I Wish You Love escrita por hatsuyukisan


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Os meus capítulos não têm nome :~Garota de sorte essa aí hein xD



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Era uma noite de sexta-feira comum, como qualquer outra. Um clube pequeno em Tokyo, Yuki se preparava para tocar com sua banda, como faziam toda sexta. Do outro lado da cidade, ele assistia TV e descansava depois de um longo dia de ensaios. O que os dois mal sabiam é que aquela sexta-feira mudaria suas vidas. Para sempre.

O show da banda de Yuki lotou a casa noturna, eles estavam ganhando prestígio no cenário underground de Tokyo, e isso claro, acaba atraindo a atenção das gravadoras. Naquela noite fria de novembro, logo após o show, um dos barman do lugar veio avisar Yuki que um senhor a esperava no bar. Um senhor chamado Nosaka. "Nosaka...Eu não conheço nenhum Nosaka." ela foi falar com o homem do mesmo jeito, o barman havia lhe dito que se tratavam de assuntos do interesse dela.

- Sumimasen.. - ela parou do lado de um homem de terno sentado no bar - Ano... Nosaka-san?

- Hai. - ele disse. Era um homem de mais ou menos uns trinta e cinco anos, não muito alto, usava um terno marrom com uma camisa branca sem gravata embaixo e uma calça jeans, tinha uma expressão amigável e sorria. - Você deve ser Hatsuyuki, estou certo?

- Hai. Hajimemashite. - ela concordou com a cabeça.

- Hajimemashite. - ele acenou de leve.

- Me disseram que o senhor deseja falar comigo...

- Hai. Você tem algum tempo?

- Tenho, claro.

- Sente-se, por favor. - ele puxou o banco ao lado - Posso te pagar algo para beber?

- Ah, sim. Muito obrigada. - ela disse, se sentando. - Uma água, por favor.

- Uma água para a moça. - ele pediu ao garçom - Então, senhorita...?

- Hinaka.

- Senhorita Hinaka. Você não deve saber quem eu sou.

- Certamente não. - ela concordou.

- Meu nome é Nosaka Zenzo, eu sou presidente da Phonetically Sindicalism Company, mais conhecida como PSC. Trata-se de uma gravadora.

- Ah, claro. Eu conheço. The GazettE, Miyavi, Alice Nine...

- Exato. Devo dizer que a nossa gravadora está bem guarnecida de artistas.

- Concordo plenamente. - ela completou.

- A princípio, não tínhamos nenhum interesse em contratar novas bandas, porém, o seu talento nos chamou muita atenção.

- Arigatou. - Yuki mal acreditava no que ouvia.

- Você e sua banda ainda não têm nenhum CD gravado, certo?

- Certo. Só temos dois singles.

- E vocês têm interesse de gravar?

- Certamente.

- Me diga uma coisa... quem é que compõe as músicas?

- Eu componho todas.

- Sozinha?

- Hai.

- E quanto aos arranjos?

- Eu os faço também.

- Mesmo? Há quanto tempo você está na música, senhorita Hinaka? - ele perguntou.

- Eu toco piano desde os quatro anos. A minha avó era pianista. Violão e guitarra eu toco desde os dez. Então, pode-se dizer que eu estou na música desde que me entendo por gente. - ela sorriu.

- Isso é bom. Isso é muito bom. - ele parecia impressionado. - Sabe, senhorita Hinaka, eu venho observando você há algum tempo. Gosto do seu estilo, da sua música. E você tem ganhado muito destaque no circuito underground. É realmente uma ótima artista.

- Arigatou, doumo arigatou. - ela fez uma leve reverência.

- O que você acha de se juntar aos artistas da PSC?

- Eu precisaria falar com a minha banda e...

- Mas você viria como artista solo, é claro.

- Ah.. sim. Sempre fui solo. Mas a minha banda de apoio já está formada. Não iria sem eles. São meus amigos há anos. - argumentou a garota.

- Eu entendo. De fato, eles são ótimos músicos. Vocês têm empregos, ou se dedicam só à música?

- Eu trabalho na cozinha de um restaurante durante a semana, os garotos todos têm seus empregos.

- Vocês estariam dispostos à deixar esses empregos e serem músicos 24 horas por dia? - perguntou Nosaka.

- Suponho que sim. - Yuki respondeu.

