Senhorita Granger,

                Se soubesse o quanto lhe quis contar todos os segredos que tinha dentro de mim, muitas vezes tive de a mandar sair do meu gabinete porque sabia que não iria aguentar sem lhe revelar quem verdadeiramente sou.

                Sinto falta desses encontros consigo, da sua vontade de aprender sempre mais, relembrou-me os meus tempos de estudante. A insatisfação permanente com aquilo que nos ensinam, parecia sempre tão pouco. Você queria ser melhor do que os outros, mesmo sem saber, apenas procurava saber o que estava nos livros, mas mudou, passou a aceitar que nem tudo o que vem nos livros é a verdade. Orgulho-me de ter sido seu professor, de me ter escolhido para duvidar dos ensinamentos escritos em livros.

                A menina ajudou a salvar o mundo, muggle e o nosso (bem, nossos são os dois, afinal ambos viemos do mundo muggle), não se deveria preocupar com a minha reputação. Entristece-me saber que chora, quando tem um sorriso tão lindo. Hermione Granger, a menina tem uma grande vida pela frente, não se preocupe com um morcego que sempre viveu em calabouços criados por ele próprio.

                O meu coração ganhou nova vida quando a senhorita perdeu o medo que tinha de mim. Fui obrigado a esconder tudo, mas era-me mais difícil esconder-lhe a si os meus sentimentos do que ao Senhor das Trevas que a minha lealdade pertencia ao Professor Dumbledore.

                Perdoe-me.

                                               Severus Prince Snape

                P.S.: não poderei enviar esta carta por uma coruja, vou guarda-la com carinho. Quem sabe, talvez um dia você poderá lê-la?

Antes do jantar, Hermione sentiu o impulso de ir ao dormitório. Deu de caras com a coruja que tinha enviado no dia anterior, tinha uma rosa negra atada à pata esquerda. Libertou a coruja e cheirou a rosa.

Severus Prince Snape,

                Nesta última semana pensei muito se haveria ou não de continuar a escrever, mas percebi que já não tenho grande escolha. Resolvi falar sobre os meus sentimentos, agora não os consigo calar. Sinto-me tão em baixo, a Ginny descobriu que o Ron anda metido com a Susan Bones. Tu sabes, o que me chateia não é ele querer outra, eu sei que não tenho o direito de obrigar ninguém a amar-me (sou uma pessoa vazia). É ele não me ter contado, a sinceridade tinha salvo a nossa amizade.

A coruja com que enviei a outra carta, trouxe-me uma rosa negra. Como? Foi um alívio, admito. Senti-te comigo, afinal no mundo da feitiçaria também há maneira de serenar o espírito de quem tem de viver depois de perder o coração.

Tanta coisa que gostaria de te escrever hoje, mas o tempo urge. O último ano de estudos não é mesmo nada fácil, irias gostar de ver que até o Harry estuda com gosto este ano (gosto de vos imaginar amigos, afinal deste a vida por ele…).

Está na altura de decidir o que irei fazer depois de deixar Hogwarts. Sei que poderia fazer qualquer coisa, mas não quero ser precipitada (e como se não bastasse sinto-me ligada à área das poções). Preciso de si, mais do que algum aluno precisou.

                               Hermione Jean Granger

Hermione viu uma coruja voar pela noite escura, iluminada pela lua e as estrelas. Um sorriso tímido, superou as lágrimas.