Ah o calor do Brasil, como eu senti falta dele. A única coisa ruim de ser uma das modelos Angel da Victoria’s Secret era que nunca ficava em um lugar por muito tempo, sempre estávamos viajando. Não que eu esteja reclamando, nunca. Mas sinto falta dos meus antigos amigos e dele.

- AIMEUDEUS – minha melhor amiga correu até mim quando a avistei junto com meus pais – Que saudades – abraçou-me, mas não pude retribuir já que ela me abraçava de modo que prendia meus braços – Não se lembra mais de mim Anne?

- Como não me lembraria da minha melhor amiga barra irmã barra cunhada? – ela sorriu mais ainda quando disse cunhada, ela realmente amava meu irmão gêmeo – Você esta bloqueando meus braços Lívia.

- Ah desculpe – sorrimos.

- AIMEUDEUS que saudades filha – minha mãe imitou Liv o que fez nós gargalhamos – Olhe como você está linda – me deu um abraço de urso e sorriu pra mim. Minha mãe era linda, ou melhor, é linda. Mesmo com quase quarenta anos ela possui uma vaidade extrema.

- Oh meu bebê senti sua falta – meu pai veio me abraçar também e percebi algumas lágrimas saírem de seus olhos. Ah pai como senti sua falta. Sempre fui mais apegado com ele do que com minha mãe, era pra ele que eu contava tudo da minha vida.

- Eu também estava morrendo de saudade de vocês – limpei meu rosto que estava molhado devido às lágrimas que caiam demostrando saudades – Cadê o desgraçado do meu irmão?

- Não fale assim do meu namorado vadia – rimos com a irritação da minha amiga – Ele está fazendo uma prova na faculdade – Caio, meu irmão era muito inteligente. No final do ano retrasado ele fez o ENEM e conseguiu passar na UFRJ, medicina clinico geral.

- Já disse pra ele que estudar não da futuro – eu e Liv rimos e meus pais me repreenderam – Tudo bem, não é todo mundo que tem uma filha que larga tudo e vai seguir os sonhos de ser um anjo.

- Você não presta Ray – Ray era meu nome composto, Anne Ray Fronckowiak.

- Não fale isso perto de meus pais, Danvers – ela sempre odiou esse sobrenome por ser incomum no Brasil.

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- Amiga vai ter uma festa hoje lá em casa – estávamos no meu quarto, sentadas na cama – Você vai.

- E por que eu iria, Lívia? – bufei, será que ela estava com algum parafuso a menos?

- Porque essa festa é sua, uma festinha de boas vindas que eu planejei a uma semana – meus olhos se iluminaram. Só ela mesma pra fazer essas coisas por mim.

- Eu agradeço Danvers, mas por que na sua casa? – revirei os olhos – Eu não quero ver o seu irmão Lívia pelo amor de Deus me entenda.

- Eu já resolvi isso – revirou os olhos imitando-me – Ele vai estar na casa da namorada dele, relaxa – engoli em seco, era pra eu relaxar? Nate ainda estava namorando com aquela que foi a causa do nosso término?

- Eles ainda estão juntos?

- Sim – abaixou o olhar – Mas quase terminaram quando você foi embora, ele não queria saber de nada, nem dela – olhou pra mim esperando uma resposta, o que não aconteceu – Nathaniel não saia de casa pra nada e vivia pedindo seu número.

- Que triste pra ele – dei de ombros – Que aproveite com a vadia da Vanessa.

- Eu sei que você ainda gosta dele Ray – riu maliciosa e viu meu olhar irritado.

- Gostei muito Lívia tanto que sofri demais, você se lembra – assentiu –Ele me machucou demais, não quero mais sofrer, afinal só vou ficar aqui por um mês.

- Não me lembre disso, queria que ficasse aqui pra sempre – falou tristonha – Saudades da nossa época de colégio, agora faculdade me priva de muita coisa.

