Kenny me levou para a escola, eu não tinha conseguido comer nada no café, meu estômago estava péssimo, até mesmo o cheiro das panquecas conseguiu enjoou.

–Kenny você sabe algo do Miguel? – perguntei na esperança de alguma informação.

–Nada minha pequena, nada... – ele negou com a cabeça.

Chegando à escola beijei a bochecha do Kenny e desci do carro.

–Bom dia amiga! – Abigail me abraçou.

–Bom dia! – sorri – Tchau Kenny! – acenei e ele saiu com o carro.

–Como está a minha loira favorita? – perguntou.

–Péssima. – sorri falsamente.

–Você precisa se animar Lizzie.

–E você como está? - tentei desviar o foco daquela conversa de mim.

–Brava!

–Por quê?

–O Jared ainda está com aquela louca da Claire... – bufou cruzando os braços.

–Eu acho que ele realmente gosta dela. – dei de ombros.

–Será que ela o enfeitiçou? – perguntou roendo as unhas.

–Abigail!- gritei.

–Desculpa. – ela encostou-se ao armário ao lado do meu e ficou analisando as pessoas que passavam com o seu super olhar de raios-X.

Peguei alguns livros do meu armário, e em poucos segundos o sinal bateu, me despedi da Abigail e caminhei até a sala de aula. Jared passou por mim sem dizer uma palavra, nossas aulas de História na casa dele acabaram ele aprendeu tudo bem rápido, o que era um pouco estranho.

Eu não consegui prestar atenção na aula de língua inglesa, o tempo todo eu ficava me virando para ver se ele não falaria nada, mas Jared continuava imóvel sem reação alguma a nada sentado de uma maneira largada na cadeira, focado na aula – pelo menos parecia estar.

–Jared me empresta um lápis? – tentei tirá-lo do transe em que se encontrava, de uma maneira boba, eu reconhecia.

Ele estendeu o braço com um lápis na mão sem ao menos me olhar.

–Obrigada! – falei seca. Tivemos mais algumas aulas até o sinal do almoço bater. Levei algumas coisas no meu armário, quando o abri um papel caiu no meu pé.

Peguei-o e o desdobrei. “Encontre-me depois da aula na praça perto da sua casa". Não identifiquei a letra já que eram recortes de revista, não tinha assinatura nem nada, será que era da Claire?

Guardei o bilhete no meio de um livro e caminhei até a cantina da escola para almoçar.

–Achei que você não fosse mais vir almoçar! – Abigail disse preocupada enquanto eu me sentava.

–Estava guardando meu material... Desculpa...

–Tudo bem. Quer iogurte? – perguntou retirando o lacre de alumínio de cima de deu iogurte, que pela cor era de morango.

–Não, obrigada, não estou aguentando nem sentir cheiro de comida hoje... – falei colocando a mão na barriga.

–Lizzie, você não acha meio estranho esses seus enjôos? Já faz tempo que você está sentindo eles... Ou você anda bebendo todo dia?

–Claro que não Abigail, eu nunca mais bebi... E eu sempre tive dores no estômago...

–Cuidado dona Destiny Elizabeth Louis...

–Eu tenho todo o cuidado do mundo!

–Tudo bem então... – Abigail começou a comer seu iogurte e eu fiquei olhando o movimento da cantina, a Claire e o Jared tinham sumido de repente.

–Você notou que a Claire e o Jared sumiram? – perguntei para a Abigail.

–Devem estar se comendo... – deu de ombros.

–Abigail! – bufei.

–O que foi? Temos que aceitar que perdemos nosso amigo para aquela semente do mal...

Ficamos em silêncio um pouco e quando o sinal bateu tive mais algumas aulas, nessas o Jared estava na sala porém calado e completamente fechado, dando o sinal da saída pedi para o Kenny me levar na praça. Ele estranhou, mas mesmo assim me deixou lá, fiquei sentada em um banco jogando pedrinhas no chão e completamente sozinha ali, sem nenhuma alma viva para me fazer companhia.

