–Você deveria prestar atenção.

–Por quê? – perguntei continuando concentrada no meu celular. – Sei que nunca vou usar na minha vida.

–No vestibular vai! – Larissa sempre querendo bancar a mãe.

–Lari, a gente está na primeira semana do segundo ano. Da uma relaxada! Ainda falta quase dois anos pro vestibular.

–Você fala isso porque é nerd e nunca precisou de nota para passar em nada. – ela está certa, eu realmente sempre tive certa facilidade com a escola. – Queria ser como você.

–Não, não queria não. – respondo rindo.

–É. Acho que não mesmo, minha vida seria muito chata.

Larissa as vezes arranja problemas com sua sinceridade, mas nunca comigo. Nossas mães chegam a brigar conosco por sermos muito mal educadas uma com a outra, mas entre nós sabemos quando estamos realmente brigando ou não. Mas até nossas brigas na maioria das vezes são por bobagens e no final acabamos rindo. Dou graças por ter uma amizade assim, melhor coisa que aconteceu na minha vida. Nossa amizade vem desde quando tínhamos uns 5 ou 6 anos. Realmente nos consideramos irmãs, por isso agimos feito irmãs. Ela chegou até a a chorar quando meu irmão nasceu há 5 anos atrás. O estranho dessa amizade é que somos realmente diferentes. Ela é toda chique com roupas coloridas e felizes e eu com minhas roupas simples e quase sempre escuras. Ela é extrovertida e amigável e eu sou tímida e de poucos amigos. Ela é extremamente romântica e eu quase que fujo de romances. Mas a gente supera esses pequenos detalhes.

–Vem Gabs, quero falar com a Nati e a Re. – Larissa levantou e disse quando o sinal bateu. – Quero contar uma fofoca! – Lari e suas fofocas.

–Qual a fofoca de hoje? – perguntei me fazendo de interessada e saindo com ela até a sala ao lado.

–Espera para ouvir quando eu falar para elas também. – Ela disse me puxando para fora da sala.

Natália e Renata eram a outra metade do nosso grupo de melhores amigas. Sei que essa frase pareceu infantil, mas é a verdade dita em poucas palavras. Nati, posso dizer com toda certeza é a mais bonita de nós, cabelos e olhos castanhos claros e com o corpo que Deus lhe deu pode conquistar qualquer um. Larissa parece mais europeia do que brasileira com seus olhos de um azul intenso e cabelos loiros claríssimos, mas que ela faz questão de colocar mechas castanhas, o que eu fui totalmente contra. Nunca trocaria um cabelo loiríssimo pra colocar mechas castanhas. Mas é o que falam, morenas querem ficar loiras e loiras querem ficar morenas. Renata, uma menina compacta na questão altura e magreza, é morena da pele clara e namora há mais de um ano com o Caio, que parece irmão da Larissa por causa de seus olhos e cor de cabelo, que infelizmente é meu melhor amigo.

–Meninas, vocês não sabem. – Lari disse animada.

–Se você não disse é óbvio que não sabemos. – Re respondeu abrindo um sorriso.

–Aí, como vocês são grossas. Já pensaram em – Lari as vezes dispersa do assunto.

–Fala logo Larissa. – Nati pediu dando ênfase no “ssa”.

–A Dani ta namorando o João. – Larissa logo respondeu e Nati abriu a boca em formato de O.

–João Menck? – Nati perguntou.

–Siiiiiim. – Lari respondeu prologando o i e quase dando pulinhos de alegria ou surpresa, não sei. Minhas amigas não são normais.

–Não creio.

–Só você então né Nati. Todo mundo já tinha percebido que eles estavam com um “romancezinho”.

–Quero ver como vai ser o churrasco de amanhã com eles de casalzinho. – respondi.

–Qual seu problema com casais? Juro que depois de tanto tempo de amizade ainda não te entendo.

–Não tenho problemas com casais, só nunca fui muito com a cara da Dani.

–E sempre quis a cara do João bem perto da sua.

–Nossa que tirada péssima Re. – respondi e elas riram. – Mas claro que não, só achei que naquela época que a gente estava ficando ia acontecer alguma coisa e quando não aconteceu fiquei meio decepcionada, só isso.

–É, e puta de raiva.

–Acho que já chega de falar de mim né? – protestei.