- Já está desistindo de advocacia amiga? – riu alto.

- Claro que não, eu amo advocacia – sorriu boba – Só que é muito trabalhoso essa madrugada passei acordada terminando uma redação de um livro sobre “direito trabalhista”.

- Que bom que está gostando – sorri – Eu queria também fazer minha tão sonhada faculdade odontológica, mas desde pequena sempre quis ser modelo.

- Eu sei disso – riu alto – Sua mãe sempre contava que você pegava as roupas dela e ficava desfilando na frente de seus pais e seu irmão.

- É um sonho sabe? Você percebe isso quando está no palco com a fantasia de anjo – falei maravilhada lembrando-me da primeira vez que subi como angel mesmo sendo novata - É inacreditável.

- Imagino – olhou pra mim da mesma forma que estava – Tenho orgulho em dizer que sou a melhor amiga da tão famosa “Anne Fronckowiak” – falou convencida e rimos. Como é bom conversar com ela.

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A festa tinha acabado de começar. Como sempre era uma daquelas festas grandes e exageradas que Lívia organizava. Não poderia negar que não gostei, afinal tinha cupcake e eu amo cupcake.

Muitas pessoas vinham me parabenizar pelo sucesso e única coisa que eu dizia era “obrigada”. Afinal a maioria está pouco se lixando com minha carreira ou comigo, pelo contrário estão com raiva da garota tão simples que conseguiu subir na vida, diferente deles que passaram a madrugada na internet chorando pela dura nota do Enem.

- Então o que achou da festinha? – minha amiga veio em minha direção entregando-me uma batidinha, neguei.

- Festinha? Não precisava chamar tanta gente Lívia, aposto que a maioria só veio por causa do cupcake.

- Como você? – assenti rindo – Ah qualquer é, poderia dizer obrigada pelo menos?

- Tudo bem, obrigada – sorri meiga – Senti falta de uma festa assim, as únicas que eu ia era premiers ou baladas.

- De nada – sorriu da mesma forma – Agora toma essa batidinha – esticou o copo em minha direção.

- Não, chega de álcool – repreendi pegando o copo de sua mão e entregando para o barman – Faz mal para saúde.

- E desde quando se importa com a saúde? – levantou as sobrancelhas.

- Desde quando sou uma modelo e tenho que ficar saudável – sorri esnobe - Não seria nada legal eu cair dura na passarela.

- Ai você é muito chata – riu.

- Chata, mas saudável – revirou os olhos – Posso ir ao seu quarto? Quero tomar banho – fuzilou-me com o olhar – Mas eu volto.

- Tudo bem, mas é pra voltar ok? – assenti.

Subi as escadas em direção ao seu quarto. Permite-se dizer que a casa da dona Maria – mãe de Lívia – era muito grande. O corredor parecia que não havia fim. Entretanto havia um fim. O fim era o quarto dele, Nathaniel. Céus, como essa palavra poderia ser tão bipolar me deixando da forma mais triste e feliz ao mesmo tempo.

E pra lá que eu fui.

Toquei na maçaneta pensando se iria fazê-lo ou não.

Não pense, apenas abra.

Seu quarto continuava da mesma forma que há alguns anos atrás. Continuava do mesmo jeito de quando Nathaniel transformou-me em mulher. Sorri com a lembrança.

Lembrar-se de quando namorávamos me fazia bem. Oque não fazia era lembrar-se do nosso término. Acho que nunca vou amar alguém como amei Nathaniel.

Sentei-me em sua cama para ver melhor as fotos da mesinha que ali do lado se encontrava. Havia fotos dele e da Lívia quando crianças, duas com sua namorada Vanessa e uma eu e ele quando ainda erámos amigos. Pelo menos não se esqueceu de mim.

- Anne?

Aquela voz que fazia todos os meus sentimentos pararem fez-me voltar à realidade e olhar em direção à porta.

Era ele.

- Nathaniel...