Não acredito que aquilo aconteceu, como será que eu vou poder olhá-la de novo sem ficar assim? Meu coração esta a mil e não parece que vai parar, o que devo fazer? E se ela não quiser mais olhar na minha cara?

— Ah! — Esse pensamento me fez suspirar. Os rapazes e eu estamos na praça da cidade, um lugar bem amplo com uma elevação no centro que é enfeitado com uma grande árvore. Na praça havia uma ponte de madeira e abaixo dela um lago de água límpida e clara. Olhar as crianças brincando tão alegres me fez acalmar um pouco, mas ainda tenho meu coração pulando de forma descompassada.

Como já tínhamos andado muitas quadras resolvemos nos sentar nos bancos de madeira pra descansar.

— Vamos Ikuto, foi só um acidente, não precisa ficar com essa cara... porque eu sei que você gostou. — falou Teito com uma cara maliciosa enquanto se sentava num banco. Meu rosto corou mais, até porque era verdade.

— Para com isso! Como você disse foi só um acidente, e é possível que a Anlu esteja se sentindo mau e nem queira mais olhar na minha cara. — disse a ele, que pareia não me entender.

Meus olhos foram ao chão só em pensar na Anlu sem querer falar comigo.

— Se eu gostei do beijo? LOGICO QUE SIM, não me culpem, foi meu primeiro beijo também. — confessei. — Tá eu sei o que vocês devem estar pensando como um cara lindo como eu pode nunca ter beijado uma menina? Eu também não sei; acho que estava esperando a pessoa certa, sou meio romântico e muito ( vejam o sarcasmo no muito ) humilde com minha aparência.

— Ela é linda, doce e mesmo que se pareça com a minha amiga, esta Anlu é diferente, não sei explicar, mas me sinto assim, ninguém tem o direito de me julgar, todos já devem ou vão sentir isso um dia. — disse a eles como eu a via, sem receio de mais nada. Não tinha mais o porque eu esconder deles e até de mim mesmo o que sinto pela Anlu.

— Só o que eu quero é que ela fique bem, evitar que ela se machuque ou que se sinta desconfortável... Mas depois do que aconteceu, sinto que ela não vai nem mesmo me dar a chance de me aproximar dela de novo. AAAAHHHH!... Minha cabeça esta uma confusão. O que eu devo fazer?

— Pare de se preocupar tanto, Ikuto! — disse Natsume me dando um tapa na cabeça.

— AI! Porque fez isso? — falei massageando o local que ele havia batido.

— Você deve estar pensando: Eu fiz algo horrível a ela. Ela não deve mais querer ver a minha cara. A culpa foi toda minha. Eu a amo. Não quero machucá-la... e mais bla bla bla, né ? — disse Natsume de um jeito debochado e com raiva ao mesmo tempo, mas ele estava certo, era desse jeito que eu estava pensando.

— Nós nos conhecemos desde pequenos, é claro que vamos te conhecer melhor ate do que você mesmo. Para de tentar aguentar esse sentimento preso dentro de você sozinho e nos conte o que quer fazer. — disse-me Teito, Natsume assentiu atrás dele concordando com o que foi dito.

Realmente, já tinha quase me esquecido que tenho amigos como esses comigo. Eles sempre sabem o que passa pela minha cabeça e sempre me ajudam nos momentos difíceis. Acabei cedendo e explicando o que eu sentia, que ela era diferente para mim, e eles me disseram que se sentiam da mesma forma, mas...

— Nós gostamos dela também, mas a vemos como uma amiga. A Anlu é diferente da do nosso mundo, mesmo que sua aparência seja igual, suas personalidades são diferentes e nos gostamos dela desse jeito, é por isso que não ficamos tristes ao seu lado. Gostamos dela sim, como amiga, mas você encontrou um novo sentimento para ela, diferente do que você tinha pela Anlu do nosso mundo. — falou Teito me olhando nos olhos, fazendo-me ver de que eu a amava, não porque ela era parecida com a minha amiga, mas porque ela era ela... a Anlu desse mundo, irritada, inocente, doce e linda.

Depois que terminamos de fazer a ronda fomos para casa, mas estou preocupado também com o Kisho, a ultima vez que sentimos sua presença foi a quase uma semana, depois daquilo não o sentimos mais, pode ser que ainda esteja se recuperando e tentando se manter escondido por enquanto.

— Temos que tomar cuidado, a qualquer momento Kisho pode voltar a aparecer e pode ser que esteja mais forte. — falei para os rapazes que estavam com a mesma cara de preocupação que a minha.

— Isso é verdade, desde aquela vez que sentimos sua presença, não tivemos mais nenhuma noticia dele. É possível que esteja esperando a hora certa para atacar. — falou Teito subindo as escadas do prédio.

— Mas quando esse momento chegar vamos estar prontos para ele Da ultima vez que nos enfrentamos a Anlu conseguiu feri-lo, e desta vez ele pode estar mais forte, mas nos também treinamos muito para aumentar nossos poderes. Todos nós. — falou Natsume demorando um pouco na ultima frase nos dando certeza de que Anlu também estava mais forte.

Quando chegamos na porta do apartamento meu coração parou por uns segundos. E se ela estiver brava e se estiver com tanta vergonha que nem vai querer olhar na minha cara? AAAHHHH esse sentimento de novo esta me invadindo. Pensei, suspirando para tomar coragem. Agora é tudo ou nada.

Teito abriu a porta e quando entramos meus olhos logo pousaram naquele verde esmeralda, que mais lembra um campo amplo e belo. Por um tempo me fez perder todo o medo que eu tinha, mas mesmo assim um rubor apareceu em seu rosto assim como no meu e nós desviamos o olhar. Mesmo que eu estivesse determinado em falar com ela naturalmente, não consigo.

— Acho melhor irmos dar mais uma volta, o que acha Natsume ? — Teito disse já voltando em direção a porta e sendo seguido por Natsume que a fechou. Ficamos sozinhos e no silencio sem no encararmos por um tempo, a tensão estava ficando cada vez maior, então decidi tentar falar algo.

— Bem... — nos dois acabamos dizendo ao mesmo tempo e por algum motivo aquilo a fez soltar uma pequena risada, que acabei seguindo também. Seu sorriso me fez ficar bem melhor, mostrando que naquele momento não deveria ter receio de falar com ela, e deveria explicar-lhes meus sentimentos devagar.

Fui ao seu lado no sofá e ela desligou a televisão, que passava algum tipo de seriado de comedia. Sentei-me a seu lado mantendo uma distancia, para que não lhe causasse qualquer desconforto e comecei a pensar em como deveria iniciar essa conversa.

— De todo jeito, tem que começar de alguma forma! — falei para mim mesmo, mas ela escutou e me olhou com uma cara de desentendida — Ah não é nada, só estava pensando um pouco e acabei pensando alto demais..hehe.

Ela pareceu não ter entendido muito mais deu um sorriso, como se também dissesse que estava na mesma situação, tão desconfortável quanto eu; mas aquele sorriso me fez ir aos ares; como amo o sorriso dela e é por isso que tenho que explicar o que aconteceu e o que estou sentindo, pode ser que ela me rejeite, mas nada é concreto. Então lá vamos nós.