Os olhos de lobo a encaravam como se penetrassem o mais fundo em sua alma. A pelugem do animal era quase transparente em meio a toda aquela neve densa e às vezes ela se perguntava se aquilo era mesmo real. Ela gostaria que não fosse.

O som que se ouvia ao longe era o som do perigo e ela sabia disso. ‘’Kainaka, precisamos ir, eles estão à espreita meu bom amigo’’, disse ela ao lobo com a voz mais doce e acolhedora do mundo. Ela subiu no animal e os dois seguiram viagem, deixando pegadas cada vez mais fundas na neve e rachaduras cada vez mais espessas no gelo.

O cansaço começou a atingir o lobo e tiveram que esconder-se em uma caverna para descansar, o frio doía e o casaco dela não á protegia totalmente, então aconchegou-se na barriga de Kainaka e acabou adormecendo.

Horas depois, ela ouviu barulho e sabia o que iria encontrar se abrisse os olhos, não queria abrir, mas tinha. Três homens gordos e grandes seguravam seu amado animal, e apontavam uma pedra pontuda em direção á garganta dele. O tempo estava acabando.

''Não façam isso, por favor'' Suplicava de joelhos no gelo. ''Vocês não sabem a consequência disso, vocês não sabem quem é Kainaka''.

''Hahaha! Pois eu sei quem é Kainaka, é um animal estupido mas que com certeza renderá muito dinheiro quando for transformado em casaco'' Um deles falou, e voltou a rir.

''NÃO!'' A garota levantou-se ''Vocês não sabem quem ele é! Suas barrigas enormes os impedem de pensar!'' ela se arrependeu do que dissera.

''Como é?’’ o homem deu um passo para frente fazendo todo o gelo pendurado nas paredes da caverna tremer. ''Então me diga senhorita-sabe-tudo, quem é esse bicho? Hahaha!''

E antes que ela pudesse responder, um dos homens cortou a garganta de Kainaka, fazendo a neve ao redor do lobo tingir-se do vermelho mais puro e logo após soltando-o em cima do lago de sangue.

A garota caiu no chão aos prantos, as lagrimas saiam de seus olhos negros e pareciam que iriam continuar saindo até a eternidade, mas no meio do seu desespero ela juntou forças, levantou a cabeça, olhou para o homem que matara seu amado amigo e disse:

''Ele é...Deus''

E assim como Kainaka, ela morreu, os homens morreram, o mundo morreu, o universo morreu.

E qualquer sopro de vida, qualquer gota de esperança que havia sobrado, morreu junto.