Teen Banshee escrita por Mr Cookie


Capítulo 6
Sail


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Bom, desculpa pela demora. Tô morrendo de sono, então um grande, big, hiper obrigado por todo mundo que acompanha TB e um maior ainda para quem comentou no último capítulo! Eu não ando muito bem, então... bem que vocês podiam me presentar com uns comentários bem legais... *u* Kkk! Bom, aproveitem. Espero que gostem. ;x



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Talvez eu seja de uma raça diferente

Talvez eu não esteja ouvindo

Então culpe o meu D. D. A

Navegue!

— Sail, Awolnation

Hanna terminou o longo sorriso na carinha torta que tinha desenhado no caderno. Ela suspirou e olhou triste para o rostinho. Ele estava feliz, ela não. Era simples, e ver aquilo não aumentava seu humor. Então, simplesmente, Hanna apagou o sorriso, contornou uma linha torta para baixo e desenhou uma lágrima saindo dos olhos da coisa.

— Alguém pode me responder qual o valor deste coeficiente? — o professor perguntou. Ninguém respondeu. Ele coçou os cabelos. — Ok, então alguém vai ser premiado. Ei, você! Como é o nome dela?

Houve um burburinho, enquanto os jovens sonolentos tentavam identificar a quem ele estava falando.

— Não, essa aí. Essa aí, olha! Maldita miopia! Ei, garota! Ei, menina da touca! — Todo mundo se virou para encarar Hanna, que estava absorta, desenhando outra carinha depressiva.

— Hanna! Hanna, acorda! — o amigo dela sussurrava ao seu lado, mas ela não queria falar com ninguém naquela hora.

— Olhem, uma barata! — uma menina morena exclamou. Hanna gritou de susto e levantou a cabeça de repente, procurando o inseto. Ela morria de medo de insetos, principalmente os que voavam. Todo mundo riu, menos o professor.

Ele arrumou os óculos fundo-de-garrafa para tentar enxergá-la melhor.

— Então é Hanna, ahn? — a garota o encarou e quase levou um susto. Era o novo professor de matemática, o sr. Hulbert. Os óculos enormes aumentavam tanto seus olhos azuis que, junto com o cabelo curto e loiro platinado, o fazia parecer uma mosca albina. Todo mundo se calou.

Hanna pigarreou.

— S-sim.

— Então, Hanna, qual o valor?

— Que valor?

Houve um risinho abafado por toda a sala.

— Do coeficiente i — o professor respondeu, paciente. Hanna olhou para a lousa. Havia montes de números, i's, parênteses e x's que lhe deram uma repentina dor de cabeça. Ela olhou de esguelha para o seu amigo, pedindo socorro internamente. Thomas fingiu coçar os cabelos curtos, crespos e negros enquanto mexia com a boa. Mas Hanna não entendeu, obviamente. Ela nunca entendia...

— O valor é caro, muito caro — ela disse. A classe desabou em risadas.

Hanna sentiu vontade de pular de um precipício. A frase de Lydia ressoou em suas entranhas. ''[..] Recomendo, realmente, que procure um psicólogo, faça um tratamento e depois coloque na sua cabeça: não existem mais mocinhos!''.

O professor balançou a cabeça de modo compreensível.

— Não, não. Observe. — Ele continuou a escrever na lousa com o giz. Todos observavam quietos. Havia algo nele que prendia toda a atenção das pessoas, como se fosse uma armadilha sem saída.

Ele escrevia, escrevia, e, aos poucos, a conta diminuía. Hanna não conseguia tirar os olhos da resolução. Em cada novo rabisco, sua curiosidade se atiçava mais e mais... até que um grito horrendo a acordou.

Era fino e rouco como de uma gralha, e fez subir em sua espinha o arrepio mais gelado. Tudo era mais sensível em Hanna, e aquilo abalou todas as suas estruturas. Ela sabia de quem era, sabia quem gritava. Era Lydia.

Ela se levantou rapidamente, boquiaberta. E não foi só ela. Havia quem tivesse tampado os ouvidos, quem caísse da cadeira e até quem gritasse junto. O sr. Hulbert rapidamente soltou o giz, assustado.

