Eu nem consigo acreditar até hoje, que foi só eu sair por algumas horas e tanta coisa aconteceu. Coisas ruins na verdade. Essa garota me parece até como um imã para encrencas, porque diante da situação... Voltando ao assunto. Em casa, eu tentei sondar um pouco sobre o que poderia estar acontecendo mas não consegui arrancar nenhuma informação. Eu sabia que seria difícil, mas não tão difícil assim. Suspirei e estalei os dedos para voltar para onde a Brenda estava e ao me deparar com uma sala de enfermaria me assustei. Espera, eram os mesmos ornamentos intrincados na parede. Parei de respirar por alguns segundos, e depois soltei o ar com alivio ao ver o Josh sentado numa poltrona em frente a maca. Pelo menos alguém conhecido estaria cuidando dela.

A mesma se encontrava deitada na cama dormindo com vários curativos cobrindo os braços. Estranhei. Eu estava monitorando ela o tempo todo e.... Maldita ambrosia. Suspirei mais uma vez e toquei nela para enviar uma boa energia de cura. Vi a cor começar a voltar para o seu rosto e sorri ao ver que o Josh havia percebido a melhora. Garoto inteligente. Como ela estava dormindo e segura ao lado dele, decidi fazer um tour pelo local depois de pôr um escudo nela. Fui vagando pelos corredores e procurando algo interessante. Ali me parecia ser um dos andares mais baixos do lugar e lá só havia mais quartos como o da Brenda. Desci um andar e encontrei uma série de celas simples com uma cama de solteiro e uma privada.

Cansei de passar por um corredor inteiro de celas, somando ao todo umas quarenta e oito, e subi. No andar acima da enfermaria encontrei um corredor de dormitórios que pela quantidade de garotas eram os femininos. Então é aqui que eu vou ficar a maior parte do tempo, pensei com pesar ao ver garotas loiras com casaquinhos rosas por cima do uniforme que era composto apenas pela insígnia do “colégio” por cima do suéter. Ou nesse caso, o casaquinho com plumas rosas. Fiz cara de nojo e continuei seguindo pelo corredor e ao encontrar um quarto com a porta aberta entrei. Para a minha surpresa não eram simples quartos. Eram mais como uma pequena casa. Havia uma cozinha no lado direito com vários apetrechos modernos, uma sala de estar com um futon de couro e poltronas organizadas ao redor de uma tela plana e mais um corredorzinho com o total de dez quartos que pelo que eu vi, serviam para duas pessoas cada.

Depois de inspecionar onde as garotas ficavam, eu fui para o próximo nível que também era um corredor de meninas. Quantos alunos haviam naquele colégio? Avançando para o próximo, com alívio encontrei o corredor dos garotos e ao entrar nos dormitórios, descobri que eram iguais aos femininos, com a diferença que estavam bagunçados e haviam muitas aglomerações para ver quem seria o próximo ao jogar naquele brinquedo eletrônico chamado... Chamado... Chamado vídeo game. Me aproximei um pouco mais para ver o que era tão interessante e avistei o Lucas sendo o centro das atenções. Ele estava mostrando algumas fotos no celular que eram da Brenda! Me aborreci e lancei um pequeno raio para suas mãos o que fez o celular faiscar e ele o soltou rapidamente assustado. Todos se afastaram com um pulo e eu soltei uma gargalhada olhando para trás e fazendo aquela pecinha das imagens pegar fogo, o que fez um dos garotos jogar uma pequena bolha de água nela, mas a mesma já tinha sido carbonizada. O vi olhar ao redor para ver se alguém tinha feito algo e assim como ele me surpreendi ao ver o Josh parado na porta com uma expressão sombria.

– Por que você fez isso? Era o meu celular novo!

– Mesmo que tivesse sido eu, você não tem nenhum direito de ficar exibindo fotos da Brenda sem a permissão dela.

– Do jeito que ela é com certeza permitiria! – ele sorriu de um jeito idiota e eu o olhei fria.

Josh avançou até ele se teleportando e um segundo depois estava dando um soco em seu nariz. Todos ouviram pasmos o desagradável som de sangue se partindo e alguns instantes depois os dois estavam atracados no meio da sala de estar batendo um no outro. Os garotos tentavam separar mas um dele quase acabou sendo golpeado. Depois de quase cinco minutos um homem de túnica verde e outro de túnica vermelha entraram no dormitório e separaram os dois usando magia. Repreenderam os dois e os levaram com certeza para a “diretoria”. Decidi voltar para onde a Brenda estava e acabei indo para onde ela moraria. Era mais ou menos como os outros, mas esse parecia como se houvesse uma briga entre as garotas. Metade era rosa e a outra metade era preta. Enquanto em um canto as garotas ouviam música pop e pintavam as unhas, no outro as meninas ouviam os Beatles e jogavam vídeo game como os garotos. Elas estavam em uma guerra de quem ri e fala mais alto, mas quando a Brenda entrou todas se calaram e olharam para a porta.

A garota constrangida estancou na porta e fez a mestra de vermelho esbarrar nela e soltar um palavrão baixo depois. Ri discretamente e ela deu um pequeno empurrão na outra para que saísse do caminho e por fim acabasse entrando.

– Bom, é aqui que você vai morar enquanto não completar os estudos e...

– Eu entendi essa parte da explicação – ela devolveu nem prestando atenção na estranha de túnica e fazendo todas ficarem boquiabertas com tal falta de respeito.

– Já te disse para parar de me interromper.

– Então me deixe ir embora e viver uma vida normal.

– Não posso...

– Então aguente – ela virou as costas e seguiu para o corredor já sabendo que o seu quarto era o último, o número 10.

– Depois você terá que passar na minha sala para o teste! – ela falou alto para que a garota ouvisse, mas a mesma já tinha entrado no quarto e fechado a porta.

Balancei a cabeça sorrindo e fui até o quarto para ver quem seria a nova colega de quarto. Era uma garota de pele morena meio dourada com olhos verdes e cabelos curtos até a altura da bochecha. Ela estava jogada na cama rodeada por vários papéis com desenhos aleatórios, como desenhos animados, super heróis e pelo que eu vi, desenhos próprios. Ela levantou a cabeça assustada e fitou a garota parada na porta com uma mala na mão.

– O-o-oi?

– Sou sua nova colega de quarto.

– Imaginei.

– Esta é a minha cama? – ela apontou para a cama de casal do outro lado do quarto.

– Sim.

– Por que a minha é de casal e a sua não?

– Porque você parece ter um atendimento vip.

– E porque eu teria isso se eu só faço responder todo mundo?

– Porque o seu poder é um dos maiores já encontrados em alunos. Claro que pouquíssimas pessoas acreditam nisso, mas diante dos acontecimentos...

– Você acredita?

– Sim.

– Por que?

– Porque senão você não me pareceria legal assim que entrou nesse quarto.

– Fico emocionada – fingiu limpar uma lágrima e depois deu uma risadinha, fazendo a morena rir também – você que desenhou?

– Sim.

– Eu prefiro pintar no photoshop.

– Eu sempre quis aprender como, mas depois de entrar aqui nunca tive tempo.

– Então irei lhe ensinar – sorriram uma pra outra – onde ponho minhas roupas?

– Normalmente nós iríamos dividir o guarda roupa mas como você é uma pessoa ilustre eles trouxeram um armário só pra você e eu dou graças a Merlim por isso porque pelo menos não irei ter que tirar metade das minhas roupas dali – ela apontou para uma cômoda branca meio rosada encostada no canto da parede perto de onde sua cama estava.

– Aaaargh – Brenda gemeu quando viu o imenso closet que havia do outro lado do quarto – Quer dividir comigo? Eu não sou tão esnobe a ponto de usar isso sozinha, nem tenho tanta roupa assim – olhou para a mala que agora parecia tão pequena em comparação ao enorme “armário”.

– Sério? – os olhos dela brilharam.

– Sim – sentou-se na cama e olhou para a garota morena que voltara a fitar seus desenhos – Qual é mesmo o seu nome?

– Sou Beatriz, Beatriz Daniels – deu um sorrisinho – Mas pode me chamar de Jack se gostar de fazer piadinha, ou apenas me chame de Beah – a outra riu um pouco e murmurou.

– Sou... Brenda, Brenda Plausini.

– Espero que sejamos muito amigas Brends.

– Claro que iremos – se jogou na cama e os seus cabelos se espalharam pelo edredom fofinho que cobria a king size e suspirou irritada pelo tamanho estúpido de uma mera cama.