With Hope at last escrita por abookaholic


Capítulo 1
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Nota da Escritora: Como fã de Jogos Vorazes, decidi escrever esse final alternativo, pois não concordei com as decisões finais da Suzanne Collins. Espero que gostem da minha versão.



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Eles estão brincando na Campina ao redor de Peeta. A menina de cabelos castanhos e olhos azuis e o menino de cachos louros e olhos cinzentos. Encontro o olhar dos três enquanto pulam um sobre o outro e não consigo esconder o sorriso que brotou em meu rosto.

Sorrir. De acordo com Peeta, eu não fazia isso há muito tempo. Dizia também que os dias pareciam mais limpos e o pôr-do-sol adquiria um tom de laranja único (não como os cabelos de Effie, enfatizou, um pouco mais intenso) quando eu demonstrava quaisquer indícios de um sorriso. Tudo parecia mais harmonioso, o que costumava inspirar os seus mais belos quadros.

Nossa galeria está lotada de pinturas do Distrito 12 e de memórias. Peeta vinha se lembrando de nós dois cada vez mais, e as perguntas sobre o real e o imaginário se tornaram menos constantes. Mas junto daqueles momentos, vinham as situações horríveis pelas quais passamos nos Jogos. Os pesadelos de Peeta eram contínuos, assim como os meus. As noites eram interrompidas por gritos abafados nos travesseiros, mas aquelas imagens assombrosas sempre caíam por terra quando quebrávamos a mísera distância entre um lado da cama e o outro.

“Estamos bem”, pude dizer com clareza para a minha mãe. Ela, por outro lado, atendia minhas ligações na esperança de ouvir muito mais que isso. Mas os Jogos deixaram cicatrizes profundas que ainda latejavam; que ainda doíam. Cicatrizes essas que nunca iriam sumir. Porém, prometi ao Peeta que nossos filhos nunca saberiam disso. Eu sei que fingir que algo nunca aconteceu não é a melhor maneira (nem a mais madura) de se lidar com uma situação, mas não saber que os Jogos existiram, assim como não ter conhecimento do rastro de sangue que o mesmo deixara, é um privilégio para poucos. Muitos vitoriosos matariam para conseguir isso – o que seria uma grandessíssima hipocrisia.

Os Jogos Vorazes não existem mais. As arenas foram completamente destruídas. Restam somente histórias de suas chacinas televisionadas. E eu e Peeta faríamos de tudo para evitar que os nossos filhos se ferissem com algo que não fazia mais parte do cotidiano de Panem. Aquilo era um fardo só nosso, assim como os buracos que residem em meu peito.

Mas naquela manhã, um desses buracos (o maior que restara) foi preenchido com certezas, e não dúvidas.

Gale voltou ao distrito 12 após permanecer incomunicável durante anos. Não para ficar, enfatizou na primeira oportunidade, pois tinha uma nova vida em outro lugar. Não quis dizer muito sobre o que fizera nos últimos anos (e eu insisti muito para que ele dissesse). Ao invés de me dar detalhes, Gale sorriu com aquele mesmo jeitinho de sempre e me tranquilizou com suas palavras:

– Eu estou muito bem no distrito 2, Catnip. E é isso que importa. – Olhou para mim como se me analisasse por completo, procurando por algo de errado. Aquele mesmo jeitinho protetor, deduzi. – Voltei porque queria ver com os meus próprios olhos se o que Finnick Odair disse na última entrevista era verdade. – Voltou o olhar para Peeta deitado no gramado junto das crianças que estavam entretidas com os inúmeros papéis e pincéis espalhados na Campina, acompanhando seus movimentos com a mesma expressão vazia de antes.

Finnick Odair sobreviveu milagrosamente ao último incidente, dissera Coin. Foi difícil para os médicos da Capital de Panem manterem aquela mesma aparência impecável e arrebatadora de antes. Contudo, Finnick passou a carregar cicatrizes reais – não me refiro às metáforas – e esdrúxulas. Mas ele demonstrava ter orgulho delas, pois sempre arranjava um jeito de enfatizar a existência das mesmas. Segundo ele, é a prova incontestável de que a Capital não conseguiu “castrá-lo”. Uma péssima definição, eu diria.

– O que ele disse? – Perguntei livrando-me do devaneio e tirando a atenção de Gale da Campina. Era extremamente doloroso vê-lo com o olhar fixo na minha nova família. Embora Gale não parecesse “conformado”, sua mão esquerda gritava o contrário. O brilho de uma aliança dourada chamou a minha atenção assim que ele surgiu na minha porta.

– Que você estava feliz, Catnip. – Disse, assumindo uma expressão diferente e inusitada. – Eu tinha medo de voltar e não conseguir olhar para você, mas não dava para continuar vivendo com essa dúvida.

Então, uma coisa estranha e incomum aconteceu.

Senti o meu rosto ruborizar. Tampei minhas bochechas, mas não consegui conter um sorriso exagerado e atípico. De repente, uma risada nervosa escapou por entre os meus dentes. Quis impedir que aquela situação estranha continuasse, mas deixei que espontaneidade daquele momento dominasse o meu corpo e espírito. Era um sentimento novo e magnífico. Algo que eu vinha buscando com grande afinco em meio a Campina nos últimos anos no distrito 12.

Alívio. Eu estava aliviada e livre das minhas incertezas.

Vi Peeta me olhar de longe e se aproximar junto das crianças, e, pela primeira vez, pude dizer para mim mesma que estava feliz. Não “só bem”, como dissera à minha mãe. Estava feliz por Gale não abandonar a nossa amizade. Feliz por não sentir vontade de vomitar minhas acusações em cima dele sobre Prim. Feliz por Peeta aceitar aquilo, a presença dele ali, sem nem sequer erguer uma sobrancelha em sinal de preocupação ou desconfiança, assim como pensei que faria.

Feliz por estar viva e sentir isso.


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