— Acalmem-se! — ele berrou, indo em direção à porta e fechando-a. Nesse mesmo instante, o grito cessou. Mas o desespero não. Pavor em cada face, lágrimas de susto a cada fileira de carteiras e o duro baque no corpo de Hanna, que não a deixava se mexer.

Seu amigo a encarou. Seus olhos verdes, outrora brilhantes, estavam obscurecidos. Ele arfava ruidosamente.

— Está tudo bem? — ele perguntou-lhe. Ela engoliu a seco e meneou com a cabeça. Thomy franziu o cenho. — Será que isso foi...

— Foi. — Thomas olhou para ela preocupado.

— Fiquem quietos e abaixem-se — ele disse, com a voz quase inalterada, apesar do tremor compulsivo em suas mãos demonstrar o contrário. — Ei, vocês dois — dessa vez ele sussurrou para dois garotos grandes que estavam perto da janela. — Tranquem as janelas. Todo mundo fica quieto até descobrirmos o que foi isso.

Todos se abaixaram, abrigando-se sob as carteiras. Ele pegou uma cadeira com habilidade e forçou seu encosto contra a maçaneta. Todo mundo sofria seus pavores silenciosamente. Thomy ficou encarando Hanna com aquela expressão que sempre fazia quando queria lhe dar peso na consciência.

Ela apertou a touca sobre os cabelos ondulados.

— Não posso fazer nada — ela disse, mais para si mesma do que para ele.

— Nem eu. Não posso soltar fogo, sabe? Mas se eu pudesse com certeza ativaria o alarme de incêndio. — Seus olhos soltaram um brilho fosco, como sempre faziam quando ele tinha uma ideia brilhante. Thomas era brilhante!

— Você é brilhante — Hanna gesticulou com a boca.

— Não, só reflito luz. — Ele deu uma piscadela.

Hanna sorriu tenuemente e depois ergueu a cabeça a procura do alarme de incêndio. Ele estava quase escondido no fundo da sala, sobre uma carteira que abrigava menina ruiva que chorava e discava alguma coisa no iphone. Hanna percebeu que ela não era a única. Haviam várias conversas pela sala que envolviam pedidos de socorro silenciosos.

— Está muito longe — balbuciou.

Thomy olhou para os lados, procurando alguma alternativa. O alarme nada mais era que uma espécie de ''grande botão'', preservado por uma plaquinha de vidro. Qualquer toque o ligaria. Mas como quebrar o vidro e apertar o botão sem chamar atenção?

— A compreensão de ar gera calor... — ele disse a si mesmo. — Então calor gera compreensão de ar!

— O ar não vai compreender o que está acontecendo. Nem nós estamos compreendendo! — Hanna exclamou.

— O quê?! Do que você está...? Não, esquece. Não quero saber. Só foque calor dentro daquele alarme, por favor!

— Eu não consigo fazer coisas pegarem fogo só de encará-las — Hanna disse, baixinho. — Só o meu irmão consegue fazer isso, e ele só pode fazer sobre ''meios propícios''. Foi o que ele disse. E olha que nem sei o que é ''meios propícios''!

— Não precisa de fogo, só calor. Se você conseguir concentrar um pouco de calor lá dentro vai ser o suficiente para quebrar o vidro e ativar o alarme, ao mesmo tempo.

Hanna fitou novamente o alarme. A menina ruiva sob ela agora tinha parado de chorar e se aconchegava debaixo da carteira. Era o momento perfeito.

Ela fixou toda a atenção no objeto. Podia sentir a energia evacuando de seu corpo e se acumulando lá dentro, e a força fazendo-a ouvir a pressão e o sangue latejando na cabeça. Nada acontecia.

— Só mais um pouco, Hanna — Thomy sussurrou.

Ela fechou os olhos com força. Emoções fortes... Emoções fortes era do que ela precisava!

''Não existem mais mocinhos'', Lydia falava em sua mente.

''Para toda doença existe uma cura! Se existe mal, existe o bem, Hanna, lembre-se sempre disso!'', tia?! Tia Lisa?!

''Tia Lisa está morta'', dessa vez era sua mãe.

Um ruído cortante atravessou toda a sala. Era como um vaso caindo no chão. Logo depois um apito seco e assustadoramente alto quase a deixou surda. Gritos acompanharam-no. Ela abriu os olhos.

