Estou caindo. Estou caindo em um precipício e ninguém pode me salvar. Vou morrer.

Tudo o que conseguia pensar enquanto fechava os meus olhos era em Will.

Will no dia em que a simulação foi ativada, seus olhos vidrados, no pânico que senti e como em um filme atirei direto em sua cabeça abrindo um furo latejante e que expelia sangue tão conjunto que parecia ser um líquido negro.

E quando fecho meus olhos não consigo dissipar tais pensamentos. Por mais que tente é uma imagem, uma fotografia impressa em minha mente e parece que nunca vai acabar.

De repente minha mente se desloca para outra direção. Sinto que estou caindo no infinito e vou ser estilhaçada em milhões de pedaços até que não sobre nada além de memórias que serão esquecidas.

A vontade de gritar tomou conta de meu ser, mas nenhum som possível pode sair de minha garganta ou minha boca. Por que gritar quando se tem certeza da morte? Assim que atingir o chão será morte certa, porém o chão parece nunca chegar e por isso continuo em uma queda direta.

Um novo rosto surge em minha mente. Christina sorri como uma criança enquanto está ao lado de Will e assim que ele desaparece o seu sorriso some e um sentimento amargo toma o lugar. Contudo essa sensação de tristeza se dissipa e mais uma vez está sorrindo, não como da última vez, mas está sorrindo, sorrindo para mim. Algo novo entra em meu corpo enquanto o vento gelado açoita minha pele na queda livre contra o infinito.

As montanhas, ao meu lado, amarronzadas quase incolores aos meus olhos tornam-se vívidas e multicoloridas e a sensação de paz enche o meu corpo. Estou mais relaxada. Sinto que estou pronta para um destino tão fatídico.

Penso em meu pai e em minha mãe e mais reconforto enchem meu corpo enquanto vejo os seus sorrisos quando tudo isso acabar eu finalmente poderei vê-los.

Contudo é um caminho duro a se trilhar. Vou deixar para trás Christina, Caleb e... Tobias. Até aquele momento tudo o que conseguia pensar era que estava conformada, mas ao ver o seu rosto bem a minha frente com um sorriso enquanto estende a mão tentando me salvar foi de partir o meu ser.

O reconforto desapareceu e a angustia passou a ocupar sua posição. Por mais que quisesse sentir a paz eterna, os músculos relaxados e a sensação de rever meus pais ainda não tinham passado em minha cabeça Tobias.

Queria me agarrar a esperança de que tudo ficaria bem e que nos veríamos algum dia, mas no âmago de minha alma eu sabia o quão falso aquilo poderia soar. Eu não queria deixa-lo. Em um ato de egoísmo estendi a mão tentando segurar a sua, mas era tarde demais ele subia em direção ao topo do penhasco enquanto eu continuava a afundar.

Porém pude ver alargar o seu sorriso e dizer:

- Tudo vai ficar bem. Eu te amo. – A sua voz penetrou em meus ouvidos e as agarrei como se fossem a minha única redenção. Eu sabia que tudo iria ficar bem e também o amava.

Deixá-lo foi a coisa mais difícil entre a transição. Parte de mim queria lutar para ficar com ele e sair do pulo eterno, mas eu já não tinha mais essa opção. E por mais que doesse eu me sentia conformada.

Os temores desaparecem assim como toda a dor e sofrimento. Restou apenas um sentimento reconfortante e cálido que acariciava meu ser enquanto eu fechava os olhos e sorria para o céu.

A queda tinha chegado ao fim.

Porém eu ainda me sentia viva de algum modo. Minha pele era acariciada por algo macio e eu parecia estar em um estado de letargia, porém também de felicidade eterna. Nunca me senti tão serena e calma. Todos os pesadelos tinham sumido e restado apenas bons sonhos.

Eu me sentia infinita.

Sim, era o meu fim. Pelo menos o fim de minha na terra porque ainda seria capaz de sorrir enquanto estivesse nesse estado de pura felicidade e paz.

E sabia, assim como Tobias tinha me dito, que tudo ficaria bem. Tanto para mim quanto para ele.

O céu parece algo inatingível, mas para ser sincera é algo tão tangível que sinto que posso segurar em minha mão. Não preciso abrir os olhos para saber que está tudo bem ou que está ao meu redor. Tudo parece não fazer sentido, mas também parece se encaixar harmoniosamente.

O céu é um estado de infinito e ali tenho certeza de que mesmo que Tobias não esteja aqui posso senti-lo e tocá-lo e que a dor em seu coração vai sumir um dia. Tudo ficará bem.