- Posso voltar a falar com você na segunda? - disse o homem, se levantando, apalpando os bolsos.

- Pode, claro.

- Posso anotar o seu número?

- Ah, sim. É 3678 - 5342

- Foi um prazer conversar com você, senhorita Hinaka.

- O prazer foi todo meu. - ela sorriu.

- Até segunda. - ele se despediu.

- Até. - apertaram as mãos.

Yuki mal esperou o senhor Nosaka ir embora e foi logo correndo contar a novidade para o resto da banda. Os amigos a esperavam na saída dos fundos da boate, ela saiu em disparada pelo corredor, mal podendo conter a felicidade.

- Gente! Vocês não vão acreditar! - ela saltitava junto aos amigos.

- O que foi, Yuki? Desembucha menina... - disse o baixista, Louic, um amigo francês baixinho de cabelos bagunçados.

- Adivinha com quem eu tava falando até agora?! - ela sorria.

- COM O GACKT?! - debochou Izumi, o guitarrista, um rapaz de cabelos pretos e vermelhos espetados.

- Cala boca, Izumi... - Yuki o olhou de canto.

- Ué... essa empolgação toda só podia ser por causa do onipotente. - respondeu Izumi.

- Ignora o Izumi. - interveio Mizuiro, o outro guitarrista, muito alto, usava um capuz sobre a cabeça e tinha os cabelos muito curtos.

- Tá. Então...eu tava falando com um cara chamado Nosaka Zenzo. - disse a menina, animada.

- Espera...eu conheço esse nome... - o sujeito magrelo com os cabelos nos olhos que ficara quieto no canto finalmente se pronunciou - Yuki, é o mesmo Nosaka Zenzo que eu tô pensando? - perguntou o baterista, Touharu.

- É, Tou-kun. É esse mesmo. - ela se encolhia, mordendo os lábios, sorrindo.

- Sério?! E o que ele disse? - perguntou ele.

- Espera aí! Dá pras duas belezuras explicarem o que é que tá acontecendo?! - Izumi os interrompeu.

- Dãr! Izumi! Se liga! - respondeu o baterista - É o presidente da PSC, sua anta!

- Da gravadora?! - os outros três exclamaram em coro.

- Não. Do bar da esquina. - disse Touharu. - Claro que é da gravadora.

- E o que ele disse? - perguntou o francês.

- Era justamente isso que a Yuki tava tentando dizer. - retrucou o baterista.

- Então... - Yuki continuou após o silêncio coletivo - Ele quer que a gente entre pra PSC! - ela deu um pulinho.

- Tá brincando, né?! - disse Mizuiro.

- Não. Ele vai me ligar na segunda. E então, o que vocês acham de largar esses empregos chatos e gravar um cd de verdade? - ela olhava os amigos, empolgada.

- E precisa perguntar?! - respondeu Touharu, sorrindo.

- Eu não vou sentir nem um pouco de saudades de vender cds naquela lojinha merreca. - disse Izumi. - Logo o nosso cd vai estar lá. - ele levantou o punho.

- Você quer dizer o cd da Yuki, né? Afinal você vai entrar como artista solo, não é, Yuki? - contestou Louic.

- Ah, sim. - Yuki consentiu.

- Que diferença faz? - completou o guitarrista - O orgulho vai ser meu também. Claro que os méritos vão ser da Yuki, mas...

- Claro que não! - Yuki o interrompeu. - Os méritos são de vocês! Sem vocês não tem Yuki.

- Nossa... fiquei até emocionado agora. - disse Mizuiro, fingindo enxugar as lágrimas com o casaco.

- Ah, cala boca Mizu-chan.. - Yuki riu, empurrando o ombro do amigo de leve - Agora, chega de ceninha e piti e vamos comemorar! Hoje é por minha conta!