— Você conseguiu, Hanna! Vamos! — seu amigo gritou, em meio ao caos. Pessoas corriam para a porta, gritavam, choravam. Um garoto tirou rapidamente a cadeira da porta e a abriu, sendo seguido por quase toda a classe. Sr Hulbert tentava acalmar todo mundo, gritando próximo ao quadro, mas parecia mais medroso que o restante.

Em meio a toda confusão, Hanna sentiu sua mão sendo puxada, impulsionando-a, forçando-a a correr.

Antes de ser levada da sala, sem forças, Hanna viu o último vislumbre do interior. Havia uma incandescente chama fina derretendo o botão do alarme, que se apagou quase instantaneamente.

— Qual a sala do seu irmão? — Thomas gritou, mais alto que todo o barulho. Ela encarou as safiras que eram seus olhos.

— Décima...

— O quê?! — Thomy gritou.

Hanna piscou duas vezes para se manter concentrada. Eles estavam no corredor, cheio de pessoas correndo freneticamente e gritando. Ela pigarreou, tentando forçar a voz.

— Décima! — berrou.

E pareceu bem alto. Alguns jovens que também berravam até viraram a cabeça para olhá-la. Thomas levou um sobressalto.

— Jesus! O que foi isso?!

— Meu irmão.

— Hã?!

— Ele está vindo! — Ela apontou para o lado contrário. Contra a ''correnteza'', Richard andava imponente, com a usual expressão... sem expressão! Estava com aquele mesmo lindo topete que despertava nas outras garotas a vontade de despenteá-lo, com o mesmo olhar penetrantemente verde-escuro e os Vans roxos. É, ele realmente gostava de Vans.

Ele avançou contra Hanna, abraçando-a com todas as forças.

— Você está bem? — ele perguntou, encarando-a.

— Não mesmo. — Dessa vez ela não soltou nenhum risinho tênue. — Você sabe de onde veio o grito da Lydia?

— Não, mas sinto o cheiro do Dolce Gabbana dela — ele disse, impassível. Hanna arqueou as sobrancelhas, em desconfiança. Thomy tentou abafar o riso.

— Cof, cof! Acho que engasguei com saliva! — Ele bateu as mãos no próprio peito, ao ver Richard taxando-o com aquela cara de paisagem.

— O quê?! — Rick perguntou.

— Como você sabe isso? E o que é Dolce Gabbana? — Hanna perguntou.

— Vamos logo salvá-la antes que alguém precise me salvar de morte por vergonha alheia!! — Thomy disse, empurrando-os.

Eles correram contra o amontoado de pessoas, com Richard na frente, a cabeça erguida e o corpo rígido. Viraram um corredor, dois... até que chegaram a um ponto deserto: o banheiro feminino.

— É daqui que vem o perfume — Rick falou.

— Jesus! — exclamou Thomy. — Como eu não pensei nisso?

— Acho melhor ficar aqui, Thomas — Rick disse.

— Mas eu não acho. A probabilidade de um monstro decapitar minha cabeça é muito mais alta se eu não estiver acompanhado de seres superpoderosos que soltam fogo — ele disse.

Richard deu de ombros.

— Ok.

Thomas meneou com a cabeça.

— Ok.

Os dois ficaram se encarando.

— É melhor eu entrar, não é? — Thomy perguntou.

— Acho que sim — Rick respondeu.

— Saiam da frente! — gritou Hanna.

Os meninos a obedeceram. Uma chama incandescente surgiu na mão de Hanna e ela chutou a porta do banheiro, entrando de uma vez. O recinto tinha uma cor de bronze fosca, os espelhos sobre as pias não estavam quebrados (bem diferente do banheiro masculino) e quase não havia resquícios malcheirosos.

Richard entrou logo após. Ele sentiu uma mistura de perfumes: o Dolce Gabbana de Lydia, doce e luxurioso, um Montblanc Femme, amadeirado e sensual, e outro, que, pela primeira vez em muito tempo, ele não soube responder: era cítrico e forte.

Hanna se adiantou na sua frente e foi abrindo os boxes de um por um.

— Não tem ninguém aqui. Acho que você errou, Richard — ela disse.

— Realmente não tem ninguém aqui. Mas tinha. — Richard apontou para um lugar.

