Inominável escrita por Alyeska


Capítulo 3
Desprezada


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :3



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Jadis já havia resolvido o que fazer.

Precisava aprender magia, e para isso ela tinha que se esforçar.

A utilização da magia, naquele reino, era restringida às pessoas da nobreza, pois somente pessoas de sangue real possuíam o dom de desenvolvê-la. Como Jadis era uma princesa, isso não seria impedimento. Mas seria necessário grande esforço de sua parte para conseguir tão cedo o que pretendia. Além do mais, Jadis nunca antes havia se interessado por magia. Já que não iria governar o reino, acreditava que nunca haveria necessidade de usá-la. Agora estava ali, arrependida por não analisar a hipótese de que algum dia ela precisaria desses conhecimentos.

Pensava em que desculpa diria a sua mãe, para que ela não desconfiasse do interesse repentino. “Tudo o que ela faz pra conseguir o quer não passa de um jogo. Ela joga com todo mundo. Mas esse não é um jogo solitário”, pensou Jadis, “Esse é um jogo pra dois”. Chegou à conclusão de que a melhor maneira de fazer a mãe acreditar nela, seria fingir que estava mudando, fazê-la pensar que estava se tornando a mulher que a mãe queria que se tornasse: uma mulher igual a ela.

Era a mãe que ensinava a Makaira e Jadis tudo o que uma dama da realeza deveria saber. Desde que tipo de garfo usar para tal tipo de carne, até feitiços e poções que poderiam tirar a vida de alguém. Das aulas de etiqueta, Jadis participava. Mas não das de magia. Isso iria mudar a partir daquele dia.

Levantou-se cedo e vestiu-se para uma aula de magia: um vestido delicado, mas que permitisse movimentos mais espaçosos, como era frequente nas aulas. Por isso o vestido era curto, até um pouco abaixo do joelho, com uma abertura na lateral para facilitar a mobilização e uma calça colada por baixo, junto com sapatos baixos. O vestido era de um tom rosa claro, enquanto a calça era creme, assim como os sapatos. Normalmente Jadis preferiria roupas mais confortáveis, como o vestido sem mangas compridas e as calças um pouco mais folgadas, assim como botas, ao invés de sapatos, mas se iria entrar no jogo da mãe precisava agradá-la.

Atravessou metade do castelo, dirigindo-se ao campo que ficava nos fundos deste, onde mais adiante havia uma floresta pouco densa, com muitas clareiras, ideal para o treino. Charn quase não tinha campos ou florestas, pois era um reino que vivia do comércio, não da agricultura. Todos os cultivos necessários à sobrevivência de seu povo eram feitos nos campos dos limites da cidade, quase fora desta, pois ela era completamente pavimentada. O castelo foi construído no alto para que todos os seus moradores pudessem ter vista para toda a cidade, não para que pudessem admirar a paisagem, mas porque essa localização facilitaria a visão de possíveis inimigos se aproximando. A floresta do castelo só havia permanecido porque poderia servir de atalho de fuga para a família real. Havia algumas entradas no castelo que davam para túneis que se dirigiam exatamente para a floresta, onde as árvores forneciam a cobertura ideal para uma fuga. Antigamente havia até um estábulo quando se chegava à floresta, que era sempre mantido com provisões e cavalos, caso houvesse uma perseguição.

Jadis seguiu até a floresta, indo até a clareira onde sabia que a mãe e a irmã se encontravam. Estava um pouco nervosa, pensando em como a mãe e a irmã a receberiam, mas tentou afastar os seus pensamentos disso, pois precisava se manter centrada no que faria. Aproximou-se da clareira e diminuiu os passos. Caminhou mais um pouco e manteve-se parada, esperando que alguma das duas a visse. Foi a mãe quem a viu primeiro.

– Posso saber o que você está fazendo aqui? – disse a mulher bruscamente.

– Pensei no que a senhora me disse ontem – Jadis falou com a cabeça baixa, em uma tentativa de parecer humilde e arrependida.

– E entendeu que eu estava certa, não foi, querida? – disse a sua mãe com a cabeça erguida, sentindo-se superior.

– Sim, senhora – respondeu Jadis, que não queria estar passando por nada daquilo.

– Pois bem. Posso ver que está arrependida. Mas ainda não sei o que quer de mim – ela falou divertindo-se de uma maneira cruel com a filha. Makaira também estava contente com o espetáculo.

– Eu gostaria de me tornar uma dama. Como a senhora quer que eu me torne – Jadis percebeu o sorrisinho de triunfo que a irmã carregava no rosto. Irou-se ainda mais com o que estava acontecendo, mas não podia agir precipitadamente. Então pensou que tudo o que estava fazendo, a humilhação que estava passando, tudo isso era para que pudesse tirar aquele sorriso pra sempre do rosto de Makaira.

– E você acha que eu posso fazer milagres, querida? – disse a mãe com um sorriso cruel. Por essa resposta Jadis não esperava – Você é um caso perdido – continuou a mulher – Mesmo que eu quisesse e tentasse com todas as forças seria inútil. Olhe para Makaira. Ela é bela, elegante, inteligente e talentosa. Você acha que ela se tornou assim da noite para o dia? Não, querida. Isso tudo é fruto de anos trabalho. Nem que você passasse o resto da sua vida treinando, você nunca conseguiria se tornar uma dama – a essa altura Makaira sorria abertamente enquanto Jadis ouvia a mãe estupefata.

– Então a senhora não vai me ensinar? – Perguntou Jadis, ainda surpresa com aquilo tudo.

– Você é surda ou não prestou atenção em nada do que eu disse? Não, eu não vou ensinar você – disse bruscamente a mulher – Se eu não tivesse visto você sair do meu ventre eu não diria que você é minha filha – Jadis estava enfurecida, mas conteve as lágrimas de raiva e frustração.

– Você vai se arrepender disso, mãe. Vocês e todos os outros vão se arrepender amargamente de tudo isso – foi tudo o que Jadis disse antes de apenas virar-se e sair andando a passos firmes e largos, enquanto ouvia a mãe retornar aos treinos com a outra filha.

Durante todo o restante do dia, enquanto ficou trancada em seu quarto, e toda aquela noite, a única coisa em que Jadis conseguia pensar era na conversa que teve com a mãe no dia anterior. A conversa que a fez chorar. E agora, ao invés de desejar o amor e a atenção dos pais, tudo o que queria era vingança. Tudo o que queria agora a morte deles, especialmente a de sua mãe. E seria ela mesma que tiraria a sua vida.


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Notas finais do capítulo

Que conversa terá sido essa que a fez chorar e desejar matar a própria mãe? Opiniões? ^_^



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