Os cinco saíram em direção a um pequeno pub que costumavam freqüentar. Ficaram lá até muito tarde, conversando animados sobre a proposta e sobre as perspectivas e esperanças com relação ao futuro que os aguardava. O final de semana passou lento e exaustivo para Yuki e seus companheiros de banda. Juraram que foram os dois dias mais longos de suas vidas. Mas ainda assim não superaram a angústia daquela segunda de manhã. Yuki acordou antes mesmo de o sol nascer, ficou perambulando pelo pequeno apartamento onde vivia, tomando incontáveis canecas de café e checando o celular de dois em dois minutos. A ligação de Nosaka só veio cinco longas hora depois de Yuki acordar. Ela atendeu, tentando esconder o nervosismo, falou calmamente, marcaram um almoço com a banda toda em um sushi-bar em Shibuya. Assim que desligou o telefone, a vocalista ligou para o resto da banda avisando do compromisso, ligou também para o restaurante onde trabalhava para justificar a ausência e pedir que alguém cobrisse para ela. Tudo certo. Yuki foi de metrô até Shibuya e andou até o lugar combinado. A reunião com Nosaka foi muito mais tranqüila que Yuki esperava. Ele conversou bastante com os outros membros, contou um pouco da história da gravadora, falou do contrato, das turnês e de todo o resto. Os meninos pareciam muito entusiasmados.

- Então... - disse Nosaka, descansando o hashi sobre o apoio - Suponho que todos estão de acordo com relação ao contrato.

- É o que parece. - disse Yuki, enquanto o resto confirmava com a cabeça.

- Ótimo. - o homem abriu um largo sorriso - Eu me encarregarei de toda a papelada do contrato, até o fim da semana vocês assinam. Vocês se encarregam de pedir demissão de seus atuais empregos, certo? E logo. Precisamos começar a gravar o quanto antes, se é que vocês entendem.

- Tudo bem. Prometo que até o final da semana estaremos todos desempregados. - a garota sorriu.

- Maravilha. Então, desde já... Bem vindos à PSC!

- Muito obrigada. - Yuki disse, todos fizeram uma leve reverência.

- Ah! Quase ia me esquecendo. Vou marcar para sábado à noite o primeiro encontro de vocês com seus companheiros de gravadora. - comentou Nosaka - Tudo bem pra vocês?

- Claro. Sem problemas. - consentiu a líder.

- No momento o Kra, o Kagrra e o Alice Nine estão juntos em uma turnê pela Europa e é certo que vocês nem vão entrar em turnê junto com eles. Mas vocês definitivamente terão como companheiros Miyavi e o Gazette. Tenho certeza de que vocês vão se dar muito bem.

- Assim esperamos. - disse Izumi, sorridente.

Nosaka se despediu dos meninos e de Yuki e disse que entraria em contato assim que tivesse os documentos necessários em mãos. Durante a semana todos foram até seus empregos e explicaram a história na íntegra, pediram desculpas por se demitirem assim em cima da hora, mas para sua sorte todos os ex-patrões foram compreensivos e lhes desejaram sorte e sucesso na nova carreira. Na quinta-feira à tarde, todos estavam reunidos na casa de Yuki, tentando decidir que músicas eles gravariam no cd, pois já tinham várias músicas prontas, só precisavam decidir quais delas entrariam no cd. Quando fizeram uma pausa para um chá, o celular de Yuki tocou.

- Alô?

- Alô... senhorita Hinaka? - disse a voz do outro lado. - É Nosaka.

- Ah, konnichiwa, Nosaka-san. - os meninos vibraram ao ouvirem Yuki dizer o nome do presidente.

- E aí? Pronta pra assinar o contrato?

- Ah.. Claro. - ela sorriu. Os meninos a observavam, apreensivos.

- Quando é melhor pra vocês?

- Quando for melhor pra você, Nosaka-san.

- Hoje ainda?

- Por nós, tudo bem.

- Eu lhes espero as cinco então. Na sede da gravadora. Você sabe onde fica?

- Sei sim. - ela não sabia, mas estava certa de que Touharu saberia.

- Ótimo. Estarei lhes esperando.

- Ok. Até lá.

- Até.

Yuki desligou o telefone.

- E aí? - perguntou Louic - O que ele disse?

- Nós temos que ir até a sede da PSC as cinco pra assinar o contrato. - respondeu a menina.

- Hoje? - disse Mizuiro

- Sim. Você sabe onde fica a PSC, Tou-kun? - perguntou Yuki.

- Claro. - respondeu o baterista.

- Ótimo.