Hanna seguiu o caminho do dedo do irmão e viu uma janela aberta, grande o bastante para caber uma pessoa magra.

— Ok, mas o que a janela tem a ver com o que está acontecendo?

Thomas a encarou, meio incrédulo, enquanto Rick pôs a mão no rosto. Hanna ficou olhando para o vácuo, com a boca semiaberta.

— Ah, entendi! — ela disse, sorrindo, depois de alguns segundos.

— Rick, você consegue passar pela janela? — perguntou Thomas, encarando-o. O outro o encarou de volta.

— Não me chame de Rick — ele disse, e dessa vez a voz saiu um pouco ameaçadora. — E não, não passo. Acho que vamos ter que dar a volta.

— O mundo inteiro deve estar lá fora... — grunhiu o humano. Ele ergueu até a ponta dos pés e encarou o cenário lá fora, pela janela.

Tudo o que havia eram os pinheiros que frequentavam toda a cidade, como uma segunda população, e o grande campo de Lacrosse, as arquibancadas vazias e o gramado brilhando de orvalho.

Thomas olhou mais para o fundo, por onde ficava a entrada dos alunos e a saída pelo ginásio. Luzes e gente e vozes e mais uma confusão de barulhos se juntavam ali.

— Não tem ninguém! — ele exclamou, virando-se para os amigos. — Mas a entrada e a saída já estão lotadas. Vão entrar aqui rapidamente.

— E isso quer dizer...? — começou Hanna.

— Ou saímos pelas entradas e saídas principais, ou adiantamos o trabalho e saímos pela janela. Isso aumenta exponencialmente a chance de resgatarmos a garota com vida.

Os dois irmãos se encararam por um momento, preocupados. Thomas também os encarou, esperando uma resposta.

— Hanna, é perigoso... — Rick começou.

— Sempre foi! — Hanna interrompeu.

— Tudo bem — Richard disse, ainda não aceitando muito. — Eu vou pela porta da frente. Se Lydia estiver lá, eu ligo. Se não, eu ligo também. E vocês vão esperar bem quietos.

Thomas franziu o cenho.

— Mas a intenção de sair por essa janela minúscula não é adiantar a missão ''salvar de sei-lá-o-quê a desconhecida que eu nem conheço''? — Thomy perguntou.

Richard o encarou com aquela cara de paisagem, embora os olhos estivessem fuzilando-o. Thomas encarou de volta, mas com uma expressão bem mais fechada.

— Thomy, quem tem síndrome de Asferger sou eu, não você — Hanna disse, inocente.

— É Asperger — Thomy corrigiu.

Rick esqueceu-se do desentendimento e virou para a irmã, curioso.

— Quem disse que você tem isso? — perguntou.

Hanna fitou o chão por um momento, triste por lembrar do que Lydia lhe dissera mais cedo.

— Lydia — a garota revelou, prensando a touca contra a cabeça.

— O quê?! — exclamou Thomas, as sobrancelhas quase juntas de tão franzidas. — Mas por quê?!

— Não sei. Acho que foi porque eu a chamei de vadia.

Thomas sorriu largamente. Richard abriu a boca de leve.

— Não consigo discordar. Ela realmente parece uma vadia — Thomy falou. Richard o encarou novamente e ele não falou mais nada.

— Você é a melhor pessoa que eu conheço, Hanna — ele disse, olhando dentro dos olhos da irmã. — Nunca deixe se abater por causa dos seus defeitos. Uma qualidade vale mais que mil deles, e você tem muitas!

Hanna sorriu docemente, sentindo o coração alegre depois de tanto tempo.

— Obrigada, Rick!

— Não me chame de Rick — ele disse, após sorrir.

— Então, detesto estragar esse momento entre vocês, mas acho melhor irmos lá e salvarmos a vadia — disse Thomas.

Richard revirou os olhos de leve e deu um beijo na testa de Hanna.

— Tomem cuidado! Encontro vocês daqui a pouco! — ele disse, saindo rapidamente pela porta do banheiro.

Thomas bateu as mãos, esfregando uma na outra.

— Vamos lá, garota-salamandra! Ajude-me a escalar essa montanha!

— É uma janela!

— Foi uma metáfora, Hanna!

— E o que é uma matéfora?

— Oh, Jesus...!


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