–Acho que não, continuem adoro saber um pouco mais da Gabi.

Guilherme chegou na rodinha e disse. Guilherme, para mim, era o menino mais lindo de toda a escola. Ele não é loiro e nem tem olhos claros, mas os traços deles, o charme, não sei direito o que é, mas deixa ele o menino mais bonito de todos pelos meus olhos. Ano passado quando ele veio falar comigo e acabou virando um amigo eu não acreditei. Se ele um disse desse bola para mim, eu faria qualquer coisa para ele com toda certeza, mas ele insistia em dizer que não passamos de meros amigos e ele não ficava com meras amigas dele. Talvez um dia sejamos mais que amigos.

–Então por que ainda não fez o método onde você conhece melhor uma menina? – Larissa sempre direta e sincera e com um sorriso na cara.

–Quem sabe um dia. – Ele respondeu se aproximando me dando um beijo no rosto e saindo.

Espera, oi? “Quem sabe um dia”? Acho que ganhei o dia com isso, com toda certeza. O dia que esse “quem sabe” acontecer vou ganhar o ano.

Voltamos para as salas e dessa vez fiquei bem atenta a aula, nunca desperdiçaria uma aula de história com o professor mais lindo da escola com joguinhos ou internet. Além disso, mexer no celular na aula é falta de respeito com o professor.

∞

Minha casa fica em uma vila (sim, ainda existem vilas) onde todas as casas são iguais. Acho isso legal apesar de serem antigas e só terem idosos morando, mas ainda tenho o Gabriel que mora com os avós. Ele é meu vizinho e ficam me dizendo que é apaixonada por mim, mas nunca se consegue saber se quando estão apaixonados por você, por isso não sei dar certeza. Porém, sempre que nós ficamos em festas ou saídas em grupos, ele fez questão de ficar amigo dos meu amigos, ele vem com histórias que deveríamos namorar ou nos beijar com mais frequência. Sempre nego ou ignoro e continuamos amigos.

–Chegou mais cedo rabugenta.

–Já falei pra não me chamar assim. E você nem foi hoje né Biel? – perguntei da minha janela pra janela ao lado onde Gabriel estava sentado com uma perna pra cada lado. –Qual a desculpa dessa vez? Caganeira? Porque eu acho que você já usou todas as outras doenças.

–Não, hoje só estava sem vontade de olhar para a sua cara. – ele disse sem me olhar.

–Mentira. Porque se você não gostasse da minha cara ou de mim, não ficaria tentando me beijar sempre. – respondi provocando e me apoiando na janela.

–É diferente. – ele respondeu sorrindo e ficando sem graça.

Comecei a rir e ficamos mais um tempo conversando ali sobre qualquer coisa. Adorava passar horas conversando com Biel, ele me distraia de qualquer coisa. Contei da fofoca, do Guilherme, que ele achou totalmente inútil ele saber, e outras coisas. Depois de um tempo mandei um beijo e fechei a janela. Meu quarto é bem organizado, um dos meus TOCs, com paredes brancas e apenas uma de um vermelho sangue. Armários brancos e uma cama de viúva com roupa de cama preta. Duas paredes cheias de quadros de Londres, Nova Iorque ou minhas bandas preferidas, que incluíam Legião Urbana, Bon Jovi, Aerosmith, McFly e Nickelback. Outra parede coberta de fotos em preto e branco que tirei durante viagens, passeio ou dia a dia mesmo. Considero meu quarto bem legal, me sinto muito bem nele. Abri meu notebook, liguei a playlist de músicas e me joguei na cama. Fui acordada algumas horas depois por um filho da mãe se jogando em cima de mim.

–Sai de cima de mim agora não importa quem seja. – a pessoa não mexeu um dedo. – ou apanha.

–Você precisa aprender a ser mais delicada sabia? E se fossem seus pais? – reconheci pela voz que era Larissa e ela saiu de cima de mim.

–Como você chegou aqui? – perguntei me sentando e abrindo os olhos. – E meus pais nunca fariam isso.

–Meu irmão foi numa festa e me deixou aqui. – ela respondeu desligando meu notebook. – E se você tivesse respondido minhas mensagens a gente poderia estar la agora.

–Você sabe que não gosto muito de festas e quem disse que você poderia vir para ca?