As cinco em ponto, Yuki e a banda estavam na sede da PSC. Uma secretária os mandou subir ao 4º andar e ir à sala seis. Assim o fizeram. Nosaka os esperava lá, atrás de sua mesa. Nosaka falou das poucas restrições do contrato, avisou-os que gostaria que eles começassem a gravar na segunda, eles assinaram o contrato, concordaram em começar a gravar logo e foram embora. Nosaka os lembrou do encontro com os colegas de gravadora no sábado. O encontro seria na própria sede da gravadora, às oito. Na sexta à noite, Yuki fez sua última performance no casa onde costumava tocar. No sábado, se aprontou para o encontro na gravadora e esperou os meninos passarem pegá-la para irem juntos até lá. Ao chegarem a mesma secretária os mandou até o sétimo andar, sala B. Uma sala grande, a porta estava aberta, Nosaka os esperava no corredor.

- Konbanwa! - ele sorriu - Estávamos esperando por vocês. Sigam-me, por favor. Por aqui - ele sinalizou a porta da sala. - Garotos... Quero que vocês conheçam seus mais novos companheiros de gravadora. Hinaka Hatsuyuki e sua banda de apoio.

A sala estava cheia. De garotos. Todos olharam para a porta, para Yuki. Ela corou na mesma hora. Estava acostumada a estar no meio de rapazes, mas não tantos daquele jeito, não tão bonitos quanto aqueles, não olhando para ela daquele jeito, examinando. O primeiro a se pronunciar foi o mais alto de todos, de cabelos coloridos, pele muito branca e braços tatuados, dialeto de Osaka. Yuki o reconheceu de cara. Miyavi.

- Irashaimahe... - sorriu. - Então você é a nova artista solo de quem o Zenzo-san vive falando?

- É... Acho que sim. - ela respondeu, sem graça.

- Eu sou o Miyavi. Yoroshiku.

- Yoroshiku. - ela respondeu.

- Zenzo-san... - disse um rapaz loiro, forte, sentado no canto da sala - Você não mencionou que era uma garota...

- Pois é. Queria que fosse surpresa pra vocês, Reita-kun. - disse Zenzo.

- Uma garota... Era só o que faltava. - disse o baixista.

- Dá pra ser legal um pouquinho, Reita? - um rapaz ao lado dele o cutucou - Okaeri, Hinaka-san. Eu sou o Kai. Yoroshiku.

- Pode me chamar de Yuki. - ela retribuiu o sorriso do baterista.

- Eu já ouvi você... - disse o guitarrista loiro do Gazette.

- Já?

- É. Você é boa. - disse Uruha, sorrindo.

- Uruha, isso foi bem indelicado. - disse Ruki, o vocalista. Todos riram, Yuki corou.

- A música... é boa... Foi isso que eu quis dizer. Uia, vocês levam tudo pelo lado errado. - Uruha corou um pouco - Gomen ne, Yuki-san.

- Tudo bem. - ela sorriu.

- Vai se acostumando, o Uruha tem mania de dizer essas coisas. - riu o ruivo - Eu sou Ruki, hajimemashite.

- Hajimemashite. - ela respondeu.

- Olha, Yuki, não liga não. - disse Aoi, o outro guitarrista do Gazette. - Aqui na PSC existe uma síndrome, o mal do baixista marrento.

- Eu percebi. - ela riu.

- Então, Yuki-san... Me diz uma coisa... Quem escreve as músicas que você toca? - perguntou Uruha.

- Eu escrevo - ela respondeu.

- Mesmo? - ele pareceu surpreso. - E quanto aos arranjos?

- Eu os faço também.

- Tá de brincadeira né? - perguntou Reita.

- Por que estaria? - ela o olhou, sério.

- Bom, você é uma garota... - ele disse.

- E só por isso você acha que eu não sei fazer arranjos e compor músicas? - ela o interrompeu.

- Não decentemente. - ele respondeu na lata.

- Rei, você devia ouvir ela antes falar qualquer coisa. E devia também tentar ser um pouquinho gentil e amável, não dói nada. - disse Kai.

- PSC é uma gravadora de J-rock. E não J-pop. - disse Reita.

- Desculpe, mas...em algum momento eu mencionei ser uma cantora de J-pop? - Yuki mantinha a calma.

- Há! - Uruha apontou Reita - Bem feito. Quem manda ser tão grosso?

- Perdão pela atitude do nosso querido Reita. Acredite tem vezes que ele chega a ser legal. - sorriu Kai.