Resolvi ir embora, mas quando me virei para minha surpresa vi o Jared chegando.

–Espera! – gritou.

–O que você quer? – perguntei seca cruzando os braços.

–Nós precisamos conversar...

–Eu não quero conversar. – sai, mas ele segurou meu braço. – O que você quer hein? Me ignorou a manhã toda e agora quer conversar?

–Eu estava tomando uma decisão de manhã.

–Já a tomou?

–Já! – ele me puxou para perto e em um momento de fraqueza colou seus lábios aos meus, eu não sabia descrever a confusão que minha cabeça estava naquele momento. Ele me segurou de uma forma diferente, com um carinho tão grande, colocou uma de suas mãos em meu rosto e acariciou-o.

–O que você está fazendo? – gritei me soltando dele.

–Uma coisa que eu deveria ter feito desde o primeiro momento que eu te vi.

–O que é isso? - perguntei sem entender.

–Eu te amo Lizzie... – balancei minha cabeça negativamente tentando entender o que estava acontecendo. – Com todo o meu coração. – completou e se calou.

–Então porque começou a namorar a Claire? – indaguei.

–Essa era a longa história da qual eu te poupei desde a sua chegada na escola... E também poupei a Abigail desde que a conheci.

–Que história? – perguntei. -Me acompanhe... – segurou em minha mão e me puxou até debaixo de uma árvore.

–Fala! – pedi sentando.

–A Claire gosta mim Lizzie... Há muito tempo já... E ela sempre me impôs uma condição para largar do pé da Abigail e posteriormente do seu...

–Qual era a condição? – engoli seco.

–Namorar com ela.

–Ela é louca! – gritei.

–Eu sei...

–E porque mesmo assim você ficou com ela? Quero dizer mesmo gostando de mim?

–Lizzie, era isso ou deixar você e a Abigail pagarem pela loucura dela... Ver você com o rosto daquele jeito foi a gota d'água, ela nunca bateu na Abigail, mas ela chegou muito fundo com você!

–Hei então era a você que ela se referia sempre que me batia – fiquei boquiaberta.

–Sim...

–E por isso que ela veio me pedir desculpas depois que você começou a namorar com ela...? - eu estava realmente muito confusa.

–Exatamente. Eu a obriguei a ir até você. – assentiu.

–Obrigada – forcei um sorriso.

–Não precisa agradecer, o seu sorriso já é a minha recompensa... – acariciou minhas mãos.

–Não fala assim... – implorei.

–Me desculpe. – riu envergonhado.

–Jared, agora tenho que ir... – levantei e comecei a caminhar. – Preciso colocar as ideias no lugar.

–Nos vemos amanhã? – perguntou.

–Talvez... – dei de ombros. – Eu vou contar da Claire para a Abigail. – avisei.

–Eu já sabia disso! - ele riu acenando.

Caminhei até a minha casa, Rose estava cuidando do jardim, passei por ela e a cumprimentei, depois subi e fiquei no meu quarto completamente perdida em pensamentos.

Eu nunca cogitei a possibilidade de o Jared gostar de mim. Muito menos achei que a Claire poderia gostar dele, era algo meio que surreal, apesar de que vendo a fama dele por ser capitão do time de basquete, não era muito surpreendente. Ou eu que era ingênua demais. Será que eu estava sendo a palhaça de mais alguém quer dizer, não bastava ser a palhaça do Miguel e da Melissa?

Peguei um casaco, desci e corri para a casa da Abigail.

–Boa tarde! – ela bocejou enquanto abria a porta.

–Preciso te contar uma coisa muito importante... – mordi o lábio inferior.

–Entra! – segurou pegando em minha mão e me puxou para dentro. Sentamos no sofá e ela fez gesto para que eu começasse a falar.

–Eu sei o porquê o Jared começou a namorar a Claire. – suspirei.

–Por quê? – ela gritou.

–Porque a Claire o chantageou dizendo que só pararia de nos atormentar caso ele começasse a namorar com ela.

–Aquela louca! – Abigail bufou.

