre política?

Ela estava prestes a responder quando Prim desceu as escadas, trazendo Katniss consigo. Linda como sempre. Ela não estava muito produzida, mas continuava linda. Seus cabelos estavam soltos com apenas três trancinhas na lateral dele e estava vestindo um vestido longo amarelo com estampa floral. Ela gostava mesmo desse negócio de flores.

Quando Katniss estava quase no fim da escada percebi que nada cobria seu rosto e sorri, sabendo que reviveria meu sonho. Suas bochechas estavam coradas artificialmente com maquiagem e seus lábios estavam com uma aparência molhada.

– Haymitch está demorando... – comentou a Sra. Everdeen, roendo as unhas. – Porque não dão uma volta pela praça? O jantar pode esperar, certo?

Katniss olhou para mim.

– Vamos?

– Claro. Até logo, Sra. Everdeen.

Ao passarmos pela porta, Katniss entrelaçou sua mão na minha e andamos por um tempo, até que ela apertou de leve minha mão e me parou.

– Esqueci o pano. Na praça há muita gente, Peeta, não posso ir lá.

– Então... Ah, já sei... Vamos pegar uma charrete.

Sussurrei o caminho para o condutor e sentei-me ao lado de Katniss. O caminho seria silencioso se não fosse o casco do cavalo batendo no chão. Finalmente chegamos e olhei para Katniss em expectativa.

Estávamos numa colina. Era um pouco frio, mas dava para ver toda a cidade. A grama era verde e gelada. Tirando as flores de todas as cores e tipos. Era um parque meio abandonado, mas ainda assim, bonito. Katniss tirou as sapatilhas e pisou na grama, fechando os olhos, como se quisesse sentir todo aquele momento.

– É lindo – ela elogiou.

– Imaginei que a senhorita fosse gostar. Sabe, é vidrada em flores.

– Sim. É perfeito. Me sinto como um pardal. Tão livre...

Começamos a andar em silencio e, no meio do caminho, Katniss pisou na barra do vestido. Tentei ampará-la o mais rápido possível para que ela não caísse no chão, mas a morena, mesmo um pouco baixinha, era pesada e nós dois caímos no chão, ela por cima de mim.

E novamente estávamos a poucos centímetros de distância e sua respiração ofegante estava batendo em meu rosto. Havia uma conexão entre nossos olhos, era como se eu não pudesse desviar. Como nuvens pesadas de chuvas estivessem pairando no céu azul. Cinza e azul.

Ela estava pesada, mas no momento não me importei com isso. Só queria tê-la em meus braços. Nossos lábios estavam quase se encostando quando ela acordou do transe. Sussurrou um “perdão” e saiu de cima de mim, se sentando. Levantei-me e sentei ao seu lado, encarando as flores indo e vindo com o vento. Virei o rosto para encará-la e comecei a admirar cada traço de seu rosto delicado. Depois de um tempo, a morena virou também e por causa do vento, seus cabelos estavam no seu rosto.

– Por que me olha? - ela questionou, olhando para o chão.

Eu sorri. Limpei a grama da minha mão direita na calça e afastei o cabelo dos seus olhos, colocando-os por trás da orelha. Novamente nosso olhar se cruzou e arrumei coragem pra fazer uma pergunta que estava entalada desde que saímos de sua casa.

– Katniss – disse quase em um sussurro – O que sua mãe quis dizer com aceitar as suas condições? Falava sobre política? O comunismo do seu pai?

Ela desviou o olhar. Era por isso que não podíamos ficar juntos. Por causa da sua condição. Mas que condição era essa? Política, apenas? Tinha quase certeza que não. Porque ela não falava de uma vez? Depois de um longo tempo e um longo suspiro ela falou:

– Peeta... Você pode deixar isso pra lá? Pelo menos por hoje?

– Posso.

Passei meu braço sobre o ombro dela e a trouxe mais pra perto. Ela descansou a cabeça em meu peito e assim ficamos encarando as flores por um bom tempo.


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