- Tudo bem. Já tô acostumada. - disse a garota. - De fato o mundo do J-rock é predominantemente masculino, mas isso não quer dizer que mulheres só possam ser cantoras de J-pop.

- Tem razão. - disse Kai. - Já ouviu algumas cantoras de J-rock, algumas excelentes.

- É verdade. - completou Aoi - Não entendo porque elas não ganham o destaque merecido.

- Ah mas a senhorita Hatsuyuki vai... - disse Nosaka - Essa menina tem um futuro promissor. É uma ótima cantora. Tem anos de música.

- Quantos precisamente? - perguntou Miyavi.

- Eu toco piano há dezenove anos e violão e guitarra há treze. Quanto à banda, tocamos juntos há três anos.

- Você toca piano? - perguntou Aoi.

- Sim. Desde os quatro anos de idade.

- Sugoi. - ele arregalou os olhos.

- Você toca algum outro instrumento além de piano e guitarra? - perguntou Ruki.

- Ah, sim. Eu toco violino também.

- Ainda acha que ela não é uma boa artista, Reita? - Uruha cutucou o baixista.

- Tocar muitos instrumentos não faz de você um J-rocker. - ele respondeu.

- Tem razão, Reita-san. Eu poderia muito bem tocar tudo isso e ser uma cantora de J-pop, mas não sou.

- É o que veremos. - ele disse.

Yuki conversou com os rapazes a noite toda, se divertiram muito. Reita não provocou mais, só ficou quieto, escutando as coisas que Yuki dizia, fazendo cara de deboche. Quando finalmente foram embora, já era muito tarde, todos estavam exaustos. Yuki acordou na manhã seguinte com seu celular tocando. Pegou o aparelho ao lado da cama, sonolenta, olhou quem era. " Meu Deus... Não pode ser...". Ficou surpresa, mal acreditou na felicidade que encheu seu coração. Era ele.

- Alô? - atendeu.

- Alô, Yuki?

- Hizumi?

- Te acordei?

- Ãhn...sim.

- Gomen ne.

- Sem problemas. Já tava na hora de acordar mesmo.

- E aí? Tudo bem?

- Tudo sim. E você?

- Também.

- Legal.

- Eu tô em Tokyo.

- Hã?! - ela quase engasgou. Ele voltou.

- É. Eu tô no Japão.

- Desde quando?

- Eu cheguei aqui ontem à tarde. Você não parece muito feliz com a minha volta.

- Não é isso...é que...

- Eu entendo. - ele a interrompeu. - A forma como eu agi. Você tem razão em ficar ressentida comigo.

- Hizumi, eu...eu não... - ela não consegui terminar.

- Eu tava pensando... será que a gente podia sair? Pra tomar um café, conversar um pouco...

- Ah, claro.. - ela engoliu seco - Quando?

- Hoje à tarde?

- Ótimo. No lugar de sempre?

- Sim. Às quatro?

- Estarei lá.

- Ja ne.

- Matta.

Yuki desligou o telefone e sentou na cama, encarando um ponto qualquer. Balançou a cabeça, tentando se certificar de que estava realmente acordada e de que aquilo não era uma ilusão. A realidade não pareceu atingir seus neurônios. Era ele, Hizumi, e estava de volta e queria vê-la, queria encontrá-la naquele mesmo café onde costumavam ir nos dias frios e ele ficava segurando as mãos dela entre as suas, esquentando seus dedos. Yuki deitou a cabeça no travesseiro de novo, incrédula. Ficou fitando o teto por um longo tempo. Olhou as horas, uma e meia. O tempo passaria devagar, Yuki sabia disso. Por mais que não acreditasse que Hizumi tinha mesmo voltado, estava ansiosa, o nervosismo devorava suas entranhas. Perambulou pela casa por horas, tentou ver TV, ler um livro, nada adiantava. Finalmente se vestiu e foi encontrá-lo, seu passado. Era um dia como aqueles que conhecia, frio, sem sol, úmido, exatamente como costumava ser quando ele estava lá. Desceu do metrô, subiu as escadas da estação com o coração na mão, andou aquele quarteirão que a separava de seu passado com um nó na garganta, parou na frente da porta do café, respirou fundo, mão na maçaneta, calor, aquele cheiro conhecido de bolo de ameixas, o vapor dos chás sobre as mesas, os bochichos dos casais encolhidos nos cantos, nostalgia. Um turbilhão de sentimentos invadiu seu coração enquanto andava até o canto do estabelecimento, atrás do armário dos chás, aquele lugarzinho, aquele cantinho, que por tantas vezes fora seu refúgio. Encarava o chão. Quando finalmente tomou coragem para voltar seu olhar para cima, lá estava ele, sentado no mesmo lugar de sempre, era como se o tempo tivesse voltado.