–Pois é... Eu conversei com ele hoje, e eu estou arrasada... Como aquela menina pode chegar a esse ponto?

–Eu sempre desconfiei que ela gostasse do Jared... Mas não que tivesse problemas mentais.

–Abigail, você vai conversar com ele? – perguntei.

–Não sei... – deu de ombros.

–Abigail! – gritei.

–Desculpa... Eu vou me acertar com ele. Feliz agora?

–Ele é nosso melhor amigo e tentou nos proteger. – o defendi.

–Não sei não... Como ele aguentou ficar ao lado dela? Aquela menina é muito chata, esnobe e nariz empinado – Abigail cruzou seus braços. – Certeza que ele gosta dela! – engoli seco, eu sabia de quem o Jared gostava, ele havia me dito com todas as letras, mas eu não queria contar para a Abigail, pelo menos não naquele momento.

–Acho que não, acho realmente que ele só ficou com ela por conta da chantagem.

–Você que sabe Lizzie.

–Vou para casa Abigail, logo a Rose vai colocar o jantar... – disse olhando o relógio, já eram dezoito horas e trinta minutos.

–O Miguel não deu mais notícias? - perguntou, e eu então voltei a focá-la.

–Não. – a palavra que havia acabado de sair por meus lábios foi carregada de dor, sofrimento, insegurança, medo, e muita, mas muita saudade.

–Eu sinto muito amiga. – ela segurou minha mão.

–Eu também sinto, pode ter certeza. – limpei uma lágrima que escapou por meu olho esquerdo.

–Minha mãe volta amanhã, ela acabou ficando mais um mês por lá, não era esperado, mas... Já pensei em pedir uma emancipação, já vivo praticamente sozinha, já que ela vive viajando, meu sonho mesmo é morar em Londres. Apesar de que não conseguiria me desgrudar dela... – sorriu para o chão tentando mudar de assunto, sem muito sucesso.

–Entendo... – tentei sorrir, mas ao lembrar dos meus pais, meu sorriso se desfez no mesmo momento.

–Me desculpe... – Abigail parecia ter notado.

–Não foi nada. – me levantei.

–Melhor eu ir... Tchau Abigail! – a abracei.

–Tchau Lizzie. – me levou até a porta. Voltei em casa e encontrei Rose na cozinha.

–Oi Rose! – sorri ao vê-la.

–Olá querida. – retribuiu meu sorriso.

–O que temos para o jantar? – perguntei sentando em uma banqueta e apoiando meus braços no balcão.

–Hoje teremos macarronada...

–Era um dos pratos favoritos do Miguel. – comentei.

–Fique tranquila querida, ele vai voltar algum dia...

–Talvez se esse “algum dia” demorar eu não esteja mais esperando por ele... Talvez eu me canse...

–Esperança é a última que morre. – ela deu uma piscadela.

Jantamos juntas, depois eu subi para o meu quarto, o urso que eu havia ganhado do Miguel ainda estava em cima da minha cama. Parecia que o mundo estava indo contra eu tentar esquecê-lo.

–Lizzie! – ouvi a voz da Rose atrás da porta.

–O que foi? – perguntei abrindo a porta.

–Aqui estão seus documentos, e amanhã começa suas aulas na auto-escola. – me entregou alguns papéis.

–Como assim Rose? Auto-escola? – perguntei confusa, afinal eu não havia dado entrada em papel algum em nenhuma auto-escola.

–O Miguel te matriculou.

–Tudo bem... Obrigada! – peguei os papéis e me joguei na cama.

Rose saiu e me deixou sozinha. Droga! Será que eu nunca vou conseguir me afastar dele? A cada segundo uma coisa nova envolvendo o Miguel vinha me atormentar. Eu não aguentava mais... Queria apenas voltar a ser feliz, mesmo que sozinha.

Joguei os papéis dentro da minha mochila e tomei um banho rápido, tudo o que queria naquele momento era dormir. Deitei e em pouco tempo cai no sono.

