Uma garota jovem – com apenas 16 anos – estava sentada em baixo de uma árvore, com os olhos bem fechados e com sua mente presa à musica que tocava em seus fones de ouvido; um livro e uma mochila entreaberta jaziam esquecidos à seu lado enquanto ela se aprofundava mais e mais em seu mundinho. Até que algo gelado caiu em sua testa de repente, a fazendo tremer com um exclamar agudo.

Ela abriu os olhos e arrancou os fones de ouvido, olhando em volta para ter certeza de que nenhum de seus primos chegara antes da hora, mas não havia ninguém naquele espaço verde e aberto.

Algo branco de repente flutuou até seu braço, derretendo ao entrar em contato com sua pele pálida e quente, e ela enfim olhou para cima, sem conter um sorriso.

“Jack! Domenicha!”

Os próprio desceram dos galhos das árvores, Jack flutuando até o chão e Domenicha se deixando cair do galho em que estava, logo à frente da humana.

“Karol!” A garotinha pulou para os braços da garota, sendo bem segura em um abraço apertado.

“E aí, coelhinha!” Karol riu antes de voltar sua atenção para o espírito do inverno. “Oi, Jack. É tão bom ver você de novo.”

“Também é bom te ver.” Jack sorriu para a jovem e respirou fundo, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta. “Brisa legal, não? Está realmente um dia perfeitamente fresco para ficar fora de casa, ouvindo música, lendo por aí...”

Karol revirou os olhos com aquele tom de voz.

“Ora, e é claro que tudo isso é graças a você, o grande Jack Frost, o incrível espírito do inverno.” Ela entrou no jogo, em tom de deboche. “O que humanos adoradores de frio como eu não fariam sem você?” Os três riram com aquelas palavras, se divertindo com suas piadas internas.

“De nada, minha cara guerreira do frio.” Jack falou no mesmo tom de voz e sorriu enquanto via sua filha esfregar a cabeça contra a humana, mesmo não estando na forma Pooka ela mantinha algumas dos típicos movimentos de afeição. “Aliás, fazia um tempo que a gente não te via, fora da casa, quero dizer. Ou então na sua casa; você nem sempre estava por lá.” Ele deu de ombros suavemente. “Aconteceu alguma coisa?”

Karol parou para pensar ao ouvir aquelas palavras, baixando os olhos para os pés.

“Na verdade...” Parou novamente, processando melhor uma resposta. “Eu andei meio ocupada nesses últimos dias...”

“Suas bochechas estão um pouco vermelhas...” Jack não pôde deixar de notar.

“Oh, sim...” Karol tocou suas bochechas como se sem jeito, e era fácil ver que ela não queria falar sobre aquilo.

“Karol!” Domenicha ergueu a cabeça de repente, surpreendendo os outros dois. “Se lembra que você me disse que não se lembra de quando é pequena?”

“Sim, me lembro sim.” A garota deu um sorrisinho mínimo com aquele comentário.

“Eu descobri o porque!” A Pooka continuou rapidamente. “É que os seus dentes não estavam com a tia Tooth, eles foram roubados! Por uma tal de Gindy! E ela não deixava você se lembrar das coisas importantes!”

“É mesmo?” Karol não podia negar que estava interessada.

“Sim!” E o sorriso de Domenicha se alargou. “Então eu, Wonder e Nick fomos atrás dos dentes.”

Karol demorou para processar aquelas palavras.

“Oh, Domenicha, você não...” E nem pôde sequer terminar o que falava quando um cilindro dourado foi praticamente espremido contra seu rosto.

“Aqui estão eles!” Domenicha praticamente gritou de animação. “Eu peguei eles pra você! Pra você poder ver suas memórias de novo!”

A humana hesitou, pegando o cilindro com todo o cuidado possível, como se fosse um objeto de cristal que podia quebrar em suas mãos com o mínimo aperto; ela deu uma espiada na pintura na ponta da caixinha de dentes, vendo seu rosto em cartoon, sorridente como se esperaria de uma criança.

Karol levantou o olhar para Jack, como que se para ter certeza de que podia fazer isso, e Jack apenas fez sinal para que a garota encostasse os dedos na parte de cima, exatamente como Emma havia o ensinado há um bom tempo. A garota respirou fundo e fez como guiada; seus olhos se tornaram vagos enquanto as memórias passavam diante deles, e em pouco tempo lágrimas grandes escorriam por suas bochechas já bem avermelhadas.

Quando as imagens acabaram, ela nem pôde focar seus olhos, já que eles estavam completamente nublados pelas lágrimas.

“‘N-Nicha... J-Jack...” Karol conseguiu murmurar entre soluços. “O-obrigada... E-essa é a única...” E baixou a cabeça, impossibilitando os outros de ver seus olhos e falando mais baixo, como se não quisesse ser ouvida. “Coisa boa... Que me a-aconteceu... N-nesses d-dias...”

“Karol?” Domenicha chamou, surpresa ao ver a amiga se curvando contra si mesma no chão, apertando o cilindro contra seu peito com tanta força que seus dedos ficaram brancos.

A brisa suave de inverno atravessou a campina esverdeada.