–Seu amor por mim me espanta, serio. – Ela disse fazendo gestos e mais gestos com as mãos. – Mas vou te responder porque eu te amo. Você não atendeu o dia inteiro, não respondeu mensagens, então adivinhei que você estava morta na sua cama e vim ficar contigo. – terminou e sorriu.

–Desculpa, acho que meu celular ta no silencioso. Que horas são? Meus pais já chegaram?

–Acho que são umas 20h e sim, seus pais já chegaram e seu irmão está mais fofo do que nunca. A-M-O esse menino. Porém, não, não te desculpo.

–Então foda-se querida e você viu meu irmão antes de ontem.

–Eu sei, por isso mesmo. Pareceu séculos sem ver ele.

–É, to ligada.

Levantei e fui até o banheiro. As visitas de Lari já eram normais, ela morava mais na minha casa no que na dela. Entendia ela. Seus pais já se separaram, voltaram, separaram e por isso viviam brigando e seu irmão, mesmo sendo super gente boa, é um bêbado que quase todo fim de semana para na delegacia ou leva uma qualquer para cada. Minha casa ao contrario já é bem mais normal, meus pais vivem uma vida monótona. Meu pai trabalha o dia inteiro, minha mãe da aula no período da tarde quando meu irmão está na escolinha. Meu irmão mesmo sendo extremamente agitado e barulhento, ainda é uma criança então é normal. Tirei a roupa amassada e coloquei meu pijama roxo. Escovei os dentes e arrumei o cabelo. Sai e encontrei Lari deitada na cama já passando os canais da televisão e se sentindo em casa.

–Bom, se você colocou pijama é porque não vamos sair hoje. – ela disse bufando. – De novo.

–Você se importa? – perguntei fazendo cara de gatinho do Shrek. – Não to muito afim hoje.

–Você só ta afim quando o Gabriel ou o Guilherme vão né?

–Menos Larissa, bem menos.

–Tive uma ideia. – ela respondeu abrindo um sorriso e dando um pulo da cama.

–Por favor, sem ideias muito... grande.

–Tem um jeito de ficarmos aqui e eu realmente não me importar, você topa?

–Ta, me diz o que é!

–Primeiro você tem que dizer que topa.

–Ta, eu topo. – respondi com um pouco de receio.

–Então hoje vamos fazer uma típica noite de meninas. – ela respondeu me abraçando.

–Ahhhh. – afastei um pouco para olhar para ela. – Sem filme de romance, eu imploro.

–Nananinanão. – ela respondeu balançando o dedo naquele gesto totalmente gay. – Totalmente que vai ter filme de romance. – ela disse rindo.

–Odeio quando você coloca Totalmente antes de uma frase.

–Sorte que você já se acostumou né querida? – ela disse pegando o controle da televisão para escolher um filme.

Desci na cozinha para pegar algo e não tinha nada. Que sorte. Liguei na pizzaria e pedi qualquer coisa rezando para que o filme sendo escolhido la em cima não fosse tao meloso. Não gosto de filmes românticos, mas acho que por ser mulher e ter aqueles hormônios sempre me pego chorando no final. Algo inevitável. Logo que a pizza chegou peguei os refris e copos e subi. Larissa já tinha roubado um dos meus pijamas e estava toda animada.

–E aí, o que vai ser? – perguntei.

–Para Sempre. Do livro do Nicholas Sparks.

–Ah não, não suporto esse cara.

–Olha, entendo que você só gosta dos seus livros de mistério, morto e investigação. Mas esse ‘cara’ escreve os melhores romances que eu li e você pode não gostar dos livros, mas os filmes são os mais lindos possíveis.

–Juro que eu não sei como somos amigas.

–Deus me colocou na sua vida pra você não sair pior do que já ta. – ela disse com cara de brava. – Eu que arrumei seu estilo e ainda por milagre consegui colocar um pouco de romantismo nesse seu coração.

–Ah, to entendendo. Então é culpa sua toda vez que eu termino com um cara eu sair magoada?

–Cala a boca sua vadia e vem assistir o filme.

Assim passamos o resto da noite. Nós duas chorando com filmes de romance, comendo pizza e pipoca, conversando, trocando nossas típicas juras de amor, que as vezes eram o oposto disso, e no final dormimos. Lari sempre deixava uma noite normal se tornar em uma noite divertida.