No outro dia pela manhã consegui comer sem vomitar nada, assim como no jantar, a macarronada não veio para fora, tentei comer apenas uma fruta no café, Kenny me levou para a escola, Abigail estava em um canto conversando com o Jared, sendo assim preferi ir guardar minha mochila no armário, e esperar que eles viessem até mim. Será que eles iriam se acertar? A Abigail e a cabeça dura dela iriam entender o lado do Jared?

–Amiga? – a voz estridente da Abigail me despertou do transe.

–Oi... Oi?

–Lizzie, já deu nosso sinal, aula de matemática lembra? – Jared estava atrás de mim.

–Vocês...? – insinuei algo, mas nem tive tempo de terminar minha frase já que Abigail me interrompeu.

–Sim, voltamos a ser amigos... Jared me explicou tudo o que aquela cobra fez. – bufou cruzando os braços.

–Que bom! – exclamei puxando os dois para um abraço.

–Lizzie, vamos nos atrasar e iremos ficar suspensos... – Jared me lembrou.

–Verdade, vamos! – gritei pegando em seu braço e o puxando para sala. Entramos na sala, e por sorte o professor ainda não havia chegado.

–Você pensou em tudo o que eu disse? – ele perguntou.

–Jared, ainda temos tempo para conversar sobre isso... – fiquei um pouco envergonhada.

–Tudo bem! – ele me deu uma piscadela.

–Bom dia turma! – o professor nos saldou. – Como vocês sabem o feriado é na quinta-feira, sendo assim na nossa escola não terá aula também na sexta-feira, ou seja, quatro dias folgados para vocês! – a sala toda comemorou, e o professor em pensamento provavelmente também.

Após diversas aulas fomos para o almoço. Tudo estava como de costume, a não ser pela Claire que havia faltado.

–Iogurte do que? – perguntei ao ver Abigail abrindo o lacre.

–Hoje é de banana. – suspirou saboreando uma colherada. – Quer?

–Não obrigada. – sorri retirando um sanduíche da minha bolsa.

–Hei meninas sabe no que eu estava pensando?

–No que Jared? – perguntamos em uníssono.

–Poderíamos ir à praia nesse final de semana. O que acham? – perguntou empolgado. Empolgação que não era tão normal no Jared.

–Sabe que eu topo... Preciso de uns gatos sarados, musculosos e claro, bronzeados! – Abigail suspirou parecendo sonhar.

–Não sei se seria uma boa idéia... – mordi o lábio inferior.

–Qual é Lizzie? Você não tem nada a perder... – Abigail bufou.

–Gente eu sou desastrada demais, vivo me machucando... Vocês tem certeza?

–Sou um motorista cuidadoso, prometo que chegará sã e salva. – Jared piscou um olho.

–Vai Lizzie... - Abigail fez manha.

–Ta bom, ta bom, vocês venceram! – ri.

–Mas o que faremos com o frio? – Abigail perguntou.

–Consultei a previsão do tempo, e fará sol, vamos combinar que o inverno já acabou não é Abigail?

–Tudo bem então Sr. Jared Braun... – Abigail se rendeu.

–Nossa, faz muito tempo que não vou a uma praia... Nem lembro como seja... – comentei.

–Prometo fazer dessa a melhor viagem de sua vida! – Jared sussurrou.

–Ta acontecendo algo que eu ainda não sei? – Abigail perguntou.

–Não! – eu e Jared respondemos em uníssono.

–Tudo bem então. Calma gente.

Dei uma mordida no meu sanduíche e no mesmo momento senti um forte enjôo corri para o banheiro.

–Lizzie! – ouvi a Abigail gritar, mas nesse momento já estava a caminho do banheiro. Vomitei tudo o que eu havia comido. Depois lavei minha boca e voltei para a mesa.

–Destiny Elizabeth esses seus enjôos estão muito estranhos. – Abigail cruzou os braços.

–Não estão não! Eu só não me senti muito bem poxa! – reclamei.

–Não é melhor você ir ao médico? – Jared perguntou.

–Não, porque eu estou ótima! – bufei.