Dois meses depois, Asuka acordou numa manhã quente de primavera, amaldiçoando aquele calor todo. Ela saiu da cama praguejando e arrastou os pés pelo corredor, chamando pela amiga. Não houve resposta. “Hum, sair cedo assim com o Uruha é novidade pra mim” ela pensou enquanto caminhava até o banheiro. Ela se olhou no espelho e afastou o cabelo ruivo do rosto. Murmurou alguma reclamação para si e molhou o rosto. Quando Asuka passou creme de dente em sua escova e enfiou-a na boca, ela ouviu uma música vinda da sala. “Mas o quê?!” Ela cuspiu o creme na pia e enxaguou a boca.

        -Yuki?

        -I’ve got sunshine, on a cloudy day... – a voz vinha da sala. Asuka continuou andando pelo corredor. – When it’s cold outside, I’ve got the month of May… I guess you’ll say “What can make me feel this way?”… My girl, I’m talking about my girl. – Asuka reconheceu a voz. Seus joelhos tremeram. Parou no corredor e continuou ouvindo. – I’ve got so much honey the bees envy me…I’ve got a sweeter song than the birds in the trees... Well I guess you’ll “What can make me feel this way?”… My girl, I’m talking about my girl – Asuka finalmente chegou à sala e viu Ruki sentado com o violão.

         -Ruki… - o coração dela batia forte.

         -I don’t need no money, fortune or fame… I’ve got all the riches, baby, one man can claim… Well I guess you’ll “What can make me feel this way?”… My girl, I’m talking about my girl – ele cantava sorrindo, encarando a ruiva parada do batente da porta. – Talking about my girl... I’ve got sunshine on a cloudy day.. With my girl… I’ve even got the month of May with my girl…- Ruki colocou o violão de lado e pôs a mão no bolso, de onde tirou uma caixinha de veludo pequena. Ele andou até a namorada e então abriu a caixinha, expondo um bonito anel – Asuka... Quer se casar comigo?

           -Ruki... – a ruiva travou. – Eu... Sim!

   O outro ficou paralisado por alguns instantes, tentando assimilar a resposta. Ele processou por completo o sim da namorada e não pôde evitar sorrir. Ela retribuiu o sorriso. Ruki tomou sua mão e tentou não tremer enquanto colocava o anel de noivado em seu dedo. Asuka sorria incontrolavelmente. Sempre foi estritamente contra casamento, mas por algum motivo, com Ruki, as coisas pareciam mudar. Passar o resto da vida ao lado do Takanori não lhe parecia má idéia. Pelo contrário, parecia a melhor das idéias. Os dois se abraçaram e riram juntos.

          -Será que deu tudo certo? – Yuki perambulava pela cozinha do Takashima enquanto este brincava distraidamente com pedacinhos de pão. – Sabe... Eu tentei avisar o Ruki quando ele me pediu pra eu acordar bem cedo e vir pra cá pra deixar a Asuka sozinha lá. Eu o avisei. A Asuka não é do tipo que casa, sabe?

          -Yuki...

          -Meu Deus, e se ela disser não? Ele vai ficar arrasado tadinho. – Yuki ignorou a intervenção do loiro e continuou falando. – Ai, Deus, ponha juízo na cabeça dura da Asuka!

          -Yuki! – Uruha ergueu o tom de voz, tentando despertar Yuki do seu transe. E foi bem sucedido. Yuki o olhou e balançou a cabeça, como se tivesse mesmo acordado. – Vem cá.

          -O que? – ela se aproximou dele.

          -Senta. – ele apontou a cadeira logo ao lado da sua. Yuki obedeceu. – A Asuka vai aceitar.

          -Mas e se ela não aceitar?

          -Mas e se ela aceitar? Você vai continuar morando lá no apartamento de vocês? Porque sabe... Provavelmente o Ruki vai querer comprar um outro apartamento e tudo mais.

          -É. Sei lá. – Yuki deu de ombros. Ainda não havia pensado no que faria se Asuka casasse.

          -Você não entendeu né? – Uruha riu e passou os dedos pelos cabelos da morena.

          -Não mesmo. – Yuki piscou diversas vezes.

          -Tô te convidando pra morar comigo, sua bestinha. – ele sorriu.

          -Morar?! Com você? – a vocalista arregalou os olhos.

          -É... Eu sei que é um passo bem grande, mas sabe... Eu tô pronto pra dar esse passo com você, Yuki.

          -Uruha... Eu... – a possibilidade de acordar todos os dias sentindo aquele perfume invadiu a mente de Yuki.

          -Olha, se você não quiser... Eu vou entender. Sabe, eu sei que o mais certo seria eu fazer o mesmo que o Ruki tá fazendo agora e tudo mais... Mas eu acho que não é a hora certa. – Uruha corou – Mas já que a Asuka vai morar com o Ruki, eu achei que não vale a pena você ir morar sozinha sendo que o meu apartamento é grande suficiente pra nós dois. E além do mais... Eu sempre sonhei em ter uma cozinheira.

          -Idiota! – ela deu um tapa no braço do loiro que ria. Yuki admirou o sorriso do loiro por longos instantes.

          -Tá olhando o que, idiota? – Uruha riu da cara de aluada da outra.

          -Eu quero. – ela disse.

          -Quer?

          -Quero morar com você, idiota. – ela sorriu.

          -Eu sabia que você não ia conseguir dizer não. – ele retribuiu o sorriso e abraçou-a pela cintura.

          -Ah, claro. Por que você é irresistível né? – a morena riu nos braços do outro.

          -E não sou? – ele arqueou a sobrancelha e sorriu de canto.

          -Claro que é. – ela riu mais um pouco e abraçou-o pelo pescoço, beijando-lhe o rosto.

  Yuki chegou em casa no final da tarde daquele mesmo dia, trazendo Uruha consigo. Os dois entraram no apartamento em silêncio, tentando não alarmar o casal. Mas logo notaram que era inútil tentar se esconder. Os outros dois estavam sentados no sofá da sala, abraçados, sorrindo e se beijando. Eles não puderam deixar de notar a presença do outro casal.

          -Yuki! – Asuka pulou do sofá e foi abraçar a amiga.

          -Oi... – Yuki surpreendeu-se com o entusiasmo da mais velha e não pôde deixar de notar a aliança em seu dedo.

          -Eu vou me casar, Yuki! – a outra sorria incontrolavelmente.

          -Eu sei! – Yuki riu. – Ou você acha que eu saí da cama às seis porque quis?

          -Vocês armaram! – Asuka se virou para o noivo que havia levantado.

          -Uhum. – o vocalista riu um pouco. – Valeu, Yuki.

          -Pode contar comigo. – a morena sorriu – Se for pra fazer essa menina feliz, qualquer coisa tá valendo.

          -Parabéns, Ruki! – o loiro sorriu e abraçou o amigo. – Nossos garotos tão virando homens. Primeiro o Kai, agora você.

          -E você é o próximo. – comentou o menor, vendo Uruha e Yuki corarem.

          -Na verdade, Asuka, vou te contar agora pra você não achar estranho depois. – disse Yuki, encarando a amiga.

          -Quê?! Vocês vão casar?! Meu Deus! Sério?! – a mais velha procurava a aliança na mão da outra.

             -Não. – a outra riu um pouco – A gente só vai morar junto.

             -Ah, que ótimo. – comentou Ruki.

             -É. Já que você vai tirar a Asuka daqui, eu resolvi levar pra casa o que sobrou. – Uruha completou, rindo.

             -No fundo, bem no fundo, ele me ama. – Yuki riu e foi abraçar o loiro pela cintura.

             -Eu vou sentir falta do nosso apartamento. – Asuka olhou em volta.

             -Eu também. – Yuki fez o mesmo.

             -E de você.

             -Ai, menina, você fala como se você fosse se mudar pra marte. A gente vai se ver o tempo todo. – a vocalista riu da amiga.

             -É, você tá é dando graças a Deus que vai passar a acordar com um beijo do Uruha e não um berro meu. – disse Asuka.

             -Como coisa que você tá reclamando de ir morar com o Ruki... – a mais nova deu de ombros. Os dois rapazes riram da “discussão” das duas.

    Os quatro ficaram até tarde conversando na sala do apartamento das meninas, comentando a proposta de Ruki, a futura cerimônia. A felicidade estampada no rosto dos quatro não negava o bom momento de suas vidas. Tudo em seu lugar. Sem complicações, sem lágrimas, sem mentiras. Só sorrisos e perspectivas de um futuro ainda melhor que o presente.