A luz machuca. Arde como fogo em minha pele. Sinto a dor apenas nas partes visíveis do meu corpo, o resto morreu e está vagando eternamente pelo cosmos.

As partes de mim intactas são minha perna direita, metade da perna esquerda, o tronco, a cabeça e o braço esquerdo, porém meus dedos já começam a desvanecer segundo após segundo.

Preciso achar uma presa ou deixarei de existir. Virarei menos que uma sombra no escuro. É uma pena que pessoas tenham que morrer para que um ser desprezível como eu possa viver, bem, pelo menos por uma semana, depois começo a evaporar e tenho que me alimentar novamente. Não é uma existência fácil, mas devo admitir que matar não é problema para mim.

Arrasto o que resta de mim pelas ruelas de um beco de uma cidade que se quer lembro o nome. Logo á frente enxergo um casal escorado na parede de um prédio aos beijos, me arrasto para trás de uma lata de lixo e os observo.

Já amei alguém, éramos amantes desafortunados, tínhamos um ao outro. Até que um dia eu o peguei me traindo, o amor que eu tinha por ele era tão grande que não pude aguentar tal visão, então eu o matei. A raiva tomou conta de mim, consequentemente arranquei a vida de sua família inteira, e depois a minha. Não sei o que aconteceu depois, mas aparentemente nem o inferno me quis. Meu castigo? Viver como vivo hoje.

O garoto dá um beijo na testa dela e vai embora, ela fica lá dando pulinhos de alegria, esse tipo de gente me enoja. Continuo a observando, esperando ela passar por mim, até que passa.

Junto minhas forças e dou um pulo em cima dela, seu rosto de horror impagável é minha coisa favorita em matar. Em um minuto sua garganta está estraçalhada, uma poça de sangue emoldura seu rosto já sem vida, e quase que no mesmo instante eu estou inteira novamente.

Delicio-me com o sangue ainda pingando dos meus lábios e saio daquele beco escuro.

A luz machuca.