Não muito longe dali, na casa de um guitarrista loiro, de olhar inocente, seis amigos conversavam.

- Gente, gente! - disse o mais alto, tatuado, Miyavi - Na real... que vocês acharam daquela menina, a Yuki?

- Eu achei ela ótima. - disse o guitarrista moreno.

- Parece ser muito talentosa. - completou Ruki.

- Ela é um amor, gente, assumam! Só o Reita que não gostou dela. - disse o dono da casa, sorridente.

- Não vou me convencer até não ouvir ela ao vivo. - respondeu o outro, cruzando os braços.

- E você, Kai? - perguntou Miyavi ao baterista que servia mais chá em sua xícara.

- Hã? O quê? - ele parecia completamente aleatório à toda a conversa e à tudo que se passava.

- Alô? Oi... Por favor, o Uke-kun está? Eu poderia falar com ele? - debochou Aoi.

- A gente tava falando da Yuki, a menina que entrou na gravadora. - disse o vocalista.

- Ah, sim... Que tem ela? - perguntou Kai.

- Que você achou dela? - perguntou Uruha.

- Sei lá. - ele deu de ombros - Ela é simpática.

- Eu fui o único que achou ela bonita? - disse o loiro, parecendo decepcionado.

- Eu nunca disse que ela não era bonita. - Aoi se defendeu.

- Miyavi? - Uruha se virou para o outro.

- Ela é bonita sim. - ele concordou - Não muito o meu tipo, mas é bonita.

- Não vou mentir. - comentou Ruki - Não faz nem um pouco o meu tipo.

- A opinião do azedo do Reita não conta. - Uruha virou de costas para o baixista, ignorando-o. - Kai?

- Oi? - ele finalmente parou de encarar a superfície do chá e olhou para o companheiro de banda. - Falou comigo?

- A Yuki ainda... - Uruha olhou o baterista de canto - Ela é bonita ou não?

- Hum... - ele torceu a boca - Sei lá.

- Vamos anular o Kai das conversas, gente. Tudo bem assim pra vocês? - propôs Aoi. Os outros quatro balançaram as cabeças afirmativamente. O baterista se levantou, sem dizer uma palavra e foi para a cozinha.

- O que deu no Kai? - perguntou Miyavi - Ele anda muito estranho ultimamente.

- Ele tá com uns problemas. - respondeu Ruki. - Com a Yuriko.

- Aquelazinha lá? - Miyavi fez cara de nojo.

- Bem essa. - disse Reita, acendendo um cigarro.

- Só o Kai mesmo. - o maior balançou a cabeça.

O baterista encarava tristemente seu reflexo na janela da cozinha, o céu da cidade lhe correspondia com a mesma tristeza. Tristeza tal que sabia ser o prelúdio de algo imensamente feliz, a neve. Ele investigava o céu a procura do primeiro floco, caindo leve e solitário.

Ela congelou. Não achou palavras, não achou forças. Ele a olhou, não sorriu, hesitou, levantou, um meio sorriso. O amor a invadiu, aquele velho amor, amor enferrujado, mas ainda assim, amor. Memórias, tantas memórias, memórias bonitas.

- Oi. - ele disse, baixinho. Aquela voz...

- Oi. - o som mal saiu da boca dela.

- Você... - ele sorria. - Senta. - apontou a cadeira diante da mesa.

- Ok. - ela se sentou.

- Quer tomar algo?

- Um chá.

- De jasmim? - ele perguntou.

- É. - ela o olhou, espantada, "Ele lembra.". Ele pediu o chá.

- E aí? Como você tá? - ele parecia nervoso.

- Tô bem. - ela evitava olhá-lo nos olhos - E você?

- É. Eu tô legal. Você tá diferente.

- Você também. - ela finalmente olhou para ele, percebeu que ele também a olhava. Prestou atenção nele. Cabelos loiros, mais curtos, uma expressão madura, um sorriso discreto, os olhos bem menos brilhantes do que costumavam ser. - Como foi nos Estados Unidos?

- Foi legal. Cansativo. Mas valeu a pena.

- Que bom.

- Senti sua falta. - ele posou a mão sobre a mão dela na mesa.

- Dois anos, Hizumi. - ela tirou a mão de baixo da dele.

- Gomen. - ele tirou a mão de cima da mesa. - Eu...

- Você nem sequer me ligou.

- Eu sei. Eu tava trabalhando muito e...

- Nem no meu aniversário, Hizumi. - ela o interrompeu.

- Eu...Yuki, eu pensei tanto em você...

- E nem vai perguntar como eu estou, como eu passei todos esses anos. - ela o olhou no fundo dos olhos.

- Yuki...Me perdoa. Ver você, depois de tanto tempo longe, eu nem sei como agir. Me desculpa.

- Não peça desculpas, Hizumi.

- Tá. - ele engoliu seco.

- E o resto da banda?

- O Tsukasa tá em Yokohama com a família. O Zero ficou nos Estados Unidos. E o Karyu tá na Europa.

- E você? O que vai fazer agora?

- Sei lá. Vou descansar, compor um pouco, implorar pelo seu perdão...

- Hizumi...

- Só queria que as coisas voltassem a ser como eram, Yuki.

- Você me magoou. Muito. Não esqueci de todas as lágrimas que derramei por você. E não acho que essa seja uma boa hora e nem um bom lugar pra conversarmos sobre isso. - ela tomou um gole do chá.

- Tudo bem. - ele concordou.

Passaram algum tempo calados, bebendo seus chás, recordando em silêncio todos os momentos passados ali naquele mesmo lugar, há dois anos atrás. Dúvidas, tantas dúvidas.

- Preciso ir. - Yuki se levantou.

- Já?

- É. A Asuka volta hoje de Londres, fiquei de buscá-la no aeroporto, não quero deixá-la esperando. - Yuki deu graças a deus por aquele motivo não ter sido inventado.

- Tá. Diz pra ela que mandei um abraço. - ele se levantou também.

- Ok.

- Posso te ligar?

- Não sei. Pode?

- Tá. - ele sorriu tristemente - Foi bom te ver.

- Foi bom ver você também.

- A gente se vê.

- É. Tchau. - ela saiu do lugar. Ele ficou.

Ela chamou um táxi e foi até o aeroporto, calada, sem saber o que pensar do encontro com Hizumi. Desceu do táxi e correu para o saguão do aeroporto, esperar a amiga. Conhecera Asuka há anos atrás, logo quando chegou no Japão, era um pouco mais velha que Yuki, agora dividiam um apartamento em Tokyo. Asuka tentava a carreira de atriz, voltava agora da temporada de um musical que apresentara em Londres. Yuki checou o relógio. "Ela já devia ter chego."

- Yuki! - ouviu alguém chamá-la, reconheceu a voz de imediato.

- Asuka! - correu de encontro à amiga, se abraçaram.

- Que saudade de você, sua peste! - a ruiva apertava a amiga.

- Também senti saudade. - Yuki soltou a amiga. - E aí? Como foi?

- Cara! Yuki! Foi perfeito! Tenho tanta coisa pra te contar.

- Também tenho muita coisa pra te contar. Mas agora vamos que você deve tá com saudade de casa.

- Se tô. - Asuka passou a mão pelos cabelos.

- Tá com fome? - Yuki ajudou a carregar as malas da amiga.

- Morrendo de fome.

- Vou fazer alguma coisa pra você então.

- Vai? Ah, que bom. - as duas saíram do aeroporto e entraram no táxi.

- Mas e aí? Como foi o musical? - Yuki perguntou ansiosa.

- Foi ótimo. Uma experiência maravilhosa. Londres recebeu a gente muito bem.

- Que bom. E você gostou de viver lá?

- Foram só dois meses, mas foi perfeito. Deu pra conhecer bem a cidade, e algumas cidadezinhas em volta também.

- Que inveja. - Yuki sorriu.

- E você? Como tão as coisas aqui em Tokyo? E os meninos?

- Você nem imagina.

- Como assim?

- Quando a gente chegar em casa